27 julho, 2016

Do FCPorto ao Porto Canal

Carla Ascenção
(mais pragmatismo, pede~se)
Contrariamente ao que por aí costuma dizer-se dos treinadores de bancada (quase sempre mal),  eu gosto de ler os seus comentários. Então, quando começam a dar bitaites sobre as qualidades técnicas e posicionais dos jogadores, e explicam como mexeriam na equipa para a compensar de algumas lacunas, como por exemplo, recuando um médio defensivo para central, e vice-versa, acho até muito interessante. Nestes casos, a unanimidade é rara, mas é isso que explica em parte a atracção pública pelo futebol. Isto está a acontecer nos blogues portistas, o que até se compreende, dada a instabilidade latente da direcção do FCPorto traduzida em sucessivos fracassos na aquisição de jogadores qualificados para posições-chave, e na inédita dispensa/retoma de alguns jogadores...

Para mim, já disse, isto não me surpreende, embora nunca me passasse pela cabeça que o FCPorto chegasse a este ponto de desorientação e debilidade financeira. Mas é o que costuma acontecer quando a liderança se perde.

Dito isto, também não me aqueceu nem resfriou saber que o Porto Canal regressou à casa de onde nunca devia ter saído sem dar explicações, e de quem pagou para o ter. Aliás a NOS e o FCPorto ainda devem um pedido de desculpas explícito aos seus clientes e adeptos, convinha não esquecer... Deu para ver que tudo está como dantes, igualzinho ao Porto dos últimos anos, à execepção do histórico do clube que é incomparável com a vulgaridade da televisão.

O Porto Canal só poderá ter serventia se fôr para continuar a ver o FCPorto na senda do sucesso e da valentia de outrora, e para trabalhar em benefício claro dos portuenses e do clube, não para nos deixar furiosos com quem o dirige e se verga ao centralismo, como tem acontecido. Ainda ontem pudemos ver a Carla Ascenção a entrevistar Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga como se fosse o do Porto, sem qualquer pudor de continuar a omitir aos portuenses a causa da sua ausência... Como é que um canal do Porto, com tanta verborreia pseudo regionalista pode manter-se tanto tempo sem abrir as portas ao seu autarca principal e sem dar cavaco à população? Alguém compreende isto? Por que é que os portuenses não questionam estas coisas nem pedem explicações a uma, e a outra parte? Se fosse o Rui Rio todos entendiam, agora o Rui Moreira, que até é portista e gosta de futebol, ninguém entende.

Enfim, já dei para este peditório, mas mesmo assim, isto cansa, seca-nos as raízes.

Nota de RoP:
Acabo de assistir à melhor 1ª. parte de jogo dos últimos tempos do FCPorto. Finalmente, vi uma equipa solta, bem posicionada (principalmente o meio-campo) e agressiva. Destaque para Octávio/André Silva/Bueno/Corona/Herrera. A segunda parte não foi a mesma coisa. Houve jogadores (como Brahimi, e Aboubakar, por ex.) que voltaram a provar que não são adaptáveis às características do nosso futebol, porque não têm mobilidade e profundidade q.b. A defesa continua a ser o nosso calcanhar de Aquiles. Remediou-se na 1ª.parte por força de um meio campo pressionante, dinâmico e muito criativo. E o Adrian Lopez, alguém o viu?

26 julho, 2016

MUNICÍPIOS VÃO GERIR STCP MAS ESTADO É “DIRETOR FINANCEIRO”

