16 setembro, 2011

Um orgulho sóbrio, que um país centralista, sem querer, agigantou

Nem os quase 40º de febre de uma inoportuna infecção bastaram  para me impedir de assistir [pela tv], a mais uma brilhante victória europeia do FCPorto. Apesar de já estar habituado a estes momentos de alegria e orgulho bairrista, esse sentimento nunca esmorece, embora deva confessar que me sabe a pouco...O que me sabe a pouco, já não tem nada a ver com o FCPorto - que está bem e recomenda-se -, tem a ver com a porcaria da nação onde este clube, fundido carnalmente com a  própria cidade, teve o azar de nascer.

O FCPorto, é praticamente o meu único elo de ligação importante ao país. Todos os outros, incluíndo aqueles casos bem sucedidos e louváveis, como são os dois prémios de Arquitectura, da Universidade do Porto, dos vinhos do Douro, e tantos outros, são elos igualmente prestigiantes, mas efémeros e pouco mobilizadores para a população. É um problema cultural? Talvez...mas e as elites, o que é que têm feito de impactante em defesa da região? A não ser que as elites sofram de outro mal de incultura, chamado egoísmo. Tivesse Pinto da Costa enveredado pela política, em vez do futebol, tínhamos seguramente um verdadeiro líder. O resto, é o que [não] vemos. Todos, mais ou menos iguais aos outros, cachorros fiés, serviçais e cumplíces com o Partido, que não é o mesmo que ser cumplíce do povo. 

Não há país moderno no Mundo, que se possa sentir confortável no seu orgulho pátrio, apenas por ter um grande clube de futebol, ou por receber vários prémios internacionais, se tal não tiver correspondência com a qualidade de vida do seu povo. Povo, não uma parte minúscula do povo. A diferença, é que o futebol, tem um simbolismo e um impacto no orgulho das pessoas, incomparavelmente superior a todos os outros. E não é só em Portugal, é bom recordar. Só que, em Portugal, e no Porto, em particular, só temos o FCPorto!

Só temos FCPorto, mas do que eu gostava também, era de ter um país! Queria, antes de tudo, vê-lo livre e expurgado dos parasitas e criminosos que o foram destruindo, desvirtuando a Democracia, que é o mesmo que trair o povo. Depois, vê-lo governado por pessoas realmente honradas,qualificadas, justas, humanas e firmes nos propósitos. Isto tem de ser entendido à luz restrita do que um bom dicionário dita. De falsos sérios, estão a Assembleia da República e os Ministérios repletos. Sim, porque não é sério todo aquele que em grupo, ou individualmente e com responsabilidades políticas, promete e não cumpre sistematicamente, assim que chega ao poder. 

Falo por mim, como é óbvio. No entanto, gostava de saber, se ainda há algum português capaz de levar a sério o que dizem figurinhas como Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa e muitos outros. É que a mim, dáva-me vontade de lhes projectar com aquela coisa produzida pelas glândulas salivares, tal é o desprezo que toda esta gentinha me infunde. Eu acho que conheço a resposta, mesmo considerando aqueles que ouvem a voz dos "mestres" como retribuição ao empreguinho numa repartição de finanças, ou num centro de saúde, mas mesmo assim, gostava de saber se conseguem levar a sério esses fulanos. E estou a referir-me àqueles portugueses - que são infelizmente uma minoria - que têm alguma capacidade para avaliar rigorosamente, quem os governa e governou. E mais. Seria interessante saber também o que pensam dos entrevistadores e da relevância de as televisões continuarem a gastar rios de dinheiro com pessoas que também foram responsáveis pelo descalabro do país, sobretudo, num momento em que nos exigem sacrifícios de toda a ordem.  É que eu, ainda não consegui perceber. Ainda não vislumbrei a mais pequena luz indicadora dos benefícios para o país das opiniões de tanta gente que, pelo contrário já deu provas cabais de ser incapaz de as pôr em prática quando teve ensejo de o fazer. Que interesse terá então para nós ouví-los?

