29 abril, 2015

Os descentralistas do Porto sofrido no habitat da corte

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O Juca diz: então digam lá se não nos portamos bem, este ano! Nem
o nosso grande Presidente abriu a boca. Gostam assim, ou também
querem o estádio do Dragão?

Se o futebol fosse a coisa mais importante da minha vida, criava um blogue dedicado exclusivamente ao FCPorto. Já estive para o fazer, mas achei que era redutor, para poder abordar outros temas. Não sendo a coisa mais importante para mim, o futebol é mesmo assim uma das mais importantes, de contrário não escreveria tanto sobre futebol, e quem diz futebol, diz Futebol Clube do Porto. que é o único clube do mundo que me consegue emocionar...O clube verdadeiramente português, ainda quero acreditar...

A decisão de falar do FCPorto não foi apenas estimulada pelo gosto do futebol jogado. Foi também, mas não unicamente. Para esse fim, existe uma série de blogues especializados, onde tudo é esmiuçado ao detalhe, das tácticas às estratégias, sem esquecer o lado negro das arbitragens (que o digam os portistas). A ideia, era que, através do futebol, pudesse catapultar para áreas da vida social mais importantes (como a política, e a cidadania), esse ainda imenso grupo de portistas apaixonados, que por serem apaixonados não percebem que há problemas que não cabe ao FCPorto resolver, mas sim a todos nós, portuenses, portistas, e nortenhos em geral. São problemas da governação nacional, de decisão política. Não percebem, e a avaliar por aquilo que leio, continuam sem perceber, o que significa que a minha mensagem não passou. Demérito meu, admito, mas ninguém me pode acusar de não tentar. 

Confio que interpretem pela positiva o que acabo de afirmar, porque não passa por mim a intenção de insinuar, mas só constatar factos, e os factos falam por si. Não me refiro apenas às pessoas intelectualmente mais condicionadas, pelo contrário, refiro-me também àquelas figuras que sendo públicas e letradas, pouco interesse mostram pela coisa pública (excepto, pela sua própria imagem). Se lerem o início deste texto , do Manuel Serrão, vão compreender onde quero chegar.

Como poderão confirmar na sua crónica de hoje no JN, Manuel Serrão até parece alguém altamente seduzido pela descentralização (de regionalização, é que já ninguém se atreve a falar...), tal como o seu amigo do Porto Canal, Júlio Magalhães, ainda que essa sedução não iniba o primeiro de se deixar insultar nos estúdios da TVI por um médico alcoólatra, num programa onde o "D" de Democracia consiste em humilhar o FCPorto, e o segundo de não abdicar da presença dos amiguinhos de Lisboa no Porto Canal (que o diga a Maria Cerqueira Gomes).

Talvez por mero gesto de gratidão, é que ontem estes dois amigos "portistas" e "regionalistas", foram convidados pela nossa "descentralizada e amiga" RTP, para o programa da tarde do Herman José, onde nem sequer faltou a presença num filme de apanhados do nosso querido *amigo Carlos Daniel, com... o Director do Porto Canal.

São assim mesmo, os novos homens do Norte. Nada provincianos, nada bairristas, nada ressentidos. Os homens do Porto, agora deram nisto: sofridos, mas contidos. O lema destes dois amigos, é:  "quanto mais me bates, mais gosto de ti...". Por este andar, Pinto da Costa ainda vai completar o trio... 

Que mundo este, que ventos tão estranhos varreram o Porto.


* Se pesquisarem bem, o link permite ver o filme onde Júlio Magalhães acompanha (espanto!) o benfiquista de Paredes, Carlos Daniel... Parece uma provocação.
   