A Câmara do Porto vai presidir à Unidade Técnica de Gestão (UTG) da STCP, com os municípios a gerir a operação da empresa, mas o Estado terá de aprovar decisões que agravem o saldo.
A versão final do memorando de entendimento foi conhecida na terça-feira. O Estado vai assumir a dívida da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) e está obrigado a investir 88 milhões de euros na renovação da frota, colocando a circular nas ruas de Porto, Gaia, Matosinhos, Maia, Valongo e Gondomar mais de 300 autocarros ecológicos (movidos a gás natural) até 2023.
A UTG começará a regular a STCP a partir de 2017, mas “a efetivação do novo modelo de gestão do serviço explorado pela STCP dependerá ainda da apreciação favorável/não oposição por parte de terceiras entidades, designadamente, da Comissão Europeia, da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes e do Tribunal de Contas”, refere o memorando.
O Porto escolhe o presidente do Conselho de Administração da STCP, que incluirá um membro nomeado pelo Estado e outro por cada um dos cinco restantes municípios que assumem a gestão da empresa.
O administrador que o Estado nomear será, segundo explicou Rui Moreira na reunião do executivo da Câmara do Porto a que preside na terça-feira, “o CFO [diretor financeiro], porque fica responsável pela dívida”.
O memorando de entendimento é claro: o voto desde membro do conselho é determinante, uma vez que qualquer decisão “que possa agravar a condição financeira da empresa”, nomeadamente no que toca a medidas no âmbito do serviço público, tem de ser aprovada pelo administrador indicado pelo Estado.
Os municípios “vão ter de ser mais eficientes e menos egoístas”, afirmou Rui Moreira, que explicou aos vereadores que “o pior cenário” para as seis autarquias que vão gerir a empresa será pagar, em conjunto, 4,5 milhões de euros em 2017 e outros seis em 2023, mas garantiu ainda que “os valores estão a ser trabalhados”, uma vez que os munícipios “propuseram começar o processo de gestão com um investimento mais brando”.
Apesar da gestão da STCP ser dos municípios, a empresa continua a ser propriedade do Estado. As autarquias definem “os critérios de repartição dos encargos decorrentes das funções de organização, direção e financiamento de obrigações de serviço público” e de “acompanhamento do serviço prestado pela STCP que venham a ser exercidas pela Área Metropolitana do Porto através da UTG da STCP”.
Os municípios estão obrigados pelo memorando a chegar a acordo no que toca ao regulamento e funcionamento da UTG para “acompanhar o serviço público” explorado pela empresa. O memorando exige ainda um acordo das seis câmaras com a Área Metropolitana do Porto (AMP) que garanta que “a gestão da STCP não afetará financeiramente” os restantes 11 concelhos da AMP.

24 julho, 2016

O cherne está pôdre

Imagem de perfil de José Augusto Rodrigues dos Santos
José Augusto Rodrigues dos Santos
(Porto24)