Por mim, limito-me a  desligar a televisão, ou a mudar de canal, só porque não posso levá-los a tribunal e acusá-los de traição à pátria [se tal me fosse possível]. Não quero confundir a árvore com a floresta - ainda que a floresta se encontre demasiado poluída -, nem fazer de todos políticos clones de Duarte Lima, ou de  Dias Loureiro, mas que eles não se podem gabar de vender seriedade, isso não podem.

Mas, o problema, deve estar em mim, que sou muito, muito limitado...

12 setembro, 2011

Seguro não é um Gastão

Só estive cinco anos na política. Mas que anos! Tive a sorte de viver a idade da revolta num Portugal em desvairada mudança de vidas e de costumes. Eu atravessava a fronteira da adolescência (17 anos) para a maioridade (23) . O país evoluía do marcelismo (1973) para a consolidação de uma jovem democracia (1978).

Aprendi muito e para toda a vida naqueles cinco anos que militei na LCI, um grupúsculo trotskista, avô paterno do Bloco de Esquerda. Li furiosamente, habituei-me a discursar em público, aperfeiçoei a técnica de argumentação, escrevi programas e comunicados, inventei palavras de ordem, traduzi textos, organizei greves e manifestações, colei cartazes, ocupei casas, fiz pichagens, preparei reuniões, distribuí panfletos, andei à pancada e fugi da Polícia - só para citar o mais relevante :-).

Desses tempos gloriosos e emocionantes guardo não só recordações, como também métodos de trabalho e hábitos de organização. Cerca de 40 anos volvidos, a ordem de trabalhos tipo de uma reunião política - 1. Informações; 2. Análise da situação; 3. Medidas a tomar - permanece tão actual e eficaz como o velho teorema de Pitágoras.

E tenho para mim que continua a ser fundamental fazer o balanço antes de nos aventurarmos a elencar as perspectivas.

A estabilização da democracia trouxe na mochila um sistema partidário viscoso, assente em máquinas de assalto ao Poder, guarnecidas por militantes cuja preocupação n.º 1 é garantir um futuro melhor para si - e não para o país. O egoísmo substituiu a generosidade. A política passou a ser uma coisa tão animada como o cemitério do Prado do Repouso à meia-noite.

O Congresso do PS é a prova dos nove deste lamentável estado de coisas. Era legítimo esperarmos que de Braga saísse uma ideia clara do que será preciso fazer para voltarmos a prosperar quando acabar o ajustamento brutal a que estamos sujeitos.

Era legítimo esperar, mas nicles! Em três meses de debate, o melhor que o PS conseguiu apresentar, por junto e atacado, foi uma ideia interessante para reaproximar os cidadãos dos partidos (a sugestão de Assis de os simpatizantes poderem registar-se no partido e participar na escolha dos seus candidatos, como nos EUA), uma análise acertada (a inevitabilidade do federalismo, reconhecida no discurso final de Seguro) e uma notícia para as revistas cor-de-rosa: a apresentação à sociedade de Margarida, a mulher de Tozé, que se parece mais com o desafortunado Pato Donald do que com o sortudo Gastão.

É pouco. É mesmo muito pouco para um partido que não teve a coragem de se submeter a um exercício de autocrítica, fazendo o balanço antes de se arriscar a traçar as perspectivas.

Pode viver-se sem família. Pode viver-se sem amor. Pode até viver--se sem dinheiro, levando uma vidinha miserável. Mas é impossível viver sem sonhos nem esperança. Em Braga, o PS foi incapaz de nos fazer sonhar. Seguro não é o cavaleiro da esperança.

[Jorge Fiel/ JN]

11 setembro, 2011

É preciso adoçar os dias. E hoje é dia de folga...

E o céu é belo, quase âmbar...

Da janela olho
Olho e não vejo...
Aguardo tua chegada
Teus passos já familiares
À minha estreita porta
... Reservada para poucos.
E a noite se aproxima,
E o céu é belo, quase âmbar...

Da janela sonho
Sonho e te quero...
Aguardo teu abraço
Teus braços já conhecidos
Em meu corpo
Sedento do teu.
E o céu é belo, quase âmbar...

Da janela te espero...

Neli Araújo*
2007

* do Blogue "e o pensamento voa"