22 junho, 2012

"Estádio de Emoções", um programa onde se fala de futebol a sério

 Porto Canal - Entrada

Já que estamos em pleno Campeonato Europeu de Futebol , embora com os esterismos mediáticos do costume - apesar do bom comportamento da selecção -, chamo a atenção dos leitores para o magnífico programa do Porto Canal, dedicado ao evento, competentemente conduzido pelo Júlio Magalhães. Passa às terças e quintas-feiras pelas 22H30, tendo como comentador residente o Prof. Jorge Araújo e outros convidados.

Sem querer puxar a brasa à minha sardinha, este programa é uma lufada de ar fresco no universo dos programas [ditos] desportivos feitos nos canais da concorrência. Ali, há inteligência, sobriedade, e ousadia para apresentar ideias novas. 

Não sendo o futebol a área da especialidade do Prof. Jorge Araújo [a sua é o básquete], ouví-lo falar sobre futebol é um prazer. Ontem, os outros comentadores foram Rui Moreira e Miguel Guedes, cujas participações brilhantes deram um enorme contributo para a optimização do programa. Que diferença, comparado com o que se faz no despesista e parasita canal do Estado!   

Parabéns Juca! Agora, só falta terminar com aquelas entrevistas bacocas do Ricardo Couto às vedetas de Lisboa porque além de serem um verdadeiro festival de pirosice e vaidade, não trazem nada de novo para o Norte. De mais a mais porque tem primado pelo mau gosto no que toca à escolha dos convidados...
  

19 junho, 2012

Selecção nacional e os vinhos de Lisboa Alvarinho...

Calculo que o conteúdo do post anterior tenha bastado para dar uma ideia da minha capacidade para resistir com alguma naturalidade à onda de euforia que se gerou com a selecção portuguesa. Mais do que habituado, já estou vacinado contra estas crises de optimismo prematuro [e exagerado] que ano após ano se repetem também com o clube do regime, cujos resultados depois não correspondem às pretensões dos publicitários... 

No início de cada temporada, tenha ou não vencido o campeonato, as parangonas da imprensa e as aberturas dos telejornais só têm um único candidato à victória final: o Benfica. Contratações galácticas, promessas de victórias nacionais e europeias, treinadores do outro mundo, entrevistas, foguetório, são o pão nosso de cada início de época... Contudo, lá mais para diante, quando o campeonato já está lançado e as coisas começam a dar para o torto, toda a euforia se esfuma num ápice para dar lugar às críticas aos árbitros e às intriguices do costume. A isto, claro, nunca poderia chamar optimismo e muito menos respeito pela diversidade, a isto só posso chamar uma coisa: obsessão demencial centralista. Aplicado à selecção nacional, jamais lhe daria o nome de positivismo patriótico, mas antes fanfarronice própria de medíocres e oportunistas.

É baseado nestes comportamentos, típicos de quem tem uma noção micro e limitada da verdadeira grandeza das coisas, que me custa compreender aquelas pessoas que só porque estão tranquilas, de bem com a vida, consideram que o sucesso de uma selecção pode alterar seriamente o estado de espírito ou a vida de milhões de desempregados. Entre uns e outros, é óbvio que a disposição não pode ser a mesma. Se acrescentarmos a isto a acumulação de desconsiderações feitas aos nortenhos pelos últimos governos que citei no post anterior, fazer apelos ao optimismo patriótico é outra desconsideração, é tratar o povo como uma multidão de criancinhas acéfalas. E isto, meus senhores, não é transmitir ânimo a quem dele precisa, isto é provocar.

Mas, a obsessão demencial que tem dominado os centralistas e respectivos símbolos desportivos não se fica por aqui. Qual cancro, espalha-se em todas as áreas e arrasa tudo. Não só perverte o significado das coisas como procura anulá-los. Promove mais o nome de Lisboa no Mundo do que o de Portugal. A inveja centralista confunde-se e mistura-se com profundos complexos de inferioridade que significativamente buscam atribuir aos da "província" [na qual o Porto se inclui], transmitindo para a opinião pública uma ideia contrária da realidade. Uma delas, por exemplo, é a de que o Porto sempre quis ser a capital do país e que passa a vida a queixar-se disso...

Bem, basta olhar um pouco para o que se tem feito e inventado para tentar derrubar a hegemonia dominante do FCPorto no futebol para ficarmos esclarecidos. Mas há mais, muito mais. Pequenos grandes sinais dessa inferioridade não faltam. Para começar, é notória a tentativa de enfraquecer todo o Norte e o Porto económica e politicamente, mas até os nossos símbolos tentam destruir. Politica e economicamente quase o conseguiram, desportivamente ainda não...

