20 março, 2014

O que falta ao FCPorto é restaurar o passado recente



Não precisaria de dizer isto se a memória de alguns não falhasse, mas importa lembrar que se tudo estivesse bem no FCPorto não havia razões para reparos. Tão natural como o prazer de elogiar quando a onda é positiva, quando a equipa joga bem e ganha, quando jogadores, equipa técnica  e direcção estão em sintonia uns com os outros, é o desconforto de criticar com a objectividade dos factos. Como no presente não é isso que acontece, recomendo às almas mais sensíveis que aceitem as críticas com a mesma naturalidade com que aceitam os elogios (que já fiz e muitos, felizmente). Aliás, e a propósito, devo recordar também que o Renovar o Porto foi um dos blogues não temático em futebol que mais defendeu Pinto da Costa e o FCPorto, numa altura em que ambos eram atacados por todo lado, inclusivé pela própria imprensa local. 

Penso ser consensual que nos últimos anos o FCPorto tem dado sinais de algum excesso de confiança e ao mesmo tempo de alguma sobranceria ou - para ser mais simpático -, de alguma desatenção com o trabalho dos adversários mais directos, quer em termos de qualidade de jogadores contratados, quer no jogo jogado. Tal descuido, é tão raro e inabitual,  como velho  é o conhecimento da tradicional protecção que os órgãos de comunicação social, as instituições desportivas (Liga, FPF,Arbitragem)  e mesmo o próprio poder político vem promovendo com os dois clubes rivais de Lisboa. E se é legítimo ao FCPorto exigir tratamento igual, também é natural que, não lho sendo reposto, se defenda por todos os meios legais que tenha ao seu alcance, depois, mas sobretudo antes, de sofrer as respectivas consequências. Ora, ultimamente a direcção do FCP parece andar algo apática em vários domínios, a saber: lentidão/indefinição na contratação dos treinadores, e algum desleixo com as questões de âmbito disciplinar e psicológico no início de cada época por altura da renovação do plantel com a entrada de novos jogadores. 

Se a contratação de novos treinadores for atempada, como era hábito da casa, e se a escolha incluir alguém com forte perfil psicológico (para além dos táctico-técnicos), nesse caso o problema à partida estará resolvido. Mas, se por razões inesperadas a escolha do treinador for de recurso (como parece ter sido o caso esta época), sem o tal perfil de psicólogo, então o clube devia estar preparado para poder contornar o problema com alguém vocacionado especificamente para o efeito. Essa mesma pessoa, devia de preferência ser alguém da casa que, podia inclusivamente, desempenhar a dupla função de transmitir aos jogadores recém chegados não só a mística do clube perfeitamente espelhada no Museu, como aconselhamento no uso das redes sociais (Facebook, Twitter,etc.), onde não se recomendariam declarações de ordem profissional como tem acontecido nos últimos tempos. Iturbe, por exemplo foi um dos que usou essas redes para manifestar descontentamento por não jogar. Tenho a certeza que se lhes for transmitida a mensagem com a devida veemência logo nos primeiros contactos com o clube, os jogadores saberão acatar as regras e perceber que não vale tudo...

Haverá provavelmente outras explicações para a situação de desnorte que o clube atravessa, que dada a sua conhecida blindagem, serão de difícil  clarificação, mas salta à vista que a comunicação não é a principal virtude. Só que, agora, tem de passar a ser, caso contrário deixa de fazer sentido o investimento que se propôs fazer no Porto Canal. Ninguém quer réplicas do que se faz em Lisboa, o que se pretende é fazer melhor e diferente. Que o Porto Canal, no mínimo, possa servir de contraditório às contínuas campanhas anti-FCPorto que impunemente se continuam a fazer com o beneplácito desse homem vulgar que ocupa o mais alto cargo da nação, e do Estado que ele devia representar com elevação.

Além do desgaste provocado, todas as insinuações e acusações sem resposta oportuna feitas contra o clube, geram na opinião pública não portista uma impressão negativa, o nosso silêncio é interpretado como consentimento, e não - como poeticamente se possa imaginar -, como uma atitude de grande nobreza. As pessoas hoje não estão sensibilizadas para valorizar o que não é visível. Logo, não basta reagir com processos jurídicos depois do mal estar feito. A pressão sobre as arbitragens foi feita antes do jogo, o FCPorto manteve-se em silêncio, o árbitro intimidou-se, perdeu o controle, e o resultado foi uma derrota, independentemente da justiça do mesmo.

Agora, a reacção deles é simples, previsível. Alegam que só nos queixamos porque perdemos o jogo e porque estamos longe do título. O FCPorto já devia saber que eles não precisam de pretextos para acusar e insinuar, eles inventam-nos se for preciso, e a comunicação social lisboeta, ao contrário do Porto Canal, dá-lhes toda a cobertura. Nem o bem redigido Manual de Boas Maneiras para Viscondes no site do clube, tem qualquer efeito prático na opinião pública não portista, porque ele devia ser dirigido essencialmente para aqueles que andam a tentar achincalhar-nos.

