10 setembro, 2010
Catarse
Se Aristóteles acreditava que uma desgraça é o melhor meio de purificação da alma e se por alguma razão o seu nome ficou ligado à história da filosofia será que é mesmo impossível estender a receita ao corpo?
É que, pelo andar da carruagem não me parece que a Política em Portugal seja a catarse indicada para os males do corpo ou da alma... O país estás de rastos, e o Povo permanece apático, quase masoquista. Falta-lhe talvez descer ainda alguns degraus para atingir o nível de pobreza dos moçambicanos e recorrer à violência, mas já esteve mais longe.
Os socialistas em termos ideológicos e de competencias, são iguais aos sociais democratas, a única diferença - e talvez a que lhes tem dado vantagens em relação ao PSD -, é que vão enganando a pobreza que semeiam com os subsídios sociais que atribuem. Este engôdo tem os dias contados, mas até ver, vai dando votos para os manter no poleiro. Por seu lado, os sociais democratas ainda não perceberam que será muito difícil vencer as próximas eleições sem apresentarem soluções credíveis, insistindo utopicamente na recusa de subsídios aos desempregados sem antes lhes garantir trabalho [remunerado]... PS e PSD, parecem duas frágeis barcaças em mar traiçoeiro, à deriva.
Os socialistas em termos ideológicos e de competencias, são iguais aos sociais democratas, a única diferença - e talvez a que lhes tem dado vantagens em relação ao PSD -, é que vão enganando a pobreza que semeiam com os subsídios sociais que atribuem. Este engôdo tem os dias contados, mas até ver, vai dando votos para os manter no poleiro. Por seu lado, os sociais democratas ainda não perceberam que será muito difícil vencer as próximas eleições sem apresentarem soluções credíveis, insistindo utopicamente na recusa de subsídios aos desempregados sem antes lhes garantir trabalho [remunerado]... PS e PSD, parecem duas frágeis barcaças em mar traiçoeiro, à deriva.
O Norte afoga-se nas suas elites de papel. As elites não existem, como não existem patrões, como não existe Justiça, como não existe Governo, como não existe jornalismo, como não existe Democracia. Existem caricaturas ridículas, sem classe, sem brio, nem vergonha. Objectivamente, todas se confundem com reles mercenários. A ambição material e a vaidade desmesurada são os únicos "ideais" que conhecem.
A televisão pública usa o dinheiro público como se fosse privada, e engana impunemente os seus anestesiados contribuintes. Tudo nas nossas barbas. Democraticamente, segundo os seus turvos conceitos de democracia.
Amanhã, se houver um motim, uma rebelião popular com sangue e vítimas, não será a mim que me ouvirão criticar os revoltosos como "terroristas". Talvez me possam ouvir dizer: "só agora?". Improvavelmente, terei o prazer de ver os responsáveis, os desintegradores da coesão nacional, a contas com a Justiça, porque foi por ela que o país começou a adoecer, mas garanto-vos que não terei um pingo de remorso se o feitiço se virar contra eles. Tragicamente, como uma catarse.
A televisão pública usa o dinheiro público como se fosse privada, e engana impunemente os seus anestesiados contribuintes. Tudo nas nossas barbas. Democraticamente, segundo os seus turvos conceitos de democracia.
Amanhã, se houver um motim, uma rebelião popular com sangue e vítimas, não será a mim que me ouvirão criticar os revoltosos como "terroristas". Talvez me possam ouvir dizer: "só agora?". Improvavelmente, terei o prazer de ver os responsáveis, os desintegradores da coesão nacional, a contas com a Justiça, porque foi por ela que o país começou a adoecer, mas garanto-vos que não terei um pingo de remorso se o feitiço se virar contra eles. Tragicamente, como uma catarse.
08 setembro, 2010
Jornalismo de "serviço"
A entrevista "non stop" que, desde que foi condenado, Sua Inocência tem estado ininterruptamente a dar às TVs teve o mais respeitoso e obrigado dos episódios na RTP1, canal que é suposto fazer "serviço público".
Desta vez, o "serviço" foi feito a um antigo colega, facultando-lhe a exposição sem contraditório das partes que lhe convêm (acha ele) do processo Casa Pia e promovendo o grotesco julgamento na praça pública dos juízes que, após 461 sessões, a audição de 920 testemunhas e 32 vítimas e a análise de milhares de documentos e perícias, consideraram provado que ele praticou crimes abjectos, condenando-o à cadeia sem se impressionarem com a gritaria mediática de Suas Barulhências os seus advogados, o constituído e o bastonário.
