19 outubro, 2012

Morreu Manuel António Pina

Manuel António Pina
Quando, em 2011, Manuel António Pina soube que lhe tinha sido atribuído o Prémio Camões por toda a sua obra - que inclui poesia, crónica, ensaio, literatura infantil e peças de teatro – afirmou: “É a coisa mais inesperada que podia esperar”.

Também a sua poesia tinha sentido de humor – o que é raro na poesia portuguesa - e mantinha vivo o diálogo com Fernando Pessoa. Na literatura infantil, Pina mostrava também essa tradição do “non sense”, da brincadeira sem deixar de lado a complexidade.

Era um cinéfilo e sabia cenas de alguns filmes de cor. Numa pequena biografia publicada há alguns anos na imprensa francesa dizia-se que gostava de “cultivar a imagem de poeta de ‘série B’ – para usar uma metáfora cinematográfica – neutralizando assim a tentação de fazer ‘a grande poesia’ fruto de auto-ironia e de uma dimensão manifestamente lúdica dos seus textos”.

Costumava citar Luiz Pacheco, que dizia que daqui a cem anos ninguém se lembrará do que escrevemos, para contrapor que essa meta acabava: já daqui a um ano. No entanto os seus livros, nomeadamente os infantis que formaram a geração que hoje tem mais de 40 anos, continuam a ser reeditados e não envelheceram.

Quando em 2011 foi publicada pela Assírio & Alvim, “Todas as palavras – Poesia Reunida (1974-2011)” o crítico Pedro Mexia lembrava no “Expresso”, que “os primeiros poemas de M. A. Pina, não sendo estritamente políticos, documentam uma certa ‘paz dos cemitérios’ e sugerem que ‘não é possível dizer mais nada mas também não é possível ficar calado’. Embora seja tarde, talvez não seja ainda demasiado tarde.”

O título do seu primeiro livro de poesia, “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma é Apenas um Pouco Tarde”, que foi publicado em 1974 tem sido lembrado nas redes sociais e em cartazes espalhados pelo Porto. É uma iniciativa POP para se criar uma versão nacional e actual do cartaz “keep calm and carry on” que, dizem na página que mantém no Facebook, contou com “o apoio e incentivo directo” de Manuel António Pina. O cartaz original foi criado para ser afixado em Londres, caso houvesse invasão alemã durante a II Guerra Mundial. O cartaz português retoma o título de Pina e é uma homenagem ao poeta “pelas palavras que há muito tempo escreve”: “Não é o fim nem o princípio do mundo, calma é a apenas um pouco tarde” procura “de certa forma, sensibilizar, motivar e mobilizar as pessoas tal como o da situação original”, explicam no Facebook.

O escritor que nasceu, em 1943, no Sabugal, na Beira Alta, vivia no Porto desde os 17 anos numa casa com muitos gatos, que lhe davam material de sobra para os poemas. Conta-se, e foi relatado no “JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias” em 2001, que durante a visita a uma exposição de retratos de escritores portugueses na Feira do Livro de Frankfurt, Helmut Kohl terá parado em frente da fotografia de Manuel António Pina e de um gato e perguntado quem era o escritor. Responderam-lhe que era “o do bigode”. E o chanceler terá dito: “Bigodes têm os dois”. Além de integrar a representação oficial da literatura portuguesa na Feira do Livro de Frankfurt, em 1997, o escritor esteve também na comitiva do Salão do Livro de Paris, em 2000, e no Salão do Livro de Genève, em 2001.

Durante a infância, foi-lhe difícil fazer amigos. Andou de terra em terra por causa da profissão do pai que era chefe das Finanças e também tinha o cargo de juiz das execuções fiscais. A família nunca chegava a ficar mais de seis anos em cada localidade. Foi o pai que o ensinou a ler e a escrever mesmo antes de ir para a escola e treinava a ler os títulos do “1º de Janeiro”. Desde os seis ou sete anos que escrevia poemas, que a sua mãe guardava, e embora só tivesse publicado o primeiro livro de poemas em 1974, começou a escrevê-lo em 1965. 

