18 agosto, 2016

Do futuro do FCPorto não comento, porque não está ninguém em casa

Foram muitos, os anos de luta contra a repressão centralista que o FCPorto da era Pinto da Costa teve de travar até levar o clube ao pódio dos maiores palcos do futebol internacional. Internamente, e muito antes de chegar a presidente (em Junho de 1922), já o FCPorto se tornara no 1º Campeão Português de Futebol, da primeira edição oficial neste modelo de competição com uma victória sobre o Sporting por 3-1. E desde então não se ficou por aí, outros troféus e campeonatos foram conquistados ainda que intercalados com alguns anos de jejum. O FCPorto não tinha atingido a projecção mundial da era competente de Pinto da Costa, mas começou nestas andanças desportivas a vencer, convirá não esquecer.

É por se terem passados muitos anos (34) e por ter liderado o clube, contra tudo e contra todos, isto é, contra o centralismo e sua guarda pretoriana, constituída essencialmente por políticos e órgãos de comunicação social, que me custa ver alguém como ele passar de si próprio uma imagem absolutamente antagónica à que o tornou famoso. É lastimável que tenha deixado chegar o FCPorto (porque é do FCPorto que se trata) a este ponto de desorientação, e também que não haja lá dentro ninguém com coragem (e devoção quanto baste pela instituição), para o aconselhar a reflectir seriamente na actual situação e delinear uma estratégia realista, passível de corrigir erros cometidos e de reconduzir o clube ao estatuto prestigiado e ganhador dos anos recentes (excepto os 3 últimos).

Custa-me ver Pinto da Costa transformado numa caricatura ridícula do que já foi, num sósia de si mesmo... derrotado . Custa-me recear que não vá a tempo de sair , sem evitar enterrar-se no lodaçal opaco de oportunismo e desnorte em que o clube parece ter-se transformado. Custa-me que deixe o tempo correr demais, até ao dia em que sócios e adeptos lhe apontem a porta da rua como solução extrema para salvar o clube da derrocada total. O Pinto da Costa que conheci e admirei, não corria estes riscos, porque antes dele,  pensava no clube.

O FCPorto de agora é uma casa de falsos silêncios, porque lá dentro deve haver ruídos inconfessáveis que um dia vão seguramente chegar aos nossos ouvidos e pelas piores razões. Desses silêncios, o mais violento e intolerável, é o que está a ser usado com os portistas de todo o mundo. Esse é inadmissível, o que pessoalmente mais me ofende. E só por isso, deixei de considerar o líder. Para mim, morreu. Por isso, desejo toda a sorte do mundo a Nuno Espírito Santo e à sua equipa, porque vão mesmo precisar muito dela. O campeonato ainda agora começou, mas não nos iludamos, porque as coisas vão continuar a ser feitas pelo outro lado, como disse alto e bom som o rei dos pneus. A Federação/Comissão de Arbitragem já lá tem os seus serviçais. Quando houver problemas, o silêncio da estrutura directiva e presidente vai manter-se, e NES só terá duas alternativas: ou fala pelo presidente, ou bate com a porta e vai embora.  


17 agosto, 2016

FCPorto, têm a palavra Nuno Espírito Santo e os seus pupilos

Nuno Espírito Santo
Disputa-se esta noite a primeira mão do play-off de acesso à fase de grupos da Champions e mais uma vez, Pinto da Costa & Companhia provaram que a famosa estrutura justamente reputada pela sua capacidade de organização já não é o que era. Nem vale a pena replicar tudo o que já foi escrito a este respeito, os portistas sabem-no, sobretudo aqueles que privilegiam mais a competência que a fé. Mesmo assim, nada impede que não possamos obter um bom resultado. A vontade e a competência dos jogadores e do técnico por vezes fazem coisas fantásticas (por vezes), mas quando os principais responsáveis falham naquilo que lhes compete é muito mais difícil superar as dificuldades. Acreditemos então, mais que não seja para não atrair más energias.

Ontem, ao ver Pinto da Costa cumprimentar, um a um, os jogadores do FCPorto na entrada de acesso ao terreno para treinarem, pus-me a adivinhar o que aquele aperto de mão e aquele sorriso simpático pretendiam significar. Em bom português, penso que foi alguma coisa como isto: "vejam lá se ganham o jogo porque nós precisamos de dinheiro como do pão para a bôca. Tenho uns jogadores para comprar, mas a massa que (ainda) há, não chega nem para mandar cantar um  cego. Vá lá, façam um esforço para me livrarem deste sufôco... 