Tudo embrulhado no jornalismo de regime, inculto e superficial, de Fátima C. Ferreira, agora em versão tu-cá-tu-lá ("Queres fazer-lhe [a uma das vítimas] alguma pergunta, Carlos?"). O "Prós & Contras" só não ficará na História Universal da Infâmia do jornalismo português porque é improvável que alguém, a não ser os responsáveis da RTP, possa chamar jornalismo àquilo.
Manuel António Pina [JN]
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Tudo embrulhado no jornalismo de regime, inculto e superficial, de Fátima C. Ferreira, agora em versão tu-cá-tu-lá ("Queres fazer-lhe [a uma das vítimas] alguma pergunta, Carlos?"). O "Prós & Contras" só não ficará na História Universal da Infâmia do jornalismo português porque é improvável que alguém, a não ser os responsáveis da RTP, possa chamar jornalismo àquilo.
Manuel António Pina [JN]
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RoP
Creio que a crónica acima reproduzida e brilhantemente salpicada pela habitual ironia do autor, diz praticamente tudo sobre o estado circense a que chegou a Justiça [e a Comunicação Social] em Portugal. Convirá contudo acrescentar que, apesar da salgalhada em que a Justiça se deixou envolver, com responsabilidades repartidas entre o Poder Político e Judicial, não é possível acreditar que os juízes sejam todos incompetentes e, consequentemente, decidam todos sempre mal.
O excesso de mediatismo de alguns julgamentos, sendo pernicioso para as investigações [e às tantas até, para as sentenças] permite ao leigo cidadão ouvir toda uma panóplia de pareceres jurídicos que o devem deixar completamente baralhado. Se lhes juntarmos alguns clichés, muito bem difundidos, por juristas, advogados e juízes, então é que a confusão é total. Um paradoxo completo, é ouvir esta gente falar em "justiça popular" como uma coisa aberrante, e ao mesmo tempo vê-la bem representada, a promovê-la, em tudo quanto é comunicação social... O programa Contra Informação da RTP foi - como diz o cronista Manuel António Pina -, apenas mais um desses maus exemplos. A Justiça, tem de pautar-se pela eficácia e sobriedade, e resistir tenazmente aos holofotes das vaidades pueris. Não é isso que está a acontecer.
Este tema da Justiça é-me particularmente caro, porque me perturba imenso o seu contrário, e é isso que explica sua a repetição neste post. Em relação ao escândalo Casa Pia, fosse o Carlos Silvino o único suspeito, e o julgamento já tinha terminado há muitos anos e poucos se preocupariam com a Justiça da decisão. O problema para os Tribunais, nem sequer estaria na outra meia-dúzia de arguidos que mereceram a atenção dos investigadores e que geraram a multiplicação dos processos, mas mais na sua qualidade, no seu status. Não há volta a dar-lhe, digam o que disserem os senhores juízes e advogados, a Justiça não é igual para todos. Quando há entre os suspeitos figuras públicas poderosas, sabe-se como logo se movem influências ao mais alto nível no sentido de abortar as investigações judiciais. Neste processo, não falta quem suspeite que além dos agora condenados, outros poderosos também o deviam ser, e ... safaram-se!
É por todo este lodaçal, a que poucos podem dar-se ao luxo de escapar, que o mais sábio de todos acaba por ser o Zé Povo, porque observa e intui sobre a aplicação da justiça, não só baseado na sua empatia ou desprezo pelos suspeitos, mas com base neste profuso cruzamento de dados, de informações e interesses, "julgando" simultaneamente as performances dos outros protagonistas [advogados de defesa, de acusação e juízes incluídos].
Os Juízes não são todos competentes, é natural, mas exactamente por serem humanos e poderem errar, é que lhes é exigível uma competência acrescida para assim errarem menos que os outros [os incompetentes]. Isto aplica-se também aos advogados e aos jornalistas, porque participam directa ou indirectamente nestas acções.
