13 janeiro, 2017

Pinto da Costa, 12684 dias de liderança hipotecada


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Se houve coisa de que não gostei nada de ver hoje no Porto Canal foi o chorrilho de louvores  que fizeram a Jorge Pinto da Costa no momento menos indicado da sua carreira.  Falar da sua longevidade, da sua resiliencia e dos seus títulos, num momento em que parece outra pessoa totalmente diferente, distante, frouxa e conformista, é completamente desenquadrado no tempo, e na oportunidade. Podiam deixar os piropos para outra altura, lá mais para diante, quando esta fase derrotista e de orfandade com os adeptos estiver mais amenizada, de modo a conferir-lhes mais realismo. Assim, fica-nos uma ideia de falso, de iniciativa forçada, encomendada.

Ninguém é perfeito, todos o sabemos, mas nos últimos tempos tornou-se quase viral ver certas figuras públicas mancharem o prestígio adquirido com erros infantis que acabam por arruinar tudo de positivo que conseguiram construir nas suas diferentes actividades. Foi assim com Mário Soares*, parece ser assim também agora com Pinto da Costa. Um homem que tanto fez de positivo pelo FCPorto, que tantas victórias nos deu, que tão perseguido foi, caluniado pelos media, empurrado para os tribunais, e que mesmo assim conseguiu tudo ultrapassar, é agora o seu oposto.

Pinto da Costa é hoje um homem frágil, omisso e permissivo. Age como um perdedor e o clube acompanha-o... Não se insurge contra os actos discriminatórios inflingidos ao FCPorto, quer na comunicação social, quer nos órgãos desportivos. Consente. O pior, é que nem se importa com o sentir dos portistas ao verem-no assim tão diferente, mas responde aos que o criticam.

Para sermos honestos, é com esta imagem bipolar que temos de olhar para Pinto da Costa, hoje. Há, o do passado, e do presente. São realidades distintas, embora no mesmo corpo. No Porto Canal olha-se para o passado, salta-se sobre o presente. Talvez de um órgão de comunicação social, queira transformar-se num museu. 

Mas, para isso, já há um, não precisamos de mais.
  

*foi em Mário Soares que votei logo após o 25 de Abril

11 janeiro, 2017

O Monstro

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Benfiiiiiiica! 

Assisti ontem ao programa Universo Porto da Bancada no Porto Canal, onde, de novo, se debateram vários assuntos relacionados com o comportamento dos árbitros e a complacência do presidente da F. P. Futebol. Gosto do programa e dos intervenientes, particularmente dos depoimentos assertivos de Francisco Marques, responsável pelo Dragões Diário. Pena é, que só tenha surgido agora, malgrado estarmos a ser reiteradamente estorvados nos nossos objectivos desde o início da temporada, já tendo sido eliminados na Taça de Portugal (incluindo a desprezada Taça Liga), ainda que também por culpas próprias.

Há muito que vinha alertando para esta situação, e por isso me "zanguei" com Pinto da Costa e lhe perdi muita da consideração que tinha por ele, enquanto líder. Teria sido inteligente da sua parte que, reconhecendo as suas limitações físicas e intelectuais, decorrentes do desgaste de muitos anos de luta desigual, soubesse delegar poderes em alguém da sua confiança para o substituir na defesa do clube, ou então, que não se recandidatasse ao cargo que detém. Mas não foi isso que decidiu. Teimou, agarrou-se ao poder, aparentando uma inconsciência alarmante sobre as suas próprias capacidades, preferindo deixar os portistas entregues a si próprios, tristes e revoltados com o clima de impunidade permitido ao nosso principal rival e seus conhecidos colaboradores.

O caso do vídeo do vandalismo (ou pseudo-vandalismo) aos escritórios de Adelino Caldeira foi também abordado no programa. Com imagens e comentários, especulou-se o que para já só pode ser especulado. O caso é tão lamentável quanto bizarro, porque os dirigentes portistas com a sua política kamikaze, abriram uma grande oportunidade a este tipo de (re)acções passíveis de ser realizadas por diferentes intérpretes. Tanto pode ter sido uma habilidade do "polvo", como uma loucura de adepto descontrolado. Só depois de devidamente investigado o caso (se chegar a ser) é que poderemos falar com propriedade.  

