"Às primeiras perguntas, as fartas pestanas, como cortinas de um palco em desuso, protegem-lhe a vergonha. Aos poucos solta-se das amarras do medo e rebobina um filme mau. Conta que tudo começou no Verão, ainda tinha 13 anos. Com o irmão Clemente e o amigo deste, Renato, começou a frequentar um ateliê em Lisboa, onde trabalham vários artistas plásticos.
Renato, 16 anos, através de um educador do Lar Cruz Filipe, arranjara ali um gancho. O educador, Paulo R., a quem não compete a orientação profissional dos casapianos, transgredia as regras da casa.
No ateliê, José passa a ser presença frequente a partir das quatro da tarde. Aí vê o primeiro filme porno: «António, o patrão do Renato, tinha filmes num armário. Cheguei a ver um em que homens violavam mulheres e depois matavam-nas. Depois abusavam de homens e faziam-lhes o mesmo».
Foi o colega do lar quem um dia lhe disse: «O António gostava de curtir contigo». Aos poucos, o homem foi avançando. José solta as lágrimas: «Tocava-me na pilinha e dava-me tapas no rabo».
Decidiu comentar o caso com o educador, que assistia, sorrindo: «Respondeu-me que não tinha nada de mal, que ele era sempre assim». Às vezes, era «o mestre» (como também chamam a António) quem aparecia no lar Cruz Filipe.
A seguir ao jantar, enquanto a rapaziada via futebol, o mestre subia para a zona dos quartos com o educador e dirigia-se ao pequeno: «Anda, não queres dar uma quequinha?».
Um dia, foram convidados para uma festa no ateliê. A sorte do rapazito estava nas piores mãos. José tem o ‘selo’ da maioria dos casapianos: foi internado com o irmão no Instituto Jacob com apenas quatro anos. O pai, Alberto, trabalhava nas obras. A mãe, Maria, ganhava uns tostões fazendo limpezas. Ela tinha oito filhos e ele tantos que lhes perdera a conta. Em casa, quando o dinheiro falha, o álcool impera. O pai – que agora está preso por ter violado uma sobrinha de 13 anos da nova companheira – utilizava o cinto e tudo o que lhe viesse à mão para flagelar os garotos. A mãe, sempre em ajustes com a vida, denuncia o caso à polícia e o Tribunal de Menores coloca-os ao abrigo do Estado. Um mal pior."
Aqui há mais
17 novembro, 2007
16 novembro, 2007
Perguntas e Respostas sobre a Regionalização
A Regionalização é uma questão de princípio ou é uma reforma necessária para o desenvolvimento do país?—
Julgo que é as duas coisas simultaneamente. É uma questão de princípio, desde logo porque a Lei Fundamental é para cumprir. Não faz sentido que os artigos da Constituição sejam tomados como uma espécie de menu de restaurante, em que certas pessoas apenas cumprem os que lhes agradam.Por outro lado, dispomos de órgãos de poder legitimados por eleições ao nível da freguesia e do município e no país. Ao nível intermédio [regional] temos um quadro caro, caótico e descoordenado, com 38 divisões regionais diferentes, 74 serviços regionais diferentes de carácter público, e mais uma série de divisões a nível de empresas privadas de capitais públicos ou de outras instituições.O facto de as pessoas discutirem projectos de futuro, designadamente através da disputa das eleições, pode mobilizá-las para o desenvolvimento das suas regiões. E pode fomentar a democracia participativa.
As regiões não retiram poderes aos municípios?
— Não. Desde a revisão constitucional de 1982, que isso ficou claro: a região não pode limitar poderes do município. Mais! a região tem como obrigação apoiar os municípios, designadamente na coordenação de planos directores municipais. Hoje conhecem-se situações, até entre municípios do mesmo partido, em que um plano define uma zona para a construção de vivendas e o município vizinho, com outra equipa técnica, entende que a zona que confina com aquela é óptima para fazer prédios de 12 andares. Ora, isto não tem nenhuma lógica e deve ser resolvido com a participação de todos.A regionalização é pois um passo necessário que temos de dar, seguindo de resto a experiência da generalidade dos países com este tipo de sistema político.
Como promover o desenvolvimento das regiões mais atrasadas e também resolver os problemas das zonas de maior densidade populacional com a racionalidade e eficácia que actualmente não existe. Será que a administração central não pode cumprir esses objectivos?
— Não. Temos o exemplo do chamado PIDDAC (Plano de Investimentos e Desenvolvimento da Administração Central) que inclui uma extensíssima lista de investimentos, apresentada à Assembleia da República, onde aparecem obras como um centro de saúde, um novo quartel de bombeiros, um centro de dia da terceira idade, etc. O que ninguém sabe é porque é que são propostas estas obras num determinado local e não outras numa povoação ao lado. Nada disto obedece a um planeamento, e funciona muito frequentemente a lógica de que quem é afecto ao poder come e quem não é cheira, ou a das cunhas, dos interesses do partido maioritário, etc.
É um processo ilógico, burocratizado e centralizado, onde as autarquias e as populações não participam, perdendo-se muito tempo e dinheiro e não assentando em princípios lógicos em matéria de racionalidade dos equipamentos e infra-estruturas.(continua)
de António de Almeida Felizes
Blogue Regionalização
Julgo que é as duas coisas simultaneamente. É uma questão de princípio, desde logo porque a Lei Fundamental é para cumprir. Não faz sentido que os artigos da Constituição sejam tomados como uma espécie de menu de restaurante, em que certas pessoas apenas cumprem os que lhes agradam.Por outro lado, dispomos de órgãos de poder legitimados por eleições ao nível da freguesia e do município e no país. Ao nível intermédio [regional] temos um quadro caro, caótico e descoordenado, com 38 divisões regionais diferentes, 74 serviços regionais diferentes de carácter público, e mais uma série de divisões a nível de empresas privadas de capitais públicos ou de outras instituições.O facto de as pessoas discutirem projectos de futuro, designadamente através da disputa das eleições, pode mobilizá-las para o desenvolvimento das suas regiões. E pode fomentar a democracia participativa.
As regiões não retiram poderes aos municípios?
— Não. Desde a revisão constitucional de 1982, que isso ficou claro: a região não pode limitar poderes do município. Mais! a região tem como obrigação apoiar os municípios, designadamente na coordenação de planos directores municipais. Hoje conhecem-se situações, até entre municípios do mesmo partido, em que um plano define uma zona para a construção de vivendas e o município vizinho, com outra equipa técnica, entende que a zona que confina com aquela é óptima para fazer prédios de 12 andares. Ora, isto não tem nenhuma lógica e deve ser resolvido com a participação de todos.A regionalização é pois um passo necessário que temos de dar, seguindo de resto a experiência da generalidade dos países com este tipo de sistema político.
Como promover o desenvolvimento das regiões mais atrasadas e também resolver os problemas das zonas de maior densidade populacional com a racionalidade e eficácia que actualmente não existe. Será que a administração central não pode cumprir esses objectivos?
— Não. Temos o exemplo do chamado PIDDAC (Plano de Investimentos e Desenvolvimento da Administração Central) que inclui uma extensíssima lista de investimentos, apresentada à Assembleia da República, onde aparecem obras como um centro de saúde, um novo quartel de bombeiros, um centro de dia da terceira idade, etc. O que ninguém sabe é porque é que são propostas estas obras num determinado local e não outras numa povoação ao lado. Nada disto obedece a um planeamento, e funciona muito frequentemente a lógica de que quem é afecto ao poder come e quem não é cheira, ou a das cunhas, dos interesses do partido maioritário, etc.