Por mais que certos "peritos" em matéria de Justiça se esforcem por aligeirar o protagonismo oferecido a Carlos Cruz num programa de Televisão, a RTP cometeu a maior de todas as injustiças que foi permitir a um cidadão, aquilo que não é permite a outros. O facto de se tratar de uma figura pública, só torna mais obscuro e sectário o critério dessa injustiça. Não é pelo status social, político ou económico que se mede a qualidade humana de uma pessoa.
Carlos Cruz foi o que foi, mas a Justiça ouviu as vítimas durante 8 longos anos e decidiu que ele não passa de um pedófilo. Não devo, não posso acreditar que um Juíz ou Juíza, por mais incompetente que seja, fosse capaz de o condenar a ele e aos outros arguidos, por crime tão repugnante como o de que foi acusado sem estar na posse de testemunhos suficientemente credíveis. Imaginar esta hipótese é de per si pérfido e doentio.
E já agora pergunta-se: por quê tanto medo de um provável erro jurídico, só agora, neste casos? Cheira-me que é só uma questão de status a espernear fúteis vaidades...
06 setembro, 2010
O Processo Casa Pia e os advogados dos arguidos
Não custa mesmo nada acreditar que o facto de sabermos que a qualquer momento podemos ter de recorrer aos bons ofícios de um advogado para nos defender de uma eventual acusação - fundada ou não -, nos possa inibir de censurar as suas acções, mesmo se elas nos parecem suspeitas e desenquadradas da opinião que fazemos dos protagonistas e da matéria em questão. Por outro lado, os advogados têm consciência desse ambivalente sentimento que despertam nos cidadãos, que é um misto de respeito e desconfiança, parecendo contudo sentirem-se muito confortáveis nesse duplo papel. Associada a essa imagem, têm consciência desde os primeiros anos de formação, do inconfessável poder que trazem colado à profissão, facto que não raras vezes os leva a alguns excessos.
Sexta-feira, foi finalmente lida a sentença do Processo Casa Pia e condenados a maioria dos réus, pelo menos, aqueles que eram do conhecimento público. Ter-se-à feito Justiça? Na minha opinião, não fez. E digo que não fez porque nunca será feita Justiça quando ela chega tarde. O tempo na vida das pessoas [vítimas e réus] é precioso e toda a Justiça que não tem em conta tamanho detalhe nunca se poderá orgulhar de ter cumprido o seu dever, como a sociedade lhe exige. O que se fez na sexta-feira foi a leitura [tardia ]de uma sentença, apenas. Justiça, é outra coisa.
Mas foram as declarações do advogado de Carlos Cruz, Ricardo Sá Fernandes que mais me incomodaram, dentro e fora do Tribunal, que no caso em apreço fizeram pender a minha ambivalência emocional sobre este advogado mais para o lado da desconfiança do que para o lado do respeito. Assimilada que tenho a noção do papel de qualquer advogado - que é, defender a todo o custo os interesses e a imagem dos seus clientes, porque para tal é pago -, considero um desaforo e uma total falta de respeito pelos cidadãos colocar em causa a decisão do Tribunal e depois vir para as televisões e para os jornais defender fanaticamente a inocência de todos os arguidos [depois de condenados], incluindo a dos que nem sequer eram seus clientes. Para o efeito, usou expressões dramáticas como "Cenário de Trevas" e repetiu-as na Televisão e no jornal Público de ontem. Há quem diga que isto é recorrente, que faz parte dos jogos de defesa, mas se faz, não deixam de ser jogos muitos sujos...
Acreditar na bazófia conspirativa do senhor advogado de Carlos Cruz equivaleria a sermos levados a crer numa sofisticada e macabra cabala minuciosamente orquestrada por todas as vítimas, para a qual, toda a gente sabe, não têm meios nem imaginação quanto baste para a levar a cabo. Esvaziar, tentar descredibilizar todo o imenso rol de interrogatórios junto das vítimas é uma tentativa velada de incriminar os próprios juízes e de descredibilizar a própria sentença.
Já agora, uma vez que não ouvi o senhor advogado pronunciar-se sobre o assunto, acrescento que a profusão de entrevistas que Carlos Cruz deu à comunicação social, com ameaças mal dissimuladas em todas as direcções e nenhuma, antes e depois do julgamento, deviam ser alvo de um novo processo, porque essas são prerrogativas a que o comum arguido não está habituado nem tem direito. A cadeia está cheia de criminosos punidos, justa e injustamente, que dariam tudo para ter um décimo do tempo de antena que os media deram a Carlos Cruz para se defender. Se se revoltarem terão a minha solidariedade.
