Não se trata de uma apreciação biográfica de Alberto João Jardim, mem tão pouco de uma alienação patológica pelas coisas do futebol, trata-se apenas de constatar factos com efeitos económicos e sociais inquestionáveis. Por isso, não me levem a mal, não poder desviar-me tanto como desejaria do futebol, porque na verdade, os nossos problemas não se resumem a isso, mas ajudam-nos a percebê-los um pouco melhor.
A imagem de Alberto João Jardim (AJJ) está longe de corresponder aos parâmetros impostos pelo poder central-divisionista - é assim que passarei a designá-lo futuramente - para merecer um lugar no restrito quadro reservado às personalidades com "boa imprensa". Muito pelo contrário, tal como Pinto da Costa, não há jornal capaz de resistir à tentação de o diabolizar e poupar às mais sórdidas acusações.
Houve um tempo (ainda de paciência) que até eu me incomodava com as ameaças chantagistas e separatistas de AJJ, mas, à medida que no Continente se foi intensificando a concentração do poder central-divisionista, comecei a perceber melhor o líder madeirense e a tolerar-lhe os excessos.
Hoje, penso que perante o autismo de Estado, semeado por sucessivos governos sem sinais sérios de mudança e com tendência para afunilar, mais e mais, o poder em Lisboa, só daquela forma reivindicativa, intimidante e corrosiva é que - apesar da autonomia - foi possível a AJJ tornar a Madeira numa região próspera, e evitar que ela também se transformasse numa ilha miserável e abandonada como aconteceu com o Porto.
Os políticos e as chamadas "elites" politicamente correctas, serão em qualquer circunstância, pessoas amorfas e cinzentonas para as populações. Serão sempre vultos passageiros, sem identidade profundamente pública, sem identidade na história futura. Serão rapidamente esquecidos. Com todos os defeitos que carregam e respectivas diferenças entre si, quer A. João Jardim, quer Pinto da Costa, jamais pertencerão a esse grupo de pessoas cinzentonas e submissas.
Não quero imaginar o que seria do Futebol Clube do Porto, se Pinto da Costa fosse aquilo no que o regime centralista-divisionista gostaria de o transformar: apenas mais um, dos inúmeros vegetais que hoje gravitam, obedientes e desenraízados, em torno dos desígnios da capital.
É aqui, que entra o futebol e os media. Os orgãos de comunicação social podiam ter um papel moderador de contrabalanço caso fossem mais afirmativos no que toca às questões regionais (que também são nacionais), e se preocupassem mais com o povo e menos com os rankings de vendas. Mas não têm.
O Jornal de Notícias, um jornal histórico com sede no Porto, que teve carácter nacional muito antes do advento da "democracia", já foi mais portuense do que é agora . As duas páginas inteiras dedicadas hoje ao Benfica são um hino ao oportunismo.
O Benfica, deve ser destacado pelo que é agora, não pelo que foi quase à meio século, independentemente do número de adeptos que possa ter. Esse estatuto não pode ser tido como uma herança com efeitos retroactivos porque os tempos mudam e aos outros (clubes) não pode ser negado o direito de crescer. Para dedicarem ao Benfica honras deste tipo são obrigados a fazê-lo com o Vitória de Guimarães que está exactamente no mesmo lugar do campeonato. Façam-no, então!
Esta moda subserviente de se publicar edições para o Norte e para o Sul não é seguida pelas televisões de Lisboa. Porque terão os jornais do Norte de o fazer? O que é isto senão oportunismo comercial?
O argumento-da-treta das "vendas", é exactamente o mesmo que inspirou muitos portuenses a saír daqui para olhar pela vidinha em Lisboa, porque "era mais fácil", mas não deixaram com isso de contribuir para o empobrecimento da cidade...
Se, como gostam de dizer, os critérios jornalísticos se regem pela objectividade, essa objectividade poderá ter muito a ver com volume de vendas, com dinheiro, mas seguramente terá pouco a ver com a estima e o respeito que os portuenses deviam merecer, antes de outros leitores.
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É o mito dos 6 milhões. O mesmo já acontece com o Jogo que faz duas capas, uma para a edição norte outra para a edição sul, mesmo sabendo que 90% das vendas são a sul do Tejo.
ResponderEliminarUm abraço
Já há alguns anos que enviei uma carta de protesto ao Director de O JOGO onde lhe expus a minha indignação por essa modinha subserviente das Edições. Na volta, o director deu uma desculpa esfarrapada que ainda me deixou mais irritado. Enfim, é a gentinha que temos.
ResponderEliminarAbraço
Graças a Deus que alguém elogia publicamente Alberto João Jardim! Obrigado meu caro Rui Valente.
ResponderEliminarDesde há muito tempo que tenho enorme admiração por ele, ao mesmo tempo que sempre lamentei que o Norte não tenha um lider da sua estirpe. O seu feitio corrosivo e as vezes abrutalhado, é um mero detalhe que não retira mérito ao seu trabalho. Conheci a Madeira antes do 25 de Abril, e depois da sua ascenção ao poder já lá estive três ou quatro vezes. É preciso conhecer a diferença entre essas duas épocas para entender porque é que AJJ dá de 10 a zero aos opositores. Dá-me muito gozo a fúria da imprensa centralista contra ele, aliás pelos mesmos motivos com que se atiram a Pinto da Costa.
Curiosos democratas os desta imprensa, que acham que a democracia só é válida quando elege alguém de quem eles gostam.
Queria dizer, no meu comentário como é óbvio, a norte do Tejo.
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