26 abril, 2018

Vão dar banho ao cão, democratas da treta!


1 Foi há uma semana que caiu o Carmo e a Trindade. E qual terá sido a razão para tanto terror e assombro que, segundo o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, estão associados à expressão? O facto de termos assistido na SIC à melhor síntese jornalística e televisiva que alguma vez se fez sobre a Operação Marquês? Ter ficado claro que Ricardo Salgado era a cabeça de um polvo que corrompeu as nossas elites? Terá sido por percebermos que Zeinal Bava e Henrique Granadeiro agiram na PT em nome de interesses obscuros, com proveitos de milhões? Ou porque José Sócrates, ex-primeiro-ministro e líder do PS, beneficiou de milhões de euros transferidos à socapa, de offshore em offshore, até lhe chegarem às mãos na forma de uns envelopes com notas? Ou, finalmente, porque percebemos que estamos todos a pagar estes desvarios, seja com os nossos impostos, seja com a falência dos serviços do Estado? Nada disso. O terror e o assombro têm outra explicação. O que choca tanta gente inteligente que opina nos jornais e nas televisões, o que horroriza tanta gente sensata nas redes sociais, é a exibição dos vídeos dos interrogatórios a José Sócrates. Estão no seu direito. Mas fico à espera que chegue o dia em que passem da indignação pela violação do direito à imagem da quadrilha, para a indignação pelos crimes cometidos pela quadrilha. E escusam de argumentar com presunções de inocência e trânsitos em julgado. Isso é para os juízes. O julgamento político e social corre mais depressa. Caso contrário, Sócrates ainda podia ser primeiro-ministro e Salgado presidente do BES. Mas, se calhar, a alguns isso talvez não causasse nem terror, nem assombro.
2 Já a discussão sobre os vídeos ia longa, quando vieram a lume mais uns pormenores sobre a rede mafiosa que usou os portugueses como carne para canhão. O ex-ministro da Economia Manuel Pinho criou uma conta numa offshore do Panamá na qual caiu um milhão de euros saído do "saco azul" do BES. Meio milhão foi pago em tranches mensais de 14 963,94 euros durante o período em que Pinho foi ministro no Governo de José Sócrates. Parece mesmo um salário, não parece? Suspeita-se que possa ter sido a compensação para beneficiar empresas como a EDP nas chamadas "rendas excessivas". Infelizmente, ninguém denunciou esta violação do segredo de justiça, daquelas que propiciam julgamentos populares precipitados. E que deu argumentos a um triste espetáculo de Ana Gomes. Diz a eurodeputada socialista que o PS terá de aproveitar o próximo congresso para escalpelizar como se "prestou a ser instrumento de corruptos e criminosos". Que coisa tão disparatada. Porque não se preocupa antes Ana Gomes com o ataque à imagem de José Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro ou Manuel Pinho? Isso, sim, justifica a nossa indignação.
Rafael Barbosa (JN)

Nota de RoP

Concorde-se, ou não, com tudo o que acima vem escrito (eu concordo com umas coisas e menos com outras), este artigo devia servir para fazer reflectir melhor aquelas pessoas que insistem em amplificar os progressos do país conseguidos após o 25 de Abril, sem olhar para o mais importante. Para isso, recorrem normalmente à qualidade do serviço de saúde,  à educação, à rede de auto-estradas e coisas assim, que sendo importantes não serão nunca o ponto de referência que fará de nós um país progressista. Além de que, estas mais valias, em Portugal, têm sempre curta duração. Veja-se a título de exemplo, o que aconteceu com os CTT's e com a Metro do Porto.

Tanto mais, que, se há coisa a que os políticos dão importância para si mesmos, é ao dinheiro que lhes pagam ao fim do mês, incluindo as ajudas de custo e todas as benesses que sabemos. A propósito, estou a recordar-me do que disse há uns anos na SIC, o ex-deputado do PS Jorge Coelho, na "Quadratura do Círculo", que não era rico, que ninguém podia levar a mal ir para Presidente Executivo da Mota Engil tratar da sua vida (para onde voltou recentemente) ... Para não esquecer, só no ano de 2011 recebeu 634 mil euros de salário... Dou este exemplo, como podia dar outros de políticos do PSD e do CDS, não importa agora pessoalizar. 

