Hoje, dia 25 de Abril, uma data histórica que nos devia a todos regozijar por simbolizar o fim da ditadura, temos muitas razões para estarmos decepcionados com os resultados. Se fizermos um balanço sério do acontecimento, até aos dias de hoje, não temos motivos para dizer que a progressão foi positiva, mesmo que as aparências indiquem o contrário.
Os dois primeiros anos da revolução, entre 1974 e 1976, foram os mais genuínos, os mais esperançosos para toda a população, com relação ao futuro do país. Elaborou-se uma Constituição progressista, e ideologicamente ambiciosa, que rapidamente foi sendo adulterada pela classe política. A oposição mais ligada aos movimentos revolucionários não soube resistir a essa tendência no momento certo, talvez por recear ser conotada como extremista, e o resultado é esta apalhaçada democracia a que hoje chegamos.
A Liberdade é uma coisa preciosa, mas com o passar dos anos perdeu aquilo que a distingue da anarquia e lhe confere mais valor, que é o respeito. Hoje, a pretexto de uma Liberdade absoluta, [supostamente para ser autêntica], ninguém respeita ninguém, perderam-se os valores da ética e dos bons costumes a coberto de uma "democratização" social postiça.
Hoje, já ninguém dirige uma carta comercial começando por "Exmo. Sr.", limitam-se a dizer "Bom Dia", e às vezes nem isso. A velocidade da Net não justica tanta grosseria. Para não me sentir ridículo, tive de me adaptar à situação e banir esses hábitos de forma a evitar confusões interpretativas. Somos permanentemente assediados através do telemóvel para aderirmos a novas propostas, sempre com um único intuito, que é vender, mesmo que o cliente não queira comprar. Sei defender-me desses abusos, e quem me contacta contra a minha vontade insistindo em vender-me o que não pedi nem quero o que me é proposto, acaba sempre por sair a perder se me contrariar...
Tanta Liberdade despida de ética, tanta bandalheira social, não pode compatibilizar-se com a Justiça. Para mim, é inaceitável, indigno mesmo, que a pretexto dessa duvidosa "Liberdade" e do serviço público, se permita que os Tribunais sejam intoxicados com denúncias "anónimas" que só servem para os sobrecarregar de trabalho com casos provavelmente falsos. Sendo absolutamente a favor das denúncias de interesse público, discordo veementemente que a Justiça não requeira a identidade de quem as faz. Só em situações excepcionais, de extrema complexidade como uma Guerra ,ou coisa semelhante, justificam o anonimato. Quem não deve, não teme. Se alguém tem consciência plena de que a denúncia apresentada é autêntica, só tem que se identificar desde que o faça apenas à Justiça. Se temos casos a mais a entupir o funcionamento dos tribunais, também se deve a essa aberração .