21 setembro, 2012

Cenas dos próximos capítulos

Caia ou não caia o Governo, é uma questão de tempo, novas - e pouco promissoras - eleições se desfilam neste cinzento horizonte português. A menos que, entretanto, haja o bom senso de se formar um governo de salvação nacional com os restos que sobram [sobrarão?] de gente capaz e sensata para defender o país dos aprendizes de feiticeiro que ainda nele mandam, dando-lhe um rumo sem ter de recorrer ao extermínio do povo.

Caso se realizem eleições antecipadas, lá teremos de aturar outra vez os feirantes da política a prometer-nos mundos e fundos, rodeados dos tios e das tias, e mais toda aquela prole de lambe-cus que costumam acompanhar as comitivas partidárias em almoçaradas e arraiais. E o mais certo, é que tal não passe da repetição de filmes antigos, para povo enganar, correndo o risco de tudo ficar na mesma [ou pior] uns mêses depois, sem que esta santa democracia nos poupe a um novo ciclo de vilanagem. 

Os banqueiros, esses, são bem mais espertos que o povo, se assim não fosse dispensavam as garantias que nos exigem quando precisamos que nos emprestem dinheiro. Não fazem por menos, só nos financiam se dispusermos de bens patrimoniais de valor igual ou superior ao montante requerido, caso contrário, nicles! E até faz algum sentido. Isto de fiar, já foi tempo. Agora com os eleitores já não é assim.. Mesmo estando vacinados contra o regabofe das campanhas, mesmo que não levem a sério as promessas dos candidatos ao trono da República, se os cidadãos quiserem ainda assim votar nalgum programa que lhes pareça convincente, não podem exigir qualquer tipo de garantias, apesar de terem imensas razões para desconfiar das promessas. E as razões abundam,  não são ficcionais... 

Mas, palpita-me que o povo se quiser votar, terá de o fazer [como de costume] às cegas, por intuição, ou então, simplesmente renunciar ao voto. E como assim tem sido noutras ocasiões, confesso que não compreendo de que se podem os cidadãos queixar se deixarem mais uma vez o país nas mãos de novos irresponsáveis. De garantias, repito, é o que mais precisam os portugueses. Se os Bancos não fiam, por que havemos de fiar nós? 

A propósito, hoje havia uma reunião do Conselho de Estado. Ter-se-à Cavaco esquecido de convidar Dias Loureiro e Duarte Lima? É que a presença desses cavalheiros seria uma verdadeira certidão de credibilidade para a classe política...   

Defenestremos pois

O(s) senhor(es) que se segue(m)!

  
A defenestração, no caso concreto da aplicação a pessoas, foi uma prática corrente no século XVII (embora já viesse do século anterior, tendo sido usada na matança de São Bartolomeu), nomeadamente na Guerra dos Trinta Anos.

Ficou famoso o episódio das "Defenestrações de Praga" (1619), tendo os nobres protestantes da Boémia invadido o castelo da capital e arremessando representantes do Governo Imperial* pelas janelas. Este foi, a par da demolição de duas Igrejas Luteranas na Boémia por parte das forças católicas do Sacro Império Romano-Germânico, um dos episódios determinantes na deflagração do conflito no continente.

Outra defenestração célebre ocorreu em Portugal, no contexto da Restauração da Independência. A vítima foi o Secretário de Estado Miguel de Vasconcelos, personagem odioso aos olhos dos portugueses por colaborar com a Dinastia Filipina, na manhã do dia 1 de dezembro de 1640, atirado das janelas do Paço da Ribeira para o Terreiro do Paço.

[Retirado da Wikipédia]

* Mais imperial(ista)  que a Troika, só mesmo o Governo.




20 setembro, 2012

Serviço público, será isto?


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Olho a página 12 do JN, para a foto do pai da juíza da Anadia que assassinou o genro quando tinha a filha  deste último [e sua neta] ao colo, e pergunto-me que futuro terá a Justiça portuguesa se o presente nos dá exemplos tão cruéis e vergonhosos como este? Só de olhar para o sorriso cínico da besta, ficamos com a sensação de estar na presença - não de uma pessoa -, mas de qualquer coisa capaz de matar a sangue frio, só porque se sente protegido por um sistema de justiça corrupto, como nem no tempo de Salazar existiu. E a vontade que dá ao ver isto, é retribuirmos na mesma moeda, fazendo aquilo que os tribunais, em casos como este, tardam em fazer, ou não fazem mesmo. É demais, porra!

