05 novembro, 2011

No melhor pano cai a nódoa

Mais um caso em que "assuntos de âmbito profissional" ultrapassam os pruridos de ordem ambiental e patrimonial.

Decididamente, não são só os jogadores de futebol e  treinadores que por dinheiro aderem depressa ao clube "O que é verdade hoje, é mentira amanhã". 

04 novembro, 2011

Esperanza Spalding - Precious

Do Movimento PPartido do Norte para Rui Farinas


Rui Farinas
O Movimento Partido do Norte agradece reconhecidamente ao Sr. Rui Farinas, um conhecidíssimo portuense ligado à blogosfera e à vida cívica do Porto e do Norte, o ter-se deslocado ao nosso balcão de recolha de assinaturas com várias dezenas recolhidas pelos seus próprios meios, o que demonstra que estamos perante um espírito jovem que percebe bem o que significa a solidariedade, o apoio, a responsabilidade e o poder das redes.


A Comissão Executiva do MPPNorte



Nota do RoP
Este pequeno texto foi extraído do blogue do Movimento Pró Partido do Norte. A alusão ao espírito do Rui Farinas corresponde à realidade. É um jovem, inconformado e lutador. E um bom amigo. 


Gente útil, gente fútil

Nuno Oliveira [ao centro]
O Prémio Quercus 2011 foi atribuído por esta coletividade ao Parque Biológico de Gaia: são já quase "30 anos de trabalho em prol do ambiente, nomeadamente ao nível da educação ambiental em Portugal", refira-se. A cerimónia decorreu em Lisboa no passado dia 31 de Outubro durante a celebração do 26.º aniversário da associação ambientalista

Podia voltar a falar da inutilidade que é para o país profundo, ter um Presidente da República como Cavaco Silva, e do peculiar cinismo com que trata os portugueses do Norte. Podia dizer que o seu pedido de esclarecimento ao Governo sobre a introdução de portagens nas Scut, mais não é do que um novo comprovativo do que atrás escrevi. Podia até fundamentar esta opinião, referindo que nunca, até o momento em que esteve em causa a introdução de portagens nas auto-estradas do Algarve, Beira Interior, Interior Norte, Beira Litoral e Beira Alta, o senhor Cavaco Silva se lembrou de apresentar igual pedido de esclarecimento sobre as Scut do Norte, nem tão pouco se perturbou com a imoralidade de ser esta região do país a única a pagar portagens [há cerca de um ano]...

Podia concluir que esta, não é a postura do Presidente de todos os portugueses, mas antes o comportamento de um homem vulgar, que portugueses vulgares elegeram para o cargo mais nobre da hierarquia nacional. Podia dizer que esses portugueses estavam errados, e que a situação miserável do país o confirma. Podia estar aqui a falar do rol de assuntos importantes onde Cavaco foi cumplíce por omissão, e das suas frívolas intervenções em casos ridículos, como foi o do Estatuto dos Açores. Podia, mas prefiro falar de coisas úteis.

Vou falar-vos de um Homem - que por mero acaso conheci em contactos profissionais -, e que tem feito um trabalho muito mais prolífero para o país [e para o planeta] do que os peritos em assuntos económicos todos juntos. Chama-se Nuno Oliveira e é o Director do magnífico Parque Biológico de Gaia, um regenerado pulmão da cidade, e um importantíssimo centro de Recuperação de Animais Selvagens.

A Quercos, decidiu justamente premiá-lo. É merecidíssimo. Muito mais sério, e interessante, que cavacadas e outras boliqueimadas.

03 novembro, 2011

Geração rasca, está nos actuais partidos


Nunca escondi o meu profundo descrédito pela classe política, e o decorrer do tempo, sempre mais fértil em factos que os deviam envergonhar, só reforça essa convicção. Apenas se estranha, é que os jornalistas estejam a descobrir isso agora. Paulo Ferreira, escreveu hoje um artigo no JN que retrata essa realidade, mas que só peca por tardio e raro.

