12 março, 2011
11 março, 2011
O Estádio do Dragão também é Porto
Não é a primeira vez que o faço, nem será certamente a última, tocar num assunto que se tornou uma espécie de vaca sagrada à liberdade de pensamento.Reporto-me à trilogia cidadão /adepto de futebol / bom senso. Não é por espírito de contradição, mas parafraseando o Almirante Pinheiro de Azevedo - que achava uma chatice e não gostava de ser raptado -, também eu tenho uma certa aversão ao unanimismo de certas "verdades" fossilizadas. Além de mais, é sempre útil procurar retirar o pó às ideias feitas que o tempo e a incapacidade de pensar diferente quase transformaram em factos científicos.
Tendo lido vários artigos contra o centralismo de algumas figuras públicas portuenses simpatizantes do Benfica, , fica-me sempre a dúvida se teriam capacidade para manter a coerência intelectual caso fossem desafiados a falar com igual honestidade sobre o que pensam da personalidade de Pinto da Costa. Como não sou jornalista, interesseiro e cobarde, vou escrever o nome de alguns desses [poucos] exemplos: Paulo Morais, António Souza Cardoso, Júlio Machado Vaz [que em jovem, cheguei a conhecer na praia da Aguda] e Mário Dorminsky. Todos, excepto Júlio Machado Vaz, colaboram activamente no semanário regional Grande Porto, e todos se têm assumido como adeptos da Regionalização, o que se aplaude, mas já não estou tão crente que essa lucidez possa ser extensível a uma análise honesta sobre os méritos do Presidente do FCPorto.
Dir-me-ão que uma coisa nada tem a ver com a outra, e é verdade. Porém, não é isso que parece. António Souza Cardoso, homem aparentemente civilizado, já foi comentador desportivo num canal de televisão, e tal como outros benfiquistas menos polidos, não foi capaz de fugir da vulgaridade de fazer as mesmas insinuações prejorativas acerca de Pinto da Costa. E estou a falar de uma raridade, de um benfiquista com nível, educado... A clubite tolda-lhes a seriedade analítica de cidadãos. É que, ao fim e ao cabo, depois de tantas acusações públicas infundadas, de tantas tentativas de linchamento ao seu carácter, Pinto da Costa não fez mais [se calhar até fez menos] que muitos outros dirigentes desportivos, políticos e cidadãos comuns fizeram, ou seja, olhar pelos seus interesses.
Fanatismos excluídos, encontrar no panorama actual da sociedade, um benfiquista capaz de separar as águas do clube das águas da análise ao carácter de pessoas [PdCosta], é como encontrar uma agulha num palheiro. Os benfiquistas são todos iguais, têm características idênticas ao eucalipto, adoram secar tudo que os rodeia... E é aí que o conflito de afectos entre portuenses/portistas e benfiquistas se revela insanável, porque, enquanto os primeiros defendem um todo indivisível [cidade versus clube], os outros, esquartejam-no, dividem-no, como se o clube fosse um intruso e não fizesse parte dela, procurando impor-lhe um corpo estranho, um outro clube sem qualquer afinidade com a região e a cidade. Confundem o clube com a Selecção...
No Porto, para a maioria dos portistas, falar mal de Pinto da Costa é bem mais grave que criticar Rui Rio, porque realidades à parte, o primeiro fez incomparavelmente mais pelo nome e pela visibilidade da cidade que o outro. Não devia ser assim, concordo, mas cada qual tem as capacidades e o prestígio que merece...
No Porto, para a maioria dos portistas, falar mal de Pinto da Costa é bem mais grave que criticar Rui Rio, porque realidades à parte, o primeiro fez incomparavelmente mais pelo nome e pela visibilidade da cidade que o outro. Não devia ser assim, concordo, mas cada qual tem as capacidades e o prestígio que merece...
Mário Dorminsky disse no GP: "Lisboa é um minúsculo país, não temos aquele caquético jet set que aparece invariavelmente nas revistas". De acordo, mas essa Lisboa pindérica, é a mesma que pertence à região do seu clube de eleição, ao ninho do centralismo, cuja grande massa de adeptos, incluindo políticos, passam a vida a subalternizar o Porto, a incendear e a apedrejar autocarros, a destilar ódios em programas ditos desportivos contra o FCPorto, e a tudo fazerem para o destruir. Em que ficamos? O FCPorto e seus simpatizantes não são afinal mais Porto que os portuenses que os desprezam ?
