16 novembro, 2007

O FUTEBOL E O "BÚSSOLA"

Um grupo de orgulhosos tripeiros, razoavelmente mediáticos, decidiu recentemente instalar na blogoesfera mais um blogue com nome de "Bússola", dedicado à nossa amantíssima cidade do Porto.

O seu lançamento, previamente anunciado como uma forma irreverente, bem humorada e sarcástica de protesto, contra a epidemia centralista que assolou o país, já começa a provocar, (como era previsível), muita comichão nos egocentricos adeptos do centralismo.

É mais do que famosa, a maneira rebelde e apaixonada dos tripeiros transmitirem esse amor à cidade, nada preocupados com o efeito que isso possa provocar nos outros. Quem gosta do estilo gosta, quem não gosta, paciência, terá de se conformar, porque, tal como a nossa pronúncia, o nosso estilo pode não ser consensual, mas tem a genuidade das coisas únicas e inimitáves, porque é de facto único.

O tripeiro típico, é mesmo assim. Mas, como nada na vida é perfeito, há alguns portuenses atípicos, quiçá distraídos por "simpatias clubísticas" desviantes, que não souberam resistir à aculturação produzida pela Comunicação Social Centralista de Lisboa (vulgo CSCL) e deixaram-se afectar por tiques e conceitos que nada têm a ver com os seus.

Para complicar as coisas, há também aqueles portuenses que por questões de mero oportunismo se renderam ao domínio da capital e, mesmo quando pretendem dar-se ares de
inconformados, medem muito bem tudo o que dizem de forma a não deixar transparecer quaisquer sinais susceptíveis de contrariar o poder e os preceitos centralistas. Estou a lembrar-me de dois, por sinal ambos do mesmo partido e avessos ao futebol...

Por falar em futebol e voltando ao "Bússola", é aqui que se percebe quanto a clubite pode influenciar e limitar a acção dos cidadãos da mesma cidade na intervenção política. No "Bússola", também há raras excepções. É o caso do bloguista residente, António Souza Cardoso, portuense raçudo, mas benfiquista de coração, que na hora do desporto troca a bandeira do clube mais expressivo da cidade pela bandeira de um clube que não a representa. Afinal, é o direito das pessoas à liberdade de escolha - muitas vezes por influência familiar - mas a baralhar o tendencional efeito de proximidade nas suas opções afectivas.

Contudo,ninguém pode afirmar que haja coerência e conforto nestes casos. O que haverá, na melhor das hipóteses, é alguma ambivalência nos sentimentos. Suponho que ninguém encontrará grandes diferenças entre um benfiquista nascido no Porto "torcer" pelo clube lisboeta e um português pagar bilhete para apoiar a selecção inglesa, num Inglaterra/Portugal.

Não me parece pois possível distinguir os afectos regionalistas dos nacionalistas ( refiro-me ao futebol) sem se entrar num processo incontornável de contradições. O mesmo penso dos portistas nascidos em Lisboa.

Neste contexto, é revelador atentar no "Bússola", aos comentários dos sulistas e daqueles nortenhos "atípicos", plenos de fel e ciumeira em relação ao Porto.

Quando algum cronista fala do F.Clube do Porto caem imediatamente sobre ele, alegando que "nós nortenhos" só sabemos falar de futebol, procurando tristemente colocar-se em elevados patamares de cidadania, desmemoriados de uma comunicação social caseira que não tem feito outra coisa senão estar ao serviço da capital, promovendo o seu clube dilecto durante anos a fio, mesmo quando nada o justifica.

Até os políticos, em debates extra-futebol não se coibem de falar do "seu Benfica", como se descontextualizar qualquer assunto em nome do glorioso, seja a coisa mais natural e inocente do Mundo. Quando somos nós a abrir a boca sobre as nossas coisas, o caso muda logo de figura, mesmo que dentro das paredes de um blogue como o "Bússola", sem a visibilidade nem a influência da televisão, é vê-los a despejar moralidade por todos os poros.

É por estas e por outras, que quando aparecem alguns iluminados a apregoar que o futebol aliena e nos desvia de temas mais importantes, tenho muita relutância em dar-lhes razão, porque sempre preferem diabolizar as consequências destes fenómenos a impedir o que os origina, que é, como cansamos de saber, o centralismo.

Temos entre nós, alguns "intelectuais" que ainda não entenderam que o desprezo fanático que manisfestam pelo futebol pode valer bem menos do que a presumível alienação popular por ele provocada.

Estar de costas viradas para o fenómeno futebolístico - que é popular - é outra forma da viver alienado da realidade.



1 comentário:

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...