Depois das públicas juras de eterno amor de André Villas Boas ao FCPorto, e da abrupta - ou brutal, também serve -, fuga para o Chelsea do russo Abramovich, a nação portista foi célere e implacável a proferir a sentença: traidor! Foi a palavra mais lida. Quem tiver dúvidas da quase unanimidade da sentença, só tem que consultar a caixa de comentários da blogosfera portista e retirar as suas próprias conclusões. Eu não tenho.
Também eu me incluo nesse respeitável grupo de enganados e repudio a tese daqueles que procurando dar-se ares de tolerantes, ou se quiserem, de gente esperta e muito realista, não hesitam em nos assegurar de que qualquer um, no lugar do André tomaria a mesma decisão que ele tomou.
Se há coisa que pessoalmente não me falta é o cepticismo. Cepticismo assente no realismo, mas mesmo assim cepticismo, de facto. Por isso, também compreendo aqueles que já não acreditam que haja no planeta alguém capaz de um acto de grande nobreza. Na realidade, as coisas caminham mais nesse sentido do que no sentido contrário, e este exemplo de André Villas Boas vai contribuir, e muito, para aumentar a lista dos cépticos sobre o carácter humano.
As questões de carácter são impossíveis de dissociar das coisas mais simples da nossa vida. É o carácter que nos serve de freio aos instintos mais perversos, e é o refinamento da consciência entre o que é correcto e incorrecto que o consolida. Por isso, os portistas se sentem enganados. Sentem-se quase tão traídos por Villas Boas, como se de uma traição conjugal se tratasse. E por quê? Porque Villas Boas se identificou com eles, afirmou muitas vezes o seu portismo, nasceu no Porto e conhece, como eles, o que significa o FCPorto, sobretudo no contexto actual, onde à excepção de Pinto da Costa, a cidade vive orfã de líderes que a saibam defender. Villas Boas fez questão de se afirmar não apenas como mais um treinador, mas como um treinador portista.
Ora, no futebol, como em quase tudo, de resto, não se pode querer estar no melhor de dois mundos sem se perceber que o mais certo é termos de abandonar um deles. Foi o que aconteceu. Villas Boas era portista, teve sucesso, mas foi incapaz de continuar a colaborar com o seu clube apenas por mais uma época, quando tudo já estava planeado por si e para si. Um treinador confiante e adepto, só teria a ganhar se aceitasse cumprir o que tinha prometido, e ficasse. Mesmo não ganhando tudo o que ganhou na época que passou [isso seria quase impossível], ia ter a mesma equipa reforçada com novos e talentosos elementos, e as mesmas condições para vencer, e se calhar até reforçar o seu prestígio internacional com óbvias vantagens financeiras, quer para si, quer para o clube da cadeira de sonho...
Assim, a decisão que tomou pode dar ensejo a duas interpretações. A mais imediata: ao oportunismo e à desconsideração face ao afecto que angariou junto dos adeptos. A interpretação futura [a confirmar]: arriscar sair do Chelsea sem sucesso, mas com os bolsos cheios de dinheiro. Desportivamente, Mourinho, não foi capaz de ganhar no Chelsea, num clube que lhe deu os jogadores que quis [caríssimos] tanto como ganhou no FCPorto, e acabou despedido por Abramovich [isto são só louros para Pinto da Costa]. Será Villas Boas homem para se reafirmar em Londres? O tempo o dirá.
Assim, a decisão que tomou pode dar ensejo a duas interpretações. A mais imediata: ao oportunismo e à desconsideração face ao afecto que angariou junto dos adeptos. A interpretação futura [a confirmar]: arriscar sair do Chelsea sem sucesso, mas com os bolsos cheios de dinheiro. Desportivamente, Mourinho, não foi capaz de ganhar no Chelsea, num clube que lhe deu os jogadores que quis [caríssimos] tanto como ganhou no FCPorto, e acabou despedido por Abramovich [isto são só louros para Pinto da Costa]. Será Villas Boas homem para se reafirmar em Londres? O tempo o dirá.
Como quer que seja, por muitos méritos que um homem tenha, há um que nenhuma montanha de petrodólares permite acrescentar, quando não existe: o carácter. Mesmo que se mantenha curta a memória do povo.
Lembram-se do jogador peseteiro, não lembram? Eu também. Chama-se: Luís Figo. Terá ele carácter? Eu acho que não, que o que tem mais é dinheiro. Mas também sei que se está a marimbar para a minha opinião. Que o dinheiro é o mais poderoso travesti do carácter dos homens, isso também eu sei. É a vida, dirão os mais conformistas. Mas o curioso, é que há sempre um momento em que até os mais afortunados gostam de evocar as questões de carácter. Será o peso da consciência?
Lembram-se do jogador peseteiro, não lembram? Eu também. Chama-se: Luís Figo. Terá ele carácter? Eu acho que não, que o que tem mais é dinheiro. Mas também sei que se está a marimbar para a minha opinião. Que o dinheiro é o mais poderoso travesti do carácter dos homens, isso também eu sei. É a vida, dirão os mais conformistas. Mas o curioso, é que há sempre um momento em que até os mais afortunados gostam de evocar as questões de carácter. Será o peso da consciência?