Ganha migalhas...
Quem se contenta com fatias,
Recebe fatias...
Mas quem quiser o pacote completo,
Terá que ir à luta,
Pois este não vem de mão beijada!
neli araujo
2009
O Porto esteve sempre ligado a acontecimentos de maior relevo da História nacional. Na génese do nome do país (Portucale)foi berço do Infante D. Henrique e fiel depositário do coração de D. Pedro IV em homenagem aos tripeiros pelo contributo prestado à causa liberal. Factos históricos que, repetidamente os governos centralistas parecem desprezar. É tempo de exigirmos o respeito que nos é devido.
Elisa Ferreira qualifica esta equipa de excepcional. E nós, teremos razões sólidas para ter a mesma opinião?
Pela parte que me diz respeito, há um homem que por esta altura se encostou a "apoiar" a candidatura de Elisa Ferreira, em quem não deposito a mínima confiança, chama-se Renato Sampaio. É uma nulidade, o verdadeiro yes man, sem qualquer interesse para o Porto. Elisa Ferreira pode agravar a sua já titubeante candidatura permitindo a colagem deste político carreirista, sem fibra nem ideias, à sua imagem, ainda credível.
Pedro Abrunhosa, não é um Zeca Afonso, um José Mário Branco, nem um Adriano Correia de Oliveira, e outros mais, da década de setenta. Nem tinha de ser. Os tempos são diferentes, e a necessidade de cantores de intervenção à causa da Liberdade, aparentemente,"não faria" muito sentido. Mas faz sentido, para outras causas, como a Justiça e a qualidade da Democracia. Pedro Abrunhosa não se afirmou na defesa destas causas com a irreverência e a frontalidade precisas. Limitou-se a dar umas entrevistazinhas a criticar o Rui Rio, e pouco mais. Não foi, o que podia ter sido, como muitos outros não foram. Hoje, todos temem falar de mais, ninguém está disponível para correr riscos...
Acho positivas as escolhas de Teresa Lago, de Ricardo Pais , Alexandre Quintanilha. e Pedro Burmester Todos os outros, exceptuando o actual ministro das Finanças, são para mim ilustres desconhecidos. Espero que Elisa Ferreira os conheça melhor do que parece conhecer Renato Sampaio, caso contrário, a lista «excepcional» vai ficar curta...
Mas, o lado cinzento do cenário, é que se Elisa ganhar [o que me agradaria], e o PS vencer as próximas legislativas, tenho imensas dúvidas que ela possa fazer o que perspectiva para o Porto. Nem sei se isso se fará notar muito, caso seja o PSD a vencê-las...
Assim mesmo, prefiro esse quadro, a continuar a ver à frente dos destinos do Porto um bota de elástico como o Rui Rio.
Os técnicos do Instituto Nacional de Estatística têm que criar mais um índice. A Taxa de Roubo. Um indicador destes devia ser periodicamente elaborado e divulgado em conjunto com os níveis de desemprego, de inflação ou do Produto Interno Bruto. Com uma Taxa de Roubo incluída no conjunto das funções estatísticas que já compilamos, teríamos uma imagem muito mais clara do Estado da Nação.
Se houvesse Taxa de Roubo, os noticiários da semana passada, para além dos números do PIB e do Desemprego, teriam incluído que no primeiro trimestre a Taxa de Roubo em Portugal se tinha mantido entre as mais elevadas do mundo industrializado. Os analistas podiam depois ir à TV para nos desagregar a Taxa de Roubo (TR) nos seus componentes mais expressivos, o NSP (Nível de Sonegação Pura), que inclui tudo o que seja trocas em dinheiro vivo em malas, e o GDC (Grau de Desfalque Contabilizável), que descrimina os montantes em off shore e os activos já transformados (quintas, apartamentos, carros, barcos e acções não cotadas na Bolsa que valorizem mais de um centena de pontos em recompra).
Assim, ao sabermos que já temos mais de meio milhão de desempregados e que a economia nacional continua a soluçar em níveis anémicos, ficaríamos a saber também que o grau de gatunagem nacional continua intocado e que, apesar da crise, de facto, a nacional roubalheira subiu em termos homólogos quando comparada com trimestres passados. Ficaríamos a saber que a volumetria do roubo em Portugal é das mais imponentes na Zona do Euro e que, contrariando o pessimismo de Pedro Ferraz da Costa quando disse ao Expresso que Portugal não tinha dimensão para se roubar tanto, há perspectivas para a Taxa de Roubo continuar crescer.
A insistência do Partido Socialista nos mega-projectos que, antes de começar já assinalam derrapagens indiciadoras de que a componente PPF (Pagamentos a Partidos e Figurões) vai crescer muito, é uma garantia de uma Taxa de Roubo que rivaliza com qualquer democracia africana ou sultanato levantino. No PSD, a presença de candidatos com historial em posições elegíveis e em ternurenta proximidade com a líder, sugere que as boas práticas que têm sustentado a Taxa de Roubo vão continuar nos eventuais Ministérios de Ferreira Leite.
Neste ambiente de bagunça ideal, em que se juntam as possibilidades de grandes obras públicas com o frenesim eleitoral, os corretores podem mesmo, à semelhança do que se passa no mercado de capitais, criar valor com Futuros baseados nos potenciais de subida da Taxa de Roubo Portuguesa. Por exemplo a inclusão de António Preto nas listas do PSD funciona como uma espécie de colateral de garantia de que os fluxos de dinheiros partidários continuam com todas as perspectivas de crescimento. Mudam as malas, mas continua tudo na mesma.
Pode-se pois criar à confiança um produto derivado colateralizado de alto rendimento e risco relativo, porque os dois grandes partidos obviamente confiam que a ingenuidade do eleitor português se mantenha. Julgo que, tal como Ferraz da Costa, também Henrique Medina Carreira foi excessivamente prudente ao comparar o Portugal político a um "grande BPN".
Acho que com TGV, auto-estradas, Freeport e acções não cotadas da sociedade Lusa de Negócios a render lucros de centena e meia de pontos, Portugal é uma holding de rapinagem que faz o que se passou no BPN parecer a contabilidade de uma igreja mórmon.
Nota do RoP
Por indisponibilidade de tempo, não publiquei este artigo de Mário Crespo com a devida oportunidade. Pela pertinência do tema, creio que vale a pena mesmo assim lê-lo, ou até, relê-lo.