02 julho, 2008

O "dinamismo" da SRU-Porto Vivo

Na impossibilidade de linkar a crónica desta semana do Arqº. Gomes Fernandes do no JN, com o nome "Viver no Centro", reproduzo alguns dos excertos que me parecem mais significativos:

"Centro de uma cidade como o Porto, sem residentes, é um espaço de passagem e um palco transitoriamente animado de vida, mas incapaz de criar raízes."

"Cidades em "part-time" que se animam de dia e morrem de noite, não são verdadeiramente cidades vivas, no sentido histórico e integrador da cidadania, pois a noite como exclusivo avesso do dia não confere consistência criadora e evolutivo do processo urbano"

Na página 22 do mesmo jornal, como que a confirmar as opiniões do ex-vereador, podemos ler isto: fecho de loja expõe crise na "Cândido dos Reis".

É nestas ocasiões que os optimistas do regime deviam refrear um pouco o crónico entusiasmo para pensar um bocadinho. Naturalmente que, do êxito ou fracasso de qualquer área de negócio, depende também a capacidade de quem o lidera, mas não creio que possa ser apenas esse o principal problema, já que muitos outros comerciantes abriram lojas na Baixa para pouco tempo depois terem de fechá-las.

O Arqº. Gomes Fernandes, como ex-autarca que é, conhecedor das multiplas dificuldades que a gestão camarária apresenta, apesar de pôr o dedo na ferida, foi diplomata para com a SRU-Porto Vivo, ao dizer que ela devia ter feito mais, mas, mesmo assim reconhece que foi fazendo alguma coisa. Pudera! Pior estaríamos, certamente, se não fizesse absolutamente nada! Mas, que raio, o que se pretende é que faça mais e melhor. Ninguém lhe exigiria que reabilitasse toda a cidade em dois mandatos, mas esta coisa de estarmos sempre a conformarmo-nos com a obra de fontenário, com o assim já está bem , é o caminho mais longo para se atingir um (bom) objectivo. É também uma forma de "decretar" continuamente o processo de desculpabilização dos governantes.

Já algumas vezes o escrevi e volto a insistir nesta ideia. Enquanto não houver ambição, capacidade de liderança e coragem para exigir do Poder Central os fundos que a nossa cidade necessita para se desenvolver e reabilitar, tudo não passará de meros remendos. A reabilitação urbana do Porto devia estar a ser realizada faseadamente e a bitola para isso devia ser o quarteirão e não umas casitas dispersas aqui e ali como buracos em queijo. Se os famigerados financiamentos do QREN podem servir para alguma coisa é para isso. Mas não, não se houve falar de um projecto capaz de animar os portuenses. Tudo é feito a um ritmo lento, sem planos firmes e convincentes e sem arrojo.

Por este andar, nem nas gerações dos nossos netos teremos cidade. O buraco do centro do Porto estará mais e mais deserto e as raras casitas que hoje estão a ser restauradas (e mal, pelo que sei) já terão apodrecido de velhas e vazias.

A população gosta de viver onde a vida pulsa, não em sarcófagos disfarçados de casas, nem em cemitérios tentando emitar cidades.

2 comentários:

  1. Os proprietários deveriam ter um prazo para fazer alguma coisa. a partir desse prazo, a Cãmara ou outro organismo criado para o efeito podia reconstruí-las e alugá-las por uma renda acessível especilamente à população jovem que tanto ama a nossa cidade e não tem condições para comprar casa. tantos jovens gostariam de viver sós, mas não têm possibilidade...

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  2. Pois é... Depois, há, da parte dos proprietários das casas abandonadas, a ideia de que o monte de ruínas a que as deixaram chegar vale um EUROMILHÕES.
    Primeiro dizem que estão tesos e não têm dinheiro para obras, depois, querem enriquecer à custa do desleixo e da ruína...

    Neste país, o bom senso é coisa rara.

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...