10 outubro, 2013

Manuel Pizarro e a fidelidade ao partido

Manuel Pizarro
Que os políticos carreiristas não desistam de convencer-nos que não há democracia sem os partidos, até se entende.  Agora, que tenhamos de acreditar cegamente nisso, já é  sinal de uma grande falta de maturidade [para não dizer outra coisa]. Assim como é ingenuidade imaginar que alguém se pode candidatar a um cargo político sem (muito) dinheiro ou sem o apoio de um ou mais partidos, ou, no mínimo, sem o apoio de um grupo de militantes partidários. A ideia de rotular as candidaturas individuais  como "independentes" é que pode não ter sido a mais feliz. Então se levarmos ao rigor da letra o termo, podemos garantir que ninguém, mesmo o mais poderoso dos homens, é absolutamente independente. Portanto, não vale a pena perdermos mais tempo com o assunto. 

Outra coisa que o político carreirista detesta, é discutir leis que possam comprometer-lhe a carreira. Dou como exemplo uma "proposta de lei" que em tempos aqui sugeri, que sumariamente os proibia de acumular cargos públicos com privados. Uma lei desta natureza [na óptica deles, populista...] podia ajudar, e muito, a fazer o rastreio entre os políticos missionários (se ainda os houver) e os carreiristas - ou oportunistas, como preferirem -, mas isso é o que eles menos querem. Pelo contrário, apesar do currículo de mediocridade acumulado durante todos estes anos, os carreiristas já simpatizam com a tese que defende a melhoria de remunerações como garante de competência e, imaginem só, de integridade... Como  é assim que as coisas são de facto, também me parece natural e bem menos arriscado apostar em pessoas, melhor dizendo, no seu carácter e competência.  

Esta notícia encaixa como luva no que acabo de afirmar. Em vésperas de eleições não há político avesso ao populismo, todos compreendem os anseios populares. Depois delas, fecham abruptamente a porta da compreensão aos problemas da plebe, e desatam a despir a ténue capa de têmpera que lhes resta.  O sector do Partido Socialista afecto a José Luís Carneiro e a Orlando Gaspar, não perdeu tempo a revelar o que há de pior nos partidos políticos carreiristas: primeiro está o partido, depois vem a populaça, mesmo que a populaça seja da cidade do Porto, essa cidade tantas vezes enganada, tantas vezes desprezada pelo poder político!

Se Manuel Pizarro levar a sua avante, se não se deixar intimidar pela chantagem dos seus colegas de partido e cooperar com o futuro Presidente, pode vir a colher frutos mais tarde, quer Rui Moreira tenha sucesso, ou não. Se R. Moreira tiver sucesso, M. Pizarro poderá orgulhar-se de ter dado o seu contributo aos portuenses, de não se ter limitado a fazer oposição porque sim. 

Se Rui Moreira falhar, Pizarro poderá mais tarde retirar dividendos do desaire, e quem sabe, constituir-se numa alternativa reforçada em credibildade. E o Partido Socialista também. Mas a estupidez, o clientelismo, ou a ganância, já nem sei bem, cega esta gente, porque ainda não perceberam que o povo é sereno, às vezes é burro, mas às vezes também acorda e lhes vê o cu. Cus que fedem por demais àquilo que de lá costuma sair.

PS-I:   Sobre a fidelidade aos partidos sugiro a leitura deste artigo.

PS-II:  Engana-se quem pensar que a victória de Rui Moreira reflecte a força dos seus apoiantes político-partidários. Rui Moreira colheu votos da esquerda à direita. Mesmo com a esquerda dividida.

09 outubro, 2013

Dragão ou pombinha?




Uma das linhas de que mais me orgulho no meu "curriculum vitae" é aquela onde me anuncio padrinho da Casa do F. C. Porto da Trofa. Os padrinhos desportivos são o ex-futebolista Domingos e a ex-atleta Fernanda Ribeiro, mas o padrinho da sociedade civil é este vosso amigo que aqui escreve e assina.


Quem me convidou para estas honrosas funções foi o meu amigo e portista doente Diamantino Silva, que também faz questão de não me deixar ser um padrinho desnaturado, "obrigando-me" a comparecer em várias das muitas iniciativas de caráter cultural ou festivo que esta Casa do F. C. Porto promove e organiza com um frenesim inquestionável.
Aqui há uns anos, que tenho dificuldade assim de repente em precisar sem erro, porque foi um ano em que o FCP se sagrou campeão nacional, participei num debate sobre a época vitoriosa do meu clube e saiu-me uma expressão que ficou tão famosa no seio dos portistas da Trofa, que sempre me falam disso em cada encontro que temos.

Recordo-me, por exemplo, de me ter cruzado com um grupo destes dragões da Trofa nas cercanias do estádio de Dublin, na Irlanda, onde vencemos a Liga Europa e de eles me terem interpelado com esse grito de que "nós somos dragões, dragões".

Já tenho dificuldade em recuperar o contexto da época, mas o significado deste dito vive para além dessa conjuntura. O que eu defendi nessa noite clubística na Trofa é que os dragões não são todos iguais: há os dragões, dragões, e os dragões pombinha. Explicando de seguida que os dragões, dragões, os puros, são aqueles adeptos do F. C. Porto para quem o F. C. Porto está sempre em primeiro. Sempre em primeiro lugar... mesmo quando não está no primeiro lugar! Os dragões pombinha são os outros, espero eu que uma minoria, que gosta do F. C. Porto, mas também gosta a seguir de muitas outras coisas, como a Seleção ou o futebol em abstrato.
Dando exemplos, um dragão, dragão quer que a nossa equipa ganhe todos os jogos, a bem ou a mal, com exibições de sonho ou a roçar o medíocre, sendo que as nossas vitórias são sempre justas e nunca à justa. O pombinha aceita discutir a justiça do resultado, o mérito do adversário, os critérios da arbitragem e por aí fora.