27 abril, 2015

Julen Lopetegui, o novo patinho feio da imprensa rasca

JULEN LOPETEGUI

Como  a memória amiúde é curta, mesmo para quem tem à frente do nariz um rol de posts a avivá-la, eu sempre respeitei e admirei o trabalho de Pinto da Costa no FCPorto, enquanto Presidente. Está feito, e não me arrependo de assim ter procedido, porque da minha parte, esses foram reconhecimentos honestos, justos e merecidos, tanto pela competência, como pela resiliência revelada como defensor-mor do grande clube da cidade do Porto. O que mais queria mesmo, era continuar a manter essa admiração por muitos anos, sendo certo que só a manteria se ela fosse merecida, se o presidente do FCPorto conservasse intactas as suas faculdades de líder, de primeiro baluarte do nosso clube. Mas, isso depende mais dele que de terceiros, da sua capacidade para perceber as suas próprias condicionantes físicas e intelectuais, e principalmente da sua capacidade para intuir os anseios do universo portista. Assim, como essa admiração foi ferida pela remissão ao silêncio, só me resta o respeito pelo que Pinto da Costa fez no passado recente.

Como tudo foi correndo bem nestes últimos anos, e porque muitos foram  os anos de sucesso, a tendência natural, foi concentrar em Pinto da Costa os louros do mérito, e secundariamente nas equipas técnicas e jogadores. Até fazia sentido que assim fosse. Pelas razões opostas, já não faz sentido que derive exclusivamente para o treinador, ou para a equipa, a responsabilidade pelos fracassos. Nesta linha de pensamento, tentarei não me contradizer por considerar Julen Lopetegui o menos culpado por tudo o que sucedeu de negativo esta temporada. E não se trata de mera simpatia, trata-se de avaliar a postura de um treinador personalizado, que dentro dos limites da sua função mostrou, fora do campo, mais coragem que aqueles que o deviam fazer e lhe estão acima na escala hierárquica.

Para o bem e para o mal, Lopetegui foi contratado pela SAD portista e Pinto da Costa. Quando chegou ao Porto era um estranho. Decorridas as primeiras jornadas do campeonato, percebia-se que continuava alheado da realidade chamada FCPorto, o que deixava transparecer alguma negligência da parte da estrutura portista em termos de apoio ao treinador na adaptação muito própria  a um clube como o FCPorto.

Como é sabido, esta época deram-se mudanças profundas no modelo de contratações de jogadores. Uns, chegaram emprestados pelos clubes de origem, com clausulas que, não afectando os interesses do FCPorto privilegiam também o retorno à origem, no caso desses jogadores se evidenciarem, o que numa primeira análise, debilita as condições negociais do clube contratante. Outros, como Brahimi, estão com os passes parcialmente detidos por fundos (a Doyen, creio que com 80%). Depois, vêm-me igualmente à memória casos de jogadores como, Óliver, Casimiro e Tello (só para falar destes 3). Curiosamente, todos eles, cedo tiveram momentos brilhantes na Champions League, o que fez com que os seus nomes começassem a surgir na imprensa internacional como potenciais alvos da cobiça de grandes clubes estrangeiros. Ainda mal tinham tido tempo para conhecerem os cantos à casa, e já as suas cabeças eram dominadas pela possibilidade de sair para clubes milionários... Como combater esta praga? Será esta situação compatível com uma entrega integral dos jogadores ao clube? A mim, parece-me difícil, e não deve ser por acaso que a famosa mística do jogador à Porto se viu pouco esta época, sobretudo nos jogos decisivos. Salta à vista a necessidade de acrescer mais qualquer coisa aos antigos paradigmas de ambientação (e contratação) dos novos jogadores, sob pena de para o ano voltarmos a assistir a "fenómenos" semelhantes, ou ainda piores.

Há outra questão relacionada com a anterior, que sustenta a ideia de alguns para ultrapassar estes problemas, que passa pela aposta na formação. É preciso ter em conta a dificuldade em formar jogadores competitivos com capacidade para jogarem na equipa principal, sobretudo portugueses. Por isso, é que eles tem de rodar noutros clubes, e quando o fazem, às vezes não se chegam a afirmar. Aliás, se olharmos para a equipa B, só meia dúzia deles parecem dar garantias de poderem impor-se como séniores, e nem todos são nacionais...

