10 junho, 2011

Cavaquices

O senhor Cavaco Silva [que heresia tratar uma Exª, por senhor], que ainda hoje deve acordar a perguntar-se como foi possível chegar a Presidente da República, tem, para além dessa íntima angústia, legítimas razões para andar com a auto-estima em alta. Apesar da crise estar finalmente assumida, só um homem com a auto-estima hiper-valorizada é que pode estar - como ele está -,convencido da relevância da sua oratória.

Há poucos anos atrás, num encontro com emigrantes -já não sei bem onde -, o nosso altivo Presidente lembrou-se de lhes "passar a mão pelo pêlo", dizendo-lhes que sentia por eles um enorme orgulho. Mal ouvi estas palavras pensei imediatamente no que lhe diria [se pudesse], caso estivesse no lugar dos adulados emigrantes, mas como não estava [e ainda bem para o Sr.Presidente], a reacção foi pacífica, como é normal, quando se recebe assim de supetão um piropo. Teve sorte Cavaco, por não ter aparecido alguém a fazê-lo olhar bem para a realidade e a ponderar melhor no que acabava de dizer. Isto, porque, salvo raras situações, ninguém emigra por emigrar. Quem o faz, fá-lo quase sempre pelas piores razões, quando, por exemplo, no seu país de origem, o presente é demasiado sombrio para perspectivar o futuro e se esgotou a esperança de poder sustentar a família.

É lamentável que a alguém com a importância de um Chefe de Estado, não ocorra pensar que ao elogiar os emigrantes está implicitamente a elogiar a emigração, e que isso não é propriamente lisonjeiro, não só para ele, como para os governantes do pais. Aos que emigram, só as famílias e os amigos têm legitimidade para louvar a coragem de partir, não a quem tinha o dever de o evitar. E a um Presidente da República só faria nexo manifestar orgulho, se, e quando, o país tivesse conseguido baixar os crescentes níveis de emigração, não o contrário! 

Ontem, para não variar, ouvi Cavaco a soltar outra pérola que me deixou completamente inebriado de eloquencia e sabedoria.  Foi textualmente assim: "Portugal, precisa de mudar de vida!" . Nem mais, nem menos. Só os jornalistas ou os comentadores políticos, terão capacidade para deslindar o lado filosófico de tão inédita expressão. Não eu.

Enquanto digeria a dura realidade de me aperceber quão profunda é a minha ignorância, dei comigo a perguntar-me se com tais protagonistas ainda haveria futuro para os portugueses, ou se teríamos todos de emigrar para rebentar de orgulho o nosso Presidente.

Viva o dia 10 de Junho! Viva Lisboa!

08 junho, 2011

Na Islândia, a Lei é mesmo dura

Por mais que tentem lançar poeira para os olhos do público, o que faz um país próspero, não é, nem nunca será, a opinião suspeita de quem o governa ou governou, mas o resultado de um conjunto de factores e decisões, onde a Justiça tem um papel preponderante. Assim como a Economia isolada, não devia ter o exclusivo para a resolução dos problemas da governação, a Justiça também não, mas é imprescindível que esta tenha credibilidade para que as restantes áreas políticas funcionem melhor.

Por cá, mesmo com a Troika à espreita, a coligação PSD/CDS/PP,  começa a dar pequenos sinais da vaidade pessoal que costuma assolar os candidatos ao poder. Paulo Portas - de quem não espero nada de relevante, diga-se -, já deu a entender que não lhe bastam 3 ministérios, quer mais alguns para o CDS, e prepara-se para ficar com a pasta mais apetecível dos políticos, a  dos Negócios Estrangeiros. Veremos como Passos Coelho vai desatar este nó e o compatibiliza com o desígnio eleitoral de querer reduzir o Governo a 10 ministérios. Talvez a Guarda Troika ajude um pouco ao bom senso que tantas vezes  falta em condições mais "confortáveis". Quem sabe?

Entretanto, no meio da crise-furacão que se avizinha, ninguém parece dar especial importância à questão da Justiça, ao contrário do que sucede na Islândia cujo ex-primeiro ministro foi chamado a prestar contas à dita cuja, em tribunal expressamente constituído para membros do governo.

Cá dentro, como não podia deixar de ser, as opiniões dividem-se, quanto à possibilidade de julgar os titulares de cargos públicos... Enquanto uns [bastonário da Ordem dos Advogados] dizem calmamente que a incompetência não é nenhum crime [mesmo arrastando para a miséria milhares de pessoas], outros [Juízes] defendem que sim, e que há até uma lei para o efeito [Nº.37/87 de 16/07/87], que entretanto já foi alterada quatro vezes . Apesar do Artº.7º. da referida lei prever o crime de traição à pátria provocada também pela perda de independência económica [que é precisamente o que está agora a acontecer]. Só que, a lei, para casos como este, já não é dura [lex sed lex] , é elástica, moldável... Caso contrário, quantos políticos estariam agora a prestar contas à Justiça?

Marinho Pinto, mais uma vez, deixa-me dividido, àcerca da sua coerência. Sobre a aplicabilidade desta lei, disse: "o mais elementar bom senso diz-nos que se trata de 2 dimensões diferentes. Esta crise apesar de ter surgido em 2008 não é culpa de um só ministro. Os últimos 4 ou 5 têm responsabilidades, mas julgá-los criminalmente é fundamentalismo".