Mas que Democracia é esta, senhores? Tanta farsa, tanta gente a brincar ao sério, usando o país como um imenso palco de teatro, para nos oferecer espectáculos de gosto macabro, sem sequer os termos pedido? Socialmente, continuamos a valorizar demais [eu, nem por isso] o papel dos media, talvez porque somos incapazes de perceber como somos ludibriados com o que lemos na página, ou no programa seguinte, sujeitando-nos a ser tratados por mentecaptos e persistindo em viver com esta absurda contradição.

Se a hipocrisia não fosse tão óbvia e crónica, como mostrarei a seguir, talvez pudéssemos confiar um pouco mais no que os jornais dizem, mas ela existe, está lá escarrapachada. A título de exemplo, reproduzamos então o que vem  na página 10 do mesmo JN:  

"Dupla sacou dinheiro a desempregados que queriam vida melhor". "Cobraram por seguros, vistos e consultas médicas a fingir". E, em letras garrafais: "BURLAM CENTENAS COM FALSOS EMPREGOS NO ESTRANGEIRO" . O autor da notícia, convém citá-lo, é Nuno Miguel Maia, o mesmo jornalista que acompanhou com obsessão inusitada o processo Apito Dourado, particularmente centrado em Pinto da Costa...

Caso a referida notícia não comportasse de facto doses maciças de cinismo, até podia ser considerada  um louvável serviço de prevenção pública. O problema, é que folheando as páginas dos anúncios, verificamos que o JN usa a regra do Frei Tomás, ["olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço"], hipotecando a autenticidade da notícia anterior, visto não abdicar de publicitar anúncios de oferta de emprego sem a mínima credibilidade [como os acima exemplificados],  passíveis de contribuir para a propagação de fraudes idênticas àquelas que noticiara, empurrando assim muita gente para ratoeiras que a pode até desgraçar. Isto, só para não falar do dinheiro que o JN recebe com os anúncios dedicados à prostituição [só hoje, dedicou-lhe 5 páginas!], que ainda por cima é uma actividade "proibida" em Portugal [tal como foi o aborto]. 

Se estes comportamentos obedecem à ética, ou ao zelo pela segurança dos cidadãos, então estamos conversados... 

PS-Remeti hoje mesmo este artigo para o JN , Semanário Grande Porto, e Porto Canal. A Bem da Nação! 

19 setembro, 2012

É de Mulher!

Maria Teresa Horta
O Ronaldo, ficou triste por ser multimilionário e por não o deixarem ser multibilionário. Ficou triste, por ele próprio ter cultivado a imagem de rapaz arrogante, invejoso até  [é só rever a forma como reagiu à entrega do prémio de melhor jogador do mundo a Iniesta], e por saber que há quem não aprecie o seu hábito patético de olhar para as câmaras de televisão.

Eu não peço tanto. Pela parte que me cabe, o que me entristece é viver num país onde poucas pessoas se aproveitam, muitas das quais gozando de previlégios e de estatutos da mais alta importância [imerecidos], quando eu, conhecendo-os como os conheço, nem sequer lhes confiava o meu cãozinho [se o tivesse].

Entristece-me [e muito], é que seja preciso tanta afronta, tanto derreter de salários, tanto saque às pensões de reforma, aos subsídios, ao aumento de impostos, para que o povo se tenha decidido a reagir. E mesmo assim com mansidão... 

Já me conforta um pouco saber que ainda há gente que dá algum valor, ao valor de ser pessoa. Como Homem, envergonha-me de certa maneira que seja uma mulher a ter a honra de dar um sinal de dignidade à sua existência. Essa mulher, é escritora, e chama-se Maria Teresa HortaFoi distinguida com o prémio D. Dinis por um romance que escreveu, cabendo a entrega do prémio ao 1º.ministro Passos Coelho, mas recusou-se a recebê-lo...

«Não poderia, com coerência, ficar bem comigo mesma, receber um prémio literário que me honra tanto - cujo júri é formado por poetas, meus pares mais próximos - das mãos de uma pessoa que está empenhada em destruir o nosso país».  «Sempre fui uma mulher coerente, sempre lutei pela liberdade e pelos direitos dos trabalhadores»


18 setembro, 2012

Ai Jesus!