É isto que está a falhar no FCPorto. Não há pro-actividade, há somente reacção, e mesmo assim, tardia e pouco eficaz. Gasta-se dinheiro com processos e tribunais, pagam-se multas avultadas, sabendo como sabemos, como é lenta a "justiça" em Portugal, e que o reconhecimento tardio da mesma poucas vantagens nos têm trazido. A eles (Benfica), com túneis, ou sem eles, já lhes valeu um campeonato. E podem crer, o país profundo continua a acreditar que foram os jogadores do FCPorto os maus da fita. 

PS-Oxalá a garra e a determinação de técnico e jogadores bastem para logo passarmos o Nápoles. Acreditemos.


17 março, 2014

Futebol/Sociedade/Televisão/Norte

Embora pareça, o post anterior não sofreu inspiração divina, foi simplesmente uma antecipação natural e previsível das consequências que comportamentos como o do treinador do Benfica podem potenciar se não forem a seu tempo exemplarmente reprimidos. Ontem, foi o actual presidente do Sporting o beneficiário da inopercionalidade da justiça e da política do vale-tudo. Chegou ao clube, experimentou, testou as reacções por dentro e do exterior,  percebeu que podia avançar, e toca a ameaçar tudo o que mexe com processos e tribunais. Resultado: o crime compensou.

Como estes comportamentos passaram a ser um hábito e os protagonistas estão há muito localizados, é uma perda de tempo - semelhante ao tema do sexo dos anjos -, promover a sua discussão. Importa sim, identificá-la com o devido rigor, porque não é exclusivamente no mundo do futebol onde ele faz escola. Começou pela política...Ora, é neste ponto que surge a grande ilusão dos defensores da descentralização/regionalização. O mal não vem só da capital, nem é apenas aí que o centralismo tem os seus soldados, os piores, os mais traiçoeiros, estão entre portas, e devidamente camuflados.

Não é por Hermínio Loureiro ter acordado agora para a realidade, por ter descoberto tardiamente a farsa que foi e ainda é, o efeito "spill over", que devemos ver nele (e noutros como ele) um grande defensor da causa descentralizadora (qualquer dia vamos vê-lo no Porto Canal...). Não, Loureiro está é secretamente interessado no factor "proximidade" dos fundos europeus, o resto é areia para os meus olhos (e para os dos leitores). E como ele, muitos dos regionalistas de ocasião. Adiante.

Contrariamente a certos adeptos de futebol portistas (eu também sou um deles), não cinjo ao futebol as barbaridades discricionárias de que o Norte e, muito particularmente, o FCPorto e a própria cidade, têm sido alvo. O problema vem também do nosso alheamento, da nossa incapacidade para estudar, avaliar, escolher, ou rejeitar, aqueles que se candidatam aos vários órgãos do poder para nos representarem. Tivéssemos nós tido no passado esses cuidados, talvez hoje houvesse mais decência na nossa sociedade.

Por essas razões, não consigo compreender as opções programáticas (extra desporto/ FCPorto) do Porto Canal. E não concordo, precisamente porque o Porto Canal parece estar cada vez mais alheado da realidade nortenha e sobretudo das suas precisões, porque comete exactamente os mesmos erros que atrás apontei. O Porto Canal "propõe-se" contribuir para a descentralização, mas continua a não saber escolher os melhores processos e parcerias para o conseguir. Ou seja, continua a chamar a si alguns intervenientes da esfera política, social, e cultural, figuras que já deram provas de incompetência e até de despeito, pelas questões regionais. É o mesmo que apelar a bandidos para acabar com o banditismo. Não faz qualquer sentido. É uma ilusão pensarmos que esses critérios, essas réplicas da comunicação social centralista possam alguma vez contribuir para uma mudança. Paralelamente, verifica-se uma atracção doentia e servil com personagens da capital de interessse duvidoso que todo o país conhece, tornando incompreensível tais opções quando  ainda há tanto por fazer com os nortenhos. 

Louvo e continuarei a louvar a presença de repórteres do Porto Canal no interior norte e centro do país, e aprovarei todos os esforços no sentido de a intensificar. Agora, isso de pouco valerá se se considerar inútil uma selecção criteriosa dos agentes políticos e sociais para promoverem o debate e as estratégias sobre as questões regionais. Não basta constatar factos, é necessário fazer mais e melhor para os alterar. É preciso ser democrático mas selectivo, e não colocar como diz o povo, os ovos no mesmo cesto. Tal como está, o Porto Canal apresenta-se ao público alvo como uma porta por onde a maioria dos nortenhos quer entrar mas que não consegue por vê-la sempre fechada. Eu próprio estou constantemente a "emigrar" do Porto Canal para outros destinos porque ninguém está lá para me atender. 

A minha curiosidade de momento é saber até que ponto Pinto da Costa está a acompanhar a evolução da estação de tv da Senhora da Hora e se tem opinião formada e sustentada sobre o seu modelo de gestão e alinhamento editorial. Sinceramente, penso que neste capítulo concreto, está ausente.