01 fevereiro, 2019

RUI PINTO quebra o silêncio


Rui Pinto quebrou o silêncio pela primeira vez desde a detenção em Budapeste, assumindo a identidade de John, o whistleblower por detrás do Football Leaks. A entrevista, conduzida pela revista alemã Der Spiegel, cobre vários temas, entre os quais o envolvimento com a Doyen, as acusações de chantagem e ainda o Benfica.


Como conseguiu obter mais de 70 milhões de documentos confidenciais sobre a indústria do futebol? "Iniciei um movimento espontâneo de revelações sobre a indústria do futebol. Não sou o único envolvido. Ao longo do tempo, mais e novas fontes de informação foram aparecendo e partilhando material comigo e a base de dados foi crescendo. Isto mostra que há muita gente preocupada com este assunto",

Acusações de chantagem por parte da Doyen: "A única razão pela qual contactei a Doyen foi para confirmar a ilegalidade das suas ações, com base na quantidade de dinheiro que estivessem dispostos a pagar para que os documentos não fossem divulgados. Queria perceber o quão valiosos e o quão importantes eram os documentos para a Doyen. Achei que conseguia descobrir isso se soubesse o quanto a Doyen estava disposta a pagar pelo meu silêncio. Nunca foi minha intenção aceitar o dinheiro. Só queria expor a Doyen. Quis perceber quanto lhe ofereciam. Enquanto ele negociava, eu continuei a ler os documentos. Enquanto o fazia, dizia para mim mesmo: se os deixo comprarem-me agora, não valho mais que todos estes esquemas. Por isso escrevi à Doyen e disse-lhes para ficarem com o dinheiro. Não me pagaram um único cêntimo. O que fiz foi muito ingénuo. Olhando para trás, arrependo-me. Mas repito, nego ter cometido qualquer crime".
Suspeitas de que forneceu ao FC Porto emails incriminatórios do Benfica: "Não li nenhuma declaração das autoridades sobre uma relação entre mim e o escândalo do Benfica. Uma revista publicou a história do Benfica no outono passado. Isso mudou a minha vida. A minha fotografia estava nas primeiras páginas dos jornais por todo o país. A minha conta de Facebook e o meu e-mail foram inundados com ameaças de morte".
Como e porque lançou o site Football Leaks? "Sou fanático por futebol desde criança e já tinha percebido, desde o Caso Bosman, que o futebol estava a caminhar na direção errada. Os melhores dos jogadores jovens estavam a ir para as melhores equipas; toda a competição estava a dar vantagem aos clubes de topo. O grande impulsionador para mim foi o escândalo da FIFA em 2015. Além de todas as detenções que foram feitas na FIFA, vi que havia irregularidades em muitas transferências dentro de Portugal. Que mais e mais investidores invadiam o mercado. Comecei a recolher dados".
Porque está a resistir à extradição para Portugal? "Tenho quase a certeza que não terei um julgamento justo em Portugal. O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos. Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem que ninguém se deve meter com eles".
(Fonte: jornal O Jogo)

30 janeiro, 2019

Universo Porto da Bancada ainda é muito crente


Tenho especial simpatia pelo jovem Pedro Bragança, comentador do Universo Porto da Bancada. Goza de grande eloquência e de um raro sentido de urbanidade. Pelo menos, é essa a impressão que me deixa. Já não vou muito à bola do José Cruz. Tanto está a dizer coisas acertadas, como logo a seguir as estraga com adjectivações de louvor, quando deviam ser de repúdio. Talvez seja uma consequência de ter trabalhado muitos anos na RTP...  Adiante.

Ontem, ficamos a saber (de voz própria) que Pedro Bragança apresentou uma queixa à ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) por esta não se ter pronunciado sobre o comportamento execrável de Valdemar Duarte e as palavras repugnantes que proferiu na BTV contra toda a comunidade portista. Foi uma decisão louvável e de grande determinação, considerando a passividade de muitos jovens que em vez de agirem, se contentam com queixumes e críticas a quem faz o que pode.  

Esta atitude serviu de mote a um debate inspirado na ERC contra à qual Francisco J. Marques se manifestou com toda a razão e objectividade. O resultado era expectável (pelo menos para mim), chegou-se à conclusão que a ERC fugiu às suas responsabilidades poupando Valdemar Duarte de qualquer acusação com o tão usado, gasto e  maltratado "direito à liberdade de expressão", terminando a resposta responsabilizando o FCPorto, como não podia deixar de ser,  bem à laia de bom cartilheiro.   

