Gosto dos confrontos de ideias, não fujo deles. Às vezes, é até mais estimulante do que o mais sincero dos elogios. Acontece, é que eu não gosto de confrontos desleais, onde a deturpação dos argumentos é sistematicamente usada. Com esse tipo de pessoas recuso o diálogo porque ele se torna impossível e estimula-nos a agressividade natural. E é só por essa razão que me recuso a «democratizar» a minha caixa de comentários com opiniões de manipuladores anónimos. Diga-se, em abono da verdade, que nessa matéria, não tenho grande razão de queixa.
Já agora - um pouco off topic -, que falei de comentadores anónimos, quero esclarecer o seguinte: sou da opinião, que quem deixa comentários num post ou artigo e quer ser levado a sério, deve sempre identificar-se. Noutros tempos, seria uma atitude banal, um gesto de simples boa educação. Hoje, as coisas mudaram [em muitos aspectos para pior], e como tal, vermos comentadores "assinarem" o seu verdadeiro nome, é quase considerado um acto de heroísmo. Sou tolerante com os anónimos que criticam com inteligência e boas maneiras, mas refuto e censuro sem qualquer embaraço os arrogantes.
Fechado este parêntesis, passo a explicar porque é que comecei por falar em frontalidade. É porque a frontalidade ou o confronto leal entre pessoas de bem, é a única forma honesta de usar a inteligência. Todas as outras podem ser materialmente mais lucrativas, menos desgastantes, mas um dia acabarão fatalmente por esbarrar nas armadilhas que foi gerando em seu redor. Os senhores políticos [nem todos, mas, enfim...], são o paradigma mais perfeito do que acabo de escrever...
É por isso, que quando escrevo não me preocupo com a agressividade das minhas palavras nem com quem se possa sentir melindrado com elas, porque os meus ataques são dirigidos com objectividade, não lanço poeira para o ar. Ataco, mas explico porquê.
É com esse espírito que me atrevo a sugerir aos meus leitores o seguinte: nas próximas eleições legislativas, não votem! Se votarem em branco, os meus amigos estarão apenas a seguir uma canção de embalar politicamente correcta, muito difundida pelos políticos, que não serve rigorosamente para nada. Aquela historinha [muito mal contada] que pretende fazer a distinção entre o voto em branco e a ausência a um acto eleitoral [o absentismo], não é mais que um pretexto para gerar problemas de consciência cívica na cabeça das pessoas. Não passa de um embuste político criado para "obrigar" as pessoas a votar na expectativa de que, à última hora, o eleitor mude de ideias, e vote.
Já que, com os governantes pouco temos aprendido, excepto a fazer o que não se deve, passemos então nós a ensinar-lhes alguma coisa. É de borla, nem sequer os obrigaremos a pagar impostos pela lição. Já agora, antes que me apareça por aí alguém com a velha cassete dos "
deveres de cidadania e dos quase 50 anos de ditadura em que não pudemos votar", quero lembrar que toda a eloquência de um discurso é um saco vazio se não tiver alguma substância lá dentro. Ora, a Democracia - é disso que estamos a falar - e o voto sem substância, não passam de dois sacos vazios e rotos.
O que quero precisar, quando aconselho a abstenção, é que se todos temos responsabilidades na construção da Democracia, os governantes por nós mandatados, têm de as ter redobradamente, porque têm autoridade para isso, e só por isso a têm... Ou seja, devem ser eles os primeiros, não só a transmitir confiança aos eleitores, como a reforçá-la. Como? Com seriedade, com o cumprimento regular daquilo que prometem, com espírito de sacrifício, com sentido de justiça, com humanidade, com sentido de coesão nacional, com humildade, com capacidade para recuar perante os erros. Ora bem, é isso que nós lhes reconhecemos?
Resumindo: a Democracia não pode ser tratada como uma abstracção. A Democracia é uma instituição em permanente construção e aperfeiçoamento que devia ser constantemente reforçada naquilo que tem de mais sagrado: a respeitabilidade. Incumprido e desprezado compulsivamente como é este último item pelos senhores governantes, não sei porque terão de ser os cidadãos a fazê-lo. Eu não voto porque há uma coisa chamada Democracia, eu votarei com o mais elevado senso cívico, se acreditar que ela é respeitada pelos seus mais altos representantes. E não é.
Não vou às urnas só porque há uns tipos com autoridade [mas desqualificados], que me pedem para ir. Eu votarei, só e sempre que a minha consciência o ditar. Para mim, votar em branco, é como dar uma satisfação aos governantes que me recuso a cumprir, enquanto não tratarem melhor a Democracia. Sobre o que penso da Democracia, é a minha opinião quem mais ordena, não a do Sr. Presidente da República ou de qualquer outra pessoa. Infelizmente, não têm influencia nenhuma sobre mim.
A abstenção, pode mesmo ser muito útil, se induzir alguns a presumir que preferimos ir à praia ou ao cinema, a participar na fantochada de colocar um votinho em branco num caixote, só para mostrarmos que somos rapazes bem comportados...