(do  Público))


Nota de RoP:
Lamento sinceramente a morte deste grande jornalista [sem aspas]. Como ele, já não há muitos.

Olha mais um «populista»! Ai o grande malandro!

18 outubro, 2012

Maldita ingratidão

Otelo Saraiva de Carvalho, o mal amado
Às vezes passo-me com o que se escreve nos jornais. A última página do JN de hoje, na coluna dedicada à Figura do Dia, alguém não identificado, escreveu o seguinte, sobre Otelo Saraiva de Carvalho:

«A exemplo de D. Quixote, imagina-se a combater moínhos de vento. O capitão de Abril já antevê uma revolução e tem a certeza que não será pacífica. Haverá, portanto, derramamento de sangue. Olha para as manifestações populares com ansiedade e pede às Forças Armadas que organizem uma acção militar para derrubar o Governo. A sorte de Otelo é que, tal como as personagens de ficção, é inimputável.»

Ponto um. Não vejo Otelo Saraiva de Carvalho, como o vê o jornalista anónimo que escreveu esta piadinha sem sal a seu respeito, não obstante o considere um homem temperamental com - como se diz na gíria - o coração ao pé da boca. Contudo, uma coisa tem de lhe ser obrigatoriamente reconhecida pelos portugueses: é graças a ele, e a um grupo de jovens militares, que devemos o 25 de Abril, data  a partir da qual pudemos conquistar a liberdade e o direito de votar sem batotice. É igualmente verdade que a população aderiu naturalmente ao golpe militar, o que constituiu preciosa ajuda para ele não fracassar, mas não foi quem o concebeu.  Agora, se a democracia não é tão sólida como nós a imaginávamos [e não é, de facto], a culpa não é de Otelo, nem dos outros militares.

Ponto dois.Tenho idade suficiente para saber o que realmente aconteceu em Abril de 1974 e da evolução que a partir dessa data, até hoje, o chamado processo revolucionário sofreu. Portanto, não é qualquer imbecil, mesmo jornalista, que tem o direito de ridicularizar um homem, que, por mais polémico que seja, não enriqueceu com a revolução, e que afinal mais não expressou que aquilo que o povo nas ruas não pára de dizer: « que isto precisa, é de um novo 25 de Abril!».

Ponto três. Tenho bem fresca na memória a reviravolta que determinadas figuras públicas tiveram de dar às suas concepções de liberdade para poderem permanecer no país e não terem de fugir para o Brasil, como Marcelo Caetano, que apesar de tudo, era bem melhor que muitos desse tempo que ainda andam por aí e já mudaram tantas vezes de partido como as "mulheres de vida" mudam de parceiro. Por essa razão muitos deles, se viram forçados a "aceitar" a vida democrática para poderem salvaguardar o seu património. É bom não esquecer isso! Hoje, essas mesmas figurinhas até já se sentem à vontade para dizer que o 25 de Abril não pertence a ninguém, que é de todos, mas nada há de mais falso! Tal como hoje, à época, o povo sozinho nada podia fazer para derrubar o poder, e muito menos os jornalistas que agora se arrogam ao direito de se sentir superiores a alguém que deu, como se costuma dizer, o corpo às balas e... arriscou a própria vida, para fazer aquilo que só ele e os seus companheiros se atreveram a fazer. Se estivéssemos à espera dos jornalistas e dos que restam do antigo regime, acham que teríamos saído tão cedo de uma ditadura? Não se iludam. Não!