É um processo ilógico, burocratizado e centralizado, onde as autarquias e as populações não participam, perdendo-se muito tempo e dinheiro e não assentando em princípios lógicos em matéria de racionalidade dos equipamentos e infra-estruturas.(continua)
de António de Almeida Felizes
Blogue Regionalização
O FUTEBOL E O "BÚSSOLA"
Um grupo de orgulhosos tripeiros, razoavelmente mediáticos, decidiu recentemente instalar na blogoesfera mais um blogue com nome de "Bússola", dedicado à nossa amantíssima cidade do Porto.
O seu lançamento, previamente anunciado como uma forma irreverente, bem humorada e sarcástica de protesto, contra a epidemia centralista que assolou o país, já começa a provocar, (como era previsível), muita comichão nos egocentricos adeptos do centralismo.
É mais do que famosa, a maneira rebelde e apaixonada dos tripeiros transmitirem esse amor à cidade, nada preocupados com o efeito que isso possa provocar nos outros. Quem gosta do estilo gosta, quem não gosta, paciência, terá de se conformar, porque, tal como a nossa pronúncia, o nosso estilo pode não ser consensual, mas tem a genuidade das coisas únicas e inimitáves, porque é de facto único.
O tripeiro típico, é mesmo assim. Mas, como nada na vida é perfeito, há alguns portuenses atípicos, quiçá distraídos por "simpatias clubísticas" desviantes, que não souberam resistir à aculturação produzida pela Comunicação Social Centralista de Lisboa (vulgo CSCL) e deixaram-se afectar por tiques e conceitos que nada têm a ver com os seus.
Para complicar as coisas, há também aqueles portuenses que por questões de mero oportunismo se renderam ao domínio da capital e, mesmo quando pretendem dar-se ares de
inconformados, medem muito bem tudo o que dizem de forma a não deixar transparecer quaisquer sinais susceptíveis de contrariar o poder e os preceitos centralistas. Estou a lembrar-me de dois, por sinal ambos do mesmo partido e avessos ao futebol...
Por falar em futebol e voltando ao "Bússola", é aqui que se percebe quanto a clubite pode influenciar e limitar a acção dos cidadãos da mesma cidade na intervenção política. No "Bússola", também há raras excepções. É o caso do bloguista residente, António Souza Cardoso, portuense raçudo, mas benfiquista de coração, que na hora do desporto troca a bandeira do clube mais expressivo da cidade pela bandeira de um clube que não a representa. Afinal, é o direito das pessoas à liberdade de escolha - muitas vezes por influência familiar - mas a baralhar o tendencional efeito de proximidade nas suas opções afectivas.
Contudo,ninguém pode afirmar que haja coerência e conforto nestes casos. O que haverá, na melhor das hipóteses, é alguma ambivalência nos sentimentos. Suponho que ninguém encontrará grandes diferenças entre um benfiquista nascido no Porto "torcer" pelo clube lisboeta e um português pagar bilhete para apoiar a selecção inglesa, num Inglaterra/Portugal.
Não me parece pois possível distinguir os afectos regionalistas dos nacionalistas ( refiro-me ao futebol) sem se entrar num processo incontornável de contradições. O mesmo penso dos portistas nascidos em Lisboa.
Neste contexto, é revelador atentar no "Bússola", aos comentários dos sulistas e daqueles nortenhos "atípicos", plenos de fel e ciumeira em relação ao Porto.
Quando algum cronista fala do F.Clube do Porto caem imediatamente sobre ele, alegando que "nós nortenhos" só sabemos falar de futebol, procurando tristemente colocar-se em elevados patamares de cidadania, desmemoriados de uma comunicação social caseira que não tem feito outra coisa senão estar ao serviço da capital, promovendo o seu clube dilecto durante anos a fio, mesmo quando nada o justifica.
Até os políticos, em debates extra-futebol não se coibem de falar do "seu Benfica", como se descontextualizar qualquer assunto em nome do glorioso, seja a coisa mais natural e inocente do Mundo. Quando somos nós a abrir a boca sobre as nossas coisas, o caso muda logo de figura, mesmo que dentro das paredes de um blogue como o "Bússola", sem a visibilidade nem a influência da televisão, é vê-los a despejar moralidade por todos os poros.
É por estas e por outras, que quando aparecem alguns iluminados a apregoar que o futebol aliena e nos desvia de temas mais importantes, tenho muita relutância em dar-lhes razão, porque sempre preferem diabolizar as consequências destes fenómenos a impedir o que os origina, que é, como cansamos de saber, o centralismo.
Temos entre nós, alguns "intelectuais" que ainda não entenderam que o desprezo fanático que manisfestam pelo futebol pode valer bem menos do que a presumível alienação popular por ele provocada.
Estar de costas viradas para o fenómeno futebolístico - que é popular - é outra forma da viver alienado da realidade.
O seu lançamento, previamente anunciado como uma forma irreverente, bem humorada e sarcástica de protesto, contra a epidemia centralista que assolou o país, já começa a provocar, (como era previsível), muita comichão nos egocentricos adeptos do centralismo.
É mais do que famosa, a maneira rebelde e apaixonada dos tripeiros transmitirem esse amor à cidade, nada preocupados com o efeito que isso possa provocar nos outros. Quem gosta do estilo gosta, quem não gosta, paciência, terá de se conformar, porque, tal como a nossa pronúncia, o nosso estilo pode não ser consensual, mas tem a genuidade das coisas únicas e inimitáves, porque é de facto único.
O tripeiro típico, é mesmo assim. Mas, como nada na vida é perfeito, há alguns portuenses atípicos, quiçá distraídos por "simpatias clubísticas" desviantes, que não souberam resistir à aculturação produzida pela Comunicação Social Centralista de Lisboa (vulgo CSCL) e deixaram-se afectar por tiques e conceitos que nada têm a ver com os seus.
Para complicar as coisas, há também aqueles portuenses que por questões de mero oportunismo se renderam ao domínio da capital e, mesmo quando pretendem dar-se ares de
inconformados, medem muito bem tudo o que dizem de forma a não deixar transparecer quaisquer sinais susceptíveis de contrariar o poder e os preceitos centralistas. Estou a lembrar-me de dois, por sinal ambos do mesmo partido e avessos ao futebol...
Por falar em futebol e voltando ao "Bússola", é aqui que se percebe quanto a clubite pode influenciar e limitar a acção dos cidadãos da mesma cidade na intervenção política. No "Bússola", também há raras excepções. É o caso do bloguista residente, António Souza Cardoso, portuense raçudo, mas benfiquista de coração, que na hora do desporto troca a bandeira do clube mais expressivo da cidade pela bandeira de um clube que não a representa. Afinal, é o direito das pessoas à liberdade de escolha - muitas vezes por influência familiar - mas a baralhar o tendencional efeito de proximidade nas suas opções afectivas.
Contudo,ninguém pode afirmar que haja coerência e conforto nestes casos. O que haverá, na melhor das hipóteses, é alguma ambivalência nos sentimentos. Suponho que ninguém encontrará grandes diferenças entre um benfiquista nascido no Porto "torcer" pelo clube lisboeta e um português pagar bilhete para apoiar a selecção inglesa, num Inglaterra/Portugal.
Não me parece pois possível distinguir os afectos regionalistas dos nacionalistas ( refiro-me ao futebol) sem se entrar num processo incontornável de contradições. O mesmo penso dos portistas nascidos em Lisboa.
Neste contexto, é revelador atentar no "Bússola", aos comentários dos sulistas e daqueles nortenhos "atípicos", plenos de fel e ciumeira em relação ao Porto.
Quando algum cronista fala do F.Clube do Porto caem imediatamente sobre ele, alegando que "nós nortenhos" só sabemos falar de futebol, procurando tristemente colocar-se em elevados patamares de cidadania, desmemoriados de uma comunicação social caseira que não tem feito outra coisa senão estar ao serviço da capital, promovendo o seu clube dilecto durante anos a fio, mesmo quando nada o justifica.