Ora, esta reacção é legítima, mas tardia, porque não é apenas a ERC um organismo inútil e irresponsável, são todos os organismos ligados ao desporto. Estão todos contaminados pelo vírus Benfica. E não deviam. Portanto, a responsabilidade é sobretudo do(s) Governo(s), e da Assembleia da República, que sabendo o que está a acontecer, nunca tiveram a dignidade de se pronunciarem sobre a realidade actual desportiva em toda a sua dimensão, e não apenas no futebol. O Polvo tem como sede o Benfica, mas estende tentáculos em diferentes áreas. A Banca está também comprometida, a política e a comunicação social, idem aspas.

Considero portanto que ainda há demasiada ingenuidade da parte dos comentadores do Porto Canal. É tempo de perguntar ao sr. 1º. Ministro por que é que não demite o Secretário de Estado do Desporto e as próprias instituições do futebol. Por que é que ainda não falaram criticamente da FPF e da Liga.

Acham que são instituições competentes? Que não têm nenhuma responsabilidade nas decisões polémicas dos Conselhos de Disciplina e de Arbitragem? Não terão nada a ver com o assunto? Por que é que tardam tanto a concluir que o país está contaminado pela irresponsabilidade ao mais alto nível? 

Que raio, não são precisas lupas gigantes para topar vigaristas tão transparentes. Se acham que o Governo ainda merece respeito, então andam cegos, ou demasiado crentes, e então só daqui a uns mêses vão denunciar o que aqui já estou farto de escrever. 

É complicada a tarefa, porque é colossal, mas o ataque tem ser feito ao ponto mais alto do poder e não aos subalternos, porque esses continuam a sentir-se confortáveis com o silêncio dos mandantes e vão fazendo pela vida, nem que seja continuar a corromper.

De qualquer modo continuo a apoiar o programa Universo Porto da Bancada, mas penso que estão a ser demasiado pacientes com o regime. É o regime o principal responsável, é por aí que têm que caçar a presa, porque se assim não fora nem sequer seria necessário chegarmos a esta situação vergonhosa.    

PS-Para que não haja interpretações distorcidas repito o que sempre venho enfatizando: o senhor Presidente do FCPorto e respectiva SAD deviam encabeçar com outra frontalidade esta luta desigual contra o sistema, mais que não fosse para transmitirem aos adeptos e associados outra segurança. Assim, comportando-se como corta-fitas lembrando Américo Tomás, cai mal. Muito mal.  


29 janeiro, 2019

Só por estas singelas e corajosas afirmações, merecias uma estátua, Ana!

ANA GOMES

Ana Gomes voltou a abordar a detenção de Rui Pinto, o alegado hacker dos emails do Benfica, realçando a importância de averiguar o "interesse público" do conteúdo divulgado pelo suposto pirata informático. No espaço de comentário de que dispõe na SIC, a deputada do Parlamento Europeu disse estar à espera de ver a justiça portuguesa solicitar a colaboração de Rui Pinto.


"Quem tem que analisar o caso é a justiça portuguesa e as de outros países eventualmente envolvidos. Está em causa apurar a ilicitude de determinadas práticas e, depois, o interesse público da informação divulgda. Não tenho dúvida nenhuma de que há gente interessada em dar essa imagem e até mais interessada em pôr as mãos naquilo que ele [Rui Pinto] ainda possa ter para revelar. O advogado diz que ele tem colaborado com a justiça francesa, com a alemã... Espero é que seja solicitado pela justiça portuguesa a colaborar", assinalou a eurodeputada, prosseguindo:
"Ainda na semana passada, em Espanha, o Cristiano Ronaldo chegou a acordo e foi obrigado a pagar 19 milhões de euros. E graças ao Football Leaks o Estado espanhol está a recuperar milhões de euros de alguns jogadores. Em Portugal o que aconteceu? Estranho, não é? Não tenho notícia de que tenha acontecido alguma coisa... Ouvi dizer que, eventualmente, o processo E-Toupeira resulte de informação do Football Leaks, não necessariamente da informação trazida a público pelo Rui Pinto. O caso E-Toupeira é um daqueles casos que põe toda a gente intrigada. Como é que é possível levar o assessor jurídico e um funcionário conivente com ele a julgamento e não levar a entidade para quem trabalhava o dito assessor jurídico, que era a SAD do Benfica? Isto tem de ser visto à luz da apreciação que os tribunais façam", atirou Ana Gomes.
Nota de RoP: O título que escolhi para este post é tão eloquente quanto  dramático para o nosso país, por apenas esta mulher, esta política, ter tido a dignidade (e coragem) que mais NENHUM outro, de qualquer partido, ousou mostrar. 
Conclusão: temos uns políticos de merda (é a palavra certa). 

