19 fevereiro, 2013

FCPorto, a chama que resta do Norte



Em dia de jogo para a Champions, nada mais pertinente do que falar de futebol, mais precisamente do meu clube, o FCPorto, e da utilidade que um órgão de comunicação social como o Porto Canal, podia e devia ter, para acabar, ou pelo menos minimizar, as campanhas caluniadoras e desestabilizadoras de que o clube é alvo, há demasiado tempo.

Há uma estratégia clara e objectiva, da parte dos media centralistas [praticamente todos associados ao Benfica], em desprestigiar as conquistas do FCPorto, tanto dentro como fora de portas. Por essa razão, não deixa de me causar perplexibilidade que possa haver um só portista, ou melhor, um qualquer cidadão atento às coisas do futebol, que ainda não tenha dado conta dessa situação, porque ela é tão descaradamente óbvia, que nem a um retardado mental passa despercebida. Daí, que me faça ainda mais confusão que hajam adeptos, aparentemente resignados com a apatia que o Porto Canal tem revelado, perante esse fenómeno de desinformação e maldizer, levado a cabo pela concorrência e seus pares.

Li hoje mesmo, num blogue portista - a propósito de um post do administrador* -, um comentador dizer que discordava da ideia da criação de um programa desportivo que comportasse a defesa do FCPorto dos ataques que atrás falei, porque não queria ver o Porto Canal transformado numa Benfica TV. Ora, conhecendo eu, como conheço o autor do post, e sabendo o que ele, e eu próprio pensamos, e já escrevemos sobre o assunto, rejeitando ferozmente qualquer coisa parecida com a Benfica Tv para o Porto Canal, a impressão que estes tipo de comentaristas deixam é que, ou andam drogados e perderam a lucidez, ou [o que é pior] têm medo de ser criticados pelos fazedores de opinião centralistas que enxameiam os media da capital do império da nossa [e também da deles, presumo] desgraça.

Talvez por detrás destas reacções, estranhas, aparvalhadas e atávicas, se esconda uma das razões, quiçá a principal, que explicam a quase total descaracterização do Norte em geral e de muitos portuenses, que levaram a nossa região, outrora orgulhosa e combativa, a ser constantemente humilhada pelo Terreiro do Paço, inclusivé, com a colaboração e cumplicidade de muitos nortenhos e portuenses. Talvez, também por isso, não se estranhe que Hélder Pacheco, um dos poucos portuenses indígenas que têm paixão à terra, ainda não foi convidado para ir ao Porto Canal, presumidamente, digo eu, porque tem o espaço ocupado por certas figurinhas de Lisboa que ainda há pouco tempo andavam a satirizar nos media lisboetas com o FCPorto e com os portuenses.

Sempre desconfiei daqueles que andaram a queixar-se do Porto ser uma cidade fechada, pouco cosmopolita, e as razões estão bem à vista. Quando abres indiscriminadamente as portas da tua casa, sem saber quem lá metes, o mais certo é arriscares-te a ficar sem ela... Depois, queixam-se que no Norte não há líderes. Cada povo (não) tem os líderes que merece.

Enfim, ao menos, que seja o FCPorto a lavar-nos a honra.

*O blogue é o Dragão até à Morte, e o bloguista, o Vila Pouca

18 fevereiro, 2013

Limites da indecência



O Conselho Superior da Ordem dos Advogados instaurou-me um processo disciplinar com base numa participação de um advogado de Coimbra chamado Orlando Maçarico. Aparentemente nada de anormal nisso. Este é o sétimo ou oitavo processo disciplinar de que sou alvo desde que assumi o cargo de bastonário.