É que esta coisa de lançar por sistema a culpa para cima do FCPorto é uma história que já fede de podre. Esta mania de querer separar à força os portuenses dos portistas é como tentar decepar os braços e as pernas a uma pessoa. A livre escolha dos afectos é um direito, mas nem por isso explica a incoerência inestética de um corpo amputado. E o Porto, custe o que custar, tem de continuar a manter o seu intacto, com o FCPorto incluído.
10 março, 2011
O país Faz de Conta
Se os paises tivessem cognome, tal como era hábito fazer com os reis, Portugal só podia ser o Faz de Conta.
O jornal de ontem diz-nos que a PJ tem apenas metade dos efectivos que devia ter, que 70% da sua frota automóvel tem deficiências graves, e que os agentes estão há três meses em greve às horas extraordinárias, com a consequente falta de capacidade operacional que daí resulta. No entanto o ministério da Justiça faz de conta que está tudo bem.
Se fosse só isto...!
O país faz de conta que vive numa democracia representativa. Os políticos fazem de conta que estão honestamente empenhados em servir o seu país. O primeiro-ministro faz de conta que a crise económica já terminou, e também faz de conta que a crise não foi causada basicamente porque a nossa economia está estagnada há anos e nós gastamos sistematicamente mais do que aquilo que produzimos. Os partidos políticos fazem de conta que são a favor da regionalização mas sabotam-na de todas as formas e feitios. O sistema faz de conta que nã há promiscuidade entre o poder político e económico, e que todos os gestores de topo que estão no sector empresarial do Estado, foram aí colocados exclusivamente pela sua capacidade de gestão. O presidente do benfica faz de conta que é sério, impoluto, e irredutivelmente paladino da transparência. O seu treinador faz de conta que é um mestre de futebol e que sabe o que mind-games significa. O presidente dos árbitros da liga de futebol faz de conta que é imune às pressões exercidas pelo clube do regime. Os paineleiros televisivos benfiquistas fazem de conta que são modelos de fair-play, incapazes de caluniar, mentir, insultar, ou bolsar ódios contra quem não é da mesma cor.
A lista podia continuar, indefinidamente...
Entretanto nós, portugueses, fazemos de conta que somos europeus, primeiro-mundistas, membros insignes de um club restrito chamado Comunidade Europeia.
Pinto da Costa repórter...
Terá Pinto da Costa mudado de actividade, ou estará a tramar alguma? Assim raciocinam os mentecaptos do regime... |
09 março, 2011
A pirâmide que vai cair de pôdre
A vida não é uma coisa fácil, sabemos isso. Nunca o foi. Em Portugal como noutros pontos do globo, quem tiver escrúpulos e se recusar enveredar pela via do compadrio ou da marginalidade, dificilmente terá acesso a grandes facilidades. Contudo, seria gratificante podermos contar com a boa vontade dos governos para tornar o futuro dos jovens minimamente atractivo. Em vez disso, o que é que temos? Demagogia!
A comunicação social deixou de ser um suporte positivo de informação para o público. Pela manhã, mal raia o sol, ligámos a televisão e somos logo massacrados com toneladas de notícias negativas. Mais desemprego,
greves, corrupção, despedimentos, guerras, revoluções, inflacção, negócios falidos, e muito poucas notícias positivas. Chamam a isto civilização.
Se optarmos por mudar de canal, é bem provável desembocarmos num outro qualquer onde figuras públicas procuram passar por figuras de prestígio [leia-se,de competências confirmadas], debatendo a(s) crise(s) e apelando, como manda a moda, ao positivismo. Pelo meio, talvez para conferir alguma "coerência" ao discurso, vão-nos "prevenindo" que o emprego para toda a vida tem os dias contados, o que faz todo o sentido...
E os jornalistas, naquele jeito peculiar de quem se acha actor insubstituível da causa pública,vão dando corda ao populismo dos comentadores,sem se atreverem a confrontá-los com a aberração das suas sábias premonições. Sempre dá menos trabalho fazer as mesmas perguntas, das quais todos adivinham a resposta, do que confrontá-los com a sua mediocridade ideológica e desafiá-los a apresentar respostas sérias.
Seria serviço público sim, se em vez de aceitarem "soluções" simplórias e fatalistas, como essa do múltiplo emprego precário, os jornalistas lhes colocassem questões pertinentes, embaraçosas mesmo, como por exemplo: "não estará o Mundo equivocado sobre o conceito de progresso/produtividade? Afinal, a quem serve uma máquina que produz mais, em menos tempo, se o resultado acaba invariavelmente no desemprego de centenas ou milhares de seres humanos? Que importância terá afinal produzir mais e melhor se, consequentemente, essa "mais valia" acaba invariavelmente por gerar um menor poder de compra das populações? Não haverá que reformular toda esta concepção absurda e atabalhoada de desenvolvimento?