Em síntese, a crónica referia-se a declarações proferidas pelo [jovem] secretário de Estado da Juventude e Desporto, que "aconselhavam" os jovens portugueses a emigrar... Sugiro que a leiam, aqui, para ficarem a saber que a moda pegou de estaca, fazendo crescer adeptos curiosamente no interior dos partidos do chamado "arco do poder".

Pessoalmente, não fiquei mesmo nada surpreendido com esta "descoberta", porque, os jovens, à falta de ideias próprias, preferem imitar os mais velhos, sobretudo aqueles que atingiram lugares de destaque na hierarquia política e social. Ora, que melhor exemplo podia inspirá-los, que não o Presidente da República? Em rigor, foi também o Sr. Cavaco Silva quem lhes deu o élan para produzirem estas afirmações que nada ficam a dever à inteligência e, principalmente, ao bom senso.

Os leitores ainda devem estar lembrados do que aqui escrevi àcerca do assunto. Foi numa deslocação ao estrangeiro, que Cavaco, dirigindo-se aos emigrantes afirmou, ipsis verbis, "vocês, são o orgulho de Portugal!". Pena foi, que nenhum dos presentes não tivesse retribuído o piropo ao Presidente, mas ao contrário, para ver se dessa forma conseguia o milagre de obrigar Sua Excelência a repensar no que disse assim que chegasse a casa. 

A classe política portuguesa, além de incapaz e oportunista, é insensata. Quando jovens candidatos ao poder [o poder, não é literalmente o mesmo que Governar]  fazem afirmações desta natureza, estão, mais do que a passar a si próprios um atestado de incompetência, a passar um atestado de estupidez aos eleitores que os vão certamente outra vez guindar ao Poder. O nosso drama é esse: o povo, e a sua crónica permissividade cívica. Com o cinto a apertar e o dinheiro a faltar, talvez essa consciência desperte da letargia em que o acesso ao crédito e os "facilitismos" do passado recente o deixou.

02 novembro, 2011

Ditos e mitos

Quem vive muito acima das suas possibilidades é o Estado, a classe política, os gestores públicos.
A mentira mais repetida na vida política portuguesa é a de que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, trabalham pouco, ganham demasiado e deveriam poupar mais. Nada de mais errado: este conjunto de mitos constitui um embuste.

O primeiro mito é o de que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, fazem férias caras e compram bens que não deviam. Um logro. Quando adquirem bens ou serviços, os cidadãos fazem-no ou com o seu dinheiro ou a crédito. No primeiro caso, estão no seu direito. Na segunda hipótese, a responsabilidade será sempre do cliente; ou, se resulta de má avaliação ou ganância por parte da banca, é por esta que deve ser assumido o prejuízo. Muito pelo contrário, quem vive muito acima das suas possibilidades é o Estado, a classe política, os gestores públicos e todos os que comem da manjedoura que é o orçamento do estado. O português comum, esse, infelizmente, tem vivido muito abaixo do nível médio do europeu.

O segundo mito, em Portugal trabalha-se pouco. Uma falsidade. Os nossos trabalhadores cumprem horários semanais dos mais extensos da Europa. Estão é mal enquadrados e são mal dirigidos. Na administração pública, a gestão é fraca, os dirigentes, "boys" partidários, são, na sua maioria, habilidosos caciques e organizadores de campanhas, mas péssimos gestores. Acresce que a incompetência se contagia às empresas privadas que vivem de favores do Estado e que, para isso apenas, contratam traficantes de influência. Com dirigentes destes, a produtividade só poderia ser fraca. E ganham demais? Não me parece que salários altos alguma vez tenham sido o problema de Portugal. Pelo contrário, é lamentável que tenhamos chegado a 2011 com um ordenado bruto médio de 900 euros, o que representa um rendimento líquido mensal de 711 euros. Isto é ganhar muito? Finalmente, é agora moda pedir aos portugueses que poupem. Mas vir pedir a um povo, que tem salários de miséria, para poupar é, no mínimo, ridículo e insultuoso. E inútil. Todo este chorrilho de mentiras e moralismos apenas servem para disfarçar a incapacidade dos políticos. O que os portugueses precisam não é de lições de moral, mas sim de governantes competentes e sérios.

