Caro Miguel,
Pressinto, que após lida esta missiva, não irá ficar muito contente com o que nela digo, nem porventura consigo próprio. Isto, porque, apesar de também ter vivido em Lisboa, como o Miguel, e de me rever em muito do que escreve, sente, e pensa (excepto a atração pelas touradas, e a sua costela centralista), outras coisas há, que não consigo entender na sua forma estranha de ser portista. Vamos por partes.
A primeira, quiça a que mais confusão me trás, a este meu cérebro de provinciano, a este gajo lá do Norte (é assim que, por aí, gostam de tratar os portuenses) carente dos eruditos ambientes da capital, é você querer convencer-se que, escrevendo no "jornal" A Bola, bem, ou mal, sobre o FCPorto está a prestar um bom serviço à grande comunidade portista (talvez sim à anti-portista)... Pelo menos, foi isso que me deu a entender, quando há uns bons anos (para aí dez) lhe escrevi a insurgir-me contra o seu gosto centralista, e o modo como fundamentou apreço pel' A Bola, com o facto de ser o jornal desportivo mais lido do país. Sabe uma coisa, Miguel? Às vezes, fica-se com a impressão que você não conhece a sua terra natal, - apesar de ser por demais badalada por esse mundo fora -, nem faz a mínima ideia da importância que os seus conterrâneos dão a essa coisa que você considera um jornal desportivo.
Acredite, ou não, este que lhe escreve, desde 1977, ano da graça em que decidi regressar à terra onde nasci e amo, nunca mais gastei um cêntimo para ler, esse punhado de folhas vermelhas a que o Miguel, chama jornal. Faz ideia por quê? Não faz, pois não? Mas eu digo-lhe. Primeiro, porque de jornal pouco tem, aliás em Portugal (não disse Lisboa) nem abundam, e depois, porque na realidade, para a maioria dos portistas, não passa de um pasquim, onde a ética, o fair play, e o senso democrático, são uma pobreza, muitos graus abaixo daquela a que (como você diz), chegou o nosso FC Porto. Mas, sossegue Miguel, porque também sou um portista ambicioso, exigente, nem estou a gostar nada do que agora está a acontecer ao FCPorto. Já fui um grande admirador de Pinto da Costa, e neste momento deixei de ser, por culpa dele, e por razões explícitas, publicadas num blogue meu, com toda a liberdade, e sem qualquer condicionante pecuniária.
Só que há uma significativa diferença entre nós: para criticar o nosso Presidente, ou o FCPorto, nunca escolheria um antro como A Bola, que não passa de uma máquina de propaganda benfiquista e anti-portista. Nunca lhes daria o prazer de achicalhar o meu clube nesse ninho de cobras. Mais. Não leio, e muito menos compro, qualquer jornal desportivo. Sabe por quê? Por efeito dessa praga centralista que você tanto condescendia, e que se tem incumbido de esvaziar de autonomia os jornais da nossa cidade e região! Será que o Miguel ainda não se apercebeu do que está a acontecer para além dos muros da capital? Será que também não deu pela mudança subtil do histórico Jornal de Notícias que não precisou da democracia nem de Lisboa para nascer? Vai culpar-nos, Miguel? Vai-me dizer que a culpa é só nossa, dos portuenses, como se tivéssemos voto na matéria? Será que também concorda com o que se está a passar na TAP e contra Rui Moreira? Também ele, há uns anos atrás alinhava nesse preconceito anti-regionalista, mas agora parece ter aberto os olhos. E você, Miguel, continua a ver o Porto como os políticos, inapelavelmente rendido a esse eucalipto ganancioso chamado Terreiro do Paço?
Voltando ao FCPorto, como pode o Miguel banalizar o nosso plantel, quando o maior erro começou na própria presidencia/Sad com a aquisição de Lopetegui? Acha que os jogadores são mesmo quase todos uma banalidade, que se tivessem sido treinados por um técnico conceituado não rendiam muito mais? Não acha exagerada essa vulgarização, depois de estarem meia época a serem destreinados, condicionados física e psicologicamente, por um sistema de jogo ineficiente, chato e castrador? Há de facto um pequeno lote de jogadores sem categoria para jogar no FCPorto, mas quase todos? Assim mesmo, esse plantel de nabos, foram suficentemente bons para ganhar duas vezes ao entronizado Benfica, clube mimado deste miserável regime.
A fidelidade ao passado devia ser exigida a quem de direito, mas fazê-lo num meio de "comunicação" onde um simples coçar de cabeça constui crime, se o autor fôr o Presidente Pinto da Costa, é branquear a pouca vergonha e a má fé que desencadeou o Processo Apito Dourado, cujo cooperante empenhado foi o jornal onde escreve. A propósito, diga-me, se assim entender, se A Bola dá o mesmo protagonismo ao "caso Porta 18", do Benfica, onde o tráfico de cocaína se transformou numa espécie de hóstia consagrada pelo silêncio?
Vá lá Miguel, não queira ser mais papista que o(s) papa(s) que inundam A Bola. Aceita uma sugestão? Comece por criticar o que há de pior no jornal A Bola, que é a arbitrariedade, a falta de seriedade, e teste a capacidade de encaixe de quem lhe paga a avença.
Tenha paciência, mas de tanto querer agradar a gregos e troianos, vai acabar por ter todos os portistas contra si. Esse, será o tiro mais aselha da sua vida de caçador. E não havia nexexidade, porque eles até lhe reconhecem os talentos como escritor (eu, incluído).
Um portista exigente, mas que não dá troco a pasquins (nem que lhe paguem).
PS-Como duvido que o Renovar o Porto chegue aos olhos de Miguel Sousa Tavares, irei hoje mesmo (5ª.feira), enviá-la para a Travessa da Queimada, para a morada do pasquim onde tanto gosta de escrever.