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31 dezembro, 2010
30 dezembro, 2010
Os conselhos de Cavaco e os CTT's...
Parafraseando Manuel António Pina que diz no artigo abaixo publicado que a vida, é a vidinha, a cultura dos países sul europeus tem sido quase sempre dominada por uma herança de valores completamente perversa e oportunista, sendo Portugal, talvez a par da Itália e da Grécia, aquele que "melhor" segue essa doutrina.
Cavaco Silva vai por isso ser reeleito Presidente da República, não apenas porque uma fatia maioritária da população sofre do mal de comer e calar, mas também porque desconfia da concorrência. Eu diria que o Povo tem razões de sobra para reagir assim, mas também não pode lavar as mãos das suas próprias responsabilidades.
A experiência pessoal que aqui relatei há umas semanas, quando fui aos CTT e tive de esperar uma hora para ser atendido, é um caso paradigmático que devia fazer pensar as pessoas antes de seguirem os insensatos "conselhos" de Cavaco Silva de comer e calar, que ao próprio poderão servir, mas que em nada contribuirão para alterar o tal atavismo cultural de de que Manuel A. Pina se queixava, e com toda a razão.
Hoje mesmo voltei a passar por uma situação idêntica, também nos CTT, desta vez para levantar uma carta registada, numa outra estação, mais pequena, mas ainda assim com lugares vagos no balcão de atendimento. Resultado: quem paga as favas [e o resto], são os utentes. Voltei a protestar, embora não tenha apresentado a respectiva queixa no Livro de Reclamações, porque se a consequência não fôr além de um simpático pedido escrito de desculpas com promessas vagas de futuras melhoras, de pouco me serve esse recurso. Podemos por isso estabelecer um paralelo entre entre este tipo de mecanismos de "defesa" do consumidor com o voto eleitoral. Ambos são inconsequentes, para não dizer ridículos. É isto que Cavaco defende, e é este tipo de gente que lidera o país...
Apesar de tudo, a lição que devemos extrair destas inutilidades cívicas não é desistir, é continuar a reclamar, se for preciso partindo a loiça toda, berrando, vociferando até, porque o país, ou melhor, as elites do país, não estão preparadas para responder a reacções civilizadas, porque são manifestamente hipócritas e mal formadas. Talvez só à porrada levem a sério uma reclamação.
Provem-me o contrário.
Provem-me o contrário.
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Ps-Se querem um bom conselho não gastem um cêntimo na compra daqueles artigos de papelaria/livraria que os CTT's têm à venda. É que só servem para piorar o serviço de atendimento da sua principal função. Além disso, dão cabo do negócio aos pequenos comerciantes da respectiva área.
Fazer pela vidinha
O "sensato" conselho de Cavaco Silva para comermos e calarmos de modo a que "os nossos credores" não se zanguem connosco e nos castiguem com juros cada vez mais altos espelha uma cultura salazarenta de conformismo que, sendo muito mais antiga que Cavaco, ele representa na perfeição, até nos seus, só na aparência contraditórios, repentes de arrogância.
Quando Cavaco nos recomenda que amouchemos pois "se nós lhes [aos 'nossos credores'] dirigirmos palavras de insulto, a consequência será mais desemprego para Portugal", tão só repete, adaptada à actual circunstância, a "sensata" e canónica fórmula do "Manda quem pode, obedece [ no caso, cala] quem deve".
Trata-se de uma atávica cultura em que a vida é vidinha, a crítica deve sempre ser "construtiva" e colaborante, os trabalhadores, por suave milagre linguístico, se tornam "colaboradores" (e se colaboracionistas melhor ainda) e servilismo e acriticismo são alcandorados a virtudes cívicas. Porque é assim que se faz pela vidinha, de joelhos.
Estejamos, portanto, gratos às "companhias de seguros, fundos de pensões, fundos soberanos, bancos internacionais e cidadãos espalhados por esse mundo fora" que nos emprestam dinheiro a juros usurários, pois eles apenas querem o nosso bem. E, como o bom Matateu numa famosa entrevista a Baptista Bastos, digamos tudo o que quisermos, excepto dizer mal, "porque [cito de cor] Matateu não diz mal de ninguém".
[Manuel António Pina / JN]
29 dezembro, 2010
Leixões quer inundar o Norte com turistas a partir do novo terminal
Cruzeiros
O porto de Leixões quer seguir (e incrementar) o sucesso do Aeroporto Sá Carneiro e tornar-se numa importante porta de entrada de turistas na região. No próximo ano, 15 paquetes de grandes dimensões vão estrear o novo terminal de cruzeiros.
