Desenganem-se os sulistas se pensam que a questão com que intitulei esta crónica lhes confere qualquer vantagem sobre os nortenhos. Não, não confere. Mas nem por isso afirmarei que o carácter dos homens se encontra nos pontos cardeais, ou na côr da pele. O que sei, e todos os nortenhos sabem, é que foi no Norte, e particularmente no Porto que mais se lutou, morreu pela Liberdade e repeliu a tirania absolutista.
Por ironia, o Porto tem como ícone, a Liberdade, protagonizada pelo lisboeta mais portuense da história de Portugal, o rei D. Pedro IV, que disso fez prova quando decidiu doar ao Porto o próprio coração, após a sua morte. Esta, é a mais nobre, e quiçá a única recordação vinda de um lisboeta para com o povo do Porto que tenho na memória. Deverá certamente haver outras, mas com esta grandiosidade e com este peso histórico, não conheço.
Desde então, de Lisboa, o Porto e o norte em geral, só recebem ódio e desprezo. Isso, é mais do que notório na política, na sistemática obsessão pelo centralismo, quase sempre acompanhado por um esvaziamento de protagonismo económico, social, e político. Se falarmos de futebol, então a coisa torna-se mais descarada, mais afrontosa, mais provocatória. E que fazem hoje os nortenhos para combater esta nova tirania? Nada!
Há quem ache que as coisas não são bem assim, que isto são tudo complexos de inferioridade de um natural de uma segunda cidade por ciume da primeira, que tem de ser sempre a capital... Se tem de ser sempre a primeira, ou não, tenho as minhas dúvidas, mas aposto que nem sempre é a melhor, aqui, como em qualquer pais do Mundo. Depois fala-se, e acredita-se ao que parece, que vivemos numa democracia, mas ninguém ousa explicar - e há muita gente que podia fazê-lo -, se é natural viver-se num clima de medo e intimidação numa democracia.
A RTP, por exemplo, é uma empresa que pela sua grandeza e visibilidade reflecte bem esse clima de medo. Não é infelizmente a única. Todas as estações sediadas em Lisboa seguem a mesma cartilha. Os jornais, e as rádios, também. Mesmo as estações radiofónicas do Porto mais poderosas apregoam o centralismo. A cartilha é o centralismo, ou neo-colonialismo, se entenderem mais abrangente. E o medo deste século, não é propriamente gerado por pressões políticas, é vincadamente por gostos clubistas e o anti-portismo é quase uma causa. Basta estar um pouco atento e seguir com regularidade certos programas para se perceber que esse medo existe e não é tão inofensivo como pode parecer.
Sabemos que as estações lisboetas sem estúdios autónomos no Porto estão mais confortáveis e não precisam muito de reprimir, para fomentar as políticas que mais lhes interessam, mas na RTP do Porto só lá trabalha e pode progredir, quem souber anestesiar o seu portismo, ou quem se render (Hugo Gilberto) aos caprichos avermelhados de certos ditadorzitos, como um que dá pelo nome de Carlos Daniel... É ele quem controla o pessoal para os programas da bola, a que eles chamam graciosamente "debates". É ele quem escolhe a dedo o perfil dos representantes dos outros clubes, e se forem do FCPorto, só podem ser daqueles mansinhos, civilizados, controláveis...
Isto tudo, passa-se na RTP, num canal do Estado pago por todos nós. Como é possível estarmos também nós portistas, a contribuir para o sustento de um gajo reles como esse Carlos Daniel e de outros como ele? Os próprios comentadores portistas de futebol têm medo de dizer o que pensam, porque sabem se o fizerem perdem logo a avença. E como o amor ao vil metal supera a coragem, toleram tudo... Como é possível que num estado de direito ainda nenhuma figura desse estado de direito tenha reparado nisso?
Isto tudo, passa-se na RTP, num canal do Estado pago por todos nós. Como é possível estarmos também nós portistas, a contribuir para o sustento de um gajo reles como esse Carlos Daniel e de outros como ele? Os próprios comentadores portistas de futebol têm medo de dizer o que pensam, porque sabem se o fizerem perdem logo a avença. E como o amor ao vil metal supera a coragem, toleram tudo... Como é possível que num estado de direito ainda nenhuma figura desse estado de direito tenha reparado nisso?
Mas o medo, também está no Porto, no FCPorto, e no Porto Canal. O medo pela autocrítica, misturado de atracção parola pelos colunáveis de Lisboa, e uma abjecta subserviência ao centralismo. Ao contrário do que nos querem vender, o Porto Canal é o pior exemplo de autonomia informativa que podíamos ter. Não há ali uma ideia, uma sequência coerente de programação, uma ambição de qualidade, um projecto com pés e cabeça, exigente, inovador. Nada!
Preferia o FCPorto sem o Porto Canal, porque a verdade é que este "casamento" só trouxe ao clube mediocridade, desilusão e o silêncio do medo. Não era nada disto que esperava de um canal à Porto. A menos que o canal à Porto que se quer, seja o do FCPorto desta silenciosa era de Pinto da Costa. E se é desse Porto que se fala, eu não compro, porque não gosto.
Preferia o FCPorto sem o Porto Canal, porque a verdade é que este "casamento" só trouxe ao clube mediocridade, desilusão e o silêncio do medo. Não era nada disto que esperava de um canal à Porto. A menos que o canal à Porto que se quer, seja o do FCPorto desta silenciosa era de Pinto da Costa. E se é desse Porto que se fala, eu não compro, porque não gosto.
Mas há mais. Há também medo dentro do próprio FCPorto. Medo de perguntar ao Presidente o que se passou este ano para não contestar o que era contestável, em vez de se entreter a desviar a atenção dos adeptos para questões comezinhas. Há medo de lhe lembrar que o clube não lhe pertence, que não pode encolher os ombros às adversidades que nos colocam, dentro e fora das 4 linhas. Se anda tanta gente com medo, agora, que [insisto], nos asseguram vivermos em democracia, como foi possível a alguns [como eu], resistirem a uma ditadura?
Algo deverá estar mal contado, na porra da história deste indescritível país. E você, leitor, é um homem do Norte?