28 março, 2008

Notas Soltas

1 - Parece ser consenso geral que os responsáveis em caso de atropelamento de peões, são os automobilistas, mas se fizermos uma observação atenta do que se passa à nossa volta (e à nossa frente!) quando percorremos as artérias desta cidade, chegamos à conclusão que grande número de peões não sabe atravessar uma rua. Já nem me refiro aos que o fazem em qualquer local, com o trânsito a correr, numa atitude de inconsciência suicida. Falo dos que utilizam as passadeiras, podendo caracterizá-los em vários tipos.

- Há os que transformam as "passadeiras" em "passeadeiras" , percorrendo-as tão devagar como se estivessem a passear num jardim.
- Há os que pensam que as passadeiras os protegem miraculosamente de qualquer acidente, e então atravessam sem verificar se o podem fazer sem perigo.
- Há um sub-tipo que até olha, mas pensa que os veículos param instantaneamente e então atravessa quando já não há possibilidade de travagem.
- Há enfim outro tipo, o mais perigoso e, pelo que tenho visto, mais comum do que se poderia pensar, que acha que tem prioridade nas passadeiras em que há semáforo, mesmo quando este esteja vermelho para os peões e verde para os veículos.

É por isso que quando leio uma notícia de atropelamento numa passadeira, não concluo logo que indiscutivelmente a culpa é do automobilista. Pode não ser.

2 - Um vulgar anúncio de concurso público das Estradas de Portugal ao qual deitei um olhar distraído, veio avivar, se preciso fosse, o meu sentir anti-centralista. Trata-se de uma obra menor de engenharia consistindo na reparação de uma ponte. O que me chamou atenção foi o facto dela se localizar bem a norte, no concelho de Terras de Bouro, mas no entanto a abertura das propostas terá lugar na sede da E.P. em Almada. Desnecessário focar o abuso que é obrigar os candidatos do Norte a fazerem 700 ou mais quilómetros para assistir a um acto administrativo, não obrigatório é certo, mas que é do interesse dos concorrentes estar presente. Não haveria com certeza dificuldades administrativas insuperáveis para que o acto fosse feito algures na região onde a obra se localiza. Simplesmente o poder central está-se nas tintas, ou então procura deliberadamente favorecer os empreiteiros da região de Lisboa e
Vale do Tejo.

Por muita insignificância que este caso assuma, é no entanto bem revelador do descaso com que os colonizadores de Lisboa tratam os súbditos provincianos.

A paranóia benfiquista do JN

Não se trata de uma apreciação biográfica de Alberto João Jardim, mem tão pouco de uma alienação patológica pelas coisas do futebol, trata-se apenas de constatar factos com efeitos económicos e sociais inquestionáveis. Por isso, não me levem a mal, não poder desviar-me tanto como desejaria do futebol, porque na verdade, os nossos problemas não se resumem a isso, mas ajudam-nos a percebê-los um pouco melhor.

A imagem de Alberto João Jardim (AJJ) está longe de corresponder aos parâmetros impostos pelo poder central-divisionista - é assim que passarei a designá-lo futuramente - para merecer um lugar no restrito quadro reservado às personalidades com "boa imprensa". Muito pelo contrário, tal como Pinto da Costa, não há jornal capaz de resistir à tentação de o diabolizar e poupar às mais sórdidas acusações.

Houve um tempo (ainda de paciência) que até eu me incomodava com as ameaças chantagistas e separatistas de AJJ, mas, à medida que no Continente se foi intensificando a concentração do poder central-divisionista, comecei a perceber melhor o líder madeirense e a tolerar-lhe os excessos.

Hoje, penso que perante o autismo de Estado, semeado por sucessivos governos sem sinais sérios de mudança e com tendência para afunilar, mais e mais, o poder em Lisboa, só daquela forma reivindicativa, intimidante e corrosiva é que - apesar da autonomia - foi possível a AJJ tornar a Madeira numa região próspera, e evitar que ela também se transformasse numa ilha miserável e abandonada como aconteceu com o Porto.

