17 março, 2014

Futebol/Sociedade/Televisão/Norte

Embora pareça, o post anterior não sofreu inspiração divina, foi simplesmente uma antecipação natural e previsível das consequências que comportamentos como o do treinador do Benfica podem potenciar se não forem a seu tempo exemplarmente reprimidos. Ontem, foi o actual presidente do Sporting o beneficiário da inopercionalidade da justiça e da política do vale-tudo. Chegou ao clube, experimentou, testou as reacções por dentro e do exterior,  percebeu que podia avançar, e toca a ameaçar tudo o que mexe com processos e tribunais. Resultado: o crime compensou.

Como estes comportamentos passaram a ser um hábito e os protagonistas estão há muito localizados, é uma perda de tempo - semelhante ao tema do sexo dos anjos -, promover a sua discussão. Importa sim, identificá-la com o devido rigor, porque não é exclusivamente no mundo do futebol onde ele faz escola. Começou pela política...Ora, é neste ponto que surge a grande ilusão dos defensores da descentralização/regionalização. O mal não vem só da capital, nem é apenas aí que o centralismo tem os seus soldados, os piores, os mais traiçoeiros, estão entre portas, e devidamente camuflados.

Não é por Hermínio Loureiro ter acordado agora para a realidade, por ter descoberto tardiamente a farsa que foi e ainda é, o efeito "spill over", que devemos ver nele (e noutros como ele) um grande defensor da causa descentralizadora (qualquer dia vamos vê-lo no Porto Canal...). Não, Loureiro está é secretamente interessado no factor "proximidade" dos fundos europeus, o resto é areia para os meus olhos (e para os dos leitores). E como ele, muitos dos regionalistas de ocasião. Adiante.

Contrariamente a certos adeptos de futebol portistas (eu também sou um deles), não cinjo ao futebol as barbaridades discricionárias de que o Norte e, muito particularmente, o FCPorto e a própria cidade, têm sido alvo. O problema vem também do nosso alheamento, da nossa incapacidade para estudar, avaliar, escolher, ou rejeitar, aqueles que se candidatam aos vários órgãos do poder para nos representarem. Tivéssemos nós tido no passado esses cuidados, talvez hoje houvesse mais decência na nossa sociedade.

Por essas razões, não consigo compreender as opções programáticas (extra desporto/ FCPorto) do Porto Canal. E não concordo, precisamente porque o Porto Canal parece estar cada vez mais alheado da realidade nortenha e sobretudo das suas precisões, porque comete exactamente os mesmos erros que atrás apontei. O Porto Canal "propõe-se" contribuir para a descentralização, mas continua a não saber escolher os melhores processos e parcerias para o conseguir. Ou seja, continua a chamar a si alguns intervenientes da esfera política, social, e cultural, figuras que já deram provas de incompetência e até de despeito, pelas questões regionais. É o mesmo que apelar a bandidos para acabar com o banditismo. Não faz qualquer sentido. É uma ilusão pensarmos que esses critérios, essas réplicas da comunicação social centralista possam alguma vez contribuir para uma mudança. Paralelamente, verifica-se uma atracção doentia e servil com personagens da capital de interessse duvidoso que todo o país conhece, tornando incompreensível tais opções quando  ainda há tanto por fazer com os nortenhos. 

Louvo e continuarei a louvar a presença de repórteres do Porto Canal no interior norte e centro do país, e aprovarei todos os esforços no sentido de a intensificar. Agora, isso de pouco valerá se se considerar inútil uma selecção criteriosa dos agentes políticos e sociais para promoverem o debate e as estratégias sobre as questões regionais. Não basta constatar factos, é necessário fazer mais e melhor para os alterar. É preciso ser democrático mas selectivo, e não colocar como diz o povo, os ovos no mesmo cesto. Tal como está, o Porto Canal apresenta-se ao público alvo como uma porta por onde a maioria dos nortenhos quer entrar mas que não consegue por vê-la sempre fechada. Eu próprio estou constantemente a "emigrar" do Porto Canal para outros destinos porque ninguém está lá para me atender. 

A minha curiosidade de momento é saber até que ponto Pinto da Costa está a acompanhar a evolução da estação de tv da Senhora da Hora e se tem opinião formada e sustentada sobre o seu modelo de gestão e alinhamento editorial. Sinceramente, penso que neste capítulo concreto, está ausente.