Se, se... Nuno Espírito Santo conseguir ganhar o jogo e a eliminatória em Roma, o mérito será exclusivamente para ele e para a sua equipa. Enquanto Pinto da Costa & Companhia continuarem neste registo de cometerem asneiras atrás de asneiras, não serei  eu que os aplaudirá pela proeza.

Obs:- Espero que o Cassillas jogue como nos seus melhores tempos no Real Madrid (difícil...). Sempre que me lembro do que fez na Taça de Portugal, que a poucos metros da baliza resolveu passar a bola ao Marcano quando atrás dele estava um jogador do Braga que lhe roubou a bola e marcou, tenho receio que a brincadeira se repita. Pessoalmente, acho que na actualidade José Sá é bem melhor. Mas, é a minha opinião. Só.

PS-Mea culpa! Um amigo teve a bondade de me corrigir. O guarda-redes da Taça foi Helton. Sinceramente, pelas imagens que vi, ainda ontem (em repetição) fquei com a ideia que era o Casillas. Mas isto não obsta o que penso de Casillas. As minhas desculpas e um abraço ao amigo VP...

16 agosto, 2016

Pirómanos e anónimos


Os pirómanos que paguem

O Governo bem pode anunciar que vai enviar para os pirómanos a fatura dos incêndios, e divulgar outros planos, a somar aos entretanto esquecidos nas gavetas de diferentes ministérios: pouca gente levará a sério a iniciativa. Não passa de uma reação, sem sustentabilidade, ao mediatismo da fatalidade estival do fogo.

Todos anos a história repete-se, enquanto houver ramo para arder. São medidas, muitas das vezes, sem qualquer consequência. Promessas circunscritas, e apagadas, no outono, graças a temperaturas amenas e às primeiras chuvas. No final da época dos fogos, a ministra da Administração Interna pedirá à Autoridade Nacional da Proteção Civil um levantamento dos custos dos incêndios em Portugal. "Vou pedir à Autoridade Nacional de Proteção Civil que faça uma avaliação de custos e contra estas pessoas [alegados incendiários], pelo menos, pode-se agir civilmente", disse em entrevista ao JN. A ministra, formada em Direito, saberá portanto - como qualquer cidadão - que, antes de imputar qualquer responsabilidade cível ou criminal, é preciso fazer prova. E se haverá autores de fogos florestais com capacidade económica para ressarcir o Estado - uma boa parte deles, a crer nas estatísticas, rondará a indigência.

A Polícia Judiciária, até ao momento, não identificou motivações económicas em nenhum dos 81 suspeitos por atear fogo, detidos entre o início de 2015 e meados da passada semana. O perfil do incendiário está traçado. O psicólogo forense Rui Abrunhosa Gonçalves descreve-o: "Trata-se, quase sempre, de indivíduos com baixo nível educacional e de qualificação profissional, habitantes em zonas rurais, consumidores de substâncias - nomeadamente álcool - e em muitos casos com um atraso cognitivo e com patologias do foro mental". É com estes indivíduos a viver, muitos deles, em condições de miséria, à beira da indigência, que Constança Urbano de Sousa conta para pagar a fatura e dar o exemplo.

A ministra sabe, certamente, quem deve responsabilizar pela tragédia que estamos a viver. Enquanto os campos e as matas continuarem ao abandono, pasto de silvas - os proprietários, na maioria pequenos camponeses, deixaram de ter para onde escoar os produtos que a terra lhes retribuía -, Portugal irá arder, repito, até ao último ramo. Por muitas leis gizadas, a partir dos corredores de S. Bento, a situação parece ser essa. O primeiro-ministro António Costa deverá ter consciência de que não é apenas de uma reforma florestal que carecemos. É o país que precisa de profunda reforma - povoado por velhos, sem forças, voltará sempre a ser acessível e sôfrego pasto de chamas.

[Paula Ferreira/JN]


Nota de RoP:

Como é evidente, continuamos a preferir agir por reacção aos acontecimentos, em vez de procurar influenciar a acção. Escrever, é uma espécie de purga à nossa boa consciência. Só que, um blogue não tem a visibilidade, nem a responsabilidade dos media tradicionais, e não ganham um cêntimo pelo trabalho que fazem, é puro voluntariado. 

Os jornalistas podem, e devem, fazer muito mais, porque são pagos para isso. E, se é verdade que decorridos poucos dias após estas catástrofes os governantes cedo se esquecem das promessas de acabar com a pouca vergonha, não é menos verdade que os jornalistas fazem o mesmo, deixam em paz o Estado até ao verão (incêndios) seguinte(s).

