29 novembro, 2014
28 novembro, 2014
Solideriedade socratiana
Solidarizem-se com estes |
Não percebo estes portugueses, pegam de estaca quando se trata de caridadezinha. Mais sensíveis à lamechice que à participação cívica, cá estão eles a reagir à campanha de solidariedade lamechas promovida a José Sócrates, como se ele tivesse sido um grande 1º. Ministro e nunca tenha estado envolvido em qualquer acto ilícito. Estes fadistas já se esqueceram que foi ele o mentor das SCUTS, que foi ele quem deixou chegar o país no estado em que está. Que fique claro que ao dizer isto, não estou a dizer que Passos Coelho seja melhor, porque não é, lá chegará (espero) o seu dia de prestar contas pela trapalhada generalizada em que colocou o país, provando que em matéria de irresponsabilidade é igual ou pior que Sócrates. O que estou a dizer, é que não compreendo a solidariedade quando é dirigida a quem fez mais mal do que bem - não a uma, ou outra pessoa -, mas a um povo. Ser solidário, nestes casos, é um desperdício de humanismo, havendo como há, tanta gente neste mundo carente dele. Além de mais, é um perfeita injustiça!
Mário Soares está velhote, e só isso e a memória da sua contribuição para a manutenção da Liberdade (não disse democracia, porque a democracia é bem mais que Liberdade) me faz tolerá-lo, mas achei absolutamente ridículo o papel a que se prestou, só para mostrar ao país que ainda é um "gajo porreiro". Os gajos porreiros para mim não são os que permitem tudo, os que têm da tolerância uma noção ilimitada, ou os que desautorizam e mandam os senhores guardas para casa, quando estão a cumprir o seu dever. Os gajos porreiros, são na maioria das vezes cumplíces das negociatas mais corruptas e da libertação de muitos criminosos.
Mas, a cereja no bolo deste Big Brother político, foi ouvir as palavras de um dos visitantes do suspeito nº.44, pelos vistos, um amigo agora casado com a ex-mulher de Sócrates, à saída da visita, uma pérola assim:
Por estas, e outras como estas, é que não levo estes gajos da política a sério, e me enoja o discurso ora em voga, do dever de separar a política da justiça. Falsários! Com o futebol, parece que já não não há problemas de misturas, o que é preciso é dizer coisas que sensibilizem o coração dos benfiquistas. Agora, imaginem o que seria se ele tivesse falado no FCPorto... Mas, fica a coerência.
27 novembro, 2014
Sócrates, anti-Sócrates, Passos
Daniel Deusdado |
Estamos colocados perante um problema: ser a favor ou contra Sócrates. E dessa escolha vêm as consequências seguintes - achar a Justiça excessiva ou exemplar, achar o PS um antro de corrupção ou, pelo contrário, pensar-se que há corruptos em muitos partidos mas não são todos iguais. A vida não é a preto e branco apenas mas uma coisa é certa: só por este abanão a sociedade portuguesa já ganhou algo. Obviamente, seria trágico se isso fosse feito à custa de um homem inocente. Mas agora já é irreversível.consequências seguintes - achar a Justiça excessiva ou exemplar, achar o PS um antro de corrupção
Qualquer jornalista ligado à economia ou à política esperava por um dia assim: o dia em que as histórias de bastidores, tantas vezes ouvidas, tinham finalmente provas judiciais e um grande político ia preso. Desde os escândalos PS em Macau que o financiamento partidário se supunha como uma área escaldante. Mas na verdade nunca se sabia ao certo se o dinheiro também tinha ficado nos decisores, se cá ou na Suíça, suscitado por este ou aquele contrato, favor, lei, etc... E as provas eram impossíveis de obter por jornalistas.
Se Sócrates realmente enriqueceu à custa de empreitadas ou outras angariações públicas com "luvas", uma coisa é absolutamente certa: não foi o primeiro. O flagrante caso dos submarinos é gritante no que diz respeito a luvas pagas - como se sabe pelas informações decorrentes do caso Espírito Santo. Inúmeros casos suspeitos vão surgir agora à luz do dia porque talvez se passe a acreditar que alguém na Justiça quer saber. E ou Sócrates está absolutamente limpo ou o novelo vai ser longo. Até porque as opções do socratismo eram, em certos casos, de bradar aos céus. Por exemplo, o projeto do aeroporto da Ota - que só um milagre conseguiu parar. Já o escandalosíssimo Plano Nacional de Barragens, onde a EDP levou a fatia de leão e comprou ao Estado por "tuta e meia" 10 licenças de instalações de hidroelétricas, não tem retorno. Em consequência, vamos pagar estas "scut da energia" através de contratos que nos condicionarão ao aumento da tarifa energética de Portugal nas próximas décadas.