6 comentários:

  1. O Porto Canal só serviu para criar alguns empregos para certas pessoas, quanto ao resto zero. Ainda ontem vimos uma roubalheira à moda antiga em alvalade. Ora na minha opinião o Porto Canal devia servir para desmascarar estes truques que estão a ser usados pelos dois clubes da capital, mas o que é que se viu no referido canal? Zero. Obrigado mas televisão deste nível, não falta por aí, podem fechar aquilo que para mim não tem utilidade nenhuma.
    Abraço
    Manuel Moutinho

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  2. Falando de Pinto da Costa, e Deus me perdoe, penso que ele já "deixou" o FC Porto... Desde o aparecimento de certas "senhoras" que a sua dedicação e capacidade de intervenção acabou.... O silêncio absurdo do Porto Canal e do próprio Clube face às atrocidades e falta de respeito que ultimamente assistimos é flagrante e deixa-nos sem rumo nem capacidade... Lentamente voltamos a observar a agulha do poder futebolístico a virar para a capital colonial.

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  3. "O mal não vem só da capital, nem é apenas aí que o centralismo tem os seus soldados, os piores, os mais traiçoeiros, estão entre portas, e devidamente camuflados."
    Rui, assim da maneira que escreve, deixa-me sem nada para dizer.
    Quem pensar que a massificaçao da cultura pode estar dissociada de todo este circo, anda a dormir. Nao há identidade cultural, está tudo maluquinho e está sempre tudo bem, nada é criticável, tudo é aceitável, tudo é permitido e uma opiniao fundamentada é "cosa non grata". Enfim, é que a capacidade intelectual também nao é coisa que abunde.

    Pinto da Costa para mim, delegou as decisoes sobre o Porto Canal a outras pessoas ("confiou"). Ele nao tem tempo para tudo. Errou em quem escolheu para liderar o projecto.
    O Porto Canal é uma vergonha. Um aborto comunicacional.

    Pode ser que esta época atipica do FCPorto conjugada com o abrir de olhos dos desvios de fundos, faça o Porto acordar para a realidade centralista que o rodeia.

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  4. Caros amigos,

    Nunca quis partilhar da opinião de certos cavalheiros "portistas" que andam há anos a anunciar o "fim" de Pinto da Costa como líder do FCP, mas actualmente começo a pensar que algo já não é como antes. E esta impressão não tem nada a ver com esta época desastrada (embora também conte), e sim com um conjunto estranho de más e tardias decisões, silêncios inoportunos e distanciamento excessivo com os adeptos. Tudo isto não é habitual do Pinto da Costa que nós conhecemos.

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  5. Onde está o “Número Dois”??!!

    Muito se fala no “Número Dois” do nosso FCP, mas onde é que ele está? Eu acho que a última vez que o vi foi nos festejos do título no ano passado! Nas vitórias o Sr. Antero Henrique diz sempre presente, mas nas derrotas
    Na minha modesta opinião o “N2” tem que estar sempre presente, nos bons e nos maus momentos, nas vitórias e também nas derrotas. Não é por nos escondermos quando as coisas não correm bem que vamos passar ao lado do problema? Não somos inimputáveis, nem vamos passar incólumes. Temos que assumir as nossas responsabilidades, nem que isso implique… ter eventualmente que sair.
    Continua a ser sempre o mesmo a dar a cara, Jorge Nuno Pinto da Costa. O presidente diz sempre presente em qualquer momento, e também não é agora que nos vai falhar. A história que tem ao longo da sua vida, dedicada ao nosso clube, é garantia mais que suficiente. No entanto, tal como nós, ele é humano e por vezes erra,… mas tem a dignidade de o assumir dando a cara e corrigindo o erro.
    O “N2”, quando são feitas contratações de milhões para não jogarem, nada diz. O “N2”, quando são riscados determinados jogadores da equipa por motivos que só ele sabe, nunca resolve. O “N2”, no final do jogo com o Estoril no Dragão em que o FCP perde, não aparece.
    Saber dar o corpo às balas, ter essa coragem…, não é para todos. Mas só isso é ser PORTISTA!

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  6. Carlos Gorge,

    ninguém por aqui falou no Nº.2, deve estar a fazer confusão. Mas pelo que leio você já sabe quem é, e até já sabe criticá-lo. O Antero não pode nem deve ultrapassar as suas competências porque goste-se ou não ainda é Pinto da Costa o Presidente. Talvez se Antero estivesse no Benfica seria "natural" desrespeitar a hierarquia mas no Porto ele não faz isso e eu acho muito bem. Mas se é coisa que Pinto da Costa não tem feito nos últimos tempos é dar a cara para assuntos de maior gravidade, o que é pena. Portanto, se ele não pode, se não se sente com capacidade para continuar como gostaria, então sim, talvez tenha chegado o momento de delegar competências no Nº.2 (que não sei se será o Antero).

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