Os políticos e as chamadas "elites" politicamente correctas, serão em qualquer circunstância, pessoas amorfas e cinzentonas para as populações. Serão sempre vultos passageiros, sem identidade profundamente pública, sem identidade na história futura. Serão rapidamente esquecidos. Com todos os defeitos que carregam e respectivas diferenças entre si, quer A. João Jardim, quer Pinto da Costa, jamais pertencerão a esse grupo de pessoas cinzentonas e submissas.

Não quero imaginar o que seria do Futebol Clube do Porto, se Pinto da Costa fosse aquilo no que o regime centralista-divisionista gostaria de o transformar: apenas mais um, dos inúmeros vegetais que hoje gravitam, obedientes e desenraízados, em torno dos desígnios da capital.

É aqui, que entra o futebol e os media. Os orgãos de comunicação social podiam ter um papel moderador de contrabalanço caso fossem mais afirmativos no que toca às questões regionais (que também são nacionais), e se preocupassem mais com o povo e menos com os rankings de vendas. Mas não têm.

O Jornal de Notícias, um jornal histórico com sede no Porto, que teve carácter nacional muito antes do advento da "democracia", já foi mais portuense do que é agora . As duas páginas inteiras dedicadas hoje ao Benfica são um hino ao oportunismo.

O Benfica, deve ser destacado pelo que é agora, não pelo que foi quase à meio século, independentemente do número de adeptos que possa ter. Esse estatuto não pode ser tido como uma herança com efeitos retroactivos porque os tempos mudam e aos outros (clubes) não pode ser negado o direito de crescer. Para dedicarem ao Benfica honras deste tipo são obrigados a fazê-lo com o Vitória de Guimarães que está exactamente no mesmo lugar do campeonato. Façam-no, então!

Esta moda subserviente de se publicar edições para o Norte e para o Sul não é seguida pelas televisões de Lisboa. Porque terão os jornais do Norte de o fazer? O que é isto senão oportunismo comercial?

O argumento-da-treta das "vendas", é exactamente o mesmo que inspirou muitos portuenses a saír daqui para olhar pela vidinha em Lisboa, porque "era mais fácil", mas não deixaram com isso de contribuir para o empobrecimento da cidade...

Se, como gostam de dizer, os critérios jornalísticos se regem pela objectividade, essa objectividade poderá ter muito a ver com volume de vendas, com dinheiro, mas seguramente terá pouco a ver com a estima e o respeito que os portuenses deviam merecer, antes de outros leitores.

Obras da Câmara não são concluídas dentro do prazo


Os apaniguados apreciadores do estilo contabilista de Rui Rio e das suas tão propagandeadas virtudes de seriedade, têm aqui, aqui e aqui, três sérios motivos para reverem os seus critérios analíticos e reconsiderarem.


Tudo indica, que nem em matéria de rigôr o Dr. Rui Rio seja exemplo a seguir. Para mim, não constitui qualquer surpresa. O que me surpreende mesmo, é que ainda haja por aí tanta "cobaia" para tão fraco hipnotizador.

Fábrica de talentos abre portas no Centro Histórico em Outubro

Óptima notícia, esta!

O secular edifício do ex-Convento de S. Domingos (datado de
1239!), no Largo com o mesmo nome, ex-filial do Banco de Lisboa,
ex-Banco de Portugal e ex-Companhia de Seguros Douro, vai ser
convertido em Palácio das Artes.
Parabéns aos promotores da iniciativa!

27 março, 2008

Como vai ser o futuro do Aeroporto Sá Carneiro?

Como estará o negócio Ryanair-ANA-ASC? A Ryanair fica e aumenta os voos, ou vai para Compostela? Vamos ganhar esta batalha, ou mais uma vez o poder central vai nos tramar? Tenho receio que o silêncio que se abateu sobre o assunto não pressagie nada de bom.

