A responsabilidade por aquilo que se está a passar com o jornal Público não deve ser imputada apenas ao mercado.
O
anunciado despedimento de quase cinquenta trabalhadores, mais de três
dezenas dos quais são da redacção, é o resultado de opções de gestão em
relação a um «produto» que se tem vindo a degradar progressivamente. Há
muito que o Público deixou de ser um «jornal de referência» e passou a
ter uma agenda de interesses para além dos que são próprios do
jornalismo e do direito de informar. Há muito que os seus leitores se
aperceberam disso e têm vindo a deixar de o ler.
A malograda OPA
da SONAE sobre a Portugal Telecom marcou o início de uma viragem que
adulterou a qualidade tradicional do jornal. A partir daí o Público
transformou-se num instrumento de perseguição àqueles a quem o seu
proprietário responsabilizava pelo fracasso da aquisição da PT. Toda a
gente se apercebeu dessa mudança e da sanha persecutória contra o
primeiro-ministro que impedira o negócio. Tudo serviu para o atacar e
para o apoucar perante a sociedade portuguesa. O principal objectivo do
Público passou a ser o de derrubar o chefe do governo, tendo chegado ao
ponto de permitir que jornalistas envolvidos em processos judiciais
contra ele (e a quem ele, aliás, respondia da mesma maneira)
continuassem a escrever notícias e reportagens sobre o primeiro-ministro
como se, nessas circunstâncias, fosse possível ser isento, objectivo e
imparcial.
Mas a mudança de director, posteriormente ocorrida, não
atenuou o processo de degradação do Público. O jornal vende hoje, bem
menos de 20.000 exemplares e isso é fruto do crescente desinteresse pela
informação que produz. Só eu conheço cerca de uma dezena de pessoas das
minhas relações pessoais que trocaram o Público por outros jornais. Eu
próprio deixei há vários meses de o ler - e tenho razões pessoais para
isso.
Quando em Novembro do ano passado a ministra da Justiça foi
fazer chicana ao congresso dos advogados, o Público escolheu para
noticiar o episódio o seguinte título: «Ministra arrasa bastonário».
Este é o rigor e a objectividade de um tablóide, ou melhor, de um jornal
de reverência. Esse tipo de informação é característico de quem quer
agradar ao poder, agredir quem o critica e, depois, se limita a encher
os espaços deixados vagos pelos obséquios e agressões.
Outro facto
também ilustrativo, passou-se mais tarde quando o jornal fez uma
notícia com base numa carta de um advogado reformado sobre o pagamento
de quotizações à Ordem. Nessa carta, o meu colega acusava-me de aumentar
para o dobro as quotizações de alguns advogados, omitindo que se
tratava de uma deliberação do Conselho Geral da OA que obrigava os
advogados reformados (que continuassem a exercer a profissão) a pagar a
quotização normal. Apesar das graves acusações a mim próprio, o jornal
negou-me a possibilidade de as rebater, pois não me ouviu antes de
publicar a notícia e, depois, recusou a publicação de um artigo de
opinião com a minha versão sobre a questão. No fundo, eu só pretendia
dizer que o aumento para o dobro das quotizações abrangia apenas quem
pagava metade delas, ou seja, o aumento mais não era do que o fim de um
injustificado desconto de 50%. Mas o Público não quis essa parte da
verdade nas suas páginas.
Ainda mais recentemente, fui contactado
por uma sua jornalista sobre o processo crime que o juiz Carlos
Alexandre me moveu por eu ter criticado com dureza a sua decisão de
aplicar a prisão preventiva a uma adolescente de 16 anos que agredira
outra adolescente. Estivemos bem mais de dez minutos a falar, tendo a
jornalista manifestado muito interesse nas minhas declarações. Porém,
«por falta de espaço», na notícia publicada vinha apenas que eu mantinha
as minhas afirmações e nada mais. O resto - a maior parte - era sobre a
acusação de Carlos Alexandre que uma juíza sua colega transformara em
pronúncia. Ou seja, era o mesmo que o Correio da Manhã tinha noticiado
dois ou três dias antes. É óbvio que uma informação assim acaba, mais
cedo ou mais tarde, por ficar sem consumidores.
Um bom director
pode fazer um bom jornal até com maus jornalistas enquanto um mau
director faz sempre um mau jornal mesmo com bons jornalistas.
[do JN]
Há jornais a mais e depois vale tudo.
ResponderEliminarÉ verdade que há jornais e Pasquins há jornalistas e escritas, mas também não faltam notícias infelizmente sempre pela pior noticia, e como neste país toda a gente dá palpitas porque é de borla, não faltam noticias.
Eu gosto de ouvir e ler o Sr Marinho Pinto, mas ás vezes parece, que nas entre linhas ele tem uma dorzinha pelo sr Sócrates, que foi um ladrão deste país.
O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.
»Eu gosto de ouvir e ler o Sr Marinho Pinto, mas ás vezes parece, que nas entre linhas ele tem uma dorzinha pelo sr Sócrates, que foi um ladrão deste país.»
ResponderEliminarAcho que não deve estar enganado...
Boa tarde,
ResponderEliminarCostumo ver o programa Justiça Cega e na maioria das vezes estou de acordo com o Sr. Bastonário, mas é curioso o que ele acusa o Público de persecutório e nem repara que faz exatamente a mesma coisa contra a Srª Ministra da Justiça. Também é muito estranho o empenho na defesa de José Sócrates que mesmo que seja inocente no caso Freeport, esteve envolvido em escândalos como o da licenciatura, Face oculta, os projetos civis aprovados, ligações a Khadafi, Guantánamo, as parcerias (PPS), o até fumar no avião, o ter gasto 460 000€ em despesas de representação média de 210 € por dia quase meio salário mínimo e O MAIS ESCANDALOSO O TER LEVADO O PAÍS AO PONTO EM QUE CHEGOU.
Como costuma de dizer o povo é muita areia para a minha camioneta.
E perante tudo isto o Srº Bastonário defender esse coveiro do povo português é muito estranho. No mínimo devia disfarçar melhor.
Marinho e Pinto fala de um caso pessoal, mas podíamos multiplicar o exemplo do Público por muitos outros que praticam o mesmo tipo de jornalismo, também na rádio e televisão.
ResponderEliminarQuando pensava que com Sócrates tínhamos batido no fundo, não podia haver pior, tiraram um coelho da cartola.
Abraço Rui