25 março, 2016

FC PORTO NÃO VÊ UM ADVERSÁRIO EXPULSO HÁ MAIS DE UM ANO

O FC Porto veio a terreiro esta quinta-feira lembrar o facto de o clube ser o único da I Liga a cujos adversários não foi mostrado um cartão vermelho que fosse nesta edição do campeonato. E desde fevereiro de 2015.

“Só nos resta saudar o fairplay e o respeito pelas regras de todas as equipas nos últimos 42 jogos e lamentar que não seja sempre assim”, escreveu ironicamente o FC Porto na sua newsletter oficial, a Dragões Diário.
Os azuis e brancos recordam que a última vez que ficaram a jogar em superioridade numérica aconteceu a 1 de fevereiro de 2015, ainda durante a temporada passada, num jogo com o Paços de Ferreira. Corria a 19ª jornada e o FC Porto vencia em casa os pacenses por 4-0 quando Romeu Rocha foi admoestado com o segundo cartão amarelo – o resultado haveria de parar em 5-0.
“Já lá vão 416 dias e 42 jogos para o campeonato” desde então, fez as contas o FC Porto, que foi mais longe nas conclusões a tirar em relação a este dado estatístico: “os números nunca mentem, situação que ganha contornos ainda mais surpreendentes se tivermos em conta que, à 10.ª jornada, todos os outros 17 emblemas do principal campeonato já tinham beneficiado de pelo menos uma expulsão do lado contrário”.
Os dragões lembraram ainda que “desde esse dia 1 de fevereiro, quando se disputou a 19.ª jornada da época passada, Benfica e Sporting, os mais diretos adversários do FC Porto e as equipas com que de alguma forma se pode estabelecer um termo de comparação, por serem as três equipas que assumem as chamadas despesas do jogo, beneficiaram de seis e nove expulsões dos adversários, respetivamente”.
Nota de RoP:
Há ainda quem acredite que o FCPorto, concretamente, a estrutura directiva, para o ano vai dar a volta à situação de desnorte a que chegou. Parecem esquecer que a situação não é de agora, que já se arrasta há 3 ou 4 anos. Às vezes, não sei se isso é uma manifestação de portismo, ou se antes é de conformismo. 
Contrariamente ao que se vai lendo por aí, não se trata de ter ou não ter confiança, ou de estarmos mal habituados com os anos de sucesso. Trata-se de comparar a postura actual do presidente Pinto da Costa com a do passado, interna e externamente, para perceber que as coisas mudaram, e infelizmente, não para pior, mas para muito pior.  
Essa mudança tem sido tão radical, tão sórdida, tão humilhante, tão estupidamente silenciosa, que provocou em mim um forte sentimento de indignação, que perdi completamente a consideração por quem antes muito admirava.
Antes de chegar a este ponto de decepção e de não retorno, ainda cheguei a pensar que se tratasse de uma estratégia. Pensei que o silêncio de Pinto da Costa fosse uma espécie de teste de risco, previamente estudado e documentado, para à posteriori ser apresentado a quem de direito, e exigido o devido ressarcimento dos danos decorrentes. Esse "quem de direito" é que me intriga, porque a nível nacional, não estou a ver qual, mas externamente talvez fosse possível, não sei. Mas, lamentavelmente, não era uma estratégia, eram sintomas do velhinho princípio de Peter.  
Pinto da Costa soube gerir muito bem o FCPorto, enquadrado numa organização tradicional, onde só ele decidia, ainda que coadjuvado de outros sub-dirigentes, mas não  soube, ou não quis, adaptar essa liderança numa estrutura do tipo SAD, constituída por accionistas, com cotação (ou não) em bolsa.
De todo o modo, nada justifica  mudança comportamental tão drástica, para um clube tão especial como é o FCPorto. Especial para os adeptos, porque foram bem (insisto eu) habituados a vencer, e especial pela opressão de que sempre foi alvo num país onde a democracia está muito longe de chegar ao futebol. Ora, uma vez que o FCPorto perdeu a capacidade de protesto, a sua voz timoneira, não sei onde descobrir aqueles sinais que levam alguns a crer que para o ano nada será como o trienio passado. Se calhar, é porque não sou um bom portista...