Até os políticos, em debates extra-futebol não se coibem de falar do "seu Benfica", como se descontextualizar qualquer assunto em nome do glorioso, seja a coisa mais natural e inocente do Mundo. Quando somos nós a abrir a boca sobre as nossas coisas, o caso muda logo de figura, mesmo que dentro das paredes de um blogue como o "Bússola", sem a visibilidade nem a influência da televisão, é vê-los a despejar moralidade por todos os poros.
É por estas e por outras, que quando aparecem alguns iluminados a apregoar que o futebol aliena e nos desvia de temas mais importantes, tenho muita relutância em dar-lhes razão, porque sempre preferem diabolizar as consequências destes fenómenos a impedir o que os origina, que é, como cansamos de saber, o centralismo.
Temos entre nós, alguns "intelectuais" que ainda não entenderam que o desprezo fanático que manisfestam pelo futebol pode valer bem menos do que a presumível alienação popular por ele provocada.
Estar de costas viradas para o fenómeno futebolístico - que é popular - é outra forma da viver alienado da realidade.
15 novembro, 2007
Estradas e responsabilidades
Conforme noticia o JN de hoje, as auto-estradas portadas vão passar para a EP decorridos os períodos de concessão atribuídos á Brisa e Auto Estradas do Atlântico.
Tão importante como saber com clareza como é elaborada esta manobra de concessões, os cidadãos precisam de saber exactamente (devem exigí-lo), quantas entidades públicas e privadas, vão ser de facto constituídas e sobre quais estradas e auto-estradas vão recair as responsabilidades de cada uma.
Sempre me pareceu que a existência de vários organismos com a tutela da rede viária nacional, só serve para negociatas, desresponsabilizá-los e gerar confusão no utente .
Há uns anos já, tive uma experiência pessoal que definitivamente me deixou essa desconfiança.
Passando por uma estrada onde era suposto existir um sinal de Stop, alguém ou algo o retirou do seu local. Deu-se o acidente, felizmente sem grandes danos físicos mas com avultados danos materiais. Quando procurei saber qual era a entidade responsável pela não fiscalização da sinalética para me defender dos prejuízos causados, andei como bola de ping pong de um lado para o outro, pois ninguém estava interessado em assumir responsabilidades sobre a respectiva estrada.
Fui para tribunal, reconheceram a minha inocência, mas como é habitual nestes casos pouco adiantou e acabei por dividir o prejuizo com o proprietário do outro veículo sinistrado que até se tinha declarado culpado, sem nunca chegar a saber a quem imputar responsabilidades.
Na altura, já havia a Junta Autónoma das Estradas, a EP, o Instituto de Estradas de Portugal e outras tantas de que agora não recordo o nome.
Veremos que coelho vai sair desta cartola. Com Mário Lino, não se pode esperar grande transparência...
Tão importante como saber com clareza como é elaborada esta manobra de concessões, os cidadãos precisam de saber exactamente (devem exigí-lo), quantas entidades públicas e privadas, vão ser de facto constituídas e sobre quais estradas e auto-estradas vão recair as responsabilidades de cada uma.
Sempre me pareceu que a existência de vários organismos com a tutela da rede viária nacional, só serve para negociatas, desresponsabilizá-los e gerar confusão no utente .
Há uns anos já, tive uma experiência pessoal que definitivamente me deixou essa desconfiança.
Passando por uma estrada onde era suposto existir um sinal de Stop, alguém ou algo o retirou do seu local. Deu-se o acidente, felizmente sem grandes danos físicos mas com avultados danos materiais. Quando procurei saber qual era a entidade responsável pela não fiscalização da sinalética para me defender dos prejuízos causados, andei como bola de ping pong de um lado para o outro, pois ninguém estava interessado em assumir responsabilidades sobre a respectiva estrada.
Fui para tribunal, reconheceram a minha inocência, mas como é habitual nestes casos pouco adiantou e acabei por dividir o prejuizo com o proprietário do outro veículo sinistrado que até se tinha declarado culpado, sem nunca chegar a saber a quem imputar responsabilidades.
Na altura, já havia a Junta Autónoma das Estradas, a EP, o Instituto de Estradas de Portugal e outras tantas de que agora não recordo o nome.
Veremos que coelho vai sair desta cartola. Com Mário Lino, não se pode esperar grande transparência...
Amar o Porto
Embora a pós-modernidade avassaladora que nos conduz de défice em défice até à vitória final, daqui por outro milénio, considere estas coisas pirosas, retrógradas e, quando não, reaccionárias, penso que, em muita gente, continua a existir um vivo sentimento de pertença ao Porto.
Sentimento expresso em laços que se atam, firmes, em íntimas ligações afectivas com os lugares, em entranhadas formas de identificação com a cidade, nas suas grandezas e misérias, nas suas aspirações e desconcertos. Expresso naquilo que os provincianos em geral e em particular os mais de todos, que são os da capital do Novo Império, consideram a pior baixeza o bairrismo portuense. A isso, alguns - não sei quantos - tripeiros gargalham e não será o "patriotismo global" e a modernidade do couce (querendo dizer para trás, atrás, na retaguarda onde continuamos, não obstante Mestre Camilo ter escrito que o país entrava no futuro aos couces), que os fará esquecer de tal atributo.
Bairrismos. Por exemplo, um jovem ex-autarca e ex-político (daqueles de que o país precisa activos, competentes e, sobretudo, íntegros e que, talvez, por isso se afastam desta lamentável comédia de costumes a que assistimos diariamente), escreveu-me dizendo: penso que gostaria de saber que dei um pequeno contributo, ou melhor, dois pequenos contributos para inverter a taxa de natalidade do nosso Porto. No dia 26 de Janeiro nasceram, em Paranhos, o Francisco e o João. O próximo passo pretendo que seja o regresso ao Porto, em 2008. Não é isto uma prova de amor e fidelidade à cidade? Pois que regresse rapidamente ao Burgo e, se possível, à política, onde faz muita falta. E vivam os dois neo-tripeiros!
Também de um amigo - como eu nascido na Vitória - professor catedrático na Universidade do Minho, onde se exilou, recebi carta emotiva e repleta de nostalgias da sua infância portuense, de que, pelos vistos, não quer libertar-se, nem quer esquecer. É uma maravilha e, entre outras coisas, diz (a propósito de uma foto sua, com outra companheira de infância) "Apesar da idade que tínhamos a Lili e eu, ficamos bem na fotografia, de pose, que tirámos no estúdio fotográfico que ficava, também, na nossa rua. Era um rés-do-chão, creio que pegado à casa em que vivia o Carlos Alberto Enes e sua irmã Fátima, que foi o meu primeiro "namorico"".
Na realidade pisei pela primeira vez o palco, com cinco anos pela mão da família Resende e até aos meus 15 anos fui representando, fazendo rir e cantando, normalmente em solo, inserido nesse grande clube que era o Rádio Clube Infantil. Várias árias de óperas eram adaptadas para português e de forma jocosa. Aquela que cantei com a Lili era da ópera genoveva, de Schumann. Todos os textos tinham o dedo de D. Emília Resende e de seu filho Resende Dias.
Outras se seguiram, terminando com "La Donna E Mobile", num espectáculo no Coliseu cheio, em que fui compère, na roupagem de um sinaleiro e por isso cantava um automovilé, dois automovilés e seguia-se toda a ária, com adaptação da letra nesta base.
"E, adiante, conta "Frequentei o Chave d'Ouro e o Tropical, na Batalha, onde convivi com a Dalila Rocha e o Jaime Valverde. Também na minha lista constam o Palladium, o Avis e o Estrela. Joguei muito bilhar no Palladium: livre, 104, sargento, 3 tabelas, etc. Quando veio o snooker, ao disputar o torneio da cidade, fui ao Rivoli, ao Café Novo e à Confeitaria Peninsular.
