24 julho, 2010

Pedro Baptista esteve bem e os entrevistadores também

De todas as entrevistas que Pedro Baptista deu, sobre a temática do Movimento Pró-Partido do Norte / Regionalização, a última, efectuada pela V-Television da Corunha foi, na minha opinião, a mais conseguida de todas. A verdade, é que o mérito ou o imérito do êxito de uma entrevista não depende exclusivamente do entrevistado, mas sobretudo dos entrevistadores e dos convidados.

Talvez porque a Regionalização se tornou num assunto tabu em Portugal [o centralismo faz destes milagres], até os entrevistadores ainda não se sentem muito confortáveis a abordá-lo. Em Portugal, os próprios simpatizantes da causa regional não conseguem aguentar um programa inteiro sem colocar sobre a Regionalização uns pozinhos de desconfiança. Não sei se será o receio de  ficarem "mal vistos" pelos seus amigos de partido ou de governo, o certo é que no meio de um discurso regionalmente assertivo dificilmente dispensam um "sim, mas, talvez". Não deixa de ser estranho tal comportamento. Afinal, o que receiam ? Se os exemplos que nos chegam dos países regionalizados são maioritariamente positivos por quê tanta hesitação? Será que é a sua segurança pessoal que sentem ameaçada? Por que não colocam o problema ao contrário? Então, porque não temem, porque não "fogem" mesmo deste regime oligárquico e separatista,que está a conduzir o país à miséria? É este regime que justifica o medo,  e não a criação de Regiões cujo sucesso em grande parte dos países da Europa é inquestionável. Meus senhores, assumam de vez [e sem complexos] o futuro que se faz tarde!

Pessoalmente, acredito que a Regionalização ao aproximar os eleitores dos eleitos poderá também contribuir para o refinamento da Democracia. Em Democracia, mais do que em qualquer outro regime, a integridade moral e intelectual dos governantes, a par das competências, tem de ser a regra não a excepção, porque as populações sabem, percebem, e já não toleram carreirismos ou tráficos de influências. A proximidade torna os processos de actuação mais transparentes entre eleitos e eleitores. 

Em conclusão, diria que a entrevista de Pedro Baptista à V Television de Corunha foi excelente e devia servir de modelo para as futuras. Para isso, seria importante que os entrevistadores portugueses fossem mais arrojados, que destacassem as vantagens da Regionalização e irrelevassem os eventuais inconvenientes. Que os regionalistas fossem mais afirmativos e procurassem influenciar positivamente as populações.

Levantar bichos-papões é um desperdício, porque eles estão bem vivos, aqui e agora, no Centralismo.


Pedro Baptista na Galiza (V-Televison da Corunha)

 
Ver aqui entrevista de Pedro Baptista À V-Television da Corunha
[é a última da lista]

Gilbert O'Sullivan // Claire

22 julho, 2010

Os nortofóbicos

Eu percebo [ó se percebo], a desconfiança e os medos justificados de certos cidadãos com a classe política, porque têm razões de sobra para isso. Só não percebo, é qual a solução prática que propõem para ultrapassar esse problema.

O povo do Norte não é o único no país com motivos de queixa  do desprezo com que tem sido tratado pelo Governo Central, porque, grosso modo, os efeitos perniciosos do centralismo sentem-se um pouco por todo o território, mas é sem dúvida alguma a Norte que tem provocado os maiores estragos. Estranha-se, é que muitos dos que agora hostilizam o Movimento Pró-Partido do Norte, se recusem a reconhecê-lo. Contra factos não há argumentos. Ora, se os factos são o melhor remédio para retirar uma dúvida, porque é que ainda há quem se recuse a reconhecê-los? 

Obviamente, que desse grupo de cépticos mais ou menos agressivos, não estou a incluir aqueles que estão actualmente instalados e acomodados na partidocracia, porque esses, desde logo,  tenderão naturalmente a rejeitar o ressurgimento de um novo Partido, quanto mais não seja por temor à concorrência e, fundamentalmente, pela força que essa ideia comporta. 

Dizem que o MPPNorte não tem ideologia [como se eles a tivessem] mas temem-no, justamente por este representar muito mais do que uma ideologia, ou seja: uma Necessidade. O Norte necessita de um Partido que lhe devolva a voz  e a governabilidade que o Centralismo lhe roubou. Portanto, ponhamos a ideologia de molho, e avancemos para o que é necessário e urgente.