Um dragão, dragão nunca acha que pode ser mau vencer tudo e no ano a seguir ao penta sonhava com o bitri e ficou furioso porque ele nos escapou. Enquanto um dragão pombinha se resignou com esse campeonato que nos foi espoliado e até defendeu que era bom para o futebol português haver outro clube a ganhar, depois de cinco anos seguidos de triunfos azuis e brancos.

Um dragão pombinha é sempre pelos clubes portugueses nos jogos das competições europeias, mesmo quando eles são uma espécie de albergue espanhol em que se misturou uma minisseleção sérvia com um contingente de sul-americanos. Já o dragão, dragão é aquele que, como eu , vibrou com os 7-1 de Vigo e ainda esta semana se enfureceu porque os preguiçosos do Paris Saint-Germain fecharam o expediente ainda antes da primeira meia hora de jogo.

O novo presidente da Câmara do Porto é um portista assumido, que já deu provas do seu "portismo" militante em programas de televisão e nas páginas de jornais, ficando até conhecido por se ter levantado a meio de um programa em que a conversa fedia. Rui Moreira ainda este fim de semana em entrevista ao nosso JN se confessou um portista titular de um "dragon seat". Já toda a gente percebeu, como me disseram vários dos portistas com quem falei no meio de uma prova de fumados e dos vinhos com que me deliciei no Mercado de Sabores que encheu literalmente o Edifício da Alfândega no passado fim de semana, que com o novo presidente vamos poder festejar os títulos na Câmara da nossa cidade.

Embora a minha convicção seja inabalável, eu fui dizendo que sim, mas que primeiro era preciso ganhar esses títulos e só depois é que pensava na festa, mas esta possibilidade e o que Rui Moreira tem afirmado a este propósito, também tem a ver com estas duas raças de dragão. Um dragão, dragão que chega a presidente abre as varandas da Câmara e prestigia a festa com a sua presença, homenageando quem ganhou. Um presidente pombinha manda abrir as portas da Câmara mas depois refugia-se no meio da maralha, com medo da sacrossanta promiscuidade. Pode passar a noite em cânticos ou aos pulinhos, mas nunca dirão dele que se associou à vitória do principal clube da cidade.

Embora pombinha na campanha, aposto singelo contra dobrado como vamos ter um presidente dragão, dragão na primeira oportunidade. Mesmo que não aceite levantar a taça!

08 outubro, 2013

Rui Moreira, fiel a si próprio, ou refém de Rui Rio?

Quem, como é o meu caso, escreve publicamente, não pode, mesmo que o queira, dissimular durante muito tempo as suas simpatias ideológicas. Digo ideológicas e não políticas, porque apesar de em teoria ainda subsistirem aspectos importantes a diferenciá-las, não me revejo no que os partidos portugueses ditos de direita e de esquerda, têm feito pelo país. Se os primeiros, continuam estupidamente esclerosados,  dando razão e restaurando a tese marxista da exploração do homem pelo homem, enferrujando as suas já muito estafadas teorias, a esquerda moderada não consegue resistir à atracção dos modelos capitalistas, salpicando-a, para sobreviver, aqui e ali, de avulsas reformas sociais de efémera longevidade.

Se polarizei a política nacional entre esquerda e direita e esqueci o centro, é porque não encontro nenhum partido que corporize essa ideia de centro. Sobre os partidos da oposição, nem vale a pena falar, porque há muito desistiram de se tornar numa alternativa ao PS e ao PSD/CDS. Para quem escolheu a política partidária [remunerada] como modo de vida, é manifestamente pouco.

Aqui chegado, parece-me inútil explicar por que é que as eleições autárquicas se revestem de uma importância transcendental aos próprios partidos, comparativamente às legislativas. A maior aproximação dos autarcas ao povo permite-lhes uma liberdade de accção que os governantes não possuem e que muitas vezes até evitam. Da capacidade de liderança de um presidente da Câmara depende o destino de uma cidade ou de uma região. É por isso e apenas por isso, que vou ficar expectante em relação à gestão de Rui Moreira na Câmara do Porto. 

Tenho um bom exemplo na família do qual muito me orgulho [passe a imodéstia] que de certa maneira vem de encontro à minha expectativa. O meu avô paterno. Ele soube sempre distinguir muito bem o seu papel de militar do de político. Não foi por ter servido o Estado Novo, que recusou a continência da praxe a um determinado ministro, mas que o deixou de mão estendida à espera de um aperto de mão que nunca aconteceu... Não foi por isso que perdoou a comparência em tribunal de um presidente da Câmara da época, que tudo tentou para o evitar... Nem foi por isso que o Estado português lhe recusou a mais alta condecoração militar: a Ordem de Torre e Espada.  Pela mesma ordem de razões, ainda não desisti de acreditar que é na têmpera, mais que na partidarite, que se burilam os grandes Homens. 

Aguardemos pois para saber se Rui Moreira é muito mais que a soma das partes que politicamente o apoiaram. Eu gostava de acreditar que sim, embora não acredite no Pai Natal há muitos anos. Aguardo para ver...