TAP - Caixa Negra

ROSÁRIO GAMBOA










Está nas livrarias o novo livro de Rui Moreira em parceria com Nuno Nogueira Santos que tem como nome o título desta crónica: TAP - Caixa Negra.


O conceito de "caixa negra" (importado da Teoria Geral de Sistemas, mas presente como metáfora forte em diversos contextos) designa um sistema fechado, cuja estrutura interna não é visível. Numa caixa negra registam-se as entradas, inputs, e os resultados, outputs; o que acontece dentro da caixa, a forma como os dados se combinam, interagem ou se transformam, é opaco (negro), desconhecido.
Esta é, pois, a metáfora do caso TAP, onde a transparência dos processos, quer ao longo dos anos da sua gestão como empresa pública quer no modo apressado da sua privatização, ou nos interesses que conduziram à sua recente transformação em empresa público e privada, parecem encobertos sobre os vidros fumados de uma caixa preta.
O livro apresenta dados, muitos. Completa a narrativa que nos chegou sempre mal colada (como dizia Lobo Xavier na apresentação do livro em Serralves), com elos factuais, respeitando a legitimidade da decisão governamental, mesmo quando ela não é clara e é nefasta nas suas consequências.
Mas, sobretudo, o livro põe o dedo na ferida de uma tradição infeliz entre nós: o pensar e decidir o país a partir de Lisboa como marca maior da ausência crónica de uma estratégia real de desenvolvimento e coesão nacional, alicerçada em estudos de contexto, sustentando de forma integradora o potencial económico, cultural e científico de cada território.
A supressão de diversas rotas internacionais a partir do Porto, a redução drástica de voos de médio curso, a par com a redução do hinterland do aeroporto Sá Carneiro, como consequência da operação com Vigo, são, entre outras, evidências empíricas cruéis e difíceis de entender pela Região Norte, pela Região Centro (que de pronto se manifestou) e pela própria Galiza, para quem a estratégia de Vigo não demonstra condições adequadas de funcionamento. São um retrocesso para um "País que muito depende da saída económica daquelas regiões e já experimentou de perto e longamente os malefícios da centralização exagerada que é de tradição" (Valente de Oliveira, Prefácio a TAP - Caixa Negra).
Esta é a causa do Norte, a causa do país, a razão pela qual tantas vozes de diferentes quadrantes políticos, sociais, profissionais se ergueram na voz de Rui Moreira. Será o fim?
*PRESIDENTE DO INSTITUTO POLITÉCNICO DO PORTO

23 março, 2016

Os anónimos vão ter de levar comigo

Há uns artistas, espécie típica da região saloia de Lisboa e de alguns seguidores pobres coitados  do resto do país, que ficam cheios de comichão com os meus comentários anti-centralistas, e não resistem a demonstrá-lo. Fazem-no sempre, com aquela soberba de quem carrega todas as razões do mundo, e a hipocrisia muito própria dos oportunistas. Naturalmente, não lhes dou o prazer de publicar as frustrações, mas confesso que elas me dão um grande gozo, porque são a prova máxima do incómodo que os meus artigos lhes provocam, a prova que estou no caminho certo. São uma inspiração.

São tão saloios, que mal cai um pouco de granizo, fazem daquilo um acontecimento único. Tal como fazem com qualquer porcaria de jogador que jogue no Benfica. Os leitores já terão reparado (é impossível não reparar), que quando dão demasiado destaque a alguém desconhecido para o resto do país, é porque, ou é do Benfica, ou é anti-portista. Tenho testado essas manifestações, e cheguei à conclusão que não me engano. 