Mas, não são os acomodados da partidocracia que me adensam o enigma, são sobretudo aqueles cidadãos anónimos que a espaços gostam, curiosamente, de esgrimir a mesma argumentação dos primeiros. Queixam-se que o novo Partido só servirá para dar emprego a políticos/doutores desempregados, negando-lhes o benefício da dúvida, sem lhes louvar a vontade de mudar, mas são incapazes de sugerir alternativas realistas para a situação actual. Podiam começar - por exemplo -, por nos indicar como é que pensam derrubar do poleiro, dos tachos e dos cambalachos, os políticos/governantes que neste mesmo instante deles se estão a governar, desgovernando-nos... Entre prevenir por suspeição e agir por constatação, faz todo o sentido escolher a segunda hipótese...Ou, aquilo que propõem é continuar a cruzar os braços?

Portagens nas Scuts?

TOMA!

21 julho, 2010

Despachos, requisições e designações [em nome da crise...]

· Despacho n.º 8346/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Requisita à empresa Deloitte & Touche, Lda., António José Oliveira Figueira, para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8347/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Requisita à Associação dos Bombeiros Voluntários de Colares Rui Manuel Alves Pereira, para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8348/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Requisita ao Sindicato dos Trabalhadores de Escritório, Comércio, Hotelaria e Serviços Vítor Manuel Gomes Martins Marques Ferreira, para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8349/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública Augusto Lopes de Andrade para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8350/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Requisita à empresa Companhia Carris de Ferro de Lisboa, S. A.,Arnaldo de Oliveira Ferreira, para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8351/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o assistente operacional Jorge Martins Morais da Secretaria-Geral do Ministério da Cultura, para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8352/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o assistente operacional Jorge Orlando Duarte Vouga do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I. P., para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8353/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública Jorge Henrique dos Santos Teixeira da Cunha para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8354/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa a agente principal da Polícia de Segurança Pública Liliana de Brito para exercer funções de apoio administrativo no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8355/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública José Duarte Barroca Delgado para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8356/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública Manuel Benjamim Pereira Martinho para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8357/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública Horácio Paulo Pereira Fernandes para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro

· Despacho n.º 8358/2010. D.R. n.º 96, Série II de 2010-05-18

Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral

Designa o agente principal da Polícia de Segurança Pública Custódio Brissos Pinto para exercer funções de motorista no Gabinete do Primeiro-Ministro 

(Extraído do Blogue Servir o Porto)

Multiplicam-se críticas à Câmara do Porto pela rejeição de rua dedicada a Saramago

Por Jorge Marmelo (in Público)

Depois de o PEN Clube Português ter escrito a Rui Rio, várias instituições estão a recolher assinaturas para um documento que pede a revisão de uma decisão considerada "chocante"

Alguns dos mais importantes nomes da cultura portuguesa estão a tomar posição contra a rejeição, na semana passada, de uma proposta que previa a atribuição do nome do escritor José Saramago, recentemente falecido, a uma rua da cidade do Porto. A homenagem ao único Prémio Nobel da Literatura de língua por- tuguesa, sugerida pelo vereador da CDU, Rui Sá, foi inviabilizada pelos votos da maioria PSD/PP na Câmara do Porto, mas, para além de algumas tomadas de posição individuais, existem já pelo menos dois documentos reclamando a reavaliação da proposta.


Ontem mesmo foi tornado público um documento que já foi adoptado por várias instituições, entre as quais a Associação Portuguesa de Escritores (APE) e a Cooperativa Árvore, as quais estão a promover junto dos seus associados uma recolha de assinaturas de apoio a um documento em que se convida o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, "a promover a reanálise da proposta apresentada, com vista a uma decisão que não desonre a cidade, nem ofenda a memória de um compatriota nosso que ficará como vulto maior da Literatura Universal".


O documento que serve de base à recolha das assinaturas considera "chocante" a notícia da rejeição da proposta de Rui Sá e conta já, entre outros, com a assinatura do escritor Mário Cláudio, Prémio Pessoa de 2004 e um dos responsáveis pelo texto da petição. O editor José Cruz Santos, os artistas plásticos Albuquerque Mendes, José Emídio e José Rodrigues, e o arquitecto Alcino Soutinho contam-se também entre os primeiros subscritores do documento.


O presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, disse ao PÚBLICO que subscreve "na íntegra" o teor do documento, tendo-o assinado a título individual, enquanto amigo de Saramago, mas também, institucionalmente, enquanto dirigente da APE. Trata-se, acrescentou, de manifestar "profunda indignação" por uma decisão "inqualificável" e "intolerável". "Ou se considera que a decisão da câmara é uma coisa risível, uma vez que a grandeza do José Saramago não está à mercê da estatura das formigas, ou se assume uma posição mais consequente e se procura que a câmara reveja a posição que tomou", explicou José Manuel Mendes.

"Grande perplexidade"


Segundo este responsável, o documento está a ser adoptado por várias instituições ligadas ao mundo cultural, de modo a não multiplicar iniciativas nem dispersar esforços, tendo já reunido, em poucos dias, um número muito considerável de assinaturas.


Em declarações à agência Lusa, o presidente da direcção da Cooperativa Árvore, Amândio Secca, explicou que, sendo esta "uma instituição cultural ligada à cidade do Porto por profundas raízes" e com 48 anos de existência, não pode deixar de manifestar "grande perplexidade" por uma decisão que Secca classifica como "insólita e atentatória à divulgação dos nossos valores culturais e dos seus criadores".


Já anteontem, também o PEN Clube Português (associação de poetas, escritores e novelistas) tinha divulgado uma carta enviada a Rui Rio, na qual se apela a que a decisão da última reunião do executivo seja reexaminada "com serenidade e lucidez". Considerando que a "dimen- são universal" de José Saramago "ultrapassa quaisquer divergências de apreciação que possamos ter a respeito da obra, da pessoa e das ideias do escritor", o PEN lamenta "profundamente" a decisão da autarquia.


A carta está assinada por alguns dos mais respeitados escritores portugueses, entre os quais se contam Mário de Carvalho, Maria Velho da Costa, Ana Luísa Amaral, Hélia Correia, Gastão Cruz, Pedro Tamen e Maria do Rosário Pedreira.


Já na semana passada, também Manuel António Pina, o autor homenageado na última edição da Feira do Livro do Porto, tinha criticado a posição da maioria de direita que governa a Câmara Municipal do Porto. Num artigo de opinião no Jornal de Notícias, Manuel António Pina optou pela ironia e comentou que a rejeição da proposta se ficou a dever ao facto de o vereador Rui Sá não ter explicado a Rui Rio quem foi José Saramago...

Futebol Clube do Porto: comunicar é preciso! Sem tardança.

Algo de invulgar se está a passar esta pré-época no Futebol Clube do Porto. Os sócios agitam-se, contestam os preços do bilhetes, o imobilismo do site, o atraso na entrega dos novos cartões e, sobretudo, criticam a política de comunicação do clube. A blogosfera portista começa a dar sinais de algum descontentamento. Enquanto isto, Pinto da Costa parece estar ausente.

Noutro clube qualquer, isto não seria motivo para espanto, mas no FCPorto, um clube cuja organização é tida como exemplar, é caso para estranhar.

Não sendo, de momento, sócio do meu clube do coração [já fui], nem por isso gosto de me alhear do que por lá se passa. O processo orquestrado pela máquina centralista para destruir a hegemonia do FCPorto no futebol nacional fez-me aproximar do clube, e a perseguição ao seu invejado líder acentuou essa aproximação. Diga-se o que se disser, o certo, é que essa vergonha jurídica chamada processo Apito Dourado, deixou algumas sequelas durante, e depois das competições em que o clube esteve envolvido, algumas das quais com consequências nas respectivas classificações. Todo este processo envergonhou  muito mais o Estado português [e quem o representa] do que as dúbias razões que estiveram na sua origem. A Justiça civil, apesar de preguiçosa [por isso, muito  pouco justa], provou de que lado estava a verdade.

Apesar do desfecho esperado, o facto, é que aquele pseudo escândalo de corrupção se  arrastou  durante 6 anos [iniciou -se em 2004] com diárias aberturas nos Telejornais da máquina de propaganda centralista [centralista sim, sr. Mário Soares!] cada qual a mais abjecta. Isto desgasta, deixa mazelas. E Pinto da Costa que o diga.