José M. Meirim [jurista, benfiquista, mas... honesto]
1. No dia 4, a secção profissional do Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tomou uma decisão disciplinar relativa ao treinador Jorge Jesus, por declarações proferidas, dirigidas a um árbitro assistente, em Março deste ano, no final de um jogo que opôs o Benfica e o FC Porto. O treinador foi sancionado com 15 dias de suspensão e multa de € 1500.Esta decisão foi muito glosada por comentadores desportivos e ainda por alguns juristas, entre os quais eu numa rádio nacional.

2. Luís Sobral - no site MaisFutebol - referia a brandura do castigo, a demora e a ineficácia da decisão. Falou do CD como uma aldeia do futebol e aditou um juízo negativo aos termos do voto de vencido do presidente do CD. Para Bruno Prata o castigo é um escândalo e o presidente do CD devia demitir-se, visto o tal voto de vencido ser entendido como um "ataque" ao árbitro assistente. Ricardo Costa - ex-presidente da Comissão Disciplinar da Liga - concordou com o comunicado do FCP, quanto à demora e ineficácia da decisão. Mas foi mais longe. Enfatizou o escândalo que representa o facto de a FPF - bem como outras federações, aditamos - não tornar públicas as decisões dos seus órgãos jurisdicionais, como impõe a lei. Escândalo, só talvez superado pela inacção do Estado em fiscalizar esta matéria e repor a legalidade. Não é uma birra, uma mera formalidade que se deixa de cumprir. Publicitar as decisões e seus fundamentos, tem a ver com o Estado de direito, com a protecção da confiança dos agentes desportivos, com a transparência do agir de tais órgãos no exercício de poderes públicos. Obrigado Bola Branca. Obrigado Rádio Renascença por ter permitido o acesso à decisão, coisa que a FPF e o Estado não deixam.

3. Muitos dos leitores sabem que o meu mundo é cinzento. Posso ter ou não razão, pode a minha opinião merecer ou não crédito. Certo é que ela não é encarnada, verde ou azul. E também não é laranja ou cor-de-rosa. É cinzenta como o Direito. Dito isto, esta decisão - podia ser Ai Pereira ou Ai Pinto -, merece ser vivamente criticada, em particular o voto de vencido do presidente do CD. Alguma cautela se impõe - embora não sejamos ingénuos -, nas críticas quanto à medida da pena e ao tempo da decisão. Impõe-se celeridade na justiça. Desportiva ou outra. Decidir devagar só pode conduzir a situações como esta.

4. O que nos deixa atónitos são os termos e o conteúdo do voto de vencido do presidente do CD. Com o devido respeito - não exageremos aqui -, parece que estamos perante uma painel daqueles que as televisões nos oferecem para discutir - cada um com a sua camisola de clube - se houve ou não grande penalidade ou fora de jogo, e não a ler um texto de um presidente de um órgão disciplinar de uma federação. Há expressões totalmente inadmissíveis: "Dessa falta, muito grave e indiscutível [do árbitro assistente], resultou a vitória do clube visitante e a consequente vitória do campeonato, por parte do clube que beneficiou daquele erro." Como é que é? Um resultado alcançado à 21.ª jornada, de 30, em que o FC Porto passou a ter três pontos de avanço? Como é possível afirmar isto, não sendo um mero adepto em discussão de café? Mais: "O árbitro em causa tinha todas as condições para ver a falta e tinha a obrigação funcional de o fazer, e não fez, por motivações que só ele sabe." Mais ainda: "Isto é, o treinador, que era um dos grandes ofendidos do erro cometido, passou, por artes mágicas, a arguido e, nessa qualidade, punido disciplinarmente..." E o abuso das reticências ao longo do texto.