[de Paulo Morais, Prof.Universitário]

Nota de RoP
O artigo é excelente, a fonte duvidosa. Continuo sem perceber o que leva pessoas credíveis, como é o Dr. Paulo Morais, a não serem muito mais selectivas com os órgãos de comunicação onde publicam as suas crónicas. O Correio da Manhã não é, de todo, a melhor referência, a nível da imprensa, sendo certo que em matéria de credibilidade os media deixam todos muito a desejar. 

Apoiar,não é engolir em seco


Fiquei agora a saber pela voz de Victor Pereira que o bom profissional é aquele que produz muito... Nem mais, nem menos. Imaginemos portanto, um cozinheiro. O homem, farta-se de trabalhar, mas é lento, e atabalhoado. Para fritar batatas, usa uma panela com água, em vez de uma fritadeira com azeite, ou óleo. Não tempera os alimentos, e dá-lhes tempo a mais, ou a menos, de apuro, sem nunca acertar no ponto.

Deve ter sido inspirado nesta estranha maneira de produzir que o treinador do FCPorto fez estas declarações no fim do encontro de ontem com o Apoel do Chipre para a Liga dos Campeões:

"hoje fomos Porto, trabalhámos muito, quisemos vencer e terá sido isso que nos penalizou. Depois do empate quisemos continuar atrás da victória. Isto caracteriza a nossa alma, mas há momentos em que temos de usar mais a cabeça. O resultado não traduz o que se passou no jogo".

Teoricamente ainda nada está perdido, mas realisticamente, perante a inexistência de fio de jogo  da mesma equipa que venceu a última Liga Europeia tem vindo a demonstrar, não se notando evolução de jogo para jogo que nos faça alimentar a esperança, vai ser uma tarefa complicada...

Para o adepto portista, sabendo do que se alimentam os vampiros dos clubes centralistas que passam o tempo a inventar casos, queimando rios de tinta para tentar desestabilizar o FCPorto, é muito ingrato criticar um treinador, que sendo ele muito competente ou um aselha, é o nosso treinador em exercício. Esta ambivalência emocional é um sentimento terrível, porque se por um lado queremos deitar cá para fora o desgosto provocado pelas más exibições, por outro, podemos involuntariamente estar a contribuir para adensar os problemas. Mas, pergunto: não será também contra natura ficarmos em silêncio fazendo de conta que não vimos, o que vimos? Confesso que não sei bem como encontrar a atitude certa.

Victor Pereira, com este tipo de declarações irrealistas, está a confirmar as minhas suspeitas e as de muitos adeptos, que não tem perfil técnico, nem psicológico, para treinar o FCPorto. O que a equipa ontem fez em campo, é o que vem fazendo há várias jornadas, sem que se note que os erros cometidos repetidamente nos jogos anteriores sejam corrigidos, o que quer dizer uma de duas coisas: ou Victor Pereira não percebe o que se está a passar e não diz nada aos seus pupilos, ou se percebe, não é capaz de lhes transmitir o que é preciso fazer em campo.

Não entro na barafunda de criticar os jogadores, porque é para os preparar e disciplinar que o treinador lá está. Não caio muito menos na tentação de criticar a SAD, ou Pinto da Costa, pelas razões que já aqui e aqui apresentei.

A partir de agora, como adepto, só me resta fazer  votos para que no futuro próximo as minhas suspeitas se traduzam em muitas victórias, e que Victor Pereira me prove que estava enganado. Mas, tenho fundamentadas dúvidas que o consiga.