Ora, depois de toda esta odisseia tenebrosa, não se compreende que a direcção do FCPorto não tenha sentido a necessidade de melhorar a sua política de comunicação, não só com sócios e adeptos ,como com o público em geral. Inclusivé, devia ter um site autónomo gerido pelo próprio clube, bem como um canal de televisão para o qual já devia ter procurado parcerias  com capitais regionais e internacionais, mantendo contudo o seu controle. Como não fez nada disto, fecha-se como uma lapa, e os sócios exasperam. Com razão.

Além do mais, é importante pensar bem nas escolhas dessas eventuais parcerias. Não podem ser feitas com empresas como a Controlinveste ou a Olivedesportos, de Joaquim Oliveira, que já há alguns anos se colocou ao serviço do centralismo e seus clubes. A segurança, tem de ser a chave dos futuros negócios. O clube não pode dar-se ao luxo de desbaratar capital com parceiros de oportunidade e oportunistas, caso contrário fica seu refém.

A continuar assim, fechado em si mesmo, despeitando os sócios e adeptos, o FCPorto arrisca-se a perder a sua mais importante base de apoio que é o público. E atenção, preparem-se para o que aí vem. A nós portistas, não nos basta construir uma grande equipa de futebol. Há mais túneis à nossa espera. Outras armadilhas vão ser montadas pelos mesmos e as consequências podem ser desastrosas. A  (in)Justiça não ganha campeonatos mas pode ajudar a perdê-los.

20 julho, 2010

O hiper-centralista Mário Soares

Com a Europa doente, é certo e seguro que Portugal só pode estar em estado de coma. Esta, é daquelas certezas que muitos portugueses dispensariam de bom grado. Se por cá temos sucessivos mantos de névoa lançados sobre os escândalos da Freeport, Casa Pia, BCP/BPN e tantos outros, em França há um ministro do Trabalho a contas com branqueamentos de capitais, enquanto em Itália o povo se "orgulha" de ter como 1º. Ministro um glob-trotter em escândalos sexuais. Sinais dos tempos, institucionalmente pornográficos...

Lá, como cá, a história será preenchida de páginas com factos dignos dos mais sofisticados filmes de ficção, nos quais a gerações futuras vão poder despreocupadamente inspirar-se. Há os Sarkozy em França, os Berlusconi em Itália e os Soares em Portugal. Todos eles, sem excepção, terão garantido um lugar na História dos respectivos países sem terem feito grande coisa para o merecerem.  Refiro-me a acções relevantes, como a boa governação e zêlo na estabilidade dos povos, não a serviços extra, hard-core, ou por aí...

Só para termos uma ideia da visão mundana e das aptidões político-estratégicas do "nosso" animal sagrado de eleição - o «monstro» Mário Soares -, teria bastado ouví-lo opinar sobre a próxima revisão Constitucional em entrevista  conduzida pela Constança Cunha e Sá na TVI24, para retirarmos quaisquer dúvidas sobre a sua consistência ideológica e firmeza cívica. Pois [pasme-se!], o «monstro» sagrado dos media, garantiu à entrevistadora, que em Portugal não existe o centralismo! É verdade, se Soares o disse, é porque sabe do que fala [ele sabe sempre...], e nós que aguentamos com o centralismo durante 36 anos, somos todos uns idiotas. Taxativo. Mas, Soares não se ficou por aqui, manifestou-se contrário à revisão da Constituição, alegando que o documento mais importante da República era dos mais avançados da Europa,  e que por isso não se lhe devia mexer, excepto [imaginem!]  manter a Regionalização na gaveta!

Há muito, que Mário Soares deixou de me surpreender. Ele não é o homem bonacheirão que aparenta. A capa fica-lhe bem, mas a cabeça não condiz com ela.  Só assim se compreende que continue a defender José Sócrates.

19 julho, 2010

Um olhar sobre a Regionalização (III)

No primeiro texto desta série, afirmei que a palavra Regionalização, por si só, não define nada, na medida em que tem tantas acepções quantas as que lhe quisermos dar. Então que Regionalização quereria eu, e certamente que não estou sózinho neste desejo?

A Regionalização que está nos textos oficiais, não é com certeza. Esta Regionalização não interessa, é um embuste. É uma caixinha de surpresas que foi preparada unilateralmente por quem não quer aceitar a partilha de Poder que está subjacente a uma verdadeira regionalização. É uma caixinha que está cheia de nada. Não tem uma definição clara das atribuições e competências das Regiões, é omissa quanto ao seu financiamento, impõe uma série de conhecidos condicionalismos legais para tornar praticamente impossivel a instituição em concreto das Regiões. Consequentemente considero que não serve sequer para base de discussão.