Portanto, para resumir, muito há para fazer no FCPorto na época que vem. Primeiro, será preciso saber que estratégia querem para defender o clube - e não se iludam com essa treta de que é dentro do campo que as coisas se resolvem - porque como se viu esta época, foi mais fora dele que o nosso principal adversário as resolveu -, e quem será designado para essa função. Sim, porque ficou provado (espero), que a estratégia do silêncio só beneficiou os adversários, e só acredita que o silêncio tenha sido uma estratégia quem não souber em que país vive, e quão colonialista se tornou. Segundo: como resolver o problema da aceleração/adaptação ao FCPorto de jogadores estrangeiros. Terceiro: como desenvolver o factor comunicação (dentro e fora do clube), e qual o papel do Porto Canal nesse projecto.

Por todas estas lacunas, e pela forma como deu o corpo às balas pelo clube, sem as subserviências de outros treinadores portugueses, e sem o apoio inequívoco da estrutura directiva em momentos chave, é que esta época endereço totalmente a minha gratidão ao basco Julen Lopetegui. Podia ter feito mais? Talvez, mas Pinto da Costa também.


26 abril, 2015

O canto do cisne do FCPorto, ou de Pinto da Costa?

Escolha o leitor, se é sócio (eu já fui)

Em termos teóricos, não se pode dizer que o FCPorto se tenha despedido hoje do campeonato e com isso o tenha entregue de bandeja ao clube que simboliza o pior que há em Portugal, mas vendo as coisas pelo lado realista, é quase como se  lhe tivesse dito adeus. Neste momento, podia falar do jogo, da segunda parte miserável da arbitragem, dizer que o FCPorto teve mais posse de bola, que jogou mais que o Benfica e que o podia vencer, mas como não ganhou, não vou perder tempo com isso, porque nesta hora de total frustração é irrelevante.

Já o que não é irrelevante - porque a carreira do FCPorto  também foi manchada por motivos ligados às arbitragens -, foi a passividade de Pinto da Costa face a esses mesmos fenómenos, pautada por um silêncio de permissividade que não lhe era habitual, e que nem os próprios adeptos compreendem. Tenho dificuldade em acreditar que Pinto da Costa não se conheça um pouco a si próprio, que não entenda que o seu comportamento já não é o mesmo, que tal como eu, outros portistas o estranhem e que por essa razão, deve uma explicação à massa associativa.

Por muito que os portistas lhe devam pelo que fez no passado, tal não lhe dá o direito de não falar com os adeptos, de optar por uma postura sobranceira e distante com eles, e em contrapartida não abrir a boca para defender o clube de todas as trafulhices que se fizeram por esses  estádios fora, quer para beneficiar o Benfica, quer para prejudicar o FCPorto. Para falar honestamente, não foi só por isso que o FCPorto falhou esta época, houve erros próprios da equipa e do treinador que não devem ser negligenciados. Assim mesmo, se Pinto da Costa tivesse agido no momento certo, como só ele sabia, se tivesse sabido defender o clube quando ele precisou, talvez isso bastasse para ganhar este campeonato.

Resumindo: se fôr para repetir a "gracinha" para a próxima época, Pinto da Costa deve ponderar bem a sua recandidatura. Para mim, é o principal responsável pelo que aconteceu em termos desportivos internos*, porque uma liderança a sério não se contenta com victórias do passado.  

*  Na Champions fomos até onde podíamos, ou até mais longe. Nessa competição, o FCPorto ganhou muito jogos e dinheiro, e chegou aos quartos de final. Isto explica em parte o que atrás disse das arbitragens em Portugal, e também porque o Benfica sem árbitros cobardes não consegue brilhar na Europa. Mas explica também as consequências do que é ter um Pinto da Costa mansinho...