01 novembro, 2011

O fim da lei do menor esforço


Após definir um país como a soma dos defeitos e qualidades dos seus cidadãos, o Almada Negreiros não resistiu a um exercício de ironia certeira e apelou : "Coragem portugueses, só faltam as qualidades".

No capítulo do trabalho, temos seguramente muitas qualidades, mas quase sempre escondidas, só se revelando quando emigramos ou somos geridos por multinacionais que nos balizam o comportamento com uma gramática rígida de regras a observar no dia a dia laboral.

Esta incapacidade para sermos naturalmente honestos e produtivos no trabalho é filha da cultura de uma nação que se habituou a viver dos recursos dos outros - e entrou em crise sempre que perdeu uma mama.

A perda do trato da Índia teve como consequência a União Ibérica. A independência do Brasil, que pôs termo ao fluxo de ouro, café e madeiras preciosas, foi a causa remota da queda da Monarquia e gerou mais de um século de turbulência.

No século XX, a incapacidade em mantermos as colónias africanas foi o fermento do desmoronar do Estado Novo, deixando-nos a vaguear até descobrirmos em Bruxelas uma nova fonte a jorrar dinheiro.

A lei do menor esforço foi a regra que nos regeu ao longo de seis séculos. Os poderosos enriqueciam roubando, um hábito lamentável que os casos Oliveira Costa, Duarte Lima e Isaltino nos fazem suspeitar que chegou aos nossos dias.

Os mais espertos das classes baixas tornaram-se comerciantes com lábia suficiente para vender aquecedores aos guineenses e frigoríficos aos esquimós, inspirando Hergé na criação do Oliveira da Figueira, o impagável personagem português do Tintin.

E os que não conseguiam sair da cepa torta, vingavam-se, com manha e ronha, fazendo o mínimo possível.
Agora, chegámos ao fim da linha. Já não vai mais ser possível viver ao abrigo da lei do menor esforço.

Os poderosos corruptos têm de ir para a cadeia - e os incompetentes têm de ser varridos para o desemprego. Os empreendedores têm de subir na escala de valor, passarem a ser mais Belmiros do que Oliveiras da Figueira. E aqueles que, como eu, optaram por trabalhar por conta de outrém, em vez de arriscarem criar o seu próprio emprego, têm de ser mais produtivos para fortalecer e tornar competitivas as empresas - e a nossa economia.

A dez horas a mais por mês que vamos trabalhar, o fim da rigidez da legislação laboral, o subsídio mais baixo e de menor duração que vamos receber se formos despedidos, são o preço a pagar por termos distribuido mais riqueza do que a produzimos.

Do ponto de vista dos trabalhadores, as novas e draconianas regras significam trocar mais horas e algum dinheiro pela preservação do emprego. Do ponto de vista dos empresários, significa um trunfo mais (os ganhos de competitividade derivados baseados da flexibilidade e redução dos custos) na luta pela sobrevivência.

Os sindicatos terão de perceber que nesta curva apertada em que fomos apanhados, os interesses dos trabalhadores e dos empresários podem ser os mesmos.


Vivaldi - Four Seasons (Winter)

31 outubro, 2011

Genéricos


Este, é outro assunto que há uns tempos a esta parte me anda a provocar  muita confusão. Li algures, um dia destes, que os médicos pretendem difundir informação pública sobre o risco da prescrição de medicamentos genéricos. O motivo, na opinião  do Presidente da Seccção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, prende-se com a protecção da saúde dos doentes. Segundo diz, porque existem casos em que os médicos receitam medicamentos em que têm confiança clínica e que deviam ser proibidos de trocar por outros com o mesmo princípio activo. Isto, porque está para sair uma nova lei que obriga os médicos a receitarem os medicamentos pela Denominação Comum Internacional, ou seja, pelo princípio activo.

Ora, o que se estranha é que a comunidade médica internacional, assim como a indústria farmacêutica,  não tenham tomado atempadamente medidas drásticas, no sentido de esclarecer as populações de forma a não deixar instalar sobre elas um potencial sentimento de insegurança, não só em relação aos medicamentos, como sobre os próprios médicos.