5. A "coisa" não vai acabar bem. Não pode acabar bem, independentemente da nossa vontade. Toda e qualquer decisão deste CD - profissional - está, a partir de agora, coberta por um indelével manto de suspeita. 


josemeirim@gmail.com

16 setembro, 2012

Manifestação e orgulho pífio

Multidão na Avenida dos Aliados, no Porto
Não sei se as manifestações contra o Governo [e a Troika] ultrapassaram as expectativas ou se ficaram muito aquém, o que sei, é que finalmente o povo decidiu sair à rua, mostrando que até os brandos costumes de que padece, tem limites. Gostava era de acreditar que toda esta súbita coesão popular não seja uma espécie de fogo fátuo, típico da decomposição de cadáveres, porque me parece que alguns só lá foram porque talvez pela primeira vez sentiram na pele o desconforto que outros andam a sentir há muito. Adiante...Vale mais tarde, que nunca.

Agora, teremos de ver se o impacto da manifestação terá repercussões significativas em futuras iniciativas do governo, ou se vai continuar tudo na mesma, e se o povo vai ter de recorrer a métodos menos civilizados para se fazer respeitar. Veremos.

Muito ainda há a mudar no nosso país, e não passa apenas pela requalificação dos políticos, passa por uma revolução de mentalidades.

Ontem, ao fim da tarde, quando assistia à final do campeonato da Europa de Hóquei em Patins, passei por sentimentos diferentes. Confiante, numa primeira fase em que a selecção nacional entrou destemida e muito concentrada, trocando a bola com rapidez, com desmarcações rápidas e sempre na direcção da baliza, que lhe renderam naturalmente uma vantagem de 2 golos, e uma outra, expectante, onde, pela enésima vez, não soubemos superar os nossos ancestrais complexos de inferioridade com os espanhóis, deitando a perder um campeonato que tivemos nas mãos, em mais do que uma ocasião.

E por que é que apresento o Hóquei para dizer que precisamos de alterar a mentalidade? Porque este foi o exemplo mais recente que tinha mais à mão para mostrar, mas bastava recuar um bocadinho no tempo para apresentar muitos outros. E não é difícil explicá-lo.

Comecemos pelo jogo. Enquanto nós, nos acomodamos à parca vantagem de 2 golos, naquele tradicional fazer render de peixe que nos tem sido fatal noutros momentos, os espanhóis continuaram a acelerar sempre com ataques perigosos na direcção da nossa baliza até chegarem ao empate [2-2]. Isto, acompanhado pelos comentários conformistas dos repórteres e convidados de serviço, que não se cansavam de elogiar a equipa nacional, aplaudindo a contenção de bola a segurar o empate, dado este ser "suficiente" para podermos vencer o campeonato.

Enquanto eu me preocupava com a tal contenção de bola dos portugueses, por haver ainda muito jogo pela frente, e por ver os espanhóis sempre perigosos e a acelerar, roubando muitas vezes a bola aos nossos jogadores [coisa que não aconteceu até chegarmos aos 2-0], os comentadores achavam a postura "táctica" dos portugueses correcta e  muito inteligente, e gabavam-se disso. Felizmente para mim, que possuo anti-corpos suficientes para resistir a este patriotismo de sarjeta, previ o que acabou por acontecer duas vezes. Uma, quando estávamos com o resultado em 3-3, que nos era favorável mas extremamente perigoso, e outra, por incrível que pareça, a poucos segundos do fim, incompreensivelmente acomodados a um 4-4 no fio da navalha, resultando a tão louvada estratégia na perda de um campeonato que, por COBARDIA do seleccionador deixámos fugir, e em nossa casa!

Foi este tipo de postura, muito típica dos lisbonários, fanfarrona e prematura [mas pelo que se vê, contagiante] acompanhada pela voz "nacionalista" de um público pobreta mas alegreta, que inexplicavelmente [ou talvez não] esqueceu os objectivos e as razões das manifestações realizadas durante a tarde, pondo-se a cantar o hino nacional, antes do jogo terminar, que me desgostou e fez aplaudir a selecção espanhola no fim do jogo, pois foi de facto a única que lutou e quis ganhar. Como ganhou, tanto o campeonato, como o jogo.

Só espero, embora me enoje tal comportamento, é que estes comentadores se associem àqueles que abrem os nossos telejornais publicitando o Benfica, tratando-o sempre como campeão e remetendo o verdadeiro ao silêncio, continuem no activo, porque chegada a hora da verdade, que é o fim do campeonato, o campeão da verdade desportiva e do campo, será muito provavelmente, outro. Como de costume, aliás.

Ontem, teria orgulho, se fosse espanhol.