No chamado PREC [Período Revolucionário em Curso] cometeram-se excessos e muitas injustiças? Cometeram-se, sim senhor. E o meu saudoso amigo Rui Farinas foi vítima de algumas. No entanto, era das pessoas mais inconformadas que conheci nos últimos tempos.  Mas é esse o risco próprio de qualquer revolução. Há sempre algo que se perde. Mas, pergunto: e agora, decorridos 38 anos, o que é ganhámos? De significativo, nada! E a culpa disso, também será do Otelo? Terá sido ele porventura [e todos os outros militares de Abril] quem governou o país? Não foi, pois não? Então, senhores jornalistas, ridicularizem-se a si mesmos, porque ainda estão muito longe de subir ao pódio da integridade.

 

17 outubro, 2012

A crise agravou-se mas nunca saímos dela



Vitor Gaspar
Agora, todos falam em crise, incluindo muitos dos que a geraram, mas só alguns estão verdadeiramente a sentir na pele as suas consequências. Curiosamente, à medida que os experimentalistas do Governo vão ampliando o lastro social com as suas penalizações fiscais homicidas (mas ainda assim injustas), cresce o descontentamento entre as classes que até agora se achavam blindadas para tamanho saque. Só escapam os bancos, e os próprios responsáveis do Estado, que apesar de pregarem a austeridade á população não dispensam as viaturas topo de gama para se deslocarem, mais que não fora para dar provas de boa vontade e de algum altruísmo. Não percebem que o momento não é de campanha eleitoral, que é preciso praticar os sacrifícios antes de os exigir aos outros. Não há nada a fazer, a classe política não perde tempo com as questões de carácter. Para ela, o carácter apregoa-se, não se revela.

É por «exemplos» destes que, ao contrário do que a generalidade da comunicação social e dos comentadores políticos andam a pregar para entreter  a populaça, nunca me contentarei com o diagnóstico das doenças [o défice, e a crise] sem antes ter garantias que alguma coisa se está a fazer para as prevenir no futuro. Se alguma vez a resolução dos problemas passar por esta ordem [prevenção/diagnóstico], então talvez tenhamos finalmente condições para simplificar a cura. Não estou a dizer nada de insólito. Se esta receita é recomendada pela comunidade médica para o bem estar da saúde pública, por que motivo não há-de ser aplicada à política? 

Por outras palavras, como cidadão eleitor, o que mais me me interessa não é saber se determinado membro do Governo está profissionalmente bem cotado, o que me interessa é saber se tem qualificações éticas e características para o desempenho das respectivas funções. Consta que o actual ministro das Finanças tem uma excelente folha curricular, mas até ao momento não tem conseguido transparecer essa imagem. E não é preciso ser doutorado na especialidade para perceber que não há austeridade que resista ao asfixiamento da economia e ao consequente crescimento do desemprego.  Pode dar-se o caso [neste exemplo, como em muitos outros] que para Victor Gaspar o cargo de Ministro das Finanças constitua o ponto "proibido" da sua carreira política, o seu Princípio de Peter.

Isto até pode parecer populista aos olhos dos mais conservadores, a verdade é que desde o 25 de Abril de 1974, os portugueses não têm um único mandato governativo de verdadeira estabilidade social e económica para recordar e contar aos netos, com orgulho... Houve muito folclore, muita auto-estrada, muita propaganda política, muito oásis, mas nunca deixámos o país sair da crise, ela sempre cá esteve, independentemente de haver mais emprego que hoje. Portanto, para garantir competência governativa, não chega exibir um bom currículo profissional e académico . É importante, mas não é fundamental.

Sendo dado adquirido que ninguém se revela completamente antes de ser posto à prova, o que importaria no futuro era que os eleitos, além de resilientes, fossem dotados de grandes doses de bom senso e outro tanto de humildade, para saberem afastar-se do poder mal se apercebessem não ter capacidade para o desempenhar com mestria. O drama, é que eles pensam que abdicar do poder é sinal de fraqueza, talvez porque ninguém lhes ensinou que nalguns casos, recuar um passo pode significar à posteriori avançar dois. Ou então, pura e simplesmente não querem largar o poder.  