Arrepia por isso no caso Sócrates a lista imensa de obras realizadas pelo seu Governo, que, agora, serão vistas à lupa. Eram mesmo para o "bem comum"?
Voltemos ao caso Freeport. Afirmo hoje o que disse há três anos (está gravado): um ministro do Ambiente que assina no último dia de funções uma muito polémica autorização para instalação de um empreendimento em zona ambientalmente protegida, não é um bom ministro do Ambiente. Se fosse o ministro da Economia a fazê-lo talvez compreendesse melhor. Agora, ser o ministro a quem compete a defesa do Ambiente a apressar a obra, é incompreensível. Ainda por cima, já havia um novo ministro escolhido pós-eleições, com maior legitimidade democrática, e que poderia tomar ou não essa decisão. Qual a urgência? Registe-se em sua defesa, no entanto, que de nada foi alguma vez Sócrates acusado.
O mesmo se passou com as obras da Parque Escolar (e outras). Em 2009, ano eleitoral, poucas vozes criticaram a construção de novas escolas (estávamos na fase em que a União Europeia tinha dado ordem para "investir" sem olhar ao défice). Pessoalmente era contra. Duas razões: tratava-se de adjudicações diretas; considerava um esforço na criação de uma linha de bitola europeia ferroviária que nos tirasse as exportações por menos custo. O resultado está à vista: a Parque Escolar tornou-se, em meia dúzia de anos, numa das empresas públicas mais endividadas - mais de mil milhões. Pior: muitas das escolas tiveram gastos faraónicos e hoje não têm dinheiro para pagar as várias faturas.
Aqui chegados: quem não gosta de Sócrates é porque apoia Passos ou Portas? Não necessariamente. Depois da brutal dívida acumulada, não basta ir gerindo a pobreza. É preciso mais que isso. Mas a questão essencial é a de que não sei se os portugueses não suspiram cada vez mais pelo estilo político de Salazar. Ou seja, se os argumentos das contas certas de Passos (ou, noutra versão, de Rui Rio) não são exatamente aquilo que a nossa menoridade enquanto país afinal deseja. Pequeninos e remediadinhos, no nosso cantinho, sem tentações ou ambições. O fado português.
(do JN) Nota de RoP:
É pertinente a observação do autor sombreada a azul, mas é também perigosamente ambígua, porque se é verdade que o nosso país precisa de uma liderança séria e competente, não é menos verdade que governar numa democracia onde a autoridade do Estado é sempre beliscada, cada vez que se quer impor, não sei bem em que regime é que queremos viver.
26 novembro, 2014
E o que fizeram a Pinto da Costa, seus moralistas da cáca?
O que eles querem dizer, como sublinearmente o demonstram, é que nada na vida pode ter um só significado, depende da conveniência, da ocasião e dos protagonistas. Por outras palavras, momentos há, em que afirmam que a Justiça é igual para todos, e noutros nem por isso. Que o segredo de justiça é para ser respeitado, mas tem dias. Gostam num dia de juízes reservados, e no dia seguinte já preferem juízes do tipo papagaio. E contudo, na Assembleia da República, onde o tema do segredo de justiça devia ser debatido à exaustão, até conseguirem consensos, suas Exas. os ilustres deputados não se entendem, preferindo continuar a chafurdar nestas areias movediças. Depois, a culpa é dos juízes, que não legislam...
Entretanto, a realidade diz-nos que tudo o que ouvimos e lemos nestes últimos dias, não passa de cínicos exercícios de retórica. Falemos como exemplo, dos jornalistas.
Há o jornalismo dos jornalistas (passe a redundância), que consiste em blindar a classe com todos os direitos, e sem nenhumas obrigações. Desta casta generalizada, emergem duas sub-classes: os jornalistas sócio-políticos e os jornalistas desportivos. Não consta que gostem uns dos outros, ou de se misturarem, mas sabe-se que abrem excepções corporativas quando o perigo espreita. Uns, não querem saber da idoneidade dos outros para nada, e assobiam para o ar se alguém lhes pedir para a comentarem (em nome do serviço público).
Há o jornalismo dos jornalistas (passe a redundância), que consiste em blindar a classe com todos os direitos, e sem nenhumas obrigações. Desta casta generalizada, emergem duas sub-classes: os jornalistas sócio-políticos e os jornalistas desportivos. Não consta que gostem uns dos outros, ou de se misturarem, mas sabe-se que abrem excepções corporativas quando o perigo espreita. Uns, não querem saber da idoneidade dos outros para nada, e assobiam para o ar se alguém lhes pedir para a comentarem (em nome do serviço público).