O lado bizarro da coisa, é vermos agora os comentadores do Porto Canal apelarem à união dos portistas quando deviam saber tão bem quanto nós, que os maiores responsáveis por termos chegado a este ponto foram e são, Pinto da Costa e todo o corpo directivo do FCPorto. Os comentadores não pousaram no prato da balança da análise, o principal, que foi a atitude distante e displicente do presidente portista em termos de comunicação com os adeptos, quando eles mais precisavam. Aliás, é mesmo caso para perguntarmos por que razão só agora decidiram reagir a esta inusitada situação, ou se só agora tiveram ordens para o fazer, e da parte de quem. Se não nos esclarecerem, então temos legitimidade para considerar o Porto Canal co-responsável pelo que vem sucedendo. A verdade tem de ser dita, até há bem pouco tempo pareciam meninos de côro. Às vezes perguntava-me se havia sangue naquelas veias...  Okey, o momento não é para ressentimentos, é de união, concordo, mas é preciso haver mais coerência quando reclamamos aos outros aquilo que nós esquecemos de fazer.

Pouco importa agora saber quem foram os autores do vandalismo, até para não nos desviarmos do assunto em apreço (como alguns pretendem), e também porque continuando neste registo neutral outros "não casos" vão acontecer. O que interessa agora é combater o Monstro até às últimas consequências, porque fomos nós (o Presidente e demais administradores) quem o deixou crescer. Demos-lhe demasiado tempo para estender os tentáculos de modo a invadirem os organismos mais relevantes da sociedade civil e política que passam pela comunicação social,  até à esfera forense e desportiva. A teia é tremenda e poderosa, por isso será necessária muita coragem e determinação para os derrubar. Não nos podemos contentar com a denúncia. Em democracia (e os nossos governantes garantem-nos que é séria), temos todo o direito de nos defender, de exigir justiça, jamais pedí-la! Temos esse direito, porque é criminoso o que nos andam a fazer.  

Para já, devemos puxar pela língua ao presidente da Federação e exigir-lhe, não apenas uma resposta, mas uma tomada de posição clara e objectiva para com o que está a acontecer. Com os jornalistas a mesma coisa. Se querem entrar no nosso estádio para fazerem o seu trabalho, a prerrogativa é o respeito com o nosso clube, não só lá dentro, como nos jornais em que escrevem. Difamam-nos, não entram mais. Não pode haver umas normas para uns, e não haver para outros. Com a rádio e a televisão, a mesma coisa. Com a RTP exigimos tratamento igual pela parte dos seus colaboradores, ou podemos reclamar o direito de recusa ao pagamento de taxas por incumprimento de dever enquanto empresa do Estado. Enfim, não faltam no FCPorto advogados com experiência e argumentação jurídica suficientes para travar este Monstro, assim queiram eles.

Então, não é verdade que vivemos em Democracia? Sim, ou não? Então há, ou não há, justiça? Sim, ou não? Chegou o momento de fazermos o teste e de os pôr à prova! 

09 janeiro, 2017

De Mário Soares à Liberdade

Mário Soares
Sábado passado morreu Mário Soares, o guru da democracia em Portugal (opinam). Soares, a par de Álvaro Cunhal, foi um tenaz lutador contra a ditadura de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, o que lhes custou vários anos de prisão e de exílio. Só por isso, merece o meu respeito, e naturalmente as minhas condolências. Sobre a sua perda não tenho mais nada a acescentar, porque não é preciso, depois da cobertura merecida, mas exagerada e um tanto cínica, que a comunicação social lhe tem dedicado.

