18 abril, 2014

Tenham uma Páscoa tranquila

O problema é deles?

(do JN)
Tinha 10 anos feitos há uma semana em 25 de Abril de 1974. Não tinha consciência política formada e nem sequer fiquei com uma história gira para contar na sempre popular pergunta "Onde estava no 25 de Abril?". Pelo meio da manhã fui forçada a regressar da escola por uma mãe preocupada com as filhas e com o abastecimento de conservas e água não fosse tudo aquilo dar para o torto.

Mas o meu crescimento ficou para sempre marcado pela ideia de que tinha havido um "antes", em que a liberdade de que sempre gozei nem sempre teria existido. Apenas isto. A ideia de um "antes" que não me preocupou durante muito tempo mas que me tornou curiosa sobre quem o teria vergado.

Os capitães de Abril! Associei-os sempre a uma gente corajosa que se sentiu transbordar e se sacudiu da letargia dominante correndo não só o risco da revolução mas também o da sublevação, o que na vida militar é ainda mais perigoso.

Claro que as chefias acabaram por honrar a revolução dos capitães libertando-a, a seu tempo, do seu controlo. A postura sábia e igualmente corajosa do general Eanes fechava para mim um ciclo bem resolvido da história contemporânea.
E hoje, como então, estas são as ideias que me ocorrem quando falo do 25 de Abril. Militares que, de verdade, nos protegeram e nos garantiram a liberdade.

Portanto, para mim, como provavelmente para muita gente, celebrar o 25 de Abril - maxime os seus 40 anos de história - não faz pura e simplesmente sentido sem a sua participação na cerimónia da Assembleia da República. Na AR precisamente e não noutro local qualquer. Pelo poder do povo que só esta instituição representa. Como dizia o general Eanes, não estaríamos sequer à volta deste infeliz episódio se não fossem os capitães de Abril. Ou seja, não é matéria de opinião. É um facto. E celebrar um facto sem os seus fautores é pura e simplesmente desonroso. Sobretudo quando se alegam obstáculos da mais pura intendência formal que só apoucam quem por detrás deles se esconde.

Não quero saber qual é a norma e não quero saber qual seria a excepção mas quero que se perceba por que é que se insiste num erro, numa descortesia, numa total falta de sentido de Estado. Um povo que não honra os seus heróis é um povo sem memória.

Os capitães não são os donos de Abril? Os capitães fazem exigências arrogantes? Ou os capitães podem fazer um discurso subversivo? Todos os que os impedem de falar nestas circunstâncias ficarão, bem me parece, sob suspeita da mais mesquinha tática político-partidária. Tenho pena que a presidente da Assembleia da República não tenha percebido que este não é de todo "um problema deles" mas sim um "problema nosso", do povo, que devia saber interpretar.

Este meu sentimento não é tributário de uma memória de Abril muito focada na figura dos capitães. Como sempre na vida, os heróis humanizam-se e comentem erros. E eu acho que os capitães andaram mal em não estar presentes na cerimónia da AR nos anos anteriores.

A razão invocada não cumpre. Os capitães são mais do que eles próprios e a política do Governo é válida porque legitimada pelo voto popular. Não concordar com as orientações governativas de cada momento e por isso não marcar presença (segundo a informação veiculada) é confundir os cidadãos com as personalidades e a política com a liberdade.

Não os deixar falar - numa data tão excecional - é pura e simplesmente falta de respeito e essa tem de ter resposta à altura. Eu até prescindiria de qualquer outro discurso. E parece-me que não seria a única.

Em vez de meia dúzia de iniciativas, quase todas e como sempre em Lisboa, a Assembleia teria feito melhor se para além de nos pôr a ouvir os capitães nos mobilizasse a todos a repetir o extraordinário 1.º de Maio de 1974. Não para protestar, não para aplaudir. Apenas para celebrar com gente ao lado, em todas as cidades do país, a festa da rua, dos portugueses que apesar de tudo estão gratos e lembram bem quem, por eles e para eles, vergou março.

Nota de RoP:

Não canso de repetir: se o Partido Socialista, que, ideologicamente  se intitula como partido de esquerda (moderada), ainda não foi capaz de mostrar o que vale sempre que foi Governo, o PSD e agora o CDS, ainda valem menos. Com agravantes para estes dois partidos: ideologicamente, ambos desprezam a importância do papel social do Estado, o que, dito de uma forma mais honesta, significa que desprezam os mais carenciados, cuja existência, como se sabe, é historicamente potenciada quando é a direita a governar. Por isso, não acredito que haja um pingo de sinceridade quando falam positivamente sobre o 25 de Abril. Por isso, falam com a inconsciência dos elitistas, como falou a Presidente da Assembleia da República. Alguns, têm o descaramento de dizer que o 25 de Abril não é dos militares, quando o mais digno acto dos militares além da própria revolução, foi precisamente terem devolvido o poder à sociedade civil. 
Quem não percebe isto só pode estar de má fé.

16 abril, 2014

Duarte Lima libertado...ou a suprema vergonha da (in)justiça portuguesa

Duarte Lima libertado
Duarte Lima, o Santo do PSD


O tribunal decretou, esta quarta-feira, a libertação de Duarte Lima, que se encontrava em prisão domiciliária, por considerar que o perigo de fuga está diminuído, confirmou ao JN o advogado Raul Soares da Veiga.