Depois desta intoxicação socratiana, entre deveres de juízes e direitos de suspeitos, continua bem guardada no baú do esquecimento a discriminação que os 3 pasquins desportivos praticam há muitos anos sobre um clube de futebol chamado FCPorto. Pena é, que o sentido de observação e da ética destes cavalheiros - comentadores, advogados, políticos e jornalistas - se mantenha indiferente com o que está bem à vista em todos os canais e jornais da capital: a DISCRIMINAÇÂO com laivos de racismo, movida ao FCPorto! É a tal treta da calendarização das legalidades. Tem dias. Valorizam-se ou desprezam-se, conforme a côr dos interessados.
Nem o monopólio mediático com que dominam o país, os incomoda. Nem o cerco que eles próprios moveram a Pinto da Costa com artigos sensacionalistas nos jornais, dia após dia, com escutas, frutas e insinuações, lhes pesa na consciência, agora que tão incomodados se mostram com os problemas comunicacionais do juiz Carlos Alexandre. Nem o facto de Pinto da Costa ter sido absolvido pelos Tribunais os fez recuar na missão destruidora de o abalar e através dele o FCPorto.
É só ligar as televisões, ou olhar as capas dos jornais, para a máscara lhes cair, mesmo nas barbas de portistas de trazer por casa, oportunistas, incapazes de sobrepor a dignidade aos rebuçados das avenças. Nem o facto do FCPorto estar quase impossibilitado de jogar à vontade com a pressão sectária dos árbitros, lhes ensombra o brio dos escrúpulos. Assim como, nem o facto de o FCPorto ter tido o melhor comportamento das equipas portuguesas na Champions os impede de desvalorizar o feito, preferindo destacar feitos menores dos clubes de Lisboa. Para isto, não há lei, nem regras. Vale tudo.
Nem o monopólio mediático com que dominam o país, os incomoda. Nem o cerco que eles próprios moveram a Pinto da Costa com artigos sensacionalistas nos jornais, dia após dia, com escutas, frutas e insinuações, lhes pesa na consciência, agora que tão incomodados se mostram com os problemas comunicacionais do juiz Carlos Alexandre. Nem o facto de Pinto da Costa ter sido absolvido pelos Tribunais os fez recuar na missão destruidora de o abalar e através dele o FCPorto.
É só ligar as televisões, ou olhar as capas dos jornais, para a máscara lhes cair, mesmo nas barbas de portistas de trazer por casa, oportunistas, incapazes de sobrepor a dignidade aos rebuçados das avenças. Nem o facto do FCPorto estar quase impossibilitado de jogar à vontade com a pressão sectária dos árbitros, lhes ensombra o brio dos escrúpulos. Assim como, nem o facto de o FCPorto ter tido o melhor comportamento das equipas portuguesas na Champions os impede de desvalorizar o feito, preferindo destacar feitos menores dos clubes de Lisboa. Para isto, não há lei, nem regras. Vale tudo.
Sabem uma coisa: vão para a grande p.q.v.p, mais os vossos pregaminhos! Que a terra vos pese um dia e vos conduza directamente ao inferno! Hipócritas!
25 novembro, 2014
Lembrem-se também do Juiz, faz favor!
Se ontem censurei a facilidade com que em Portugal se viola o segredo de justiça, expondo as pessoas à humilhação de serem julgadas na praça pública antes mesmo de serem interrogadas pelos investigadores, hoje vou dizer o que penso sobre o que uma figura de Estado (como foi José Sócrates) devia (ou não) fazer para evitar passar pelo vexame que ele passou. A missiva não é apenas dirigida a Sócrates, serve igualmente para aqueles senhores que estando ainda em liberdade e não tendo tido o mesmo "azar" de Sócrates, possam vir a ser submetidos à mesma humilhação.
É simples. Em primeiro lugar, devem ser honestos, e depois, como recomenda o velho ditado da mulher de César, têm de o parecer. Mas se não sabem o que isso significa, também explico: devem procurar agir como pessoas normais (não disse vulgares), por exemplo, registar e administrar os seus bens patrimoniais, sem delegar a terceiros essa responsabilidade, mais que não seja, por não ser lá muito curial em pessoas que sabem cuidar do que é seu. Depois, também devem ter muito cuidado com as companhias. Por último, não permitir que situações pouco ortodoxas se misturem com as funções de carácter público, e se possam confundir com as de um banqueiro [ou sucateiro] qualquer... Se seguirem à letra estes bem intencionados conselhos, podem ter a certeza que ninguém lhes pode causar grandes danos, ainda que o tentem.