Esta é também a sétima ou a oitava vez, desde 2008, que esse advogado faz participações disciplinares contra mim. E, tal como esta, nenhuma das anteriores se referiu a factos que tenham a ver com o próprio participante, pois nunca sequer me referi a ele direta ou indiretamente. Todas as participações que ele fez contra mim relacionavam-se com outras pessoas. O que tem de espantoso (mais) este processo disciplinar é ter sido instaurado por eu ter criticado a ministra da Justiça num programa de televisão, chamando-lhe barata tonta. Os aliados da ministra dentro da Ordem dos Advogados são, de facto, incansáveis e, incentivados pelo aparente marasmo de uma classe que tudo parece disposta a suportar, julgam não haver quaisquer limites para a indecência. Vejamos.

O advogado delator começa por dizer que as minhas críticas à ministra revelam "pobreza de espírito". Depois, afirma que essas críticas permitem perscrutar o âmago da minha alma, onde só se vê - garante - "lodo e lama e orgulho jactancioso". Seguidamente afirma que eu sou um "reincidente na incivilidade" e que, com as minhas críticas, fiz o que não faria um qualquer "pífio e latrinário jornaleiro". Acusa-me ainda de ausência de "qualquer escrúpulo de decência e de elegância moral". Devo precisar, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, o sentido das palavras "pífio" ("desprezível", "vil", "reles") e "latrinário" ("que se cria nas latrinas", "imundo", "repugnante", "sórdido"). Não sei se a palavra "jornaleiro" foi usada com o significado de "trabalhador a quem se paga o jornal" ou a quem se paga à jorna ou ainda como referência ambiguamente achincalhante ao facto de eu ter sido jornalista.

Seja como for, o advogado delator permitiu-se bolçar essas injúrias para - pasme-se - impedir que o (meu?) "egotismo", enquanto "sintoma ominoso das piores loucuras individuais", "conspurque, ainda mais, a advocacia e o que resta de advogados portugueses" (sic). Afirmou ainda que fez a delação porque as minhas críticas à ministra da Justiça e o local onde foram produzidas constituem "representação de um uso do poder fáctico de acesso a auditórios como instrumento de humilhação, mas também impressão digital de caráter". Curiosamente, nem o advogado delator nem o órgão que acolheu a infâmia da delação indicaram a norma do Estatuto da Ordem dos Advogados alegadamente violada com as minhas críticas.

Não me espanta que haja advogados que digam que o bastonário da OA é pior do que um "pífio e latrinário jornaleiro" e que afirmem que só veem "lodo e lama e orgulho jactancioso" na alma do presidente da OA. Também não me espanta que o escrevam em peças dirigidas ao supremo órgão jurisdicional da OA. O que espanta é que este órgão aceite essas injúrias sem a mais leve hesitação, como se de factos se tratassem e instaure procedimento disciplinar contra o injuriado.

Nunca participei criminal ou disciplinarmente, em nome próprio, contra qualquer advogado e manterei, mesmo agora, esse princípio, porque acredito que há um efeito regenerador e pedagógico no exercício da liberdade. Por isso, mesmo perante a dimensão da dupla infâmia de que sou alvo - a das ofensas do advogado delator e a da decisão dos inquisidores que as coonestaram -, limito-me a proclamar publicamente a superioridade moral e cívica da liberdade de expressão sobre as mentalidades enrugadas dos zelotas, dos bufos e dos delatores profissionais, bem como dos inquisidores morais e dos pina maniques do espírito, mesmo que uns e outros vistam a toga de advogado. Contra todos eles, contra todos os que odeiam a liberdade e quem a pratica, eu ergo esta serena e inabalável determinação de ser um homem livre e de continuar a sê-lo - como cidadão, como advogado e como bastonário da Ordem dos Advogados Portugueses.

Nota de RoP:

É impossível ficar indiferente a esta crónica. Se algum vestígio de honorabilidade houver nos advogados que se revêm no comportamento de Orlando Maçarico, o advogado que processou o bastonário Marinho Pinto, então, é porque alguém lhes transmitiu uma ideia errada do que isso realmente significa. Mas, sinceramente, eu inclino-me mais para a versão da cumplicidade entre padrinhos...