É o futuro do ASC, e em grande parte o do Norte, que pode estar em jogo. Uma vertente económica tão importante como o turismo é, do meu ponto de vista, uma área em que temos enormes potencialidades e cujo aproveitamento está longe de totalmente explorado, por muito que inegáveis progressos tenham sido conseguidos nos últimos anos. Ligações aéreas directas e baratas para o Porto são indispensáveis para aumentar o fluxo turístico, como tem vindo a ser sobejamente demonstrado nos últimos dois anos. Há indicações que a taxa de ocupação dos hoteis tem aumentado, e é evidente que isso origina repercussões positivas a jusante.

Por isso será vital um desfecho favorável para o desacordo ANA-Ryanair, ou então a confirmação da entrada em cena de um outro parceiro, que supostamente seria a Sonae. Um desfecho desfavorável pode ser catastrófico para a nossa região, já tão martirizada noutras vertentes.

Gostaria de pensar que este assunto está a ser monitorizado pelas entidades locais que possam ter acesso às negociações e as possam, de algum modo, influenciar no sentido que mais nos interessa.

Dr.Rui Moreira, Eng.Belmiro de Azevedo, têm por acaso algumas informações que possam transmitir aos seus concidadãos?

Rectificação

Este post por lapso ficou sem título. Estava destinado a chamar-se "Ministro Jamé ataca de novo".
Com muita pompa e circunstância foi anunciado pelo primeiro-ministro o concurso público para o IC 36, troço de auto-estrada que, em Leiria, liga a A1 à A8. O ministro Mário Jamé Lino declarou, segundo os jornais, que está a ser estudada a possibilidade dessa via ficar isenta de portagem.

Considerando que a A41 (antigo IC24) também liga auto-estradas (A28 à A3 e A4) que é uma via quase urbana pois serve localidades satélites pertencentes ao Grande Porto mas que no entanto vai ter portagens, considerando também que a algarvia Via do Infante será de circulação livre, recordando enfim a entrada de touro enraivecido que o citado ministro fez na Metro do Porto, tipo "alto e pára o baile, todos para a rua que vocês são um bando de incompetentes", só posso chegar a uma conclusão. O ministro Jamé não grama o Porto.

Tenho tentado ver sinais de indignação na sociedade civil nortenha. Em vão. Associação industrial, comercial, universidade, presidentes de câmara, figuras gradas que botam discursos nos programas televisivos, políticos com responsabilidades partidárias, todos aparentemente calados. Diz o ditado que "quem cala consente". Se toda a gente consente, porque razão o poder central não há de sentir-se encorajado a continuar a pôr a pata em cima do Norte?

Sou bairrista, com muito orgulho

Segundo o Dicionário da Sociedade de Língua Portuguesa, Bairrista é o «Defensor dos interesses do seu bairro ou da sua terra natal» e Bairrismo o «Amor ou apego ao bairro ou ao torrão natal».


Nos tempos que correm, de cosmopolitismo de fachada e despersonalização programada - com ligação às raízes, orgulho pelas heranças dos pais (que se reconhecem) e afecto pela terra onde se nasceu - o bairrismo é um valor cívico que os subprodutos do centralismo que nos tolhe consideram ultrapassado.


Hélder Pacheco,

Professor, e escritor

As rodas da vida


Do berço, ao carrinho de rodas, acompanha-nos sempre a mania de queremos "viver" depressa. Tudo, para acabarmos imobilizados e frios num caixão...

"OS SUAVES MILAGRES POLÍTICOS"

Extraído do JN
Por outras, palavras,
de Manuel António Pina

Começou a campanha eleitoral. Não há ainda listas nem candidatos, mas o tiro de partida já foi dado o IVA descerá 1% a partir de Julho.