Ironias à parte, de todas as opiniões (tantas!) que ontem ouvi nos vários canais de tv sobre a detenção de Sócrates, algumas mais comedidas que outras, houve uma que fez a diferença, despertando o país para a realidade do que se estava a passar, foi a de Pacheco Pereira, que na presença de Clara Ferreira Alves e de Miguel Sousa Tavares, afirmou o seguinte: se o juiz determinou a prisão preventiva a Sócrates foi porque encontrou indícios de culpabilidade suficientemente poderosos para o fazer. E acrescentou: é preciso que as pessoas tenham consciência que estamos a falar de alguém que foi 1º. Ministro, sobre o qual recaem suspeitas muito graves de crimes de evasão fiscal, corrupção e branqueamento de capitais...
A violação do segredo de justiça tem de acabar, mas mesmo assim, considero que ontem houve muita gente mais preocupada em criticar o juiz (nem sempre de forma directa), do que em admitir igualmente a presunção de culpa do suspeito, considerando os elementos que só o juiz saberá avaliar para lhe impor a prisão preventiva como medida de coacção. Às vezes, não sei bem em que mundo as pessoas querem viver.
24 novembro, 2014
Tenham vergonha!
JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES |
Vivemos tempos sem grandeza nenhuma. Quem julgava que, com a chegada da troika, os políticos portugueses - e esse imenso rol de responsáveis e dirigentes da coisa pública - iriam ter vergonha na cara enganou-se redondamente. Ainda as cadeiras não arrefeceram com a saída daqueles senhores, já os suspeitos do costume - leia-se, os descarados - levando à letra a máxima de Luís XIV "L"Etat c"est moi", fizeram jus à posição privilegiada que lhes foi confiada e, tomando despotismo por desportismo, meteram ao bolso o que pertencia ao Estado, sem qualquer escrúpulo ou pudor, recriando-se no nobre exercício da ganância.
Uma pândega. Um autêntico deboche. Essa coisa de aldrabar deve-lhes estar mesmo na massa do sangue. Não sei se ficam deslumbrados com o poder, se entontecem ao cheirar tanto dinheiro, o certo é que muitos já devem aceitar este tipo de cargos com o único objectivo de usurpar. São génios mefistofélicos que julgam que a máxima de Descartes "Cogito ergo sum" significa qualquer coisa como "Coage e ergue a soma" e vai de levarem a mão à dita, com a maior desfaçatez.
Mas, também, se formos a ver bem, que formação moral, académica ou profissional é que a maioria destes flibusteiros teve? Que provas é que já deram na sociedade civil? Que chá é que esses meninos beberam em pequenos? Uns, genericamente, nunca terminaram os cursos que dizem que tiraram (ou acabaram à pressa a um domingo, ou inventaram licenciaturas); outros, são produto desses verdadeiros lupanares chamados juventudes partidárias (autênticas escolas de primícias, quais banhos públicos romanos, lugares de prazer e boato) e nunca trabalharam em mais lado nenhum do que a empresa de um qualquer sacripanta do partido, onde foram admitidos com o boçal curriculum de "amiguismo"; finalmente, há os nefelibatas esforçados que rapidamente caem na chusma e, ou se tornam bandoleiros como tantos, ou são levados a desistir, por uma questão de honestidade. A política é uma perfídia que realmente não se recomenda.
Não deve haver nenhuma outra classe profissional que preste contas da sua incompetência apenas de quatro em quatro anos. Todas as restantes - professores, juízes, médicos, engenheiros, jornalistas, enfermeiros, funcionários públicos (e privados) em geral, de uma maneira ou de outra vão sendo avaliadas mais amiúde e têm sido (à vez, porque o truque reside, precisamente, em dividir para reinar), apoucadas, enxovalhadas e exploradas por uma classe política que, deliberando num parlamento com mais clareiras do que a alopecia de Diogo Feio, se dá ao luxo de exigir às outras classes o que não exige de si própria: exclusividade de funções e honestidade de meios.
A recente tentativa de repor o subsídio vitalício aos políticos, por exemplo, quando há portugueses a passar fome, é escandalosa! Se há dinheiro para repor, disse o bispo do Porto, "que se comece por quem tem menos". Como era óbvio! À maneira dos protestantes - que dispensavam os santos como intermediários dirigindo-se directamente a Deus -, está na altura dos cidadãos dispensarem estas alimárias e decidirem em conjunto, como em Espanha com o "Podemos", movimento criado pela sociedade civil. Ou como no Porto, por exemplo, com Rui Moreira, para grande sorte a nossa.