Vou-vos dar um exemplo, que não é o mais simpático, admito, por se relacionar com uma pessoa que nos deixou há poucos dias. Trata-se de Nicolau Breyner. Respeito a sua morte, como respeito a morte de qualquer pessoa. Mas respeitar a morte de alguém, é tudo, menos servirmo-nos dela para indirectamente promover umas coisas e desvalorizar outras. Mas antes de fundamentar o que estou a dizer, não tenho qualquer problema em afirmar que, como cidadão com direito a opinar segundo as minhas convicções, nunca achei Nicolau Breyner um actor por aí além, e como director de actores ainda menos. Há em Portugal, incluindo em Lisboa, actores bem mais completos e consensuais que o falecido Breyner. Recordo-me de ter dito a quem na altura comigo privava, quando Nicolau lançou o Herman José, que ele iria muito mais longe na carreira de humorista, que o seu mentor. E foi o que veio a acontecer. 

Por isso, fiquei estupfacto com a multidão que lhe prestou homenagem, e sobretudo com os encómios descabidos que dedicaram ao defunto. Fiquei atónito! Parecia que estavam a falar de Desmond Tutu, ou de Nelson Mandela... Mas pronto,  gostos e  amizades não se discutem. Agora, o que não aceito é que, à boleia de uma homenagem fúnebre, se aproveite a oportunidade para evocar um filme (Corrupção, de João Botelho, outro benfiquista), em que Breyner fazia o papel de presidente de um clube de futebol , para indirectamente beliscar o presidente portista, e o FCPorto. Isso, não aceito. Como não aceito que queiram impingir o também falecido Eusébio ao país inteiro, com aquele espírito megalómano e unanimista que define os centralistas (sim, senhores anónimos, centralistas!) como se o país fosse povoado apenas na saloia Lisboa.

Não! Felizmente, o país é muito mais, e maior, do que a terra do fado das tascas e da promoção da desgraça.

PS-Há demasiados factos, que num país civilizado serviriam como prova de acto criminoso. Esta, é só uma, entre várias. É assim que se instiga a violência. Eles sambem-no, mas parece que estão à espera que aconteça. 

22 março, 2016

O assunto do dia

Ferido no atentado bombista de Bruxelas

Se para os ocidentais custa entender os padrões normativos dos povos orientais, como o desprendimento pela vida, em nome da pátria e da honra individual [como aconteceu com os japoneses kamikazes na segunda guerra mundial, é imperioso reconhecer o nosso maior respeito pelos seus rígidos conceitos do dever, de acordo com o enquadramento histórico em que ocorreram.

Podemos considerá-los algo exagerados, mas a verdade é que, como ocidentais que somos, não temos muitas alternativas para contrapôr como exemplo. O ocidente, está a ruir de pôdre, e não é só pela economia, é essencialmente pela falência progressiva de valores humanos e sociais. Uma prova recente do cinismo da União Europeia, foi o recuo estratégico na blindagem à adesão da Turquia, acrescida de uma oferta de 6.000 milhões de euros, para servir de tampão aos refugiados da guerra Síria e os impedir de chegar à Europa.

Apesar da bandalheira ideológica do ocidente, nada justifica o que hoje mesmo voltou a acontecer. Refiro-me, naturalmente, a mais dois atentados terroristas levados a cabo no aeroporto de Bruxelas e no Metro local. Essa luta, já eu não sou capaz de compreender. Só o fanatismo, explica morrer sem honra nem glória, por pretensas conquistas de fé divina. Matar inocentes, avulsamente, não é luta que enobreça alguém, é genocídío e barbárie. Jihadistas, talibans, são todos puros terroristas. 

