Como era previsível, a campanha de intoxicação dos media centralistas já começou. Como não nos podem calar, agora vão fazer tudo para nos descredibilizar. Reacções bem características dos ditadores e de quem sente o poder fugir. Agora, já não se trata de uma campanha premeditada e ofensiva contra o FCPorto, como foi a do Apito Dourado, trata-se de uma estratégia de defesa típica de vigaristas, que é inverter o sentido dos factos, ou seja: os criminosos somos nós.
Bom, mas isso era o que se esperava. Nada de novo, portanto. Agora, como tudo isto é uma consequência dos 4 anos de silêncio do FCPorto, que não quis denunciar mais cedo as arbitragens e o sectarismo que os órgãos de comunicação social lhe tem dispensado, há que prosseguir com as acusações, porque tem motivos acrescidos e demasiado graves para as levar a cabo.
Como portuense e portista que sou, tudo que se relacione com a defesa da minha cidade e do FCPorto, é mais que um dever, é uma questão de honra. Tenho procurado não me deixar dividir entre as duas coisas. e de certa maneira penso que o tenho conseguido, porque para mim ambas estão fundidas por natureza. Todavia, não sei se posso dizer o mesmo do Porto Canal. Explico-me.
Talvez por efeito dos acontecimentos dos últimos tempos, com a descoberta escabrosa da troca de emails entre árbitros e o Benfica, ouvimos falar finalmente no Porto Canal, de um tema para nós já antigo, que é a cumplicidade dos media com esse clube. Francisco J. Marques disse mesmo que os media tinham sido capturados pelo Benfica, incluindo os estatais. A revelação é de estranhar, por tardia.
Os leitores do Renovar o Porto são as melhores testemunhas de que neste espaço tenho dedicado parte considerável do meu tempo a falar dos media e da sua indesmentível ligação ao centralismo, assim como da promoção despudorada que têm feito ao Benfica. Há quase 10 anos que este blogue não fala de outra coisa. Já nem incluo os artigos que antes disso publiquei sobre o tema no extinto jornal Comércio do Porto! A questão que deixo no ar é a seguinte: por quê só agora? Estaremos todos a falar a mesma linguagem, disponíveis para nos unirmos com o mesmo espírito de revolta, ou corremos o risco de amanhã quererem passar uma esponja nestes assuntos por já não serem convenientes?
É que, face ao que está a acontecer, continuo a achar estranho (é a palavra mais simpática que encontro) que o Porto Canal não tenha ainda concebido um programa específico para debater esse tema tão importante para o Norte e para o país como é o tema da Regionalização/Descentralização. Falo de um programa com pessoas do Porto e do Norte verdadeiramente empenhadas na causa, e não simples deputados que mais não fazem do que se apoucarem mutuamente sem qualquer interesse público. Também reconheço mérito nalguns programas de proximidade do Porto Canal, com alguns autarcas do interior, e espero que se mantenham, mas é preciso debater mais, esclarecer, acabar com as dúvidas que ainda pairam na cabeça de muitos nortenhos contaminados pela lisboetização dos media.
Deixemo-nos de bajular os betinhos e as betinhas de Lisboa, por favor. Não sejamos provincianos chamando a nós os mais "genuínos" do país... Não é com essa gente, por mais colunáveis que sejam, que podemos mudar as coisas! Não é uma questão de discriminar, é um critério de prioridades na ocupação do espaço televisivo. Mas, se quiserem pôr as coisas nesses termos, também pergunto o que têm feito os lisboetas senão discriminar-nos? Não é uma questão pessoal, é uma premência de objectividade. Em vez do Joaquim de Almeida, da Catarina Furtado e o marido, convidem o reitor da Universidade do Porto, o jornalista David Pontes* do JN, que é dos poucos que há muito escrevem contra o centralismo. E Rui Moreira, por que é que não vai com mais assiduidade ao Porto Canal, sendo o autarca da cidade do Porto? E por que é que Correia Fernandes, da Câmara da Maia, nunca foi ao Porto Canal (nunca o vi lá). Qual é o critério do Porto Canal, se uns vão com frequência e outros não vão nunca? E nós, grande público, os espectadores que tanto dizem estimar, não temos direito a uma explicaçãozinha? Que raio de serviço público é esse?
O que pretendo acentuar é a incongruência que há entre o que afirmamos necessitar com urgência (descentralizar) e o que nos dispomos a contribuir para lá chegar. Deixemos de uma vez esses complexos de dependência, de procurar atrair ao Porto individualidades sobejamente conhecidas que nada acrescentam às nossas vidas.
Sejamos mais Porto, e menos pacóvios, por favor. Ainda há muito por fazer, e lutar pela nossa autonomia é sem dúvida a causa mais importante.
* David Pontes colaborou (e bem) como moderador num programa interessante do Porto Canal. Chamava-se Pólo Norte, e abordava o centralismo e as questões de ordem regional. Subitamente, acabou, sem mais explicação. Que falta de ética!