16 setembro, 2012

Manifestação e orgulho pífio

Multidão na Avenida dos Aliados, no Porto
Não sei se as manifestações contra o Governo [e a Troika] ultrapassaram as expectativas ou se ficaram muito aquém, o que sei, é que finalmente o povo decidiu sair à rua, mostrando que até os brandos costumes de que padece, tem limites. Gostava era de acreditar que toda esta súbita coesão popular não seja uma espécie de fogo fátuo, típico da decomposição de cadáveres, porque me parece que alguns só lá foram porque talvez pela primeira vez sentiram na pele o desconforto que outros andam a sentir há muito. Adiante...Vale mais tarde, que nunca.

Agora, teremos de ver se o impacto da manifestação terá repercussões significativas em futuras iniciativas do governo, ou se vai continuar tudo na mesma, e se o povo vai ter de recorrer a métodos menos civilizados para se fazer respeitar. Veremos.

Muito ainda há a mudar no nosso país, e não passa apenas pela requalificação dos políticos, passa por uma revolução de mentalidades.

Ontem, ao fim da tarde, quando assistia à final do campeonato da Europa de Hóquei em Patins, passei por sentimentos diferentes. Confiante, numa primeira fase em que a selecção nacional entrou destemida e muito concentrada, trocando a bola com rapidez, com desmarcações rápidas e sempre na direcção da baliza, que lhe renderam naturalmente uma vantagem de 2 golos, e uma outra, expectante, onde, pela enésima vez, não soubemos superar os nossos ancestrais complexos de inferioridade com os espanhóis, deitando a perder um campeonato que tivemos nas mãos, em mais do que uma ocasião.

E por que é que apresento o Hóquei para dizer que precisamos de alterar a mentalidade? Porque este foi o exemplo mais recente que tinha mais à mão para mostrar, mas bastava recuar um bocadinho no tempo para apresentar muitos outros. E não é difícil explicá-lo.

Comecemos pelo jogo. Enquanto nós, nos acomodamos à parca vantagem de 2 golos, naquele tradicional fazer render de peixe que nos tem sido fatal noutros momentos, os espanhóis continuaram a acelerar sempre com ataques perigosos na direcção da nossa baliza até chegarem ao empate [2-2]. Isto, acompanhado pelos comentários conformistas dos repórteres e convidados de serviço, que não se cansavam de elogiar a equipa nacional, aplaudindo a contenção de bola a segurar o empate, dado este ser "suficiente" para podermos vencer o campeonato.

Enquanto eu me preocupava com a tal contenção de bola dos portugueses, por haver ainda muito jogo pela frente, e por ver os espanhóis sempre perigosos e a acelerar, roubando muitas vezes a bola aos nossos jogadores [coisa que não aconteceu até chegarmos aos 2-0], os comentadores achavam a postura "táctica" dos portugueses correcta e  muito inteligente, e gabavam-se disso. Felizmente para mim, que possuo anti-corpos suficientes para resistir a este patriotismo de sarjeta, previ o que acabou por acontecer duas vezes. Uma, quando estávamos com o resultado em 3-3, que nos era favorável mas extremamente perigoso, e outra, por incrível que pareça, a poucos segundos do fim, incompreensivelmente acomodados a um 4-4 no fio da navalha, resultando a tão louvada estratégia na perda de um campeonato que, por COBARDIA do seleccionador deixámos fugir, e em nossa casa!

Foi este tipo de postura, muito típica dos lisbonários, fanfarrona e prematura [mas pelo que se vê, contagiante] acompanhada pela voz "nacionalista" de um público pobreta mas alegreta, que inexplicavelmente [ou talvez não] esqueceu os objectivos e as razões das manifestações realizadas durante a tarde, pondo-se a cantar o hino nacional, antes do jogo terminar, que me desgostou e fez aplaudir a selecção espanhola no fim do jogo, pois foi de facto a única que lutou e quis ganhar. Como ganhou, tanto o campeonato, como o jogo.

Só espero, embora me enoje tal comportamento, é que estes comentadores se associem àqueles que abrem os nossos telejornais publicitando o Benfica, tratando-o sempre como campeão e remetendo o verdadeiro ao silêncio, continuem no activo, porque chegada a hora da verdade, que é o fim do campeonato, o campeão da verdade desportiva e do campo, será muito provavelmente, outro. Como de costume, aliás.

Ontem, teria orgulho, se fosse espanhol.


3 comentários:

  1. Rui, é óbvio que este sinal tem de ter consequências. Ou mudam as políticas ou as manifestações de ontem serviram apenas para aliviar tensões e descarregar frustrações.
    Espero também, embora com total cepticismo, que quem de direito, o presidente da república, tenha percebido o que significou o dia de ontem.

    Abraço

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  2. Hoje a mobilização de pessoas é da noite para o dia, coisa que antigamente não era bem assim.
    Para mim, esta manifestação ultrapassou as expectativas! muita gente, muita juventude. Espero que não caia em saco roto futuramente este tipo de mobilização.

    Agora eu continuo muito desconfiado que tudo isto vá dar alguma coisa. O sr Portas está-se a borrifar para os trabalhadores, reformados, pensionistas, está mais uma vez a ser o populista a jogar para não perder votos! quem não o conhecer que o compre.
    O P.República é o sendeiro que nós já conhecemos; portanto, o Incompetente 1º ministro apesar de ser odiado, vai manter quase tudo na mesma. Os juízes vão receber os seus subsídios, fazem parte da força deste país. Mesmo que se vá para o tribunal constitucional, não sei se vai dar alguma coisa!... também sinceramente, já não acredito nesta gente. Esta trampa está toda baralhada para prejudicar os portugueses...

    Quanto ao Hóquei em Patins vou ser breve, como diz o povo: morremos na praia, é a nossa sina quando jogamos contra a Espanha.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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  3. A cronica do MST "Dois dias na minha cidade" está fantastica e pode ser divulgada neste magnifico blogue ?

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