...não deve pactuar com a trapaça generalizada que se faz na concorrência, caso contrário, nunca se imporá como a televisão que ousou dar o salto por cima, de fazer a diferença pela superioridade em relação às outras.
Falando em televisão para o Norte, não posso deixar de falar no Porto Canal, primeiro porque já existe, e depois porque já descentraliza, já difunde [e bem] informação e coopera com muitas cidades e povoações do Norte do país. Para vingar, será fundamental não apenas evitar a concentração excessiva no Porto, como também desenvolver uma filosofia editorial crítica e selectiva, quer com colaboradores residentes, quer com os convidados que escolher para debater todo o tipo de temas, com especial realce para as questões relacionadas com a política e o desporto.Não ser criterioso, será abrir portas à vulgaridade.
Tenho sérias reservas para pensar que este meu desiderato venha algum dia a concretizar-se, e explico porquê. A comunicação social padece do mesmo mal que afecta a maioria dos portugueses: o medo. O medo é inimigo da liberdade, e é a ausência desta que está a afectar de morte a boa informação. Os media vivem de patrocínios e audiências, mas não podem deles depender demasiado nem se subjugar a elites, ou pseudo-elites, sob pena de se auto-anularem e defraudarem as expectativas do grande público nortenho. As elites não são fiáveis, enganam. De mais a mais, agora que ninguém sabe bem quem são, e onde estão.
Belmiro de Azevedo podia ser uma grande elite do Norte, mas já mostrou não ter perfil para isso. Belmiro quer vender, ponto. Se é Lisboa que manda, muda-se para Lisboa e faz-se-lhe a vontade. Mesmo que por cá deixe ficar a fachada e as sedes das empresas, as decisões tomam-se na capital. Belmiro não é político, é um negociante muito "prático"... Como ele, são a maioria das pessoas do Norte com poder suficiente para se afirmarem nacionalmente. E os políticos do Norte são iguais, medianamente iguais. Mas, que diabo, ainda não andam camuflados, são simples de identificar.
Não se compreende por isso, que o Porto Canal tenha convidado recentemente para debater a orfandade de líderes no Norte um lambe-rabos, chamado Hermínio Loureiro. Custa-me a acreditar que ninguém no Porto Canal, a começar pelos quadros dirigentes, não conheça o perfil camaleónico e vincadamente centralista do autarca de Oliveira de Azemeis, para tomar a triste decisão de convidar protagonista tão imprestável para discutir um assunto tão caro aos nortenhos. Outro dia, foi Marcelo Rebelo de Sousa [outro centralista manhoso], não tarda nada, vamos ter de apanhar com o sósia menor, Marques Mendes, e o Norte só tem a perder com tais escolhas*.
Não se pode criticar no vazio. A política não é uma ciência abstracta, é uma actividade com executores, que são os políticos. A crise tem responsáveis, esses não são o povo, são quem ele elegeu para o governar. As televisões estão cheias de "politólogos" que tiveram responsabilidades políticas fracassadas, e só isso é por si mesmo, uma aberração, uma tautologia, uma deformação. O que pode o público ganhar ouvindo um, ou muitos incompetentes? À medida que este critério editorial absurdo se repete transmite-se para a opinião pública a ideia [erradíssima] de que a importância das pessoas vem do estatuto e não do uso que se lhe dá.
Gostava imenso que o Porto Canal fosse o canal pioneiro a perceber que o caminho para o sucesso não pode ser esse e que por vezes é preciso mesmo aceitar grandes desafios e fazer rupturas. Romper com a mesmice, diga-se, nem sequer é grande revolução, mas que urge fazê-lo, urge.
* Há que dar oportunidade a quem não tem currículo governativo, a gente respeitável, e com bom "cadastro"... Sim, porque a esse nível [governativo], poucos se podem dar à vaidade de imaginar que governaram bem, que sabiam o que estavam a fazer. Para si próprios, talvez soubessem, para o país, seguramente que não.