"E mais evoca "Veio-me à memória a recordação dos "trampolineiros", que vendiam banha da cobra na Cordoaria, sempre acompanhados do seu macaquinho. Recordei as vezes que, miúdo como era, acompanhava a minha criada à Adega Macedo para encher o garrafão de vinho para a semana e ir a uma casa, nos fundos, que depois passou a ser o Avis, comprar petróleo, carvão e carqueja. Acompanhei muitas vezes a minha avó ao Mercado do Anjo e ao do Peixe, junto às Virtudes, agora Palácio da Justiça.
"E ainda à frente "Frequentemente admirei a miniatura do eléctrico que se encontrava dependurado num armazém de fazendas, lembrando o desastre provo-cado por um grande "amarelo" que, ao descer a Rua das Carmelitas (e não a da Assunção), não conseguiu fazer a curva para descer os Clérigos e espetou-se nesse armazém, que à porta sempre tinha um caixeiro a chamar a clientela.
"E, depois de mais considerações, remata "A carta já vai longa, a saudade e as recordações são muitas e ao escrever sempre me vieram ao rosto algumas lágrimas." (Entendem o que é o sentimento de amar o Porto, esta cidade única, dra-mática e - apesar de tudo quanto lhe têm feito - nobilitante e inesquecível?)
Hélder Pacheco, Professor , e escritor
Sentimento expresso em laços que se atam, firmes, em íntimas ligações afectivas com os lugares, em entranhadas formas de identificação com a cidade, nas suas grandezas e misérias, nas suas aspirações e desconcertos. Expresso naquilo que os provincianos em geral e em particular os mais de todos, que são os da capital do Novo Império, consideram a pior baixeza o bairrismo portuense. A isso, alguns - não sei quantos - tripeiros gargalham e não será o "patriotismo global" e a modernidade do couce (querendo dizer para trás, atrás, na retaguarda onde continuamos, não obstante Mestre Camilo ter escrito que o país entrava no futuro aos couces), que os fará esquecer de tal atributo.
Bairrismos. Por exemplo, um jovem ex-autarca e ex-político (daqueles de que o país precisa activos, competentes e, sobretudo, íntegros e que, talvez, por isso se afastam desta lamentável comédia de costumes a que assistimos diariamente), escreveu-me dizendo: penso que gostaria de saber que dei um pequeno contributo, ou melhor, dois pequenos contributos para inverter a taxa de natalidade do nosso Porto. No dia 26 de Janeiro nasceram, em Paranhos, o Francisco e o João. O próximo passo pretendo que seja o regresso ao Porto, em 2008. Não é isto uma prova de amor e fidelidade à cidade? Pois que regresse rapidamente ao Burgo e, se possível, à política, onde faz muita falta. E vivam os dois neo-tripeiros!
Também de um amigo - como eu nascido na Vitória - professor catedrático na Universidade do Minho, onde se exilou, recebi carta emotiva e repleta de nostalgias da sua infância portuense, de que, pelos vistos, não quer libertar-se, nem quer esquecer. É uma maravilha e, entre outras coisas, diz (a propósito de uma foto sua, com outra companheira de infância) "Apesar da idade que tínhamos a Lili e eu, ficamos bem na fotografia, de pose, que tirámos no estúdio fotográfico que ficava, também, na nossa rua. Era um rés-do-chão, creio que pegado à casa em que vivia o Carlos Alberto Enes e sua irmã Fátima, que foi o meu primeiro "namorico"".
Na realidade pisei pela primeira vez o palco, com cinco anos pela mão da família Resende e até aos meus 15 anos fui representando, fazendo rir e cantando, normalmente em solo, inserido nesse grande clube que era o Rádio Clube Infantil. Várias árias de óperas eram adaptadas para português e de forma jocosa. Aquela que cantei com a Lili era da ópera genoveva, de Schumann. Todos os textos tinham o dedo de D. Emília Resende e de seu filho Resende Dias.
Outras se seguiram, terminando com "La Donna E Mobile", num espectáculo no Coliseu cheio, em que fui compère, na roupagem de um sinaleiro e por isso cantava um automovilé, dois automovilés e seguia-se toda a ária, com adaptação da letra nesta base.
"E, adiante, conta "Frequentei o Chave d'Ouro e o Tropical, na Batalha, onde convivi com a Dalila Rocha e o Jaime Valverde. Também na minha lista constam o Palladium, o Avis e o Estrela. Joguei muito bilhar no Palladium: livre, 104, sargento, 3 tabelas, etc. Quando veio o snooker, ao disputar o torneio da cidade, fui ao Rivoli, ao Café Novo e à Confeitaria Peninsular.
"E mais evoca "Veio-me à memória a recordação dos "trampolineiros", que vendiam banha da cobra na Cordoaria, sempre acompanhados do seu macaquinho. Recordei as vezes que, miúdo como era, acompanhava a minha criada à Adega Macedo para encher o garrafão de vinho para a semana e ir a uma casa, nos fundos, que depois passou a ser o Avis, comprar petróleo, carvão e carqueja. Acompanhei muitas vezes a minha avó ao Mercado do Anjo e ao do Peixe, junto às Virtudes, agora Palácio da Justiça.
"E ainda à frente "Frequentemente admirei a miniatura do eléctrico que se encontrava dependurado num armazém de fazendas, lembrando o desastre provo-cado por um grande "amarelo" que, ao descer a Rua das Carmelitas (e não a da Assunção), não conseguiu fazer a curva para descer os Clérigos e espetou-se nesse armazém, que à porta sempre tinha um caixeiro a chamar a clientela.
"E, depois de mais considerações, remata "A carta já vai longa, a saudade e as recordações são muitas e ao escrever sempre me vieram ao rosto algumas lágrimas." (Entendem o que é o sentimento de amar o Porto, esta cidade única, dra-mática e - apesar de tudo quanto lhe têm feito - nobilitante e inesquecível?)
Hélder Pacheco, Professor , e escritor
14 novembro, 2007
Eu, portuense, olho-me ao espelho com a ajuda de Garrett, Sophia, Saramago, entre outros
A leitura destas frases ajuda-nos a nós, portuenses, a conhecermo-nos melhor. Eu leio-as, releio-as e sinto-me como se estivesse a olhar-me ao espelho.
Espero que esta leitura ajude os forasteiros a melhor decifraram esta cidade secreta que Eugénio de Andrade, um seu filho adoptivo, não hesitou em considerar «a mais fechada das nossas cidades».
O b pelo v
«Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão.»
Almeida Garrett
Maravilhas e angústias
«O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.»
Sophia de Mello Breyner
Como se vinga
«O portuense não gosta de Lisboa. Não gosta da polícia. Não gosta da autoridade. Da autoridade vinga-se, desprezando-a. Da Polícia vinga-se, resistindo-lhe. De Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com a mais amável hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria.»
Ramalho Ortigão
Rir desbragadamente
«E quanto ao riso, o Porto gosta de rir e de rir com uma certa insolência: ri mais desbragadamente, mais primariamente, mais saudavelmente e com mais gosto do que Lisboa.»
Vasco Graça Moura
Regaço aberto para o rio
«Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira.»
José Saramago
Uma alma de muralha
«Toda a cidade, com as agulhas dos templos, as torres cinzentas, os pátios e os muros em que se cavam escadas, varandas com os seus restos de tapetes de quarto dependurados e o estripado dos seus interiores ao sol fresco, tem toda ela uma forma, uma alma de muralha.»
Agustina Bessa Luís
Invejas
«Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se!»
Eça de Queiroz
Lição de portuguesismo
«Uma ida ao Porto é sempre um lição de portuguesismo, tanto mais rica quanto mais raramente lá se vai. É indispensável – claro! - um mínimo de contacto reiterado com esse lar da nação para nele vermos algumas das significações latentes que enriquecem a nossa consciência de práticas.»