Se bem me lembro, ainda há 12 dias Sócrates dizia em Bruxelas que era "leviano e irresponsável" falar em baixar os impostos. Será que Sócrates, há 12 dias, ainda não tinha ideia nenhuma sobre o facto de o défice de 2007 ter ficado abaixo da meta dos 3,4% nem sobre os dados da economia relativos aos primeiros meses deste ano? E por que é que, estando as contas públicas agora muito melhor do que estavam em 2005 (situação que justificou a quebra da promessa eleitoral de não aumentar os impostos), o IVA não desce desde já para os níveis de 2005?

É óbvio, no entanto, que descerá mais um pontito com o aproximar da data mágica ("Veremos para o ano", já foi dizendo Sócrates), e que, no OE de 2009, será provavelmente a vez do IRC e do IRS.

Entretanto, na Educação, na Saúde, na Justiça, as políticas tornar-se-ão, por suave milagre, mais dialogantes, a ministra da Educação adiará algumas medidas mais afrontosas (afinal de contas, os professores representam 140 mil votos) e sorrirá cada vez mais e o das Finanças descobrirá finalmente que a crise orçamental está ultrapassada. O azar dos portugueses é não haver eleições todos os anos.


Meu comentário:

Embora não contenha nada que todos nós já não saibamos, não resisti a publicar, na íntegra, este artigo de Manuel A. Pina.

Depois de o ler, pus-me a pensar, se não seria pelo menos mais honesto, propôr ao Ministério da Educação, a criação de uma nova disciplina para o ensino primário, ou mesmo pré-escolar, com o nome (por exemplo) de "Ciências da Hipocrisia".

Não é que simpatize com a ideia, pelo contrário, desgosta-me. Mas, apesar disso, a nova aula teria a "vantagem" de proporcionar às criancinhas - que serão os homens e mulheres de amanhã - uma precoce aprendizagem na arte de bem-enganar-a-todo-o-povo.

Depois, ficavam desde muito cedo a saber, que a desonestidade é afinal uma "virtude" a desenvolver, ao contrário do que os nossos pais e professores nos andaram a dizer desde pequeninos.

26 março, 2008

O SENHOR PROCURADOR

Suponho não cometer uma heresia, se disser que neste momento, em que o centralismo aperta o cerco a Pinto da Costa, e que já teve como 1º. efeito uma acusação com a sua ida a julgamento, nenhum portuense-portista (nem todos se podem orgulhar deste feliz binómio), gostaria de ver o melhor dirigente de todos os tempos do futebol português, ser condenado, nem que fosse por uma multa de trânsito, quanto mais pela suspeita de corrupção de que pretendem acusá-lo.

O facto de ser um portista fervoroso, não me fará desviar dos princípios éticos que ferozmente defendo para qualquer outra área da vida pública e privada. Considerando as respectivas responsabilidades, da mesma forma que condeno o compadrio político e as grandes negociatas protagonizadas por grandes figuras públicas e do empresariado (e que nunca são apuradas até ao fim), não deixarei de censurar qualquer acção que venha a ser provada contra Pinto da Costa, por mais simples que ela seja. Mas desiluda-se, quem pensar que isso fará inverter a minha opinião em relação àqueles que passaram a vida a diabolizar Pinto da Costa, porque tenho a certeza que estarão sempre a anos-luz da dimensão do líder portista, em todos os aspectos.

Contudo, este autêntico folhetim criado em redor da figura de Pinto da Costa, que já serviu de inspiração a "escritoras" de geração espontânea e a "cineastas" falhados, é tudo, menos inocente.
Foi nitidamente orquestrado num processo conspirativo com óbvia e pública visibilidade, cuja motivação não foi mais do que o sucesso desportivo alcançado nos últimos 20 anos pelo Futebol Clube do Porto desde que Pinto da Costa é o seu dirigente, com a consequente subalternização a nível nacional e internacional, dos clubes de Lisboa. Isto, é um facto.

