"O Futebol Clube o Porto foi acusado de corrupção em 2003/2004, ano em que ganhou a Liga dos Campeões e, pelos novos regulamentos depois do caso Milan, fomos obrigados a tomar decisões. Depois houve complicações jurídicas e a situação mudou." Até as pessoas que um dia admiramos, nos surpreendem pela negativa. Platini, tornou-se uma delas.
O seu futebol era de uma qualidade rara. Inteligente e de uma elegância invulgar, dos seus pés saíam as jogadas mais bonitas que os meus olhos jamais viram. Ao seu nível, só me lembro de um outro também francês: Zinedine Zidane.
Mas isto era quando Platini jogava futebol, quando ainda não tinha passado pelo teste do princípio de Peter. Para quem não saiba o que isto quer dizer, eu explico.
O Princípio de Peter (do seu inventor, Laurence J. Peter) é o nome de um regime hierárquico onde os funcionários costumam ser promovidos até atingirem ao seu nível de incompetência. Por outras palavras, é uma chamada de atenção para os patrões mais distraídos que confundem competências. No caso vertente, significa isto: o facto de Platini ter sido um fabuloso jogador de futebol não quer dizer que possa ser um grande Presidente da UEFA. Ora, o próprio está, ao que parece, a comprová-lo. Por cá, lá para sul, há um clube megalómano (cujo nome me custa pronunciar, por razões de saúde), que também não conhece o Princípio de Peter e se prepara para lançar às feras um ex-bom jogador para o transformar num eventual mau dirigente, mas isso é algo que para aquelas bandas já é habitual. Para nosso proveito, diga-se.
Ora, se Michel Platini afirma, de forma tão leviana, que o FCP foi condenado por corrupção sem indagar nem se inteirar devidamente da sustentação jurídica da acusação, está a admitir que um dia alguém faça com ele exactamente o mesmo tipo de sacanice. Se, eventualmente amanhã, um juízeco pretensioso e mal formado decidir apresentar uma queixa crime contra Platini acusando-o de desvio de fundos dos cofres da UEFA em proveito próprio, sem a imprescindível fundamentação jurídica, ficamos com a ideia que Platini nem sequer tentará esboçar a sua defesa, que irá logo entrega-se à Justiça sem qualquer resistência...
Já aqui atrasado esbocei a mesma lógica de raciocínio e curiosamente não apareceu ninguém a rebatê-la, o que significa que não era destituída de bom senso, mas não me importo de repeti-la.
Uma vez que as questões de carácter não são propriamente o forte de José Mourinho e que, nem o facto de as conspirações movidas contra o FCPorto colocarem em causa a sua dignidade e mérito pessoal o levaram a tomar uma atitude de total rejeição a toda esta balbúrdia, estranha-se (não muito, claro) que a Comunicação Social aceite pacificamente esta óbvia contradição sem a explorar como tanto gosta. A equação é simples: se, como Platini pateticamente aceita, o Futebol Clube do Porto venceu desmerecidamente em 2003/2004 a Liga dos Campeões, então, também José Mourinho não teve qualquer mérito nesse sucesso. E quem é que se atreve agora a dizê-lo, meus senhores? Já não está no FCP... é assunto encerrado.
Naturalmente que, quem já nos habituou a vê-los aldrabar com a mesma facilidade que respiram, também não teria qualquer dificuldade para explicar a criação de um monstro sagrado baptizado de "Special One" e as toneladas de papel (jornais) que venderam à sua custa, confrontando-o com a ambivalência (ou contradição), "demérito=FCP/mérito=Mourinho", quando ele era o treinador da equipa, mas seria interessante observar a ginástica mental dos seus abruptos fãs e o seu inesgotável talento para a trafulhice argumentativa. Teriam de explicar tim-tim por tim-tim, em que jogos é que houve mérito do treinador e os outros, em que, supostamente, houve "corrupção" dos dirigentes. Não seria tarefa fácil, convenhámos, mas com imaginação tão fertilmente vocacionada para a fraude, nunca se sabe...
Posso (e quero) enganar-me, mas ainda vou assistir à decadência de José Mourinho (não à financeira, que essa está garantida). E tenho a impressão que vai começar já esta época, no Inter. Com toda a justiça, reconheço o mérito de Mourinho nos êxitos internacionais mais recentes do FCP, mas recuso-me a atribuí-lo exclusivamente a ele - como os inimigos do nosso clube preferem enfatizar - porque não me esqueço que antes do FCPorto, não existia José Mourinho para o futebol. Ou se existia, existia modesto e baço. Falhou no Benfica e no União de Leiria, fez o que pôde... Quem lhe deu a massa para poder brilhar, foi o Futebol Clube do Porto. Nenhum outro! E se essa massa foi "polida" com a corrupção dos árbitros por que é que não lhe perguntam?
Os jornalistas às vezes gostam de se distrair, não acham?