"Houve reapreciação da medida de coação e considerou-se que o perigo de fuga e outros do género estão diminuídos", disse Raul Soares da Veiga à agência Lusa, que se mostrou de acordo com a decisão judicial, embora a tenha considerado "tardia".

O advogado disse ainda que Duarte Lima, que se encontrava em casa com pulseira eletrónica, já foi notificado da decisão.
Em meados de março, a 7.ª Vara Criminal de Lisboa manteve a prisão domiciliária aplicada a Duarte Lima, um dos seis arguidos em julgamento no processo relacionado com aquisição de terrenos no concelho de Oeiras, através de empréstimo concedido pelo BPN.

Duarte Lima está acusado de três crimes de burla qualificada, dois crimes de branqueamento de capitais e um crime de abuso de confiança na forma agravada, esteve em prisão preventiva até maio de 2012, altura em que foi alterado o regime.

Nota de RoP:
A Justiça em Portugal está há uns anos a esta parte numa maratona incansável para provar ao mundo como é humilhante ser cidadão português.



13 abril, 2014

Porto Canal, a parolice bajuladora em forma de televisão

Sim, meus caros, isto do Porto Canal já parece uma obssessão, mas não é. É o que os meus olhos vêem.

Nunca me passou pela cabeça que o Porto, depois de ser durante décadas silenciado pela toda poderosa máquina de comunicação centralista, e de andar a queixar-se entre muros de não ter uma "voz" que se fizesse ouvir no país, fosse capaz de desperdiçar essa ferramenta preciosa que é dispor de um canal de televisão para com ele poder contribuir para a sua autonomia.

A improvabilidade de tal desperdício cresceu, sobretudo  depois de ver fracassados vários projectos de televisão, como a NTV e os sucedâneos malabaristas que os levaram à extinção (RTPN), porque nem sequer admiti a hipótese de o Porto deixar fugir a oportunidade uma terceira vez. Nasceu assim o Porto Canal (em 2006), através do grupo espanhol MediaPro que em 2011 vendeu ao FCPorto 97% da quota da sua participada Media Luso. A partir daí, convenci-me que não íamos outra vez deixar escapar a oportunidade de nos afirmarmos com um projecto de televisão a valer. Pura ilusão.

Pura ilusão minha, mas desculpável, porque acreditei que com o FCPorto como principal accionista, e a sua provervial organização,  nada mais podia falhar. Para azar daqueles que, como eu, andam saturados do centralismo, este forte investimento do FCPorto coincidiu com uma época desastrada do clube, quer em termos de gestão do plantel e do treinador como em resultados desportivos e financeiros. Se no clube as coisas já não iam bem, seria estranho que funcionassem no canal, ainda que não fosse impossível. Mas para que tal pudesse acontecer teria de haver dinheiro e aplicá-lo bem, e na falta dele, haver no mínimo alguma criatividade e competencia, coisa que está a faltar.

Tenho consciência que organizar uma televisão sai caro, não é fácil e contempla audiências de gostos e exigências diversos, mas não tenho capacidade para compreender a necessidade de copiar as futilidades programáticas que se fazem em Lisboa e que são do conhecimento de todo o país. Júlio Magalhães como Director Geral lá saberá, mas eu não sei o que é que o Porto terá a ganhar em conhecer a biografia de actores e figuras públicas de Lisboa já conhecidas em todo o país.  Não tenho nada contra essas pessoas, mas o que pergunto é se no Porto e nessa região demograficamente intensa como é o Norte de Portugal não existem protagonistas susceptíveis de merecer a atenção do Porto Canal. 

Se Júlio Magalhães considera mediaticamente interessantes os colunáveis, essa gente das revistas côr-de-rosa, e se não as encontra no Norte e no Porto, então que se atreva a voar mais alto e nos traga informações de pessoas e temas interessantes que sejam desconhecidos, e se não aprecia ou não as descobre no Norte, então que vá para o estrangeiro procurá-las.  Agora, de Lisboa? Para quê? Para isso, estão lá 3 canais abertos e meia-dúzia em canal fechado. Não percebo a vantagem de dar publicidade a quem já a tem. Nem percebo a originalidade...

Ricardo Couto, o rapaz que tem um programa (um talk-show) de "conversas" a que dá o nome, é o homem que Júlio Magalhães escolheu para mimar os tios e as tias da capital e que está a prestar-se ao papel miserável de bajulador e provinciano como não há memória no Porto. Estou enojado com tanta bajulação. Os entrevistados têm bons motivos para se sentirem vedetas  de ego inchado. Esta não é de todo uma estratégia séria para levar o Porto para a frente. Esta é das mais humilhantes formas de prestar vassalagem ao centralismo.

Nós não precisamos de hostilizar ninguém, mas também não sei como o FCPorto e principalmente o seu presidente, Pinto da Costa, entendem que esta política de lambebotismo seguida pelo Porto Canal nos pode levar a algum lado, e sobretudo, nos pode tratar a dignidade já tão ferida pelo centralismo. E ninguém melhor que ele sabe o que isso é. Não foi assim que Pinto da Costa se afirmou, foi lutando e denunciando.

Que ninguém se atreva a dizer-me que confundo as coisas. O centralismo não é uma coisa abstracta, tem rostos, e eu conheço muitos. Alguns estão no Porto e no Norte, e outros, imaginem, estão dentro do próprio Porto Canal...