Porque tenho como sagrada a convicção que um governante é um mero [mas respeitável] representante do povo [vivemos uma Democracia representativa], nenhum direito lhe assiste de se prender ao poder contra a sua  vontade, seja porque ainda não atingiu o limite do mandato, seja porque não foi exonerado em sede parlamentar. Compete à sua boa consciência perceber quando é chegado o momento de sair. Façamos um exercício de memória e vejamos quantos é que o fizeram nas circunstâncias que citei.  

Ora, como a boa consciência de cada um, por enquanto, não é curriculável,  nem legível, e o risco de termos de passar por experiências angustiantes como as que vivemos nos últimos anos [antes com Sócrates, e agora com Coelho] é enorme, só vejo duas maneiras de evitar que elas se tornem crónicas: levar a tribunal os governantes corruptos e irresponsáveis e puní-los de forma exemplar. Se aceitamos a austeridade para a economia não podemos exigi-la para a Justiça?  Caso contrário, meus senhores, é corrê-los à vassourada como antigamente se fazia com os ratos. Se nada fizermos, podemos ter a certeza que só nos resta o desabafo como expressão democrática. Mas o desabafo por enquanto não derruba maus governos.

16 outubro, 2012

Carta aberta ao deputado Carlos Zorrinho

Exmo. Sr. Deputado, José Carlos das Dores Zorrinho

Senhor deputado

Se por ventura o tamanho e dimensão do carro ou viatura, em que se faz deslocar, for proporcional ao seu ego político, proponho que compre um autocarro de 50 lugares, à Empresa “Salvador Caetano”.

Vem o Sr. Deputado, que até é chefe parlamentar do partido Socialista, dar umas no cravo, outras na ferradura, após terem-lhe descoberto a pouca vergonha da despesa, por nós todos a ser paga a estes…. «Sultões da política».

Naturalmente que, não será só o PS, o único partido que, habilidosamente vai utilizando o erário público para tal despesismo, enquanto o “POVO estiver predisposto a pagar".

Dou comigo a matutar: Por que razão, esta gente tão foleira, tem que se fazer circular na via pública em carros topo de gama, carros esses de valores pornográficos, enquanto o povo ou a plebe, como queiram, sofre para comprar 1 Kg de arroz?

Não encontro explicação lógica, a não ser, a tão velha parolice, de quem tenha até então, andado de bicicleta, motorizada e que agora sim, “após serem eleitos senhores deputados, já se podem sentar em altas máquinas, estufadas com couro sintético, ar condicionado, portagens pagas e gasolina sem limite, tudo  pago pelo “ Povão”, tendo ainda, note-se, vários motoristas para todo o terreno ou situações, desde ir colocar os meninos ao colégio, ou transportar a excelsa esposa ao cabeleireiro!

Enfim, lá continuamos como é bem à moda do “Tuga”, num fartar vilanagem, apesar do esbulho inacreditável e assassino, com todo o tipo de impostos, imposto ao cidadão comum, pelo Ministro de Estado e Finanças!

Deixo ao Senhor Deputado Zorrinho, duas perguntas:

1ª Pergunta:

Será que um “MEGANE”, um “OPEL ASTRA”, um “FIAT BRAVO”, um (“TOYOTA”, não Toyota não,…. Pois não pertence a EU), mas um “WV GOLF” ou um “SEAT LEON”, simplesmente como exemplo, não chegarão para acomodar e aconchegar a  bunda e o ego dos Srs. Deputados?

2ª Pergunta:

Será que, os Senhores Deputados que, deveriam representar os pacóvios  ( como eu), que os elegeram, para nos defenderem da «««VILANGEM»»» não se coíbem, depois de serem nomeados, repentinamente  passarem, a usufruírem destas mordomias obscenas, não se apercebendo  tão pouco, da tremenda catástrofe social  que o País está a viver, com milhares de Portugueses desempregados e pior ainda  sem terem que comer?

