Por mais que queiramos separar a conduta política do povo da conduta clubística, é difícil negar as afinidades que as unem. Mas, já lá chegaremos.
Pinto da Costa foi sem dúvida o presidente mais bem sucedido da Europa, se comparado com outros dirigentes de clubes economicamente mais poderosos. Foi a sua astúcia e combatividade que guindaram o FCPorto ao patamar mais alto do futebol mundial. Foram muitos anos, sempre a subir na ambição, no prestígio e nos êxitos. A isto, chama-se perseverança e competência. Havendo competência, há o direito legítimo ao reconhecimento público. Foi o que eu e milhões de portistas fizeram, e bem.
Os tempos entretanto mudaram, e esse homem que outrora fora competente, começou a dar sinais indicadores que algo nele estava a mudar, para pior. Dos mais relevantes, destaca-se a perda de combatividade na defesa do clube e a nula comunicação com a massa associativa e adeptos. A estas mudanças, seguiram-se contratações precipitadas de treinadores sem currículo, desajustadas às novas exigências do clube. A última verdadeiramente bem sucedida foi com André Vilas Boas na época brilhante de 2010/2011. Seguiram-se as épocas de 2011/2012 e 2012/2013 treinadas por Victor Pereira, a última das quais ganha no fim da linha e com muita contestação à mistura. Desde então, as escolhas de Paulo Fonseca e posteriormente de Lopetegui confirmaram que as coisas estavam a mudar, e o FCPorto nada ganhou.
É aqui que encontro certas semelhanças entre a política e o futebol. Para as presidenciais que se aproximam há quem dê Marcelo Rebelo de Sousa como vencedor antecipado. A comunicação social, como sempre, é responsável por esta propaganda, mas haverá dúvidas quanto à influência que isso poderá ter nas eleições? Na forma infantil como o povo se deixa contagiar? Alguém quer saber da seriedade, da integridade, do perfil do candidato? Alguém tratará de vasculhar o currículo deste e doutros candidatos para votar? Votam porque é simpático, porque fala bem, enfim, por uma infinidade de frivolidades que pouco contam para a eleição.
No futebol, no caso, o FCPorto, é quase a mesma coisa, com uma diferença: Pinto da Costa tem um currículo que fala por si, e só isso explica, embora não justifique, a confiança excessiva que o próprio tem nesse currículo e o leva a afastar-se de forma quase provocante dos adeptos. Esses, os adeptos, sofrem, revoltam-se (com carradas de razão), criticavam o treinador, os jogadores, e agora até criticam a SAD e Pinto da Costa, mas por consideração ou gratidão passam ao lado, não ousam contestá-lo. Custa-lhes aceitar que o Presidente que tanto admiraram (eu fui um deles) atingiu o famoso princípio de Peter, que começa a ser mais prejudicial que útil ao clube e não dá sinais de perceber isso.
A questão que se coloca é a seguinte: estarão os portistas dispostos a tolerar a decadência do Presidente com a decadência do FCPorto? Estará ele à frente dos interesses do clube? Como na política, cedemos ao sentimentalismo, em vez de privilegiarmos a competência? E Pinto da Costa, estará ele preocupado com os nossos sentimentos? O seu comportamento connôsco nos últimos tempos terá revelado isso, ou antes uma indisfarçavel indiferença, para não dizer quase dresprezo? Dantes, quando havia "fumaça" no ar, sabíamos que Pinto da Costa trataria de nos sossegar sem perdas de tempo. Agora, por que é que se esconde, porque não assume as suas responsabilidades por inteiro se ainda é pago como presidente?
Nestas coisas não tenho contemplações, o FCPorto está em 1º. lugar. As relações têm de ter reciprocidade na consideração e no respeito, mesmo que não nos conheçamos pessoalmente. Se assim não fôr, não são boas relações, independentemente do estatuto de cada um. E, como já aqui disse em várias ocasiões, Pinto da Costa está a inverter toda a admiração pessoal que tinha por ele. Está a colocar-se numa poltrona de arrogância que contrasta com aquilo que sempre preconizou: o respeito pelos portistas.
E se a arrogância nos passa ao lado quando a competência se faz sentir, é um sentimento insuportável no fracasso.