Taxas aumentam
As obras de construção do cais de atracagem para navios de cruzeiro estão praticamente concluídas. A estrutura tem 340 metros de comprimento e 18 metros de largura, estando preparada para receber navios com 300 metros de comprido, de fora a fora
Entre o novo cais e o molhe norte haverá um porto de recreio para 170 embarcações e um cais fluvino-marítimo onde poderão acostar os barcos que fazem cruzeiros fluviais no rio douro
O novo edifício do terminal de passageiros vai ser construído na área do aterro visível na fotografia ao lado, erguendo-se, nos seus cinco pisos, acima da cota do molhe sul. A cobertura terá um anfiteatro, virado para Matosinhos
Matos Fernandes, presidente da APDLa Conta-se em metros, poucos, o que falta de obra para terminar o novo cais de atracamento de cruzeiros que está a ser construído no molhe sul do Porto de Leixões. Num exemplo pouco habitual, no sector das obras públicas, no que ao cumprimento de prazos e orçamentos diz respeito, a infra-estrutura vai estar pronta em Março, como contratado. Desaparecerá, assim, uma limitação deste porto, que até agora não podia receber os grandes cruzeiros e passa a poder acolher paquetes com um máximo de 300 metros de fora a fora e fundos até dez metros. E já esta semana, a Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL) aprova os termos do concurso internacional para a construção do arrojado terminal de passageiros, um edifício que, em 2013, vai mudar a face sul do porto e de Matosinhos.
Leixões prepara-se para entrar no campeonato dos grandes cruzeiros do qual tem estado arredado, apesar de, este ano, com as suas limitações, ter sido porto de escala de 50 paquetes de dimensões médias. Estima-se que o novo terminal venha a movimentar 110 mil passageiros por ano e é grande a expectativa entre autarquias, operadores turísticos e responsáveis pelo sector em relação ao impacto que isto terá na economia regional, que, no turismo, está a crescer há 17 meses consectivos, como sublinha o presidente da Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal. Receber turistas equivale a exportar serviços e, na região mais exportadora do país, depois do sucesso do aeroporto que, em cinco anos, após avultadas e muito criticadas obras de renovação, tem batido metas e acaba de ultrapassar os cinco milhões de passageiros transportados num ano, os olhos viram-se para esta nova porta, marítima, e para as possibilidades de articulação entre as duas.
É Matos Fernandes, presidente da APDL, quem o assinala. "Com um aeroporto desta qualidade a minutos, Leixões pode ambicionar deixar de ser apenas o porto de escalas de cruzeiro que já é, para se tornar ponto de partida ou de destino de cruzeiros. O segmento do turnaround, assim chamado nesta indústria, tem um impacto maior na região, já que aumenta o período de permanência dos turistas, antes ou depois das viagens, com reflexos na economia local. A APDL, que criou uma equipa própria para "vender" no exterior o potencial do novo terminal e da região envolvente quer convencer primeiro os operadores de cruzeiros das suas qualidades como porto de escala, perspectivando que, a seguir, vão aparecer as propostas de turnaround.
Mesmo sem o edifício do terminal de passageiros - um projecto de Luís Pedro Silva, cujo desenho em espiral, com vários pisos, termina, na cobertura, com um anfiteatro virado para a cidade de Matosinhos -, os grandes barcos vão começar a chegar já em 2011. São 15, dos 65 cruzeiros previstos para o próximo ano em Leixões, aqueles que, até este momento, não poderiam fazer aqui escala por excederem, em dimensão e calado, a capacidade do porto. Em Maio, o Oceana, com os seus 261 metros, será o primeiro a testar as condições técnicas e, à chegada, os seus mais de dois mil passageiros vão encontrar um estaleiro disfarçado por enormes telas de PVC com imagens alusivas ao turismo no Norte. Serão recebidos numa estação provisória, "confortável", garante a APDL que está a negociar com os responsáveis alfandegários a possibilidade de escoar rapidamente as dezenas de autocarros com os turistas pela Via Interior de Ligação ao Porto de Leixões (dedicada à entrada e saída de camiões de mercadorias para as principais auto-estradas da região).
Diversificar oferta
Apesar de alguns receios quanto a esta convivência entre o bulício da chegada de um grande cruzeiro, com mais de duas mil pessoas, e as obras do edíficio - que "não podiam começar antes de terminado o cais, por falta de espaço para dois estaleiros", nota Matos Fernandes - é positiva a perspectiva dos operadores que já habitualmente trabalham com os paquetes que chegam a Leixões. António Diogo, da Welcome Portugal, empresa que se dedica ao acompanhamento dos turistas estrangeiros, contratando a fornecedores os pacotes de serviços que lhes oferece à chegada a Portugal, admite que as empresas com que trabalha venham a ganhar com o novo panorama de Leixões. Em duas mil pessoas, argumenta, os interesses são muito variados e a oferta de "experiências" em terra vai ter de ser muita e variada também, explica.
A explorar os nichos de interesses, com os special interest tours, António Diogo considera que vai ser preciso inovar na oferta, e puxar por áreas que diz estarem ainda pouco aproveitadas, como enofilia, a gastronomia, a arquitectura, o turismo de natureza. E continuar a apostar no Douro, cujos cruzeiros rio acima são dos "produtos com mais sucesso". Não é por acaso que no cais já praticamente concluído, no lado oposto ao destinado aos paquetes, há uma zona de atracagem dos barcos-cruzeiro do Douro que podem, querendo os operadores, começar a partir deste ponto a sua viagem.