Aceitar placidamente paradigmas de regressão económica e social inconsistentes, sem ao menos os contestar,será contribuir para o progresso da Humanidade? Estarão os líderes mundiais, sem se aperceberem, a exercer discriminação com o próprio progresso? Isto é, existe empenho e capacidade para aperfeiçoar, inovar a tecnologia da máquina e não se é capaz de usar a mesma vontade para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos?
Aceitar placidamente paradigmas de regressão económica e social inconsistentes, sem ao menos os contestar,será contribuir para o progresso da Humanidade? Estarão os líderes mundiais, sem se aperceberem, a exercer discriminação com o próprio progresso? Isto é, existe empenho e capacidade para aperfeiçoar, inovar a tecnologia da máquina e não se é capaz de usar a mesma vontade para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos?
Colocar este tipo de questões é coisa de que ninguém se lembra, nem os jornalistas. Preferem imitar os políticos: falar, sem dizer nada. Os poderes copiam-se.
07 março, 2011
Orelhas de burro
No rescaldo do jogo entre o Sporting de Braga e o Benfica, em que a equipa nortenha levou de vencida o clube de bairro lisboeta, o presidente benfiquista [ mais conhecido por "Orelhas"], decidiu romper o silêncio que um período inabitualmente longo de victórias deixou os mais crédulos confundir com estratégia ou, na melhor das hipóteses, com fair play... Puro engano.
Decididamente, o "Orelhas" é bronco dos pés à cabeça, e não consegue disfarçá-lo mesmo quando a vida lhe parece sorrir. Ontem perdeu, e como perdeu resolveu ir para a zona mista falar com os jornalistas para desatar a bater nos árbitros e em tudo o que mexia ou estava quieto. Desta feita, recorreu à astrologia para se inspirar e proferir a frase do ano:
"estava nas estrelas que tudo isto ia acontecer", ou então esta: " se houvesse dúvidas, provou-se que era muito difícil o Benfica chegar lá acima. Fomos constantemente empurrados"
O Renovar o Porto soube, de fonte fidedigna, que a conversa com os jornalistas andou dentro destes parâmetros:
Jornalista:
Senhor Orelhas, o que é o senhor quis dizer com "estava nas estrelas que isto ia acontecer", é capaz de explicar?
Orelhas:
- Então você não viu o que toda a gente viu?
Jornalista:
- Vi o Benfica perder...
Orelhas:
-No espaço homem, você não viu? Toda a gente viu, até um cego via!
Jornalista:
-No espaço vi umas estrelinhas, mas poucas. O céu estava um tanto encoberto...
Orelhas:
-Entre a estrela Sirius e a Alfa de Centauro, ele estava lá...
Jornalista:
-Ele quem?
Orelhas:
-Ele, o Pinto da Costa, quem havia de ser
Jornalista:
-E o que é que ele estava a fazer entre as estrelas?
Orelhas:
-A suborná-las
Jornalista:
-A subornar as estrelas, presidente? Para quê?
Orelhas:
-Para que havia de ser, homem! Estava a subornar as estrelas para, através da energia magnética influenciarem o árbitro e prejudicar o glorioso. Percebe? A Liga tem de ver isto é sempre a mesma coisa!
Jornalista:
-Acha que foi por isso que o Benfica perdeu o jogo?
Orelhas:
-Por isso, e por causa das toupeiras
Jornalista:
-Das toupeiras? Também elas foram subornadas por Pinto da Costa?
Orelhas:
-É claro, foram elas que deram o efeitinho à bola - sem ninguém ver -, nos golos do Hugo Viana e do Mossoró, senão nunca entravam na baliza. O nosso guarda-redes defende tudo. Tudo!
Jornalista:
-Então foi por isso que o Benfica não ganhou?
Orelhas:
-Estava tudo viciado. Estava escrito nas estrelas, nas toupeiras, nos pneus...
Jornalista:
-Disse pneus, presidente?
Orelhas:
-Quem falou em pneus? O que eu disse foi que tinha fé em Deus. O Benfica ainda vai ser lampião - quero dizer - campeão.
Jornalista:
-sim, senhor presidente...
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