Portanto, na óptica centralista, não fazia muito sentido que, depois de espoliarem o Porto de tudo o quanto podia conferir-lhe algum protagonismo e poder - sedes de bancos, de jornais, ausência de canais abertos de televisão autónomos e esvaziamento da representatividade política - que a razia ficasse pela metade permitindo que o futebol, área onde o mediatismo é tão popular fosse a única excepção. Por isso, para compor o ramalhete, inventou-se o Processo Apito Dourado.

Mesmo admitindo que Pinto da Costa venha a ser absolvido, já muito mal entretanto terá sido feito, e se há entidade que ficará para sempre manchada em todo este triste processo, essa entidade chama-se poder judicial. Poder judicial esse, que se deixou envolver de forma imatura num embuste perpetrado grosseiramente e de fácil identificação.

Ontem mesmo, o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, considerava a actuação do Procurador Geral em relação ao caso "Carolina Michaelis" despropositada face à dimensão do problema, por ter mandado instaurar-lhe um inquérito, antes mesmo que alguém apresentasse a respectiva queixa. Aconselhou também o senhor Procurador a empenhar-se na resolução da grande corrupção e a apresentar resultados...

Estranha-se portanto, que a mais leve centelha de ruído proveniente do Porto seja motivo bastante para o senhor Procurador se desdobrar em investigações e já não se sinta motivado a fazê-lo depois de Portugal inteiro ter ouvido o Presidente do Benfica a negociar ao telefone a escolha de um árbitro com Valentim Loureiro. Mais. Se a força dos boatos é tida em conta para desencadear a reabertura de processos, ainda se compreende menos que o senhor Procurador faça orelhas moucas do que consta à boca pequena sobre a proveniência do dinheiro que serviu para tornar subitamente rico o Presidente do Benfica.

Há quem diga que foi na droga, senhor Procurador. Será suficiente para mandar abrir-lhe um processo, senhor Procurador?


PS-Pacheco Pereira, o moralista-mor, quando se trata de casos obscuros que envolvam clubes lisboetas tem muito pudor em falar deles. Por que será?

25 março, 2008

VAMPIROS À SOLTA

São 20H10 m. As televisões e demais orgãos de comunicação social ao serviço dos vampiros sulistas, separatistas e terroristas de Lisboa, estão completamente extasiados com a boa-nova da ida de Pinto da Costa a julgamento.

Os telejornais rejubilam na esperança que se faça finalmente injustiça! É vê-los, todos estéricos, iludidos que com esta cabala vão conseguir abalar o Futebol Clube do Porto.

Só falta mesmo é vermos-lhes o sangue nos dentes. Para eles, Pinto da Costa já está condenado.

Um único "mérito" reconheço a esta repugnante infâmia:

O DE TORNAR IRREVERSÍVEL, A MINHA REPULSA POR ESTA CANALHADA !

Padroeira da Justiça ou Revolucionária?



Será impressão minha, ou a Procuradoria Geral da República está completamente tomada pela portofobia?
Os jornais, dizem-nos que a criminalidade em Lisboa não está melhor que a do Porto. Todos os dias temos provas dessa evidência. Contudo, talvez pela força espiritual da nova Padroeira da Justiça (que já não é Santa Joana), o senhor procurador parece fazer questão de se revelar particularmente preocupado com as asneirolas que por cá se fazem. Será só impressão minha?
Agora, o Ministério Público quer apurar responsabilidades do caso "Carolina Michaeles", mas ainda não é público que este caso venha a merecer as honras do costume. Ansiamos pois, por conhecer qual será a nova "equipa especial" que irá ser criada para proceder às respectivas investigações.
Que será de Lisboa já sabemos, estranharemos é se não fôr. Os nomes dos investigadores é que ainda não conhecemos. Já agora, também daria jeito sabermos se vão baptizar o caso com um bonito nome, do género "Apito Dourado"ou "Noites Brancas", como gentilmente costumam brindar este tipo de ocorrências na nossa cidade...
Estes requintes decorativos com pinceladas de suspense quase hitchcockianos, só podem dever-se ao estilo sui generis da Procuradoria Geral exprimir a elevada consideração e respeito pelo povo do Porto. De outro modo, que outra coisa poderíamos nós pensar?
Apesar da boa intenção, não posso deixar de fazer um reparo. O estilo, lembra-me aquelas pessoas muito desleixadas que só se lembram da higiene quando alguém lhes diz que há muito lixo à sua volta.
Quando assim acontece, o mais provável, é que acabem, sorrateiramente, por colocá-lo debaixo do tapete.