Vitorino Nemésio
Uma família
«O Porto não é em rigor uma cidade: é uma família. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação.»
João Chagas
Aspecto severo e altivo
«O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada.»
Alexandre Herculano
Jorge Fiel
Espero que esta leitura ajude os forasteiros a melhor decifraram esta cidade secreta que Eugénio de Andrade, um seu filho adoptivo, não hesitou em considerar «a mais fechada das nossas cidades».
O b pelo v
«Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão.»
Almeida Garrett
Maravilhas e angústias
«O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.»
Sophia de Mello Breyner
Como se vinga
«O portuense não gosta de Lisboa. Não gosta da polícia. Não gosta da autoridade. Da autoridade vinga-se, desprezando-a. Da Polícia vinga-se, resistindo-lhe. De Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com a mais amável hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria.»
Ramalho Ortigão
Rir desbragadamente
«E quanto ao riso, o Porto gosta de rir e de rir com uma certa insolência: ri mais desbragadamente, mais primariamente, mais saudavelmente e com mais gosto do que Lisboa.»
Vasco Graça Moura
Regaço aberto para o rio
«Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira.»
José Saramago
Uma alma de muralha
«Toda a cidade, com as agulhas dos templos, as torres cinzentas, os pátios e os muros em que se cavam escadas, varandas com os seus restos de tapetes de quarto dependurados e o estripado dos seus interiores ao sol fresco, tem toda ela uma forma, uma alma de muralha.»
Agustina Bessa Luís
Invejas
«Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se!»
Eça de Queiroz
Lição de portuguesismo
«Uma ida ao Porto é sempre um lição de portuguesismo, tanto mais rica quanto mais raramente lá se vai. É indispensável – claro! - um mínimo de contacto reiterado com esse lar da nação para nele vermos algumas das significações latentes que enriquecem a nossa consciência de práticas.»
Vitorino Nemésio
Uma família
«O Porto não é em rigor uma cidade: é uma família. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação.»
João Chagas
Aspecto severo e altivo
«O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada.»
Alexandre Herculano
Jorge Fiel
Marco António quer13 milhões do Governo
Cansado de ver a Câmara Municipal de Gaia ser apontada como uma das autarquias cujo endividamento líquido é dos mais excessivos - 225 milhões de euros -, Marco António Costa, vice-presidente da Autarquia, desafiou ontem o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, a publicar não só a lista do passivo dos municípios, mas também a da dívida do Estado aos municípios e a dos financiamentos das autarquias à administração central."
Somos credores do Governo de 13.943.454,13 de euros e não tenciono perdoar um cêntimo", afirmou, repetindo o número por extenso e acusando o poder central de "cinismo" em relação ao Poder Local. E explicou "80% da nossa dívida resultou da necessidade de construir 2600 habitações sociais.
Como não lá limite para o endividamento social, porque essa área deveria ser da responsabilidade do Estado e ele não o quer cumprir, vamos continuar a endividar-nos". E deu exemplos dos terrenos que tem cedido ao Estado: "Para escolas, para as esquadras da PSP e da GNR, para centros de saúde".
Apesar disso, Marco António Costa assegura que a Câmara conseguiu, este ano, abater mais cinco milhões de euros do que seria necessário para estancar a dívida (11,9 milhões) em excesso. E diz que isso fica a dever-se à receita extraordinária obtida pela autarquia até ao mês passado. "Cobrámos, até Outubro, mais 62 mil euros do que o apurado no final de 2006. E, até ao fim do ano, cobraremos mais 20 mil". Gaia continua a ser, juntamente com Lisboa, a Câmara cujo endividamento líquido é maior. Mas, precisamente por Lisboa ter agora um autarca socialista (António Costa), o vice-presidente social--democrata acusa o Governo de criar leis à medida das necessidades dele. "O conceito de endividamento líquido muda todos os anos. Mas, até aqui, só era possível fazer empréstimos de curto prazo para fazer face à tesouraria; desde que António Costa está na Câmara de Lisboa passou a ser possível fazer empréstimos de médio e longo prazo". HTS
Somos credores do Governo de 13.943.454,13 de euros e não tenciono perdoar um cêntimo", afirmou, repetindo o número por extenso e acusando o poder central de "cinismo" em relação ao Poder Local. E explicou "80% da nossa dívida resultou da necessidade de construir 2600 habitações sociais.
Como não lá limite para o endividamento social, porque essa área deveria ser da responsabilidade do Estado e ele não o quer cumprir, vamos continuar a endividar-nos". E deu exemplos dos terrenos que tem cedido ao Estado: "Para escolas, para as esquadras da PSP e da GNR, para centros de saúde".
Apesar disso, Marco António Costa assegura que a Câmara conseguiu, este ano, abater mais cinco milhões de euros do que seria necessário para estancar a dívida (11,9 milhões) em excesso. E diz que isso fica a dever-se à receita extraordinária obtida pela autarquia até ao mês passado. "Cobrámos, até Outubro, mais 62 mil euros do que o apurado no final de 2006. E, até ao fim do ano, cobraremos mais 20 mil". Gaia continua a ser, juntamente com Lisboa, a Câmara cujo endividamento líquido é maior. Mas, precisamente por Lisboa ter agora um autarca socialista (António Costa), o vice-presidente social--democrata acusa o Governo de criar leis à medida das necessidades dele. "O conceito de endividamento líquido muda todos os anos. Mas, até aqui, só era possível fazer empréstimos de curto prazo para fazer face à tesouraria; desde que António Costa está na Câmara de Lisboa passou a ser possível fazer empréstimos de médio e longo prazo". HTS
Causas portuenses
Já se movimentam alguns quadrantes associativos republicanos, em relação ao centenário da implantação da República, que ocorre em 5 de Outubro de 2010 e deveria (deverá) ser uma comemoração de amplo significado e visibilidade nacional. Ao mais alto nível das instituições, também e pedagogicamente, na rede fina das associações democráticas e republicanas e no sistema de ensino e cultura.
No Porto, a Câmara podia e devia aproveitar a oportunidade para associar esta data a outra que está ligada ao republicanismo democrático e liberal da cidade, o 31 de Janeiro, e ampliar o programa comemorativo de tal centenário aos 120 anos daquela revolta, a comemorar em 2011, ou seja, poucos meses após o epílogo do 5 de Outubro.
A malograda revolta do 31 de Janeiro de 1891 foi a semente da República e, sem necessidade de grandes detalhes agora para a crónica, foi um movimento e constitui uma data que expressa com clareza o mais intrínseco da alma portuense, inconformismo e insubmissão e um ideário liberal de valores de liberdade e justiça que sempre marcaram o Porto. Sei que já lá vão muitos anos e há quem diga, às vezes com demasiada ligeireza, que a lembrança destas datas se resume ao agrupar de memórias de "meia-dúzia de nostálgicos", pois, à cidade real isso pouco interessa.
Pensamento ligeiro, embora talvez realista, mas, nesta questão de valores, nem sempre as memórias cumprem o seu dever, dando preferências a esquecimentos que pouco abonam do estado de conhecimento da História e da Cultura colectivas. Cumpre, por isso, às instituições mais directamente ligadas a estes valores promover o seu conhecimento e divulgação, associando-os à História de uma cidade ou de um país, como será neste caso o 31 de Janeiro para o Porto e a que a sua Câmara não deve ficar indiferente.
Por que associar o centenário da República, comemoração nacional, com o 31 de Janeiro, facto local e de desfecho desastroso, quando o momento será para exaltar a vitória do movimento republicano e a consolidação do seu ideário na governação e vida do país?
Porque tal associação faz todo o sentido, nacional e, sobretudo, portuense, uma vez que foi daqui, do resultado de tal desaire, que foram lançadas as ideias que haveriam de triunfar na "Revolução da Rotunda", quase 20 anos depois. Também, por ter sido na Câmara de então que foi hasteada pela primeira vez a bandeira republicana e aí perdurou algumas horas, num sacrifício generoso de cidadania que Alves da Veiga protagonizou ao lado dos revoltosos e do povo da cidade.