A este propósito tenho uma história para vos contar. Um destes dias deparei numa garrafeira de um supermercado com uma "curiosidade" que pode explicar em parte o que atrás escrevi. Observei, com alguma estranheza, uma garrafa de vinho "Alvarinho" que era produzido na região vinícola do Tejo... Não resisti, e perguntei a um funcionário se sabia desde quando é que a região do Tejo era produtora de vinho Alvarinho, ao que me respondeu simpaticamente que era uma nova produção daquela casta plantada naquela região. Repercuti dizendo-lhe: meu caro, não sendo especialista na matéria, ao que sei o vinho Alvarinho é produzido no Minho e na Galiza, abrangendo a região de Monção e Melgaço, e o que faz dele um vinho especial não é só a casta da uva mas sobretudo o micro-clima específico daquela região. Se eles querem produzir vinhos que o façam, mas dêem-lhe outro nome porque Alvarinho há só um, o da região, além de que é uma adulteração abusiva.

Mas, não me estranhou assim  tanto este "fenómeno", porque como já devem ter reparado ultimamente começam a surgir destacados vinhos produzidos na região vinícola de Lisboa e Tejo... Conheço os vinhos alentejanos, de Colares em Sintra, conheço os vinhos da Região de Setúbal, e até os de Bucelas e Bombarral, agora os de Lisboa só mesmo como resultado do tal efeito difusor invertido. 

A região do Douro e Minho e os seus vinhos pelos vistos também já perturbam o vale do Tejo centralista...

    

18 junho, 2012

A selecção "nacional" e o orgulho de um país miserável


 euro 2012 portugal holanda
Como é do conhecimento dos leitores deste blogue, sou um apreciador de futebol. Como quase todos os outros adeptos, empolgo-me mais quando é o meu clube a jogar e... a ganhar. Neste aspecto concreto, sou aquilo a que se pode chamar um adepto normal, igual a tantos outros, excepto na feliz coincidência de o meu clube se chamar FCPorto, o mais competente de todos, desde que há liberdade de expressão em Portugal.

Com a selecção nacional, não posso dizer o mesmo. Só não me estou completamente nas tintas porque nela jogam alguns jogadores que actuam no FCPorto, e outros que já actuaram no passado. Só por isso.

De resto, não é pelo Presidente da República, pelo 1º. Ministro e toda a carneirada que com eles faz coro - incluindo os exploradores da comunicação social - virem agora puxar pelo orgulho pátrio que o meu desinteresse pela selecção se irá alterar. Aliás, até me sinto mais patriota por ser como sou, por me distinguir da mentalidade ralé dominante por não embarcar nestes folclores sazonais, onde o futebol se transforma simultaneamente na cocaína do povo e no descanso dos governantes. Enquanto o povo se distrair com nacionalismos futeboleiros os dirigentes políticos podem continuar a sugar-lhe tranquilamente a já baixa qualidade de vida que tinha.

Para mim, é muito difícil envolver-me emocionalmente com a selecção de um país dividido como é actualmente Portugal. Não posso aplaudir uma selecção só porque nela jogam alguns jogadores e ex-jogadores do meu clube. Para estar com a selecção teria de ter como certa a consideração dos nossos governantes pelo resto do país, começando [por exemplo] por um tratamento igual, coisa que como é sabido não tem acontecido. Não posso sentir orgulho por uma bandeira ou camisola nacional que obriga um nortenho a ganhar muito menos que um lisboeta da mesma profissão. Um país que concentra na capital todos os poderes [economia, finanças e comunicação social], que taxa as Scuts em 1º.lugar no Norte, fazendo de nós autênticas cobaias. De um país que recorrentemente desvia verbas de fundos europeus destinados às regiões mais pobres para Lisboa a coberto de um virtual efeito difusor. Símbolos de um país que tem tido governantes incompetentes e corruptos, agarrados como lapas ao poder, cujo Presidente da República e 1º.Ministro chegaram ao cúmulo de aconselhar os jovens a emigrar. Um país que trata o Porto como aquela terra lá ao longe [recordam-se como eles acharam gracinha a Scolari?], que persegue o melhor presidente de clubes como o maior facínora, enquanto deixa em luxuosa prisão domiciliária um político homicida e ladrão, e permite que um ex-presidente de um clube lisboeta, condenado na Justiça por burla de milhões e falsificação de documentos se mantenha foragido em parte certa, gozando com ela na cara do povo. Essas, e muitas outras poucas vergonhas, a mim causam-me repulsa e desgosto. Se a pátria é isto, então eu não sou patriota, e nesse caso, estou-me mesmo a borrifar para o sucesso ou insucesso da selecção.

Falem-nos de progresso, de bem estar, da excelência do nível de vida da maioria dos portugueses, e depois talvez possamos conversar a sério sobre orgulho nacional. Porque o meu orgulho não é, nem nunca será o Ronaldo, nem mil ronaldinhos.

Talvez esteja neste estereótipo de "patriotismo" a explicação do nosso imutável atraso, enquanto povo...