Explicações devidas

Há riscos que vale a pena correr, mesmo que possamos dar uma imagem pouco simpática de nós próprios. Sem a mínima presunção, considero poder incluir-me nesse escasso número dos não alinhados com os preconceitos desta alegre democracia. Passo a explicar-me.

Não me incomodo mesmo nada se vierem um dia acusar-me de ser anti-democrata pelo facto de submeter a uma análise prévia os textos dos comentadores dos posts aqui publicados. Esta, é uma regra que não me perturba se outros também a aplicarem a mim.

Nas definições deste blogue, dispus de duas opções para os comentários recepcionados: mostrar ou ocultar. A opção que aqui seleccionei ficou obviamente definida em "mostrar comentários de qualquer pessoa". Além desta opção, ainda dispunha destas três: "para utilizadores registados no blogue", "utilizadores com conta google" e "só membros do blogue". Por fim, optei por activar a moderação de comentários antes de serem publicados, por uma razão muito simples: a de evitar a eventual degradação do blogue. Prefiro assim, mesmo que isso possa custar uma menor participação ou visibilidade ao blogue.

Se alguém quiser perceber quais seriam as consequências se tivesse optado pela não moderação de comentários, basta apenas dar um saltinho ao "Bússola", clicar nos comentários e pronto, é só ler a excelência de troca de mimos que por lá se produzem... Provoca, estimula a participação através de picardias pertinentes, mas o resultado é o insulto torpe e o ódio. Isso, aqui no Renovar o Porto, dispenso, porque já temos de sobra.

Aqui está um bom exemplo de como não precisamos de exceder os limites da inconveniência, de enveredar pelo ultraje, para nos sentirmos livres. Se há coisa que aprecio e não o escondo é a sátira o humor corrosivo, mas - como diz o povo -o que é demais é moléstia.

Mesmo assim, só uma única vez não publiquei um comentário pelas razões acima apontadas.

É assim mesmo que vejo a democracia, com moderação.

PINTO DA COSTA, NA RADIO CLUBE PORTUGUÊS

Hoje, no dia em que os telejornais da centralidade lisboeta abriram euforicamente com a notícia da ida a julgamento de Pinto da Costa, este dará uma entrevista a Carlos Magno pelas 16H00 (não sei se em directo) na RCP, na frequência 90.0.

Pela amostra, parece até que já foi condenado!

Enfim, a palhaçada a que já estamos habituados...

24 março, 2008

Incongruências

Um habitual cronista de um diário lisboeta, escrevia há tempos que há uma certa Lisboa que se julga social e culturalmente superior ao resto do país. Acho natural que assim pensem. Trata-se de uma atitude comum aos habitantes das cidades que são simultaneamente capital do país e o seu maior centro económico e financeiro. Assim a questão não é inédita e o problema não reside aí. O problema está em que tudo leva a crer que a esmagadora maioria daqueles que não habitam na capital, agem como se se considerassem, para todos os efeitos práticos, social e culturalmente inferiores aos habitantes da capital.

Como nortenho e portuense assumido, causa-me mágoa e confusão o plano inclinado em que a cidade e a região escorregam, naquilo que parece ser um trambulhão até se bater num fundo muito fundo.