Nada a que o Porto não estivesse historicamente habituado; daí, como lembra Basílio Teles, "quem se mostra em primeiro plano são os paisanos desconhecidos", ou seja, o povo portuense, que, ainda segundo o mesmo autor, "foi o intérprete dos sentimentos de todo o povo português". É precisamente para honrar estas memórias e lembrar que a cidade existe e não as esquece que aqui se propõe à Câmara portuense e ao seu presidente tal associação do 31 de Janeiro ao centenário da República.
O Porto precisa de causas e de encontrar objectivos e esta pode argumentar-se não ser uma causa tão galvanizadora como seria desejável, mas até pode ser se a embalagem nacional do centenário da República for aproveitada para lhe imprimir a justa marca portuense. O 31 de Janeiro foi a nossa República, quando o país ainda não estava preparado para ela e, também é preciso dizê-lo, a capital não via com bons olhos que tal revolução se viesse a concretizar a partir do Porto. É preciso lembrá-lo e assumi-lo e ninguém melhor que a Câmara portuense para o fazer e, com isso, unir a cidade numa grande causa, sustentada e sustentável. Causa histórica e cívica, causa cultural e identitária de temperamento e alma de uma cidade.
Gomes Fernandes
Arquitecto
No Porto, a Câmara podia e devia aproveitar a oportunidade para associar esta data a outra que está ligada ao republicanismo democrático e liberal da cidade, o 31 de Janeiro, e ampliar o programa comemorativo de tal centenário aos 120 anos daquela revolta, a comemorar em 2011, ou seja, poucos meses após o epílogo do 5 de Outubro.
A malograda revolta do 31 de Janeiro de 1891 foi a semente da República e, sem necessidade de grandes detalhes agora para a crónica, foi um movimento e constitui uma data que expressa com clareza o mais intrínseco da alma portuense, inconformismo e insubmissão e um ideário liberal de valores de liberdade e justiça que sempre marcaram o Porto. Sei que já lá vão muitos anos e há quem diga, às vezes com demasiada ligeireza, que a lembrança destas datas se resume ao agrupar de memórias de "meia-dúzia de nostálgicos", pois, à cidade real isso pouco interessa.
Pensamento ligeiro, embora talvez realista, mas, nesta questão de valores, nem sempre as memórias cumprem o seu dever, dando preferências a esquecimentos que pouco abonam do estado de conhecimento da História e da Cultura colectivas. Cumpre, por isso, às instituições mais directamente ligadas a estes valores promover o seu conhecimento e divulgação, associando-os à História de uma cidade ou de um país, como será neste caso o 31 de Janeiro para o Porto e a que a sua Câmara não deve ficar indiferente.
Por que associar o centenário da República, comemoração nacional, com o 31 de Janeiro, facto local e de desfecho desastroso, quando o momento será para exaltar a vitória do movimento republicano e a consolidação do seu ideário na governação e vida do país?
Porque tal associação faz todo o sentido, nacional e, sobretudo, portuense, uma vez que foi daqui, do resultado de tal desaire, que foram lançadas as ideias que haveriam de triunfar na "Revolução da Rotunda", quase 20 anos depois. Também, por ter sido na Câmara de então que foi hasteada pela primeira vez a bandeira republicana e aí perdurou algumas horas, num sacrifício generoso de cidadania que Alves da Veiga protagonizou ao lado dos revoltosos e do povo da cidade.
Nada a que o Porto não estivesse historicamente habituado; daí, como lembra Basílio Teles, "quem se mostra em primeiro plano são os paisanos desconhecidos", ou seja, o povo portuense, que, ainda segundo o mesmo autor, "foi o intérprete dos sentimentos de todo o povo português". É precisamente para honrar estas memórias e lembrar que a cidade existe e não as esquece que aqui se propõe à Câmara portuense e ao seu presidente tal associação do 31 de Janeiro ao centenário da República.
O Porto precisa de causas e de encontrar objectivos e esta pode argumentar-se não ser uma causa tão galvanizadora como seria desejável, mas até pode ser se a embalagem nacional do centenário da República for aproveitada para lhe imprimir a justa marca portuense. O 31 de Janeiro foi a nossa República, quando o país ainda não estava preparado para ela e, também é preciso dizê-lo, a capital não via com bons olhos que tal revolução se viesse a concretizar a partir do Porto. É preciso lembrá-lo e assumi-lo e ninguém melhor que a Câmara portuense para o fazer e, com isso, unir a cidade numa grande causa, sustentada e sustentável. Causa histórica e cívica, causa cultural e identitária de temperamento e alma de uma cidade.
Gomes Fernandes
Arquitecto
13 novembro, 2007
Nobres políticos estes ...
Será com exemplos destes que a reputação da classe política se credibiliza?
Não resistem à ostentação, estes demagogos. São todos iguais ou não são? É má língua, continuarmos a pensar assim, com estas atitudes? Porque raio nunca são eles a dar o exemplo e a apertar o cinto?
Até quando, o povo vai aturar estas brincadeiras?
Até quando?
Não resistem à ostentação, estes demagogos. São todos iguais ou não são? É má língua, continuarmos a pensar assim, com estas atitudes? Porque raio nunca são eles a dar o exemplo e a apertar o cinto?
Até quando, o povo vai aturar estas brincadeiras?
Até quando?
Ludgero Marques, um homem do Norte?...
Em debate promovido pela TSF sobre a Regionalização, Ludgero Marques consegue ser mais autista que um O.V.N.I.!
Esta figura agora murcha do "Norte", que muitos (de boa vontade) chegaram a pensar poder vir a fazer alguma coisa de jeito pela região, não só decepciona demais como também acusa elevado teor de radiação centralista. Quem o viu e quem o vê...
Os argumentos que apresentou para justificar as suas ideias anti-regionalistas foram do mais básico que se pode imaginar. Além de padecerem de uma total orfandade em matéria de originalidade e de não terem a mínima substância, estão completamente fora de prazo. É caso para perguntar: onde tem, e com quem tem andado, afinal, Ludgero Marques?
Tomemos nota então, da profundidade das suas palavras:
"O Norte é um posicionamento, um atitude!" e "é muito mais vasto do que aquilo que se pretende fazer com 5, 6 ou 7 regiões!" .
E acrescenta: "Portugal, é um país demasiado pequeno para ser repartido por regiões!" . E remata com este brilharete: "se houvesse eficiência governamental, resolveria a situação!".
Esta última frase então, é de bradar aos céus! É, exactamente igual, àquela muito reflexa e muito antiga que diz: "se a minha avó não tivesse morrido ainda era viva!" . Mas o que irá fazer um homem com estas declarações a um debate sobre a Regionalização? Confundir? Não, não é credível que com palha desta qualidade consiga confundir o maior dos asnos!
Mas há uma frase, por sinal muito utilitária, que enquanto cidadão lúcido não admito ao Sr. Ludgero Marques nem a qualquer político que profira em meu nome, que é esta: "Nós temos todos culpa por esta situação!" , porque eu não pertenço a essa família.
Estas pessoas, lançam este tipo de atoardas e uma vez que "cola" e ninguém lhes diz para terem tento na língua, usam-nas a torto e a direito e depois é: vira o disco e toca o mesmo e convencem-se que dá para tudo...
Em tese, até podíamos concordar com estas redundâncias caso fossem sustentadas no tempo e no espaço certos, por exemplos de governabilidade antecedentes apreciáveis. Mas, agora sr. Ludgero? Está a pedir aos portugueses para continuarem a dar o benefício da dúvida a métodos de governação arcaicos, ineficientes e alienadamente centralistas e perigosamente fracturantes? Durante mais quantos anos, já agora?