De certo modo, o seu comportamento assemelha-se um pouco ao dos pirómanos: é o lado trágico das notícias que os fascina, não a solução. Até porque, nestes casos,  está psicologicamente provado que a reprodução de cenas incendiárias estimula a paranóia dos pirómanos à repetição destes crimes, enquanto as imagens do rescaldo lhes gera sentimentos de culpa. As televisões parecem deliciar-se enchendo-nos os olhos com labaredas.

A propósito, noto grandes afinidades psicológicas entre os pirómanos e os anónimos que gostam de vir aqui ao Renovar o Porto atear fogo. Só que têm azar: deixo-os a falar sózinhos, a matutar na sua paranóia.  


15 agosto, 2016

Há sentido crítico para umas coisas, não há para outras


Todos políticos, todos diferentes

Aida Hadzialic tinha bebido dois copos de vinho numa saída nocturna em Copenhaga. Quatro horas depois julgou estar livre do efeito de álcool e sentou-se ao volante. Foi fiscalizada numa operação policial e o alcoolímetro marcou 0,2 g/l sangue. À luz da legislação sueca cometeu uma infracção. E pagou por ela um preço alto.

O que diferencia esta jovem de 29 anos de tantos outros condutores fiscalizados nessa noite é o cargo que desempenhava até se demitir do Ministério da Educação. A mais jovem ministra de sempre na Suécia, e primeira muçulmana, considerou que "o maior erro" da sua vida não se coaduna com as funções políticas que exercia. "Escolho fazer isto porque acredito que o que fiz é suficientemente grave para tal."

Em Portugal, a taxa de alcoolemia apresentada por Aida Hadzialic não mereceria sequer multa. Na Suécia, não só é considerada infração como pode ser punida com pena de prisão até dois anos. O Ministério Público já se pronunciou dizendo que tomará uma decisão relativamente à governante durante a próxima semana.

O que separa os dois países não é apenas o rigor com que encaram o álcool ao volante. Vista à distância, parece quase bizarra a demissão de uma ministra considerada competente, com medidas de formação de adultos elogiadas pela imprensa, que tem além disso um capital de simpatia associado à sua história de vida: chegou à Suécia aos 5 anos com estatuto de refugiada, em fuga do conflito étnico na antiga Jugoslávia.

Por cá, não faltam exemplos de políticos apanhados em excesso de velocidade ou a cometer outras infrações não diretamente ligadas às suas funções. Como não faltam exemplos de membros de Governo que se mantêm sossegados no lugar, mesmo depois de se tornarem públicos atos que levantam dúvidas éticas e são, mais do que isso, suscetíveis de implicar responsabilidade criminal.
Volta e meia ouve-se dizer que é populista exigir total rigor e transparência a titulares de cargos públicos. Por gerirem bens comuns e tomarem decisões que afetam a comunidade, os eleitos devem estar acima de toda a suspeita e sujeitos ao máximo escrutínio. Populismo é considerar que os políticos são todos iguais, quando como eleitores nos demitimos de uma cultura de exigência e assim contribuímos para a degradação da imagem de quem nos governa. É por serem todos diferentes que devemos admirar os políticos que honram o lugar que ocupam.

(Inês Cardoso/JN)


Nota de RoP:

Vivesse eu num país civilizado, esta crónica não merecia mais que umas parcas linhas de concordância serena, própria de quem se habituou a bons hábitos de cidadania. Como não é isso que acontece neste eternamente adiado projecto de país, fica assim justificado o destaque que dou regularmente a outros artigos de natureza semelhante. 

Intriga-me, é que os mesmos jornalistas mantenham os olhos fechados para outros temas de igual gravidade que em nada abonam a sua genuidade. Por exemplo, com o centralismo, e a brutal segregação que o mesmo tráz ao país. 

Nunca os leio, a explanar com a mesma lucidez, com a mesma profundidade, o excesso de órgãos de comunicação social de todo o tipo, concentrados na mesma região e com a mesma política centralista. Não os leio revelando incómodo, ou no mínimo, estranheza, de saberem que a 2ª. cidade do país teve mais autonomia mediática e financeira em tempos de ditadura que após o 25 de Abril. Como explicarão o fenómeno? Com a demagogia do costume? Com o desprezo pelo rigor que esta jornalista do artigo (com razão) acusa agora os portugueses? 

Seria muito útil para o país real que começassem a democratizar um pouco mais o espírito crítico que mostram  noutros assuntos, como é o caso deste. De contrário, cheira-me a falso, cheira-me, talvez...a Terreiro do Paço.