Pessoalmente entendo que o Governo deveria ocupar-se de todas as funções que definem a soberania nacional, deixando as Regiões tratar dos remanescentes assuntos, nomeadamente os de âmbito regional. Este sistema ocorreria dentro de regras de jogo que teriam sido antecipadamente discutidas e consensualmente aceites. Por outra palavras, sim, tenho em mente uma autonomia tipo Madeira/Açores, provavelmente com algumas adaptações. O argumento de que as Ilhas têm esse estatuto em virtude da sua descontinuidade geográfica em relação ao Continente, não pode servir de justificação, já que estamos a falar do mesmo país e do mesmo povo, que é suposto ter direitos iguais.

Haverá decerto quem argumente que "esta" Regionalização é melhor que nada e que poderá constituir a primeira etapa de um processo que posteriormente evoluiria num sentido mais favorável às nossas pretensões. Ilusões! Penso que não é hipótese a considerar, que seria uma perda de tempo, já que só num horizonte temporal muito distante haveria (talvez!) uma evolução conducente a uma autonomia com contornos bem definidos.

Só vejo uma circunstância em que talvez pudesse ser aceitável que a Regionalização se reduzisse a uma simples descentralização administrativa. Seria na condição que o Estado desse inequívocas provas de boa-fé quanto à aceitação da implementação das Regiões, o que no mínimo teria de se traduzir pela remoção das armadilhas constitucionais que praticamente a inviabilizam, e pela aceitação de negociar alterações à actual Lei-Quadro das Regiões. Tudo o que não seja isto, é o Estado e os políticos a "empatar" tal como vêm fazendo, seja com a ideia da criação de uma região-piloto no Algarve, seja agora com a proposta da nomeação no Parlamento de uma comissão para estudar o assunto. Sabendo-se pertinentemente que o Estado, quando não quer resolver um problema, nomeia uma comissão...está tudo explicado!

O caminho para a autonomia regional é longo e trabalhoso, mas não é utópico. É extranha a analogia que me vem à mente, mas mais dificil e penoso terá sido a libertação do jugo soviético por parte dos países da Cortina de Ferro, e no entanto conseguiram-no. Quem sabe se os seus mentores se inspiraram na tradicional frase "soyons raisonables, demandons l'impossible". Porque não também nós?

A Justiça e os líderes

Ouvir um juíz dizer: é a Justiça deste país!, por absolver um criminoso confesso, depois deste se recusar a prestar declarações em Tribunal, atesta na perfeição o estado de degradação cívica e moral a que Portugal chegou. Suponho não estar a dar nenhuma novidade. Quem lê os jornais, já tropeçou  decerto numa dessas aberrações jurídicas que consiste na obtenção de provas criminais, pelo Juíz de Instrução ou pela Polícia Judiciária, incluindo a própria confissão de autoria do crime com revelação do local  e da vítima, para no dia do julgamento tudo se exaurir numa patética estratégia de silêncio. Em Portugal, dizem  frontalmente os juízes [alguns], o crime compensa. Para tanto, basta que um criminoso confesso se recuse a falar em Tribunal...  Ah grande Democracia!

Não admira pois que tenhamos um 1º. Ministro confortável no meio da montanha de suspeitas que sobre ele recaem, nem um Presidente da República conformado com o miserável papel de corta-fitas e conselheiro inconsequente. Pessoalmente, já não consigo suportá-los. Eles surgem no écran e eu mudo imediatamente de canal. Já se tornou um instinto. De defesa, suponho. Da minha sanidade mental, seguramente. Para mim, Sócrates não existe, Cavaco também.  São o vazio. O vazio perturbante, mas o vazio, assim mesmo.

Mas, pelos vistos, para a comunicação social, que tanto se afoita a retransmitir as sábias palavras destes magníficos dirigentes, eles ainda têm coisas importantes para nos dizer.  O defeito será meu. Lá me falta aquela pontinha de massa encefálica que me separa da genialidade dos media. É pena. 

Mesmo assim, prometo que farei um derradeiro esforço para os acompanhar nas complexas análises políticas do futuro. Mesmo que continue sem perceber patavina...A nação exige-o.