Será assim que o senhor engenheiro defende a coesão nacional? Ainda não terá percebido que a melhor semente para gerar injustiças e conflitos anti-nacionalistas é a concentração do poder num único pólo como está a acontecer em Lisboa? O senhor ainda não entendeu, engenheiro, que o país está mais dividido que nunca, mas da pior maneira? E não acha também que tem responsabilidades nisso?
Se não gosta da Regionalização, não coma. Mas faça o favor de não entrar nesse jogo sujo de assustar os portugueses e de se constituir em mais um empecilho para o progresso do país. Já chega.
12 novembro, 2007
O Porto na óptica do Centralismo
Para lá do efeito sorvedor de recursos do resto do país, uma das facetas mais funestas do centralismo lisboeta, será porventura também, a de procurar desvalorizar e despojar, tanto o carácter, como os hábitos culturais das populações fora das suas 'magnificientes' fronteiras. Para tal, vale-se da força dos média, com a Televisão no comando dessa tarefa. Durante anos a fio, essa empreitada acaba por dar os seus 'frutos'. Pôdres frutos, é certo, mas frutos.
Começando pelo futebol, quem de boa fé observar o comportamento desta comunicação social, notará sem dificuldade o incómodo que os sucessos desportivos alcançados pelo F. Clube do Porto estes últimos 20 anos - interna e externamente - consegue provocar na vaidade "capital", traduzido em infindáveis expedientes para os descredibilizar. A testemunhá-lo, estão programas (ditos desportivos) como - no passado - os Donos da Bola, da SIC, e, mais recentemente, a produção de um suposto filme, de um suposto realizador, procurando oportunisticamente fazer algum dinheiro à custa de desancar sem escrúpulos na dignidade do dirigente do F.Clube do Porto e com isso também tentando desestabilizar a dinâmica vencedora do próprio clube.
A própria tradição, não escapa à saga cultural da mediocridade centralista. Desde tempos remotos, as gentes do Porto ganharam fama de trabalhadoras e a própria cidade era conhecida pela cidade do trabalho. Hoje, os centralistas, contestam essa reputação e não perdem uma única oportunidade para dizer que, afinal, não é bem assim, que isso é mais um mito do que outra coisa, etc., etc.
Enfim, neste ponto, vale-nos o lado positivo das maledicências, que é, talvez, o de poder explicar melhor o empobrecimento actual do Porto e de toda a região Norte...
A velhinha ponte D. Maria, que - tal como a famosa torre de Paris, a Torre Eiffel - desde sempre se soube ter a supervisão de Gustave Eiffel, também não escapa ao bota-abaixismo da capital, que para retirar impacto à importância da obra, prefere atribuír a autoria do projecto - e, logo - o nome da ponte ao seu colaborador Teófilo Seyrig, embora toda a estrutura de engenharia tenha sido calculada por Eiffel, como aqui relembra e comprova o jornalista Jorge Vilas.
O vinho do Porto, também parece não ter nada a ver com o Porto, porque segundo estes 'patriotas' de pacotilha (prefiro o patriotismo dos galegos), como o vinho é produzido no Alto Douro, não devia ter o mome/marca Porto.
Se completarmos o ramalhete com a recente fatiota da cerveja "Sagres" (marca sulista, elitista e liberal????) com que foi vestida a Torre dos Clérigos, qualquer dia, também o Nicolau Nasoni não passou por aqui e o Porto, se calhar, já nem existe...
Começando pelo futebol, quem de boa fé observar o comportamento desta comunicação social, notará sem dificuldade o incómodo que os sucessos desportivos alcançados pelo F. Clube do Porto estes últimos 20 anos - interna e externamente - consegue provocar na vaidade "capital", traduzido em infindáveis expedientes para os descredibilizar. A testemunhá-lo, estão programas (ditos desportivos) como - no passado - os Donos da Bola, da SIC, e, mais recentemente, a produção de um suposto filme, de um suposto realizador, procurando oportunisticamente fazer algum dinheiro à custa de desancar sem escrúpulos na dignidade do dirigente do F.Clube do Porto e com isso também tentando desestabilizar a dinâmica vencedora do próprio clube.
A própria tradição, não escapa à saga cultural da mediocridade centralista. Desde tempos remotos, as gentes do Porto ganharam fama de trabalhadoras e a própria cidade era conhecida pela cidade do trabalho. Hoje, os centralistas, contestam essa reputação e não perdem uma única oportunidade para dizer que, afinal, não é bem assim, que isso é mais um mito do que outra coisa, etc., etc.
Enfim, neste ponto, vale-nos o lado positivo das maledicências, que é, talvez, o de poder explicar melhor o empobrecimento actual do Porto e de toda a região Norte...
A velhinha ponte D. Maria, que - tal como a famosa torre de Paris, a Torre Eiffel - desde sempre se soube ter a supervisão de Gustave Eiffel, também não escapa ao bota-abaixismo da capital, que para retirar impacto à importância da obra, prefere atribuír a autoria do projecto - e, logo - o nome da ponte ao seu colaborador Teófilo Seyrig, embora toda a estrutura de engenharia tenha sido calculada por Eiffel, como aqui relembra e comprova o jornalista Jorge Vilas.
O vinho do Porto, também parece não ter nada a ver com o Porto, porque segundo estes 'patriotas' de pacotilha (prefiro o patriotismo dos galegos), como o vinho é produzido no Alto Douro, não devia ter o mome/marca Porto.
Se completarmos o ramalhete com a recente fatiota da cerveja "Sagres" (marca sulista, elitista e liberal????) com que foi vestida a Torre dos Clérigos, qualquer dia, também o Nicolau Nasoni não passou por aqui e o Porto, se calhar, já nem existe...
IRRELEVÂNCIAS TELEVISIVAS...
Àcerca da nova reestruturação da RTPN, o ministro Augusto Santos Silva volta a "sossegar" a comunidade nortenha, garantindo-lhe o fortalecimento informativo do canal, uma vez que irá dedicar especial vocação para as questões regionais.
Ao mesmo tempo, Luís Marques, administrador da RTP, insiste na "tecla" da "irrelevância" da origem onde o canal é feito. Neste capítulo, há que reconhecer a nossa incapacidade para compreendermos a evidência destes factos, considerando a tendência do Estado para a descentralização dos média... Fosse o cidadão comum um pouco mais perspicaz, teria verificado quão "irrelevante" é o detalhe sobre o local de produção, se atentasse nos constantes exemplos/prova que esse mesmo Estado (e a iniciativa privada também, diga-se) nos vem dando ao longo dos anos com a implementação de estações de TV um pouco por todo o país... Poucas estão em Lisboa, está a vista. Por quê, então, suspeitar?
Mais irrelevante ainda, será a nossa preocupação com o fim da produção do noticiário nocturno dos estúdios do Monte da Virgem passando a ser emitido a partir de Lisboa, pois estamos cansados de saber que a hora de maior audiência não é a da noite (20 horas), mas sim a da tarde, que é o momento em que toda a gente regressa a casa já um pouco refeito do stress laboral, ou seja, lá para a uma ou duas horas da tarde...
Irrelevâncias, portanto...
11 novembro, 2007
A Ota está quase a chegar a Sacavém
O território de Portugal continental é, grosso modo, um rectângulo com cerca de 600 km de comprimento e 200 de largura, situado no lado mais ocidental da Europa. Penso haver um consenso geral no país sobre este resumo da nossa localização geográfica.
Mas este consenso volatiza-se quando se passa da teoria geral para a prática. No dia a dia, e vista de Lisboa, a geografia do nosso país modifica-se por completo, evoluindo do simples rectângulo para uma organização bem mais complexa com óbvias semelhanças ao Sistema Solar.