É de diversificação de oferta que fala também Fernando Baptista, da VT-Viagens, consciente de que o tipo de serviço que oferece aos navios que hoje aportam a Leixões não pode ser replicado nos grandes paquetes agora esperados. "Não vamos conseguir pegar em 2500 pessoas e pô-las todas a visitar o Porto. É preciso canalizá-las para Braga, Guimarães, para o Douro", elenca, considerando, tal como António Diogo, que com as novas acessibilidades em auto-estrada, as quintas nesta região vinícola passam a ser um destino mais interessante para uma escala de um dia. Ambos assumem que o novo cenário poderá ajudar a gerar emprego a jusante, bem como aumentar a procura por guias. "Se chegar aqui um cruzeiro alemão, neste momento temos de os ir buscar a Lisboa", alerta o gestor da Welcome Portugal.
Melchior Moreira não só não contraria o discurso destes operadores como o reforça: O Norte tem sete produtos turísticos diversificados e, para além do city short breaks e do turismo de negócios, o turismo de natureza (o Gerês é o único parque nacional português), o religioso, o cultural e paisagístico, (o Porto e Guimarães, o Douro e o Côa foram classificados pela Unesco), o gastronómico e o turismo de saúde e bem-estar "podem ganhar com o incremento dos cruzeiros em Leixões", vinca. E promete promover em força esta nova valência, ao longo de 2011.
Se os impactes regionais estão à vista, bem mais perto do porto as expectativas não são mais baixas. Mesmo admitindo que não terá o grosso dos turistas que cheguem a Leixões, o presidente da Câmara de Matosinhos considera muito importante a mudança que se está a operar nas imediações do molhe sul. A próxima fase do projecto do terminal contempla, para além do edifício que segundo Guilherme Pinto "vai marcar a paisagem urbana", um conjunto de obras de integração urbanística que vão abrir o porto à cidade, a sul. E para além das vantagens óbvias para os matosinhenses, que vão passar a poder visitar esta área do porto, fica aberta uma porta para os turistas que não sigam nos tours para outros destinos na região: um desafio para Matosinhos, que se vende como o "restaurante" da área metropolitana e que vai tentar fixar estes passageiros e os muitos tripulantes em trânsito às dezenas de establecimentos das redondezas.
Mais a sul ainda, no Porto, a autarquia montou um grupo de trabalho com elementos da divisão da via pública, turismo, APDL, PSP e Polícia Municipal para, em conjunto com onze operadores turísticos que trabalham com os cruzeiros já previstos para Leixões em 2011, antever pontos de pressão no espaço urbano. "Estamos a falar de milhares de pessoas a utilizar o mesmo espaço, num curto período. A cidade tem que estar preparada", vinca Susana Ribeiro, Directora do Departamento Municipal de Turismo. Preocupados com a primeira imagem que o turista venha a ter do Porto, os responsáveis autárquicos estão a estudar os melhores percursos de circulação para os autocarros e, com o programa Vamos Receber à moda do Porto, tentam sensibilizar o comércio para as oportunidades de negócio que se abrem com a chegada de clientes com algum poder de compra. "Mas cada um deles deve saber também, fazer uma recomendação, vender a sua cidade, até a pensar num regresso", adverte Susana Ribeiro.
Quem conhece o sector, como Marta Sá-Lemos, contratada pela APDL para o marketing do novo terminal, diz que há muitos repetentes a fazer estas viagens em alto-mar. O que transforma esta vertente do turismo, de passagens curtas por um determinado lugar, numa oportunidade de fazer a promoção de uma cidade ou espaço regional para um possível regresso e até para visitas mais demoradas. Tal como já acontece com o serviço de mercadorias, Matos Fernandes considera que, no movimento de passageiros, Leixões tem que puxar pela região.
O certo é que, mesmo em tempo de crise, não se escutam vozes a contestar os 49 milhões de euros que estão a ser investidos no molhe sul de Leixões nos serviços para cruzeiros, complementados com uma nova marina para 170 embarcações de recreio e o já referido cais fluvino-marítimo para os barcos do Douro. Ao contrário do que aconteceu, no início do milénio, com as obras do Aeroporto - cujos resultados já fizeram esquecer as críticas de então.
A ajudar a este consenso está a integração, no Projecto do Parque de Ciência e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto. Entre instalações no lado de Leça, a acolher uma incubadora de empresas da chamada economia do mar, e o edifício do terminal de passageiros, que vai acolher a sede do Ciimar - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha - a UP está a transferir para Leixões as suas actividades ligadas a esta área, com proveitos futuros para a própria actividade portuária, acredita Matos Fernandes.
Esta integração agrada à Câmara de Matosinhos, que vê nascer no concelho um verdadeiro cluster de investigação na economia do mar, hoje tantas vezes referido como estratégico para o país, mas que Matosinhos traz há séculos presa à sua identidade, recorda Guilherme Pinto. A poucos metros do velho guindaste titã do molhe sul, exemplar raro da história da arqueologia industrial do século XIX, dezenas de investigadores vão assim partilhar o horizonte com os turistas que, em Maio, começam a chegar.
[Fonte: Público]
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