Espanta-me a facilidade com que se aplicam determinados "ismos" quando alguém quer baralhar o povo. Fundamentalismos, populismos, radicalismos... palavras mágicas, sempre que a lei ameaça os poderosos. E a argumentária aplicada não me espanta menos. Segundo Marinho Pinto, como a culpa da crise não é de um só ministro [e (ou) governo], então o remédio é fechar os olhos às asneiras [muitas delas criminosas] cometidas pelos senhores governantes. A cadeia, no Portugal dito democrático, também é para os pobres. Perguntem ao Dias Loureiro, ou ao Duarte Lima.

Na Islândia, é que ninguém vai em ismos. Geeir Haarde [ex-1º ministro islandês] já o deve ter entendido. Mas, Sócrates, Portas, Loureiros, Limas e outros que se lhes seguirem, esses, podem continuar a dormir descansados, em Portugal, para o peixe graúdo, o crime compensa mesmo. É quase uma ciência exacta, Eles, sabem-no.
  

06 junho, 2011

Quando...


Serviço... PS /PSD/ CDS
...indicadores económicos da UE colocam Portugal com níveis de pobreza e injustiça social inaceitáveis para um país europeu que integra desde 1986 o "clube dos ricos".

Quando, Portugal detém a produtividade mais baixa da UE, pouca inovação e dinamismo empresarial, formação profissional deficientes, mau uso dos fundos públicos, com excessivos gastos e maus resultados...

foi o país que mais benefícios recebeu por habitante em assistência humanitária nos últimos 18 anos, sem nunca se chegar a saber exactamente onde foram  parar os fundos comunitários.

Quando, Portugal é o país da UE onde os salários médios e mínimos são os mais baixos e a desigualdade social é maior...

os administradores das empresas públicas recebem os salários mais altos da UE, e são os próprios a fixar os seus ordenados [ e não, como defendem, o mercado]...

que sentido fará votar, se os eleitores continuam a apostar nos partidos responsáveis por esta súmula de corrupção e incompetência? Ouviu, senhor Cavaco? É a si, também, que coloco esta questão. Para si, que se acha no direito de entrar pela minha casa [e na de outros] para "me aconselhar" sobre a decisão de votar, como se fosse alguém mais responsável que eu. Não, não é, senhor Cavaco, e sabe por quê? Porque antes da sua vontade, está a minha, antes do seu cérebro, está aquele em que mais confio: o meu.

Até porque, não foi minha, a [ir]responsabilidade de ter nomeado Dias Loureiro para Conselheiro de Estado...

Rescaldo eleitoral

Tem absoluta razão  Pedro Baptista, em afirmar que se "se vivêssemos numa democracia   real, derrotaria com facilidade Aguiar-Branco do PSD, Assis do PS, Ribeiro e Castro do CDS, João Semedo do BE e Honório do PCP, porque todos eles, tendo descoberto nas últimas semanas os encantos do Porto eleitoral, nunca abriram a boca no parlamento, nem quanto ao roubo dos fundos do QREN desviados para Lisboa, nem quanto à situação de ser o Norte Litoral a única região a pagar as SCUT..."  E como não havia de ter razão, se o que ele diz corresponde a uma realidade concreta, orfã das "muletas" de uma comunicação social oportunista e desonesta, que consegue esta coisa paradoxal, que é manter próximo do poder os três partidos [PSD, PS e CDS] mais responsáveis pela gravíssima crise que o país atravessa?

Pois é. Mas, apesar disso, inexplicavelmente, continuará a haver quem olhe de soslaio para os pequenos partidos, sobretudo para aqueles que não conseguiram votos suficientes para terem direito a um lugar no Parlamento... Logo, estas declarações de Pedro Baptista, sendo correctas e factuais, nem sequer vão ser reproduzidas nos jornais gratuitos, porque a máquina de propaganda centralista não o permite, abafando assim as vozes incómodas ao regime. Foi a fórmula que o regime encontrou de praticar actos pidescos, prescindindo dos métodos demasiado grosseiros da polícia política de Salazar, passando assim por democrático... 

Segundo o jornal "i", o PDA/MPPNorte, obteve 4601 votos, colocando-o à frente do POUS com 4531 [o Público inverteu estas posições], o que é manifestamente inexpressivo, embora um bocadinho melhor do que muitos esperariam, tendo em conta a abissal desigualdade de meios comparados com os outros partidos.

A "classificação" por cidades do Movimento que ousou fazer despertar da "amnésia geral" político-partidária o tema da Regionalização, ficou assim ordenada:


  1.  Porto .................     com    2217 votos 
  2.   Braga.................      com     592 votos
  3. Aveiro..................    com     397 votos
  4. Açores.................     com    371 votos
  5. Viana do Castelo.....  com    195 votos
  6. Guarda .................    com    200 votos
  7. Bragança.................  com    143 votos 
  8. Vila Real................   com     122 votos
Total......................    4237 votos

De destacar, os cerca 41% de abstencionistas que, contrariamente às opiniões de certas autoridades [para mim pouco credíveis], são para respeitar e reflectir... Foi "apenas"  o "partido" mais votado!

Considero um direito, tão legítimo como qualquer outro, rejeitar pura e simplesmente o acto eleitoral. A incapacidade para um novo partido se afirmar no actual cenário político nacional, por mais meritórios que sejam os seus projectos, justifica-o plenamente.

Que o diga, o Movimento Pró Partido do Norte. Intelectualmente, isto, não é democracia, é sim, uma tentativa de encaminhar gente adulta de regresso ao estado infantil, .