O problema de Portugal é um problema de gestão. Temos sido muito mal geridos por quem só se preocupa em gerir o seu próprio bolso. O Bloco central vai-se cevando, à vez, como uma Entente de inimigos aliados preocupada em manter a classe média anestesiada, para que não consiga parar, reflectir, ganhar forças e intervir, e se vá iludindo com a mediocridade para que o esquema da alternância se perpetue e os cidadãos se limitem a existir, como escravos legais, sujeitos ao ágio do capital, a quem os políticos lambem as botas porque esperam, um dia, vir a mamar daí.
A classe política, genericamente, cheira mal, está podre e fora de prazo. O neoliberalismo matou Morfeu, o deus dos sonhos, e a mão invisível destruiu a alegria de viver dos cidadãos. Alguma coisa tem de mudar a sério na política portuguesa, e esse papel cabe agora à sociedade civil.
Aos partidos é que já não sobra classe nenhuma. Nem sequer a classe média.
23 novembro, 2014
Sócrates versus media
Não quero parecer político por dizer que a sociedade portuguesa não é a única a sofrer do mal de que sofrem muitas outras sociedades, que é a perda crescente dos valores da ética e do rigor. Longe de mim entrar pelo caminho demagógico do Paulo Portas, que na comissão de inquérito parlamentar ao caso dos vistos dourados, argumentou favoravelmente sobre a temática, alegando que outros países da Europa fazem o mesmo, pensando que dizendo isso não precisava de acrescentar mais nada para credibilizar a resposta. Aliás, um argumento próprio dos povos de países periféricos, salpicado do provincianismo típico dos políticos menores. A realidade é que, quando a Europa adoece, Portugal nunca vende saúde, antes se aproxima do estado de coma. Foi sempre assim, e nada indicia que venha a ser diferente no futuro.
Sócrates foi detido, todos sabemos. E sabemos também o folclore que à volta da sua prisão começam a fazer os pasquins do costume, sempre sedentos de novelas sangrentas, onde o esfola anda sempre à frente do mata. Sobre a incompetência de Sócrates, como de Passos Coelho, nunca tive grandes dúvidas, e acho mesmo que ambos fizeram mal demais ao país para merecerem a nossa condescendência. Se um, infelizmente, ainda se mantém no governo, o outro já lá não está, e agora é indiciado como suspeito da prática de vários crimes, o que para a questão em apreço não importa. Mas, e se fosse um de nós, supondo que não tínhamos cometido qualquer crime, gostaríamos que as coisas fossem tratadas da mesma maneira, com o mesmo folclore? Atenção, não me interpretem mal, não estou a defender Sócrates. Se se apurar aquilo de que é suspeito deve ser condenado exemplarmente. Pessoalmente, tenho as minhas convicções pessoais, mas não as vou revelar aqui porque já há muita gente a fazê-lo publicamente.
Era apenas nisto que pensava ontem, quando via o programa Eixo do Mal, da SIC, e os comentadores denunciavam com veemência o comportamento dos media pela forma espectacular como comunicaram a notícia. Este assunto, recordou-me a perseguição movida a Pinto da Costa, e não é o facto de o alvo a abater agora se chamar Sócrates que me faz mudar de opinião sobre o modo como estes casos são geridos pelos vários organismos judiciais que costumam acompanhá-los. Um dos problemas que continua por resolver é sem dúvida o respeito pelo famoso segredo de justiça, e outro, que se prende com o mesmo, é saber quem superintende pela manutenção e pelo cumprimento desse direito. Isto, se é que alguém superintende alguma coisa, claro!
Por outro lado, pergunto-me qual seria o modo e o momento ideal para a divulgação pública deste tipo de notícias, sabendo como sabemos, da lentidão que (a)normalmente acompanham os processos onde constam figuras públicas. Se os media se deviam limitar a aguardar em silêncio o desenrolar das investigações para não as prejudicar - mas ao mesmo tempo possibilitando a sua manipulação - ou se estabelecendo regras temporais e comportamentais entre eles e as instituições policiais e da Justiça. Se essas regras existem, não sei. O que sei é que não funcionam, porque tem de haver alguém no interior do sistema judicial a informar a comunicação social. Sobre isso, parece-me não restar qualquer dúvida.
O certo, é que esta situação não impede que alguns dados da investigação tenham vindo a público com indícios do foro criminal fundamentados em suspeitas aparentemente verosímeis, levando a opinião pública a tender mais para acreditar prematuramente na condenação que na inocência do suspeito. E isso, goste-se ou não do suspeito, é promover a injustiça antes mesmo de entrar no tribunal.
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