É verdade. Quando este monstrozinho estende as garras, quando começa a arranhar bem fundo o povo do futebol, aí sim, o centralismo existe mesmo, adquire importância, e desperta a atenção que afinal sempre devia merecer. Não será por acaso, embora não deixe de ser um sinal de inépcia, que lisboetas e benfiquistas são maioritariamente contra a regionalização. Uns, porque beneficiam directamente com isso, e outros, porque ignorando o mal que provocam às suas regiões de origem (alguns são do Norte), optam por estar com o clube. Num país de gente civilizada isto é impossível.
Mas, afinal, o que é o centralismo? Por que só agora é que começamos a ler comentários sobre o assunto, quase em exclusivo nos blogues portistas? É simples: porque sofreram na pele o efeito da sua acelerada implementação. Centralizar, é antes de tudo fazer batota no modo de governar um país, é tornar a desonestidade uma coisa natural. É discriminar, é exercer a injustiça em todas as suas vertentes: na ética, na moral e no exemplo. No futebol, o centralismo tem mais dificuldade em se esconder (que o diga, António Costa), e só por isso é que já começa a levantar suspeitas e... apreensão.
Chamemos os bois pelo nome, e não tenhamos medo de ser politicamente incorrectos. Os leitores acham que são os adeptos comuns, os que seguem o FCPorto no futebol, nas modalidades, em casa ou nos estádios, quem têm o dever e as ferramentas para lutar contra o centralismo? Seguramente que não. Nós, aqui na blogosfera, só podemos dar um pequeno contributo, porque os meios são escassos e de irradiação restrita. Mas, o FCPorto, que é propritário do Porto Canal e tem recursos financeiros, podia, ou não fazer muito mais pela descentralização?
Eu, não só o afirmo, como tenho a certeza que podia fazer mais. Promovendo debates temáticos com protagonistas livres, sem amarras a jornais, a negociatas obscuras, a compromissos não declarados, a conveniências. A verdade, é que o Porto Canal limita-se a ser simpático com outras regiões, deslocando para lá repórteres, abrindo agências, mas não promove o tema, não o desenvolve, denunciando a perversidade do centralismo. Não informa.
Algumas vezes até, roça a contradição, chama a si protagonistas indesejáveis, alguns dos quais anti-portistas e anti-regionalistas que nenhuma relevância têm para o país. Não é selectivo, não inova, nem agita. Não desafia os políticos, não os persuade a aderir em favor da causa, limita-se a ouvir calmamente a sua linguagem trapaceira e defensiva.
O Porto Canal precisa de temas? Mas, é coisa que não falta. Que pergunte aos políticos, sem lhes dar ensejo a respostas manhosas, como explicar que a segunda cidade do país tenha perdido protagonismo e até autonomia, com o 25 de Abril, com a "democracia", comparando com o passado salazarista? Perguntem-lhes se isso é evoluir, ou regredir, se é uma vantagem, uma conquista da Democracia? Mas não aceitem nunca a negação dos factos.
Bancos, como o BBI (Banco Borges & Irmão) e o BPM (Banco Pinto Magalhães) puderam abrir as suas sedes no Porto, agora, em liberdade, nada têm. Rádios, jornais, tudo se esfumou, até o JN agora está nas mãos de lisboetas. Querem audiências no Porto Canal? Pressionem-nos, obriguem-nos a largar a máscara, vão ver que aos poucos as coisas mudam. Saber quem é responsável por esta regressão, é fundamental, e embaraçá-los também. Políticos ou empresários do norte, forcem-nos a tomar decisões, em vez de possibilitar desculpas. Incomodem-nos!
Têm medo? Por quê, se em Lisboa há carta branca para produzir o que de mais ordinário e divisionista existe na programação televisiva do país? Se fôr preciso, apresentem provas, como fazem agora no futebol com o Universo Porto da Bancada, é tão simples.
É que, se o senhor Pinto da Costa voltar a queixar-se do centralismo e a permitir ao mesmo tempo a entrada em estúdio (ou no Dragãozinho) a gente que não merece o mínimo de respeito, a centralistas doentes, então teremos a prova acabada que nunca mais restauramos o Porto da dignidade que o simbolizou.
Não me esqueço. O presidente Pinto da Costa disse que não lê blogues, mas talvez aprendesse alguma coisa se soubesse que aquilo que o Universo Porto da Bancada está agora a fazer, já nós aqui e noutros blogues denunciamos. E de borla... Se quiserem podem pegar nas ideias acima expostas e avançar.
Prometo que não cobro royalties. Mas, mexam-se! Com o tempo, vão chegar à conclusão que o silêncio às vezes pode ser veneno.