Sucede porém, que a civilização ocidental, à qual pertencem a Europa, os Estados Unidos e toda a América Latina, não sai inocente desta nova ameaça mundial. Não pode orgulhar-se, nem de longe, nem de perto, de promover a paz mundial, a qual será impossível, sem uma nova ordem social em que a produção de riqueza  tenha como garantia a sua justa distribuição. A génese destes e muitos problemas pode parecer simplista, mas não é: está na injustiça humana. Numa sociedade livre e democrática, não há nada, nada mesmo, que racionalmente justique pagamentos milionários a um só homem, e permita o desemprego involuntário a muito outros,  mêses, anos a fio. Já nem falo dos mal pagos, teoricamente empregados, que é como se não tivessem emprego. Esta, é a principal fonte de todos os males, ninguém me convence do contrário. A religião é só um pretexto. Aqui, no Burkina Faso, como na China.

Seria dar um passo em frente, se para além de pensarmos travar o terrorismo pela repressão, procurássemos saber em que condições vivem os seus autores. Por cá (quem diria!), já emergiram alguns, para se alistarem em organizações terroristas com as quais, em princípio, nada teriam em comum, não fosse o infortúnio de o país de origem os mandar emigrar (Passos Coelho sugeriu) como solução à falta de trabalho remunerado... Comece-se pelos bairros sociais, que é o principal casulo da marginalidade, começando pelos dos países mais pobres, e a seguir pelos mais ricos. É um problema bicudo, é verdade, porque se os países de origem não lhes dão condições para se inserirem social e economicamente, é um tanto demagógico exigir aos que os acolhem as mesmas responsabilidades. Podia ser a União Europeia, mas essa está como sabemos. Esta, podia ser uma oportunidade de ouro para os nossos políticos e outros de países periféricos baterem o pé à Alemanha e começaram a discutir a Europa com a seriedade que teve na origem, mas não creio que haja ambição e vontade para tanto.

Para terminar, não quero deixar mais uma vez de focar o outro  lado negro da cultura ocidental em prol da paz e do progresso. É uma repetição, mas incontornável: o contributo dos Estados Unidos e da sua absorção cultural da parte da União Europeia. Há muito da América do Norte, que admiro. A criatividade, é, em algumas áreas, a que prefiro. Lamentavelmente, não consigo estender essa virtude à indústria cinematográfica, talvez uma das mais poderosas do país. Já o disse, em post anterior, mas perante o cenário actual, em que todos discutem as consequências e menos as causas, não me coíbo de repetir, com o benefício da dúvida ao rigor percentual: 90% dos filmes americanos, vistos em vários canais de tv,  de vários países europeus que os importam, contêm violência, e belicismo.

Pergunto: será esse o contributo cultural e o valor adequado para a promoção da paz no mundo?  Os bombistas que respondam. Por mim, tenho dúvidas.


21 março, 2016

Portuenses de trazer por casa

Há quem não ligue muito às origens, à terra dos ancestrais, à família, e há quem não ligue a coisa nenhuma, que é o modo mais cómodo de estar na vida. Eu pertenço à primeira categoria, o que não quer dizer que esteja certo. Não sei, são opções de cada um.

Para amar algo, é fundamental possuir um forte sentimento de exclusividade sobre o alvo amado. Não sou dos que consideram relevante o local de nascença para alguém se sentir parte de uma terra, pessoa, ou clube. O que é preciso é conhecer o que se gosta, e porque se gosta. Não acho que se goste, apenas porque sim. Essas, são emoções de adolescentes, efémeras, passageiras. Quando falo do Porto, trago coladas à voz as ruas da minha infância, os meus amigos (os melhores), a minha família e toda uma vida de profunda identidade com a terra natal, que nem episódicas ausências foram capazes de fazer esmorecer. Bem pelo contrário, os contrastes e as ausências, potenciaram o meu amor pelo Porto. Ter estado fora da minha cidade, dentro do meu país (Lisboa) e no estrangeiro, exacerbou-me a atenção pelas diferenças. Na comparação, encontrei sempre vantagens para a minha cidade, e também nas suas gentes.

O cosmopolitismo de uma cidade tem os seus inconvenientes. Ao abrir as portas a quem para cá vem apenas por interesses económicos, ou profissionais, sem chegar a integrar-se na cidade nem se afeiçoar às suas gentes, aos seus hábitos e características, o