Um toque para controlar a bola enviado a 50 metros por Alexandro, a manobra fugaz entre Dante y Boateng, e a culminação, demolidora, elegante, coroaram Jackson Martínez à frente de um magnífico Porto. O colombiano recebeu a ovação vulcânica do estádio do Dragão em reconhecimento ao seu trabalho, e a esse 3-1 definitivo, quiçá o mais visível de uma partida colossal que deixou o Bayern desorientado. O grande estádio do rio Douro já constitui um dos melhores encontros da temporada europeia. Não é por acaso que Lopetegui e Guardiola partilham escola e princípios. Não foi casual tão pouco que estiveram até 12 jogadores espanhóis implicados de alguma maneira. O jogo foi uma verdadeira homenagem da contribuição de Espanha no futebol contemporâneo.
A noite foi abundante em contradições. Não há centrais menos adequados para jogar como gosta Guardiola. Mas o Bayern joga com Boateng y Dante. Lentos e vacilantes, parecem expostos a um drama que resistem a representar. Mostram-se preocupados ante a exigência de pensar a partida, fazer o primeiro passe, adiantar linhas, governar o latifúndio. O medo reflecte-se na sua expressão corporal. O público que assiste ao espectáculo sabe-o. Sabem-no os seus companheiros. Sabe-o Xabi Alonso, que pareceu nervoso quando se baixou para receber a bola, controlou e duvidou. Foi num segundo. Jackson Martínez lançou-se como uma pantera. No vértice do sistema de pressão do FCPorto, essa máquina que se liga quando o adversário dá mostras de insegurança com a bola o dianteiro colombiano faz de bisturi. Astuto, ágil, elástico, veloz, roubou a bola ao médio-centro espanhol e ficou só ante Neuer. O guarda-redes desvalorizou-o, houve um contacto, Jackson caiu e o árbitro marcou penalti. Eram decorridos dois minutos de jogo quando Quaresma celebrou a execução, abrindo as portas de um jogo que concentrou desde o principio toda a problemática deste Bayern onde que se chocam duas culturas.
Não se tinha o Bayern ainda recomposto da surpresa, quando Rafinha passou a bola a Dante e Quaresma lha tirou dos pés. O extremo português, que, contrariando a sua inclinação para a displicência, jogou concentrado, batendo Neuer sem lhe dar tempo para reagir. O 2-0 aos dez minutos de jogo submeteu o Bayern a uma prova de resistência psicológica. A situação colocava várias questões pondo em causa algumas das máximas inculcadas pelo treinador . Foi um bom momento para descobrir quem está, e quem não está para trabalhar. Guardiola já sabe que pode contar com Lahm, com Lewandowski, e, sobretudo, com Thiago Alcántara. As suspeitas estendem-se a outros, especialmente sobre o lânguido Götze.
Thiago apresentou-se em todas as partes para solucionar todos los problemas do Bayern. Não eram poucos. Las dificuldades inundavam a jacto o campo numa corrente que partia desde a linha defensiva estendendo-se até à área contrária. Nessa conjuntura, a pior imaginável, destacou-se Thiago. O médio espanhol fez uma exibição de pundonor e classe. Tentou resolver o grande dilema da sua equipa: sair limpo desde trás, clarificar as jogadas, conectar com os atacantes até driblar para romper linhas. Thiago apenas encontrou colaboração. Chamou a atenção o caso de Götze, que andava desaparecido. E o de Müller, cujo carácter expressionista contrasta com a lógica cartesiana que o seu técnico tenta transmitir nas manobras de ataque. Sem as fintas de Robben, que está lesionado, a equipa desgastou-se .
O Bayern não conseguiu penetrar com clarividência nas linhas que encontrou pela frente. Não se refez da perplexidade. Tão pouco Alonso, substituído no fim da partida, símbolo da claudicação, de das confusões do Bayern e do ímpeto de um FCPorto desafiador.
Nota do RoP:
Não é que seja difícil para nós portugueses entender o castelhano, mas como estamos num país divisionista, que anda a retalhar o solo pátrio através do futebol, e dos media (por mesquinhez e inveja ao FCPorto), entendi traduzir para a nossa língua este excelente artigo do El País, porque acho que vale a pena, e precisamente para destacar o facto de a voz da mouraria não entrar na consideração do país vizinho... Eles só piam cá dentro. Lá fora, rendem-se à sua menoridade intelectual...
O original pode ler-se aqui.
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