Às vezes tenho a imensa vontade de voltar atrás e viver num sítio onde
se pudesse tocar o sino a rebate e, por urgência, juntar todos os que se
interessam pelo sítio onde vivem para pensar alto e não perder o
futuro. Se pudesse, tocava-o hoje.
Por mais calmas que pareçam as marés e por mais razoável que seja o tempo em que, por exemplo, os novos eleitos autárquicos tenham de dispor para se adaptar, temos de ter na ponta dos dedos a rapidez que a ação política, mesmo que no sentido lato de governo da polis, exige.
Quem de nós nortenhos está a seguir de perto as congeminações sobre a reforma da RTP? O que vai, afinal, acontecer ao Monte da Virgem? Irão conseguir esvaziá-lo até ao ponto de todos acharmos que já não é preciso? Há pouco tempo, ouvi de profissionais da Casa que "em Lisboa nem sabem o meu nome", ou "fazemos uma produção nos limites mínimos porque não podemos gastar dinheiro em aluguer de equipamentos e pedir equipamentos a Lisboa é muito complicado"!
Primeiro vinha o jornal da noite, depois a RTP internacional, agora nem o único programa de análise política que era feito no Norte do país sobreviveu. Atenção, sr. presidente da Câmara, sr. presidente da Área Metropolitana, sr. diretor do JN, sr. presidente da AEP, sr. presidente do FCP, srs. reitores, srs. presidentes de Câmara. Atenção, porque é preciso ter uma opinião e lutar por ela, em conjunto, enquanto é tempo.
Tal como todos devíamos tocar a rebate para fazer ouvir ao sr. ministro Nuno Crato que não se trata assim as universidades e não se desconsideram assim os srs. reitores. Infligir um corte cego médio aplicado à massa salarial de toda a Função Pública às universidades sem perceber que estas instituições já fizeram metade desse ajustamento é no mínimo negligente (por desconhecimento) e no máximo ação de má-fé. isto quando a performance das universidades portuguesas, e desde logo as do Norte, é dos poucos desempenhos que nos orgulham a nível internacional.
O que se passa, afinal, com o terminal da Trafaria e que relação existe entre este investimento e o correlacionado desinvestimento nas infraestruturas nortenhas? Houve notícias inquietantes a respeito. A reunião prevista entre o sr. presidente da Câmara do Porto e o sr. presidente da CCDR-N já aconteceu? Foi esclarecedora? Uma das vantagens do toque a reunir era a da moderna "accountability", ou seja, a de sabermos de forma transparente e em tempo útil como vão os processos. Neste caso e quanto mais não seja para ficarmos todos descansados sobre a defesa desta Região no que respeita à única alavanca ao investimento de que vamos dispor.
E a propósito também seria muito útil perceber que contornos terá o banco de fomento que será sediado no Porto. Quando se diz que desempenhará um papel importante na gestão dos incentivos comunitários às empresas isso quer dizer que a dotação preliminar alocada ao Programa Operacional do Norte será expurgada de uma parte substancial cuja gestão é entregue ao banco? Não virá daí grande mal se o banco for gerido por uma equipa equilibrada, desde logo no conhecimento das várias zonas industriais do país (e Lisboa não é exatamente uma delas). No entanto, tarda em saber-se com quanto podem afinal os municípios e outros beneficiários contar no que respeita ao envelope que virá para o Norte.
E o aeroporto? Li que a Irlanda cobra "zero" à Ryanair (presumo que também as outras companhias low-cost, mesmo não sendo irlandesas) pelas suas operações aeroportuárias. Não li, mas já ouvi dizer que talvez Lisboa faça o mesmo. E o Porto? Será abrangido ou agora que a ANA é privada a discriminação é possível? Têm noção de qual será o impacto de um desinteresse ou mesmo abandono da Ryanair no turismo do Porto? Não é de tocar a rebate?
E mesmo no que diz respeito à atuação de instituições privadas de interesse público como é o caso da Fundação de Serralves. Partindo do princípio de que serão sem dúvida convocados fundos comunitários para o novo projeto da Casa do Cinema de Manoel de Oliveira, não seria de explicar melhor por que é que a que já foi feita no tempo do Porto 2001 afinal já não serve?
Mas a perguntar era agora. Em casa roubada...
[do JN]