Uma região populosa de gente industriosa e trabalhadora que durante décadas e décadas "deu cartas" e foi motor de progresso e inovação do país, uma área metropolitana que congrega quase dois milhões de habitantes, uma Universidade - Porto - que é a mais frequentada do país, duas outras - Braga e Aveiro - que monstram uma dinâmica imparável, uma Associação Industrial com evidente capacidade realizadora, uma Associação Comercial dinâmica e participativa, algumas empresas liders a nível nacional e até internacional. Com tudo isto, estamos como estamos, e somos a região mais pobre da Europa. Porque?

Olhando para esta incongruência, um cidadão médio proveniente de outro país, abanará a cabeça com incredulidade e, se for medianamente cínico, apenas dirá que "os povos têm o governo que merecem". Acrescentará que forçosamente os nortenhos se sentem felizes com a actual situação, pois caso contrário já teriam tomado atitudes e iniciativas tendentes a fazer valer as suas prerrogativas de cidadãos de pleno direito. Alvitrará talvez que possivelmente não esteja actualmente na maneira de ser deles, lutar pelos seus ideais, que se tornaram subservientes, que provavelmente preferem o refúgio fácil nos queixumes inconsequentes ou que terão, como verdade adquirida, a convicção que o bem estar e o progresso de uma comunidade caem do céu por graça divina, como a chuva.

Este hipotético e cínico estrangeiro provavelmente remataria as suas reflexões dizendo que o mal dos portugueses do Norte é terem o espirito dos vencidos que não ousam ousar.

Posto isto, iria deliciar-se com as belezas naturais, artísticas e gastronómicas que nós no Norte temos em grande quantidade para oferecer a quem nos visita. Aposto que ficaria com desejos de voltar a tão bela região.

O QUE A MACROCEFALIA ESTÁ A PROVOCAR

O centralismo exacerbado está a provocar um cada vez maior distanciamento das pessoas do Norte relativamente a Lisboa.

Muitos de nós alhearam-se da selecção nacional.

Movemos montanhas para ir ver um jogo do Porto, mas não alteramos a hora de jantar para ver um jogo da selecção.

Temos famílias divididas por causa do centralismo.

Nunca senti vontade de ir a Lisboa mostrar aos meus filhos aquilo que os meus Pais me mostraram.

Quando me interpelam no estrangeiro de onde sou, respondo – SOU DO PORTO. Podendo completar que é uma cidade situada no Noroeste da Península Ibérica.

Não digo que não sou português, mas o que espontaneamente respondo é que sou do Porto.

Já ouvi conversas de café onde nortenhos indignados dizem que preferiam ter a capital em Madrid, pois assim seriam muito menos dependentes de Madrid do que são hoje de Lisboa.

Ironia da história: toda a região do berço da Nação Portuguesa, refiro-me à zona Norte, é hoje mais dependente de Lisboa do que todas as outras regiões que ficaram sob a alçada de Leão e Castela!

Lisboa, que é uma cidade muito bonita, é cada vez menos destino preferencial das pessoas do Norte.

Quando nos sobra algum tempo e dinheiro, preferimos, cada vez mais, ir de carro até à Galiza. Onde nos sentimos em casa. A fronteira natural do Rio Minho não é suficiente para nos afastar, se calhar une-nos. Seguramente que a fronteira politica também não conseguiu afastar-nos…

Ou então, se houver mais disponibilidade de tempo e de dinheiro, e apesar de todos os boicotes ao aeroporto Sá Carneiro, metemo-nos num avião e vamos a uma cidade europeia por muito menos dinheiro do que o que custa ir a Lisboa de avião.

Nós estamos a acordar, será que eles vão acordar a tempo?
Manuel Cerqueira Gomes

Tolerância ou permissividade?

