Não sei se José Sócrates está inocente, ou se é culpado, isso competirá aos tribunais decidir se chegar a ser julgado. O que sei é que algo de muito opaco e suspeito terá feito para um juíz lhe ter ordenado prisão preventiva. Já disse, e vou-me repetir - embora às vezes me canse esta missão ingrata de andar frequentemente a chamar a atenção de quem me lê, para o fazer com o maior rigor possível - que sou totalmente contra a violação do segredo de justiça.
Portanto, não mudei de opinião, só porque estamos a falar do ex-primeiro ministro. No entanto, será bom lembrar que na maior parte dos casos de investigação criminal, o segredo de justiça só vem a público quando os suspeitos são figuras socialmente relevantes, e isto não é despiciente. Muita gente anda a ganhar dinheiro à custa da "bufice" e tal também devia merecer das autoridades judiciais uma investigação profunda, para de uma vez por todas, colocar essa gente atrás das grades. Denunciar é uma coisa, bufar é outra bem diferente, e bufar a soldo de alguém ainda é pior...
Naturalmente, nestas condições é muito difícil ao melhor dos juízes fazer cumprir a Lei, porque tal como para os negócios, o segredo pode ser a alma da Justiça. A bem do seu bom funcionamento, os magistrados deviam exigir que este assunto fosse de vez discutido e resolvido na Assembleia da República com todos os partidos, quanto mais não seja para percebermos quem está interessado em melhorar o sistema, ou quem tem interesse em mantê-lo como está.
Como não somos nós quem decide, e as informações que nos chegam a público são veiculadas pelos media, é praticamente impossível nestas ocasiões termos uma ideia firme sobre a veracidade dos casos. Mas, das duas, uma: ou os media enganam sempre, e nesse caso é preciso fazer qualquer coisa para acabar com isso, ou se só engam às vezes, então devemos filtrar o que lemos para retirarmos as nossas próprias ilações. E já nem falo de jornais sensacionalistas, como o Correio da Manhâ e outros, porque a esses, pessoalmente, não dou qualquer crédito, e nunca os leio. Resumindo: ninguém tem informação priveligiada, excepto uns tantos que vivem promiscuamente da espionagem ilícita entre o poder do dinheiro, e o poder da política.
Posto isto, pergunto: será que o legado de Sócrates foi assim tão positivo, tão íntegro, tão cumpridor com os portugueses que justifique um cuidado especial de avaliação? Ele não nos mentiu? Politicamente, ele não fez o mesmo que Passos Coelho também está a fazer? Não traiu os eleitores? Não prometeu a contenção dos impostos, a preservação das reformas, o aumento do emprego, e o desenvolvimento do país? Não foi ele que inventou as SCUTS? E Passos Coelho não as manteve? Então, dado que no momento é Sócrates quem está sob a alçada da Justiça, pergunto: com um currículo destes na folha de serviços, será caso para confiarmos abertamente na inocência do homem? Será caso para intentarmos acções de habeas corpus, como alguns carentes de protagonismo fizeram? Isto é assim? Soltam-se as emoções para decidir se alguém é culpado ou inocente?
Passos Coelho, tal como Paulo Portas, por agora, têm sobrevivido às suspeições que cirandam sobre as suas cabeças, mas politicamente não merecem mais credibilidade que Sócrates. A realidade, é que mal ou bem, é Sócrates quem está preso. Por isso, pergunto: o Jornal de Notícias será como o Correio da Manhã, ou há algumas diferenças, para melhor? Se não é, e se o que nele vamos lendo tem alguma credibilidade, temos de parar os neurónios, deixar de pensar?
Pois, a avaliar pelo pouco que saiu a público, das "engenharias" financeiras usadas por Sócrates em transferências de património pessoal através de um amigo, que ainda por cima era presença assídua em alguns negócios do Estado, o mínimo que posso dizer sem arriscar ser acusado de estar a presumir culpa, é que este, não só é um procedimento invulgar na gestão de bens pessoais, como não parece sério. E, se Sócrates assim não pensou, penso eu:
um 1º. Ministro prudente, e ciente do seu cargo, tem o dever de parecer sério. Estando eventualmente inocente, tudo fez para parecer culpado.
Pois, a avaliar pelo pouco que saiu a público, das "engenharias" financeiras usadas por Sócrates em transferências de património pessoal através de um amigo, que ainda por cima era presença assídua em alguns negócios do Estado, o mínimo que posso dizer sem arriscar ser acusado de estar a presumir culpa, é que este, não só é um procedimento invulgar na gestão de bens pessoais, como não parece sério. E, se Sócrates assim não pensou, penso eu:
um 1º. Ministro prudente, e ciente do seu cargo, tem o dever de parecer sério. Estando eventualmente inocente, tudo fez para parecer culpado.