28 janeiro, 2019

Taça da Liga, uma Taça amaldiçoada por Pinto da Costa


O modo como o FCPorto deixou escapar o troféu da Taça da Liga foi mais uma vez penoso. Um momento de desconcentração de Oliver foi fatal, quando pouco faltava para terminar o jogo e trazer a taça para casa. Assim, arrastou a decisão para a marcação de penalties, processo azarado para grande parte dos nossos jogadores.  

Sabemos que os penalties fazem parte do jogo, que é preciso treiná-los com regularidade, como quaisquer outros aspectos técnicos, mas justamente por termos assistido nos últimos anos a alguma má sorte na hora de decidir, impunha-se preparar também o lado psicológico da coisa. Isto acontece a todos, mas já tínhamos vivido esta amarga experiência, e uma vez mais não tivemos força mental para meter a bola na baliza. 

Há, no entanto um por(menor) ou (maior) que não esqueço, com o qual nunca concordei e que poucos ousam falar (para não beliscarem o nome do Sr. Pinto da Costa), que é da responsabilidade exclusiva do Presidente. É que foi ele o primeiro a desvalorizar a importância da Taça da Liga! A causa factual foi ter sido criada para favorecer o Benfica, o que é a mais pura verdade. Como Presidente, e para evitar problemas, penso que o senhor Pinto da Costa só tinha duas alternativas sensatas antes de tornar pública a sua opinião: ou recusava participar na competição alegando desinteresse pelo mesmo - caso fosse legalmente permitido -, e nesse caso assumia-o coerentemente, ou então, calava-se. Assim, não deixava nenhum pretexto para influenciar os jogadores. 

Falando como falou, pense-se o que se pensar, não pode garantir que com a atitude negativa que tomou não ter transmitido aos jogadores pouco entusiasmo pela disputa do troféu! Pelo contrário, Sérgio Conceição nunca alinhou pelo mesmo diapasão, e quis ganhar. Não o conseguiu, é certo, mas ninguém pode dizer que foi durante o seu tempo de treinador do FCPorto que os jogadores ouviram falar desse desprezo pela Taça da Liga. Foi muito antes. E vários jogadores do plantel actual já jogavam no FCPorto com o "vírus" anti-Taça da Liga na cabeça. Se foi, ou não, essa a causa, ninguém pode garantir. Agora, por mais razões que possamos ter, não é só o Sérgio Conceição que tem de levar com o pesadelo dos pénalties da Liga... Pinto da Costa nunca devia ter menosprezado uma prova que sabia não poder recusar de participar.

Haja paciência, mas o nosso Presidente já foi um grande líder. Errava, mas errava pouco. Mas nos últimos anos só fala quando não deve, e mantém-se calado com assuntos mais sérios.    


27 janeiro, 2019

A bosta da corja

Domingos Andrade
(Director JN))


De repente, o país onde não se passa nada, onde se vive por ver viver os outros, o país da anomia coletiva e da normopatia individual, do zé-povinho, do fiado, do comer e calar, do respeitinho é muito bonito, do silêncio agastado da escravidão face às elites, no interior ou no litoral, de repente, escrevíamos, o país perde o filtro e parece entrar numa espiral de loucura coletiva, confundindo intervenção cívica com falta de civismo.

Não pode ser normal achar que se pode tudo, sem consequências. Mas aparentemente pode. Dos casos de polícia à polícia dos casos. Bombeiros que tentam em fúria invadir o Ministério. Um assessor do Bloco de Esquerda achar que pode falar da "bosta da bófia", mesmo que seja só um assessor, sem responsabilidades políticas, certo, mas ainda assim um assessor de um partido, no calor dos distúrbios no bairro do Jamaica, em Lisboa, sobre cujos verdadeiros problemas de pobreza e de abandono ninguém parece estar interessado em discutir. Um comentador desportivo de um clube com carteira profissional de jornalista, ambos pessoa singular e pessoa coletiva, responsável e responsabilizáveis, tecer os insultos que lhe apetece sem que ninguém intervenha e sem que ninguém, também aqui, queira discutir políticas de exemplo transversais que de uma vez por todas comecem a resolver o maior rastilho de violência subterrânea que atravessa a sociedade portuguesa.

O corolário da demagogia é Assunção Cristas ter de perguntar ao primeiro-ministro se condena ou não a violência em Lisboa. E o primeiro-ministro responder à pergunta com a afirmação interrogativa sobre a cor da sua própria pele. É a casa da democracia no seu melhor de alheamento face aos problemas que o país enfrenta.
Não pode ser normal. Mas o caminho que começamos a trilhar de perda de referências comporta maiores riscos do que aqueles que aparentemente vemos. E não pode ser normal que o país dos brandos costumes vire as costas a comportamentos que geram comportamentos, que geram outros comportamentos, numa espiral de violência suicida.
A prazo, seremos todos a bosta da corja.