No centro, no lugar do Sol, está Lisboa (a região mais rica da Península Ibérica em termos de paridade de poder de compra) girando à sua volta três planetas: dois planetas anões, que lhe estão próximos, e um outro, enorme e distante como Neptuno.
Os dois planetas anões são o Alentejo (onde os lisboetas com contas bancárias mais desafogadas ou níveis de endividamento mais elevados têm o seu «monti») e o Algarve (destino de veraneio alternativo para as pontes e as férias da Páscoa e Verão). Trata-se de planetas poucos povoados, que dispõem de um clima agradável e têm uma serventia essencial de diversão.
A anos luz de distância está o terceiro planeta do Sistema Portugal, vulgarmente designado pelas expressões «lá em cima» ou «província». «Norte» é o nome politicamente correcto.
O planeta Norte é densamente habitado por gente que fala com uma pronúncia parola, tem um clima horrível (é frio e húmido e está sempre a chover) e muitas fábricas onde abusam do trabalho infantil – em vez de andarem na escola as criancinhas passam o dia a coser sapatos e roupas para a Zara. O pessoal «lá de cima» diz muitos palavrões e tem a mania do futebol, onde só ganham devido às trampolinices do Pinto da Costa (mas isso vai acabar).
Não é simples estabelecer os contornos exactos do planeta Norte. Eles são realmente bastante difusos e alargados.
Durante os cinco anos em que chefiei a Redacção no Porto do Expresso recebi dezenas de telefonemas de colegas meus de Lisboa perguntando-me se era possível mandar um jornalista «dar uma saltada» a locais tão diversos como Vieira de Leiria, Monção, Tomar, Guarda, Mirandela, Termas de Monfortinho, Régua, Arganil, Fundão, Cantanhede, Viseu ou Alcafache.
Ou seja, tudo quanto está fora de Lisboa e não é Alentejo ou Algarve, integra o planeta Norte, cuja órbita está cada vez mais larga, afastando-se lenta mas inexoravelmente do Sol. E a força de gravidade exercida por atrai pequenos asteróides que se soltaram do grande planeta.
É o caso da Ota, que há muitos anos não passava de um satélite do planeta Norte, do qual se soltou entrando em rota de colisão com Lisboa. Quando a questão da localização do novo aeroporto foi recolocada, a Ota distava 66 km de Lisboa. Nos últimos estudos já estava só a 50 km. Não tarda nada, fica ali mesmo à saída de Sacavém…
Jorge Fiel (do blog "Bússola")
PS. Se quer poupar-se às maçadas sofridas por Galileu, deve abster-se de insistir com os lisboetas dizendo-lhes que o rectângulo Portugal faz parte do sistema Europa, com centro de gravidade em Bruxelas.
Mas este consenso volatiza-se quando se passa da teoria geral para a prática. No dia a dia, e vista de Lisboa, a geografia do nosso país modifica-se por completo, evoluindo do simples rectângulo para uma organização bem mais complexa com óbvias semelhanças ao Sistema Solar.
No centro, no lugar do Sol, está Lisboa (a região mais rica da Península Ibérica em termos de paridade de poder de compra) girando à sua volta três planetas: dois planetas anões, que lhe estão próximos, e um outro, enorme e distante como Neptuno.
Os dois planetas anões são o Alentejo (onde os lisboetas com contas bancárias mais desafogadas ou níveis de endividamento mais elevados têm o seu «monti») e o Algarve (destino de veraneio alternativo para as pontes e as férias da Páscoa e Verão). Trata-se de planetas poucos povoados, que dispõem de um clima agradável e têm uma serventia essencial de diversão.
A anos luz de distância está o terceiro planeta do Sistema Portugal, vulgarmente designado pelas expressões «lá em cima» ou «província». «Norte» é o nome politicamente correcto.
O planeta Norte é densamente habitado por gente que fala com uma pronúncia parola, tem um clima horrível (é frio e húmido e está sempre a chover) e muitas fábricas onde abusam do trabalho infantil – em vez de andarem na escola as criancinhas passam o dia a coser sapatos e roupas para a Zara. O pessoal «lá de cima» diz muitos palavrões e tem a mania do futebol, onde só ganham devido às trampolinices do Pinto da Costa (mas isso vai acabar).
Não é simples estabelecer os contornos exactos do planeta Norte. Eles são realmente bastante difusos e alargados.
Durante os cinco anos em que chefiei a Redacção no Porto do Expresso recebi dezenas de telefonemas de colegas meus de Lisboa perguntando-me se era possível mandar um jornalista «dar uma saltada» a locais tão diversos como Vieira de Leiria, Monção, Tomar, Guarda, Mirandela, Termas de Monfortinho, Régua, Arganil, Fundão, Cantanhede, Viseu ou Alcafache.
Ou seja, tudo quanto está fora de Lisboa e não é Alentejo ou Algarve, integra o planeta Norte, cuja órbita está cada vez mais larga, afastando-se lenta mas inexoravelmente do Sol. E a força de gravidade exercida por atrai pequenos asteróides que se soltaram do grande planeta.
É o caso da Ota, que há muitos anos não passava de um satélite do planeta Norte, do qual se soltou entrando em rota de colisão com Lisboa. Quando a questão da localização do novo aeroporto foi recolocada, a Ota distava 66 km de Lisboa. Nos últimos estudos já estava só a 50 km. Não tarda nada, fica ali mesmo à saída de Sacavém…
Jorge Fiel (do blog "Bússola")
PS. Se quer poupar-se às maçadas sofridas por Galileu, deve abster-se de insistir com os lisboetas dizendo-lhes que o rectângulo Portugal faz parte do sistema Europa, com centro de gravidade em Bruxelas.
"Fogos de Outono"
Este, não é um assunto da cidade do Porto, é mais grave e extenso e de âmbito nacional.
Segundo rezam as crónicas, nos primeiros 10 dias de Novembro, o país foi fustigado com cerca de 2400 icêndios! Disse bem, 2400 incêndios, isto é, uma média de 240 incêndios por dia! É Obra!
Não dá para acreditar, mesmo considerando o Outono atípico deste ano, com temperaturas invulgarmente elevadas para a estação. É que, assim mesmo, essas temperaturas, nunca chegaram sequer a atingir valores excessivos, tendo-se mantido numa média moderada dos vinte e muitos graus.
Por altura do fim do Verão, lembro-me de ter pensado quão gratos deviam estar os nossos governantes pela irmã natureza os ter poupado do flagêlo de verões anteriores mais agressivos em termos de calor e, consequentemente, os ajudar a apresentar um balanço positivo do controle aos fogos deste ano e a puxar indevidamente dos galões por tais "méritos". Azar! A Natureza, não vai em cantigas, é muito mais poderosa que o homem, e ironicamente (ou não) vinga-se quando ele abusa da sorte.
Mais graves, provocadoras até, foram as declarações do Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, quando, ao mesmo tempo que os fogos aumentavam em número e intensidade, afirmava (em reportagem televisiva) com a maior serenidade do mundo o controle absoluto da situação bem como a adequação de meios para os combater.
A questão que se deve colocar, é a seguinte: se o controle e os meios existem, como pode um homem com a responsabilidade de um Ministro - excluindo o recurso ao embuste - justificar a ocorrência de 2.400 incêndios em apenas dez dias?
Achará uma pessoa com estas catacterísticas que o cidadão comum se sentirá motivado nas próximas eleições a dar-lhe o seu voto ou sequer a deslocar-se às urnas para ir votar?
Terão, porventura "lata" para se queixarem da abstenção dos eleitores? Já sei a resposta, é:
têm, sim senhor, para isso e muito mais. Mas custa aceitar realidades desta natureza, com tanto encómio gasto neste modelo de democracia.
PS-Estes dados, foram obtidos via TVI em 10-11-2007. Caso estejam viciados, caberá ao Estado repôr a verdade e tomar as medidas necessárias para o evitar.
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