Foi com esta frase grande eloquente que ontem, no dia 25 de Abril, o Director do JN titulou a sua crónica de homenagem dedicada à efeméride. Com poesia q.b., mas com muito pouca profundidade.
É por estas análises coloridas e irritantemente superficiais que gerei anti-corpos para me defender de lugares comuns regimentais deste tipo. Vencer a Liberdade! Que poético.
Basta haver um (pa)checo-esperto, lá das alturas herméticas da sua sabedoria, a vender certezas (sic)tárias, que não falta quem a queira comprar. E, ai de quem se atrever a contrariar estas "sentenças", que é logo desclassificado e retirado da estante reservada aos "bons cidadãos".
A Liberdade é uma coisa fantástica, particularmente para quem ainda viveu (como eu) num regime onde era muito espartilhada, mas parece-me exagerado falar dela como valor acabado e inquestionável. É petulante reduzir a Liberdade a um valor "simplex" como está agora na moda, e falar dela com demasiada euforia, sobretudo se nos esquecermos do factor sócio-económico de uma grande faixa da população que sobrevive em precárias condições. É pouco sério.
Se falarmos da Liberdade com seriedade, sem lhe retirar a importância, mas também sem a enfatizar demasiado, é o suficiente. Porque a Liberdade é o primeiro de todos os valores, é um ponto de partida, e não uma espécie de eucalipto mitificado de bondade que tudo seca à sua volta.
Não sei precisar neste momento, o número exacto de desempregados e gente abaixo do limiar de pobreza que pelo Porto e o Norte do país vão engrossando a fila dos descontentes, mas sei que não é da falta de Liberdade que mais razão de queixa têm.
Para testar esta tese, experimentem perguntar-lhes se alguma vez conseguiram fazer as compras no supermercado e pagar o respectivo consumo com notas de Liberdade. Perguntem-lhes também, se houve algum Banco que aceitou abrir-lhes conta e conceder-lhes crédito para habitação ou carro, apresentando como garantia doses q.b. de Liberdade.
A resposta é tão óbvia quanto revoltante. O objectivo principal do 25 de Abril não foi somente abrir ao país as portas da Liberdade. Foi abri-las sim, para deixar entrar o que até então faltava em Portugal, como o desenvolvimento gerador de riqueza, um maior equilíbrio social e económico entre a população, e uma integração harmónica aos padrões de vida europeus.
Mas foi também, para fechar as portas à corrupção, ao compadrio, ao oportunismo político, ao banditismo, às oligarquias políticas, e à mediocridade.
Ora, se ainda estamos tão longe destes patamares de progresso, é risível falarmos da Liberdade como se fosse possível adquirir só com ela as asas que nos permitem voar para a vida ambicionada.