O que verdadeiramente importa, é consolidar uma realidade: os políticos gostam muito de dinheiro, só que, quando falam do desenvolvimento do país não se lembram da miséria que é o salário mínimo e as reformas dos portugueses. Agarram-se às rotundas, às Expos, enfim, a tudo, menos àquilo que eles adoram, mas negam ao povo, que é pagar-lhes salários dignos.

São tão convencidos, que para eles, só teríamos razões de queixa por não darmos tanto relevo aos progresso do 25 de Abril, se tudo estivesse exactamente na mesma como antes de 1974! Obviamente que os fundos europeus (ainda) não podem ir directamente para o seu bolso, foi preciso fazer umas obritas em 44 anos, e mesmo assim, continuam a desviar muitos desses fundos para a capital, fundos esses que deviam ser nossos, como sabemos.

Enoja-me este lançar de areia para os olhos da população, sem primeiro olharem para si próprios, e para os seus pares, que não fazem outra vida senão meterem-se em escândalos. 

Como diz o outro: vão dar banho ao cão.     

3 comentários:

  1. Caro Rui Valente,

    Estou como diz, de acordo com umas e em desacordo com outras. A Justiça apresentar-se-ia mais bem enroupada junto dos portugueses se evitasse a exibição nojenta daqueles interrogatórios, levando cada um de nós a julgamentos sumários na hora, e portanto nada condizentes com um regime dito democrático.
    Também sei que a única coisa que este regime tem de democrático é dar-nos a possibilidade de aqui e ali nos permitirem o uso duma duma cabina privativa, um papel para fazer-mos o que dele entender-mos e uma urna para depósito do supracitado.
    Porém, toda a moeda tem duas faces. E uma das faces da "moeda" é o facto do zé povinho se entreter com estas novelas mexicanas( do Silva ,do Sócrates, do Salgado etc) e simultâneamente ser desviado do tratamento jornalístico que o alegado, escândalo de corrupção, tráfico de influências, conquista ilegítimas de poder e violações do aparelho judicial deveria levar por diante. Já fez mais por este POLVO a comunicação social- benfiquista. do que propriamente o inimaginável gabinete de crise.
    Atente-se na voracidade jornalística à volta das aventuras e desventuras do benfiquista Sócrates. Mas falar dos email`s; e-toupeira; controlo da comunicação social; tomada do poder da Federação e da Liga, são duma contenção doentia, assaz comprometedora e reveladora de que foram tomados pelo Polvo.
    Como diz e bem lançam-nos areia para os olhos, mas com um objectivo claro, não para nos cegarem mas para nos obrigarem a desviar o olhar.
    Não sou nem mais nem menos aquilo que é o povo português. Mas duma coisa estou certo. Quando lhe mandam desviar o olhar, cumprem religiosamente.
    Nunca leram Sofia. "VÊ-MOS, OUVIMOS E LEMOS, NÃO PODEMOS IGNORAR!"

    Cumprimentos

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  2. Viva, caro Gulherme Olaio!

    é exactamente por silenciarem o escândalo do Benfica "a parte" do artigo com a qual discordo do autor. O espectáculo que criaram com o vídeo do Sócrates, a que vaidosamente chamam serviço público ou"grande trabalho jornalístico", são a contradição total.

    Parece que obedecem todos a uma ordem divina "superior". São incapazes de conviver com a coerência.

    Que noção de democracia terá esta gente ?

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  3. Esta cambada de ladrões de lesa Pátria, quanto tempo mais vão andar à solta!!! O problema é que a grande maioria de mandantes deste País têm rabos de palha e a Justiça funciona a conta gotas e como diz o ditado, quem tem amigos não morrem na prisão.

    Abílio Costa.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...