Efectivamente senhor Deputado Zorrinho, quem para a política entra, a moralidade democrática e sensibilidade social para estas minudências (como a fome) fica no tapete da entrada da Assembleia da República, ou melhor, deixou pura e simplesmente de existir!

Venham lá as máquinas de alta cilindrada, para serem captadas pelos radares da GNR a 190 km à hora, que esse problema não existe para tais "Sultões", pois quem pagará a multa será o povo!

Quem o afirmou, foi o seu velho correligionário, Mário Soares.

Atenciosamente:

Fernando José Tavares

(email de um amigo)

15 outubro, 2012

Jornalismo português


 

A responsabilidade por aquilo que se está a passar com o jornal Público não deve ser imputada apenas ao mercado.

O anunciado despedimento de quase cinquenta trabalhadores, mais de três dezenas dos quais são da redacção, é o resultado de opções de gestão em relação a um «produto» que se tem vindo a degradar progressivamente. Há muito que o Público deixou de ser um «jornal de referência» e passou a ter uma agenda de interesses para além dos que são próprios do jornalismo e do direito de informar. Há muito que os seus leitores se aperceberam disso e têm vindo a deixar de o ler.

A malograda OPA da SONAE sobre a Portugal Telecom marcou o início de uma viragem que adulterou a qualidade tradicional do jornal. A partir daí o Público transformou-se num instrumento de perseguição àqueles a quem o seu proprietário responsabilizava pelo fracasso da aquisição da PT. Toda a gente se apercebeu dessa mudança e da sanha persecutória contra o primeiro-ministro que impedira o negócio. Tudo serviu para o atacar e para o apoucar perante a sociedade portuguesa. O principal objectivo do Público passou a ser o de derrubar o chefe do governo, tendo chegado ao ponto de permitir que jornalistas envolvidos em processos judiciais contra ele (e a quem ele, aliás, respondia da mesma maneira) continuassem a escrever notícias e reportagens sobre o primeiro-ministro como se, nessas circunstâncias, fosse possível ser isento, objectivo e imparcial.

Mas a mudança de director, posteriormente ocorrida, não atenuou o processo de degradação do Público. O jornal vende hoje, bem menos de 20.000 exemplares e isso é fruto do crescente desinteresse pela informação que produz. Só eu conheço cerca de uma dezena de pessoas das minhas relações pessoais que trocaram o Público por outros jornais. Eu próprio deixei há vários meses de o ler - e tenho razões pessoais para isso.

Quando em Novembro do ano passado a ministra da Justiça foi fazer chicana ao congresso dos advogados, o Público escolheu para noticiar o episódio o seguinte título: «Ministra arrasa bastonário». Este é o rigor e a objectividade de um tablóide, ou melhor, de um jornal de reverência. Esse tipo de informação é característico de quem quer agradar ao poder, agredir quem o critica e, depois, se limita a encher os espaços deixados vagos pelos obséquios e agressões.

Outro facto também ilustrativo, passou-se mais tarde quando o jornal fez uma notícia com base numa carta de um advogado reformado sobre o pagamento de quotizações à Ordem. Nessa carta, o meu colega acusava-me de aumentar para o dobro as quotizações de alguns advogados, omitindo que se tratava de uma deliberação do Conselho Geral da OA que obrigava os advogados reformados (que continuassem a exercer a profissão) a pagar a quotização normal. Apesar das graves acusações a mim próprio, o jornal negou-me a possibilidade de as rebater, pois não me ouviu antes de publicar a notícia e, depois, recusou a publicação de um artigo de opinião com a minha versão sobre a questão. No fundo, eu só pretendia dizer que o aumento para o dobro das quotizações abrangia apenas quem pagava metade delas, ou seja, o aumento mais não era do que o fim de um injustificado desconto de 50%. Mas o Público não quis essa parte da verdade nas suas páginas.