Sei por experiência própria que a política não é para meninos de coro, para donzelas púdicas que ruborizam ao mínimo palavrão, para cidadãos com princípios e dignidade. Alguns destes, cidadãos com princípios e dignidade, tentam remar contra as marés sujas da política, mas rapidamente são trucidados pelas impiedosas máquinas partidárias ou seitas de interesses que dominam o aparelho de estado e as suas adjacências. Entre as seitas mais malévolas para o interesse público evidenciam-se as sociedades de advogados cuja habitual nefasta ação condiciona a política, economia e finanças.
Entrar numa destas seitas que controlam em seu proveito a coisa pública e privada seria o destino natural de Durão Barroso. Quer-me parecer que era a algo como isto que ele referia como solução profissional mais vantajosa, em contraponto à “coragem” que teve, por desejo de desafio, de entrar nos quadros da quadrilha de malfeitores que é a Goldman Sachs.
Conheci Durão Barroso num meeting político na faculdade de Direito de Lisboa, em 1975. Nessa altura eu fazia parte da Comissão Instaladora (CI) que elaborou o decreto-lei 675/75 que criou a via única de formação em Educação Física e que veio a desaguar na criação do ISEF do Porto e do ISEF de Lisboa. A minha ida para o INEF, onde se centralizaram as ações da CI, permitiu-me conhecer José Manuel Constantino, também ele integrante da CI e que era o “dono iluminado” de todo o fervor revolucionário maoista que invadiu o INEF, em contraponto ao fervor revolucionário revisionista defendido pelo neófito comunista Rabaçal. Deixei-me ser cooptado pelo Constantino para o MRPP, mais pela destreza argumentativa que demonstrava nos meetings que pela beleza e congruência da mensagem política implícita à vulgata expandida pelos prosélitos do Arnaldo de Matos.
Nessa altura, a faculdade de Direito de Lisboa era o sanctu santorum de todas as ideologias revolucionárias e feudo privativo de doutrinação da ideologia maoista que tinha como mártir “santo” Ribeiro dos Santos. Arnaldo de Matos e Saldanha Sanches, com uns arremedos do Fernando Rosas, empenhavam-se em reforçar a linha vermelha revolucionária que, em contraponto ao revisionismo soviético, elegia a união dos operários e camponeses como o ponto de partida para os novos amanhãs cantarem mais afinados. Nos intervalos das intervenções dos “grandes educadores” havia lugar para algumas tomadas de posição de “xicos” e “xicas” espertos, como Durão Barroso e Maria José Morgado, que debitavam anátemas a torto e a direito e marcavam com o ferrete de linha negra quem não bebesse até à alma e replicasse até ao enjoo, o mantra – “Nem fascismo, nem social-fascismo, revolução popular”. Mantra que eu debitava, com a força vocal que ainda hoje me caracteriza, na venda do Luta Popular em Algés e redondezas. Na exterioridade, calças-jardineira, boina, camisa à pescador, barba mal-amanhada, eu era um “verdadeiro” revolucionário. Na alma, as contradições eram insanáveis e, por momentos, adormeci aquilo que era e que os meus correligionários apodavam de fascista, assassínio colonial, salazarista, reacionário, conservador, gajo de direita, antirrevolucionário. Serei isso tudo, mas agora pouco me importa as críticas dos outros. Começo a estar em paz, comigo e com o meu passado. A minha militância no MRPP foi sol de pouca dura. A teologia dessa religião não me converteu, embora me tenha propiciado um curso rápido de iniciação à política mais irracional que deus ao mundo botou. Muitas noites passadas em claro a colar os cartazes puros da “revolução popular” e a arrancar os cartazes impuros dos comunistas enquanto os controleiros do INEF – Bispo e Constantino, não sei se alguma vez pegaram num balde de cola e pincel para afixar cartazes, iam reunir no sentido de decidir se íamos entrar na clandestinidade, na altura em que o “grande educador da classe operária” foi preso pelo COPCON. Outras vezes iam reunir para decidir sobre as grandes decisões políticas para o futuro. Ou seja, iam dormir enquanto os camelos dos “escravos” ideológicos iam penar por tudo o que era parede de Lisboa e arredores.
Desde essa altura fiquei de pé atrás com Durão Barroso. No meu classificatório registei-o logo como: puto palavroso, mal-educado e com a ânsia incontrolada de protagonismo. Hoje mantém os tiques que o evidenciam, pela negativa, na política nacional e internacional.
Que Durão Barroso está indelevelmente marcado com o estigma da cobardia, aproveitamento pessoal da política e oportunismo político é questão que não levanta dúvidas a qualquer mente lúcida e sensata. As críticas unânimes que recebeu são prova que há limites para a falta de vergonha e carreirismo patológico. O aproveitamento duma carreira política em proveito pessoal é “crime” ecuménico. Situações como a de Durão Barroso devem induzir legislação adequada que erradique o perigo de um político se desviar, em proveito próprio ou alheio, da missão elevada que é servir a res publica.
A defesa de Durão Barroso por alguns dos seus “compagnons de route” como Passos Coelho, Duarte Marques e outros serviçais do PSD evidencia a lógica de seita mafiosa que assiste a muita política partidária. Péssimo esteve também o Presidente da República ao evidenciar a promoção profissional do sujeito com algo de desígnio nacional, ao nível das medalhas dos nossos campeões desportivos. Asneira grossa caro Presidente. Era melhor que estivesse calado.

Nota de RoP:
O cherne sempre esteve pôdre, só a mulher e alguns tótós o comeram...