27 janeiro, 2019

A bosta da corja

Domingos Andrade
(Director JN))


De repente, o país onde não se passa nada, onde se vive por ver viver os outros, o país da anomia coletiva e da normopatia individual, do zé-povinho, do fiado, do comer e calar, do respeitinho é muito bonito, do silêncio agastado da escravidão face às elites, no interior ou no litoral, de repente, escrevíamos, o país perde o filtro e parece entrar numa espiral de loucura coletiva, confundindo intervenção cívica com falta de civismo.

Não pode ser normal achar que se pode tudo, sem consequências. Mas aparentemente pode. Dos casos de polícia à polícia dos casos. Bombeiros que tentam em fúria invadir o Ministério. Um assessor do Bloco de Esquerda achar que pode falar da "bosta da bófia", mesmo que seja só um assessor, sem responsabilidades políticas, certo, mas ainda assim um assessor de um partido, no calor dos distúrbios no bairro do Jamaica, em Lisboa, sobre cujos verdadeiros problemas de pobreza e de abandono ninguém parece estar interessado em discutir. Um comentador desportivo de um clube com carteira profissional de jornalista, ambos pessoa singular e pessoa coletiva, responsável e responsabilizáveis, tecer os insultos que lhe apetece sem que ninguém intervenha e sem que ninguém, também aqui, queira discutir políticas de exemplo transversais que de uma vez por todas comecem a resolver o maior rastilho de violência subterrânea que atravessa a sociedade portuguesa.

O corolário da demagogia é Assunção Cristas ter de perguntar ao primeiro-ministro se condena ou não a violência em Lisboa. E o primeiro-ministro responder à pergunta com a afirmação interrogativa sobre a cor da sua própria pele. É a casa da democracia no seu melhor de alheamento face aos problemas que o país enfrenta.
Não pode ser normal. Mas o caminho que começamos a trilhar de perda de referências comporta maiores riscos do que aqueles que aparentemente vemos. E não pode ser normal que o país dos brandos costumes vire as costas a comportamentos que geram comportamentos, que geram outros comportamentos, numa espiral de violência suicida.
A prazo, seremos todos a bosta da corja.


2 comentários:

  1. bom texto. Mas essa dos tugas serem de brandos costumes......sao tretas, geneticamente o tuga e agressivo e isso tem a ver com seculos e seculos de guerras em particular com os vizinhos castelhanos e mouros.

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  2. Vidente,

    Ando aqui há meio século e só vejo tugas vendidos e sem tomates e os que me preocupam são os do Porto!

    Desculpe lá mas estou em completo desacordo consigo! Veja-se como exemplo o 25 de Abril, a revolução dos cravos sem sangue derramado! Somos uns mariquitas!

    Bah!

    DB



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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...