O senhor Carlos Cruz poderá ainda ter muito dinheiro e poder, mas foi acusado e julgado por um crime hediondo, e neste momento preciso é menos que um vulgar cidadão, é um criminoso, e como tal foi julgado. Terá mesmo assim muita sorte [espero que não a venha a ter], se com o previsível expediente aos recursos não chegar a pagar com cadeia efectiva os crimes de que foi acusado que destroçaram a vida de crianças pobres e indefesas.
Definitivamente, neste processo a minha comiseração só tem uma direcção: as vítimas.
Sexta-feira, foi finalmente lida a sentença do Processo Casa Pia e condenados a maioria dos réus, pelo menos, aqueles que eram do conhecimento público. Ter-se-à feito Justiça? Na minha opinião, não fez. E digo que não fez porque nunca será feita Justiça quando ela chega tarde. O tempo na vida das pessoas [vítimas e réus] é precioso e toda a Justiça que não tem em conta tamanho detalhe nunca se poderá orgulhar de ter cumprido o seu dever, como a sociedade lhe exige. O que se fez na sexta-feira foi a leitura [tardia ]de uma sentença, apenas. Justiça, é outra coisa.
Mas foram as declarações do advogado de Carlos Cruz, Ricardo Sá Fernandes que mais me incomodaram, dentro e fora do Tribunal, que no caso em apreço fizeram pender a minha ambivalência emocional sobre este advogado mais para o lado da desconfiança do que para o lado do respeito. Assimilada que tenho a noção do papel de qualquer advogado - que é, defender a todo o custo os interesses e a imagem dos seus clientes, porque para tal é pago -, considero um desaforo e uma total falta de respeito pelos cidadãos colocar em causa a decisão do Tribunal e depois vir para as televisões e para os jornais defender fanaticamente a inocência de todos os arguidos [depois de condenados], incluindo a dos que nem sequer eram seus clientes. Para o efeito, usou expressões dramáticas como "Cenário de Trevas" e repetiu-as na Televisão e no jornal Público de ontem. Há quem diga que isto é recorrente, que faz parte dos jogos de defesa, mas se faz, não deixam de ser jogos muitos sujos...
Acreditar na bazófia conspirativa do senhor advogado de Carlos Cruz equivaleria a sermos levados a crer numa sofisticada e macabra cabala minuciosamente orquestrada por todas as vítimas, para a qual, toda a gente sabe, não têm meios nem imaginação quanto baste para a levar a cabo. Esvaziar, tentar descredibilizar todo o imenso rol de interrogatórios junto das vítimas é uma tentativa velada de incriminar os próprios juízes e de descredibilizar a própria sentença.
Já agora, uma vez que não ouvi o senhor advogado pronunciar-se sobre o assunto, acrescento que a profusão de entrevistas que Carlos Cruz deu à comunicação social, com ameaças mal dissimuladas em todas as direcções e nenhuma, antes e depois do julgamento, deviam ser alvo de um novo processo, porque essas são prerrogativas a que o comum arguido não está habituado nem tem direito. A cadeia está cheia de criminosos punidos, justa e injustamente, que dariam tudo para ter um décimo do tempo de antena que os media deram a Carlos Cruz para se defender. Se se revoltarem terão a minha solidariedade.
O senhor Carlos Cruz poderá ainda ter muito dinheiro e poder, mas foi acusado e julgado por um crime hediondo, e neste momento preciso é menos que um vulgar cidadão, é um criminoso, e como tal foi julgado. Terá mesmo assim muita sorte [espero que não a venha a ter], se com o previsível expediente aos recursos não chegar a pagar com cadeia efectiva os crimes de que foi acusado que destroçaram a vida de crianças pobres e indefesas.
Definitivamente, neste processo a minha comiseração só tem uma direcção: as vítimas.
PS-
Há nesta sentença uma decisão com a qual não concordo: os 18 anos de prisão a Carlos Silvino, a pena mais alta de todas!
Admitindo que tenha cometido mais crimes que os restantes acusados, não me parece que a pena que lhe foi aplicada seja a melhor "atenuante" para quem confessou os crimes e se dispôs a colaborar com a Justiça. Além de mais, ele próprio foi vítima de pedofilia na Casa Pia. Não entendo esta discriminação da Justiça.
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