Podemos dar as voltas que quisermos, mas a bandalheira de que sofre a nossa sociedade tem o seu epicentro na forma como nos foi incutida a essência da democracia. Não é só por cá, já sabemos, mas particularmente em Portugal, o regime democrático tem falhado em quase todas as frentes e, é talvez, por termos apreendido erradamente a sua essência que todas as outras derivantes fracassaram.

Apesar de me ter cansado de ver o Dr. Mário Soares a associar, por tudo e por nada, a democracia à tolerância, nunca me deixei embalar muito por esse canto de sereia. As liberdades que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, com todos os excessos que se lhes seguiram, foram reacções perfeitamente compreensíveis num país cujo regime musculado e repressivo, manteve durante quase meio século, o povo amordaçado , mas o discurso avulso e repetitivo da tolerância sobre outros valores não menos nobres, acabou por redundar na irresponsabilidade que hoje vemos em quase todas as áreas. O respeito pelo cumprimento das regras é só um deles, mas talvez constitua a verdadeira essência da liberdade e da democracia.

Como dizia um dia destes o Director do JN, José Leite Pereira em editorial, a democracia não soube aproveitar o que de positivo existiu no regime anterior e à força da necessidade de mudança, acabou por se mudar aquilo que não era necessário. O pertinente discurso da tolerância não foi devidamente acompanhado pelo discurso da manutenção do respeito e pelas boas maneiras, e esse erro, esvaziou completamente o verdadeiro sentido da tolerância.

De facto, como disse José Leite Pereira, que mal vinha ao mundo por os alunos levantarem o rabinho do banco sempre que o professor entrava na sala de aulas? E que violação poderia ser feita à democracia com o dever dos alunos se manterem em silêncio enquanto o professor falava?
O que terá então sucedido para que estes princípios fossem alterados de modo tão radical?

A memória às vezes, é curta. Ainda há dias escrevi aqui mesmo que, ouve muita coisa mal interpretada no pós 25 de Abril, porventura por nunca ter sido devidamente explicada à população. Falei no mito do "bufo" que se instalou no subconsciente de muitos portugueses que os levou a abdicar de um direito cívico importantíssimo, que é o direito de denunciar o que está mal. E o que está ou se faz mal, poderá ter vários graus de gravidade, mas nunca o devíamos ter como cumplíce, senão seremos implicitamente parte desse mal.

Nas escolas, os alunos bem comportados, por medo, omitem as grossas asneiras dos colegas, os professores, talvez por não se sentirem apoiados, silenciam comportamentos menos éticos de alguns dos seus colegas e por aí fora.

Este mal está enraízado até na própria Justiça. Quando ouço falar dos males de que também vem padecendo a Justiça e depois vejo os senhores juízes argumentarem com o "obrigatório" dever de reserva dos orgãos da magistratura e fazerem apelos à dignidade da função, fico sem saber bem como querem então mudar a situação, quando é a própria dignidade do cargo que mais está em causa na confusão em que se encontra. Ficamos sempre com a ideia de que as pessoas querem a mundança mas sem se envolverem muito, sem assumirem riscos e rupturas. Assim, não se pode dizer que estejam a dar uma grande ajuda a quem tem de governar.

É apenas aqui, e só neste ponto concreto, que concordo com os que, por vezes, de modo abusivo, defendem que se o país está mal, "a culpa é de todos nós". Calma aí, porque é perigoso deixarmo-nos levar nesta corrente generalista de atribuir e misturar responsabilidades. Não entro nessa, mas também não aprovo aqueles que não ousam dar a cara e denunciar o que está mal.

Lembro-me de um dia ter ouvido Mário Soares dizer uma daquelas suas bonitas frases, que calam bem fundo mas que sentimos utópicas: "a tolerância não tem limites!". O que me ocorreu pensar naquele momento, foi questionar-me se o reputado político (um dos felizardos que tem boa imprensa) não estaria com aquelas lindas palavras a fazer de modo inconsciente a apologia da permissividade.

Hoje, começo a pensar que cá tinha as minhas razões...