Sendo certo que os regimes comunistas não são propriamente modelos de democracia, não me custa aceitar que se atribua quase por inteiro a Soares os louros de pai da democracia, em detrimento de Cunhal, embora me pareça aqui residir um equívoco. Pela experiência que a vida me tem dado, não estou assim tão seguro que democracia e liberdade sejam a mesma coisa, ou melhor, sejam uma espécie de irmãs gémeas siamesas. Deixem-me que me explique.

Sem liberdade não existe democracia, todos sabemos, agora o que parece ninguém querer saber é de que tipo de liberdade falámos. Aqui, já sei, entroncamos com a utopia  e os lugares comuns daqueles que, como Mário Soares, acham que a liberdade para manter esse estatuto, tem fatalmente de ser incondicional. Eu já não acredito nessa teoria. E digo , porque cheguei a acreditar nos primeiros anos de regime "democrático". E, se deixei de acreditar, dê-vo-o a Mário Soares. É verdade. Acho mesmo que um dos grandes erros de Mário Soares foi querer levar à letra a utopia da liberdade absoluta. Nesse aspecto, foi tudo menos pragmático. Foi um idealista sagaz, não foi um humanista convicto e realista, porque desautorizou a própria autoridade. Na altura, todos lhe achavam muita graça, e o caso do "ó senhor guarda desapareça" é um pequeno exemplo do que um país avesso à ordem não deve dar. E agora, o que é que temos?

Temos, uma comunicação social completamente dominada por agencias de informação constituídas por dirigentes políticos, gestores, dirigentes desportivos (ler o artigo mais abaixo de Marinho e Pinto), com um vasto número de jornalistas sem escrúpulos a serví-los e outros teoricamente contrariados, mas comodamente resignados, e sem fibra para reagir ao status quo. Pergunto: será este o comportamento de pessoas normais, numa democracia livre? Será este ambiente irrespirável, onde o medo se instalou e os corruptos proliferam, o país livre idealizado por Mário Soares? Penso que não. Contudo, Soares foi sempre demasiado permissivo com os corruptos e essa era a faceta que menos me agradava nele. Esse porreirismo, essa liberdade, dispenso. Nunca me hei-de esquecer quando contactava com empresários da região, por volta dos anos 80 me dizerem (insinuando com sorrisos) que, não sendo afectos ao PS, preferiam Soares no governo porque era mais "liberal". Era simples perceber por quê...

Mas, o que aqui está em causa já não é o currículo político de Mário Soares. Ele já cá não está e o que passou, passou. O que questiono é a ideia de liberdade onde a calúnia, a acusação pública, a infâmia são toleradas. Ora, é disto que falámos quando se trata de liberdade e de jornalistas. Estes, por força dos maus exemplos que se foram instalando através dos anos, já se acham intocáveis, nem sequer admitem "trabalhar" de outra forma que não através da difamação, da acusação gratuita e da impunidade.

Pessoalmente, estou disponível como cidadão para abdicar destas "liberdades", pela histórica razão/causa de mexerem com a liberdade dos outros. Ela vale tanto como as mensagens insultuosas de anónimos que nos entram na caixa de comentários cujo destino não pode ser outro que não o lixo. Pois foi esta a grande bandeira da liberdade que Soares içou, voluntária ou involuntariamente. Os valores da ética e da honradez foram desprezados em nome do vale tudo e da ganância. Não param de emergir casos e casos de enriquecimento ilícito, de políticos, conluiados com empresas financeiras e bancários. O oportunismo e a corrupção fazem escola sem cessar, nem pudor. Durão Barroso, Duarte Lima, Sócrates (este ainda sem acusação à vista...), são 3 espécies distintas, mas a pior imagem que se pode dar deste país. E muitos, muitos mais. Tudo nos diz que é neste regime de democracia "tolerante" que os oportunistas e criminosos se sentem melhor. Mas, não me interpretem mal, porque a última coisa que almejo é o retorno a qualquer ditadura, seja ela de esquerda, ou de direita.

Agora, o que considero perfeitamente possível coexistirem numa Democracia a valer, é a Liberdade recheada de respeito pelos bons valores e pela ética. E isso, é coisa que esta liberdade desregrada nunca nos dará.