Ainda mais recentemente, fui contactado por uma sua jornalista sobre o processo crime que o juiz Carlos Alexandre me moveu por eu ter criticado com dureza a sua decisão de aplicar a prisão preventiva a uma adolescente de 16 anos que agredira outra adolescente. Estivemos bem mais de dez minutos a falar, tendo a jornalista manifestado muito interesse nas minhas declarações. Porém, «por falta de espaço», na notícia publicada vinha apenas que eu mantinha as minhas afirmações e nada mais. O resto - a maior parte - era sobre a acusação de Carlos Alexandre que uma juíza sua colega transformara em pronúncia. Ou seja, era o mesmo que o Correio da Manhã tinha noticiado dois ou três dias antes. É óbvio que uma informação assim acaba, mais cedo ou mais tarde, por ficar sem consumidores.

Um bom director pode fazer um bom jornal até com maus jornalistas enquanto um mau director faz sempre um mau jornal mesmo com bons jornalistas.
[do JN]

14 outubro, 2012

A demência intelectual já chegou à Igreja?

Um Poliparco sem dom

O cardeal Cerejeira, perdão..., o cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo [acho muito giros estes Dons], declarou-se "incompetente em matéria de política", mas só depois de ter lançado para fora da cavidade bocal conceitos sobre a democracia e a Constituição que só mesmo ele pode entender. De tudo o que disse no início, salvou-se o que declarou no fim, isto é: não percebe nada de política, e  absolutamente nada de democracia. Por isso, mais valia estar calado.

Este "sábio" homem, que também já deve ter esquecido por completo o que é a solidariedade cristã, começou por dizer barbaridades deste jaez: "as manifestações são uma corrosão da harmonia democrática da nossa Constituição"... 

Mas o que é que o homem entenderá por harmonia democrática? O ambiente económico e social em que hoje vivemos? Devemos então intuir que para o bispo a harmonia é perfeitamente compatível com o indíce elevadíssimo de desemprego e com a falta de perspectivas de  futuro para os jovens. Será isso? Mas que espécie de homens acolhe a Igreja para a dirigir, que tão distantes vivem da realidade?

Depois, divagou assim sobre as manifestações: "até que ponto é que nós construímos uma saúde democrática com a rua a dizer como se deve governar?". Nem o CDS se atreveu a tanta demagogia! Como é possível falar de saúde democrática quando as pessoas têm cada vez menos dinheiro para se governarem? Retirem ao bispo as mordomias e o beija-mão bajulador a que está habituado, e vão ver como ele passa a valorizar as manifestações. A rua? O que é isso da rua? Será ele tão hipócrita que não tem coragem para dizer povo?

Sobre as manifestações, a mesma caixa craniana que admitiu ser incompetente em questões de política, já não teve rodeios para falar da Constituição [essa maldita, que serve para uns casos, mas já não serve para outros], soltou este diamante: "isso é perfeitamente fora da nossa Constituição e da compreensão do nosso sistema democrático".  E o que terá ele a dizer - sem meter os pés pelas mãos -, sobre o articulado nº.256/91, sobre as regiões administrativas, que também constava da Constituição e foi propositadamente referendado* para a seguir ser imediatamente ignorado? É de prever que um homem que agora se revela tão fiel à Constituição, como o patriarca da centralista Lisboa, só possa ser um regionalista assumido, não é verdade? Ou, estarei enganado?  Ou, estará ele? 

Nunca nutri a menor simpatia por este homem, mas agora não o tolero mesmo! Querem saber por quê? É porque alguém que manifesta tamanha insensibilidade com as dificuldades do povo, não pode ser um bom cristão, e muito menos um sacerdote com tamanho poder. Um homem assim, é um perigo! Não é digno de defender a Igreja dentro dos padrões de uma democracia moderna, nem ser um digno representante de Cristo na terra.

*Devemos agradecer ao agora politólogo Marcelo Rebelo de Sousa, e também ao actual Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, essa brilhante ideia de suprimir a Regionalização da Constituição, e de hoje vivermos no único país da União Europeia que não criou regiões administrativas, tornando-o no mais centralista de toda a comunidade.