O FC Porto veio a terreiro esta quinta-feira lembrar o facto de o clube ser o único da I Liga a cujos adversários não foi mostrado um cartão vermelho que fosse nesta edição do campeonato. E desde fevereiro de 2015.
“Só nos resta saudar o fairplay e o respeito pelas regras de todas as equipas nos últimos 42 jogos e lamentar que não seja sempre assim”, escreveu ironicamente o FC Porto na sua newsletter oficial, a Dragões Diário.
Os azuis e brancos recordam que a última vez que ficaram a jogar em superioridade numérica aconteceu a 1 de fevereiro de 2015, ainda durante a temporada passada, num jogo com o Paços de Ferreira. Corria a 19ª jornada e o FC Porto vencia em casa os pacenses por 4-0 quando Romeu Rocha foi admoestado com o segundo cartão amarelo – o resultado haveria de parar em 5-0.
“Já lá vão 416 dias e 42 jogos para o campeonato” desde então, fez as contas o FC Porto, que foi mais longe nas conclusões a tirar em relação a este dado estatístico: “os números nunca mentem, situação que ganha contornos ainda mais surpreendentes se tivermos em conta que, à 10.ª jornada, todos os outros 17 emblemas do principal campeonato já tinham beneficiado de pelo menos uma expulsão do lado contrário”.
Os dragões lembraram ainda que “desde esse dia 1 de fevereiro, quando se disputou a 19.ª jornada da época passada, Benfica e Sporting, os mais diretos adversários do FC Porto e as equipas com que de alguma forma se pode estabelecer um termo de comparação, por serem as três equipas que assumem as chamadas despesas do jogo, beneficiaram de seis e nove expulsões dos adversários, respetivamente”.
Nota de RoP:
Há ainda quem acredite que o FCPorto, concretamente, a estrutura directiva, para o ano vai dar a volta à situação de desnorte a que chegou. Parecem esquecer que a situação não é de agora, que já se arrasta há 3 ou 4 anos. Às vezes, não sei se isso é uma manifestação de portismo, ou se antes é de conformismo.
Contrariamente ao que se vai lendo por aí, não se trata de ter ou não ter confiança, ou de estarmos mal habituados com os anos de sucesso. Trata-se de comparar a postura actual do presidente Pinto da Costa com a do passado, interna e externamente, para perceber que as coisas mudaram, e infelizmente, não para pior, mas para muito pior.
Essa mudança tem sido tão radical, tão sórdida, tão humilhante, tão estupidamente silenciosa, que provocou em mim um forte sentimento de indignação, que perdi completamente a consideração por quem antes muito admirava.
Antes de chegar a este ponto de decepção e de não retorno, ainda cheguei a pensar que se tratasse de uma estratégia. Pensei que o silêncio de Pinto da Costa fosse uma espécie de teste de risco, previamente estudado e documentado, para à posteriori ser apresentado a quem de direito, e exigido o devido ressarcimento dos danos decorrentes. Esse "quem de direito" é que me intriga, porque a nível nacional, não estou a ver qual, mas externamente talvez fosse possível, não sei. Mas, lamentavelmente, não era uma estratégia, eram sintomas do velhinho princípio de Peter.
Pinto da Costa soube gerir muito bem o FCPorto, enquadrado numa organização tradicional, onde só ele decidia, ainda que coadjuvado de outros sub-dirigentes, mas não soube, ou não quis, adaptar essa liderança numa estrutura do tipo SAD, constituída por accionistas, com cotação (ou não) em bolsa.
De todo o modo, nada justifica mudança comportamental tão drástica, para um clube tão especial como é o FCPorto. Especial para os adeptos, porque foram bem (insisto eu) habituados a vencer, e especial pela opressão de que sempre foi alvo num país onde a democracia está muito longe de chegar ao futebol. Ora, uma vez que o FCPorto perdeu a capacidade de protesto, a sua voz timoneira, não sei onde descobrir aqueles sinais que levam alguns a crer que para o ano nada será como o trienio passado. Se calhar, é porque não sou um bom portista...