Para o cidadão comum, é difícil de compreender como é que se permite lançar no mercado medicamentos sem a confiança da toda a comunidade médica, já que, segundo o Presidente da SRNOM, não existem testes de bioequivalência entre genéricos.  Há algo de muito grave e errado em tudo isto, e a legislação na matéria só por si, pouca utilidade tem.

Por outro lado, a ser verdade o que os médicos argumentam, não se compreende também que o Governo tenha tomado de ânimo leve a decisão de obrigar a prescrição de genéricos. É urgente desvanecer todas as dúvidas nesta matéria, caso contrário, qualquer dia arriscámo-nos a morrer da cura, e não da doença.  A menos que haja aqui mais uma nova versão do gato escondido...

30 outubro, 2011

Políticos. De corruptos a assassinos, o passo é curto



 
Duarte Lima

Sabendo como funciona a cabeça de determinados políticos quando se sentem acossados - previsível e reaccionária -, começo por declarar que o tema de hoje não deverá ser interpretado como uma crítica generalizada à classe, e sim como a opinião sincera de um cidadão baseada em factos que a história recente não pode  desmentir.

Amiúde, face ao excesso de escandalos em que se vão envolvendo, os políticos sentem-se impelidos a apresentar publicamente manifestações de repúdio pela péssima reputação que foram deixando colar à sua imagem, talvez na esperança de nos convencer de que afinal reside apenas na ignorância popular a fonte dessas opiniões. Está errado!

Um dos piores defeitos dos governantes, é precisamente o de insistirem em continuar a ver os cidadãos como uma massa acéfala e bruta, incapaz de os perceber. O mal do povo não está em conhecê-los, está em não saber combatê-los. Por comodismo, medos antigos, ou falta de civismo, o povo foi permitindo toda a espécie de abusos, de eleição para eleição, e hoje, algumas dessas figuras públicas, além de se terem tornado ladrões, "promovem-se" à categoria de assassinos...

Já os vimos nas rádios e nas televisões, tecer todo o tipo de opiniões de carácter moralista àcerca do comportamento de outras personalidades, não se coibindo de censurar, mas guardam a mais absoluta discrição se a figura em causa pertencer à prole política. Quando Pinto da Costa andava nas bocas do mundo no processo Apito Dourado não foram poucos os políticos que sugeriram pareceres e opiniões no sentido de o condenar. Agora, sobre Duarte Lima, Dias Loureiro & Companhia, todos optaram pela mais nobre das reservas...

Pois bem. Se porventura me fossem conferidos poderes para tratar destes casos inqualificáveis, e tivesse de os ajuizar, seria à classe política a quem atribuiria as penas mais pesadas. Este simulacro de democracia teria de fechar para férias, durante o tempo que fosse necessário para julgar estes casos com celeridade, evitando assim que o putativo criminoso se desse ao desplante de brincar com as ratoeiras da Lei na cara de todo um país, como fez e continua a fazer, João Vale e Azevedo [nome de barão, carácter de burlão].

O caso Duarte Lima, é a indecência elevada a padrões inimagináveis para qualquer político cumpridor que se preze. Mas, não é o único, há mais. Uns bem conhecidos, outros menos, mas há casos demais para um país civilizado. Se os associarmos  à crónica incompetência do seu histórico, não sei se restará muito espaço para benefícios de dúvidas.

Há momentos - quando esta falsa democracia se revela -, que devíamos perguntar-nos se certos políticos da nossa praça não mereciam ter o mesmo fim do Kadafi...  Uma coisa não merecem concerteza, que é a vida de nababos e as mordomias que, sem honra nem mérito, vão levando.  E os portugueses não podem mais conformar-se com isso.

Metro do Porto







Recentemente, e a propósito dos défices das empresas de transporte, assistiu-se a um inusitado ataque ao Metro do Porto. Primeiro, foi Miguel Sousa Tavares que se pronunciou sobre o projecto, tecendo críticas muito severas à sua sustentabilidade. Depois, foi Luís Filipe Menezes quem apareceu, em entrevista a este jornal, a criticar as sucessivas opções da empresa. Prefiro concentrar-me naquilo que Miguel Sousa Tavares (MST) escreveu, porque conheço a sua seriedade intelectual e tenho a certeza de que se baseou em informações e análises que certamente julgava credíveis, mas que, como adiante demonstro, carecem de fundamento.

A primeira questão, na comparação do Metro do Porto (MP) com o Metropolitano de Lisboa (ML), diz respeito ao esforço financeiro do Estado, ou seja, ao que o Estado português gastou com cada um dos projectos, em diversas rubricas que incluem o PIDDAC, as Indemnizações Compensatórias, Outras Subvenções Públicas e Dotações de Capital. Verifica-se, através da soma das parcelas, que o Estado gastou, entre 1993 e 2010, cerca de 209 milhões de euros com o MP, e nada mais, nada menos, que 1252 milhões de euros com o ML. E, quando decompomos estas verbas, apuramos que os problemas de financiamento do MP decorrem do facto de o Estado nunca ter feito dotações de capital significativas, já que estas ascendem a 2,5 milhões de euros, enquanto no mesmo período recapitalizou o ML, que em 1993 já existia como se sabe, em 658 milhões de euros. Ou seja, e para quem não é especialista em contas, o Estado avançou com o projecto do MP sem o dotar de capitais próprios, o que justifica que as sucessivas administrações tenham sido forçadas a contrair financiamentos bancários, e o que explica o montante do endividamento e os juros acumulados.

Relativamente aos rácios de operação, verifica-se que as comparações são favoráveis ao MP, ainda que seja necessário ajustá-las às características diversas de ambos os sistemas. O MP tem uma rede com a extensão de 67 quilómetros, com 81 estações distribuídas por 6 linhas, enquanto o ML tem 39,6 quilómetros, com 52 estações distribuídas por 4 linhas, mas é claro que essa comparação não é linear, na medida em que o MP é maioritariamente de superfície, enquanto o ML é totalmente subterrâneo. No que diz respeito à procura, que tanto preocupa MST, o metro atingiu em 2009 uma taxa de ocupação de 18,7%, muito próxima da que se verificou no Metropolitano de Lisboa que, no mesmo ano, rondou os 19,4%. Estas taxas são, note-se, razoáveis, quando comparadas com as que se verificam em sistemas de transporte idênticos em outras cidades europeias.

Já quanto às receitas por passageiro por quilómetro, verifica-se que a comparação é muito favorável ao MP, atingindo 2,5 cêntimos contra 1,5 no ML. Isso explica, aliás, os resultados económicos do MP, cuja taxa e cobertura (que considera as receitas de bilheteira e os custos directos da operação) passou de 53%, em 2007, para 75%, em 2010, sendo expectável que esta taxa seja, em 2011, superior a 92%. Não se conhecem os resultados comparativos do ML.

É evidente que Portugal tem, a exemplo de outros países, um sério problema político e orçamental com a avaliação dos benefícios económicos e sociais que resultam do transporte público e que não se repercutem nos resultados financeiros das empresas que, muita das vezes, são avaliadas ou criticadas de acordo com a óptica privada que é mais restritiva. Ora, sendo desejável que os custos de operação sejam cobertos pela receita, não é expectável que, num serviço público desta natureza, o investimento em infra-estruturas seja recuperável. É essa a situação do nosso metro, que está próximo do equilíbrio na exploração, mas cuja sustentabilidade está posta em causa pelo facto de ter sido financiado exclusivamente através do crédito bancário que vai crescendo, ano após ano, através da acumulação dos juros. Ainda assim, a análise comparativa permite concluir que, apesar desse pecado original, o MP não é tão desastroso como contaram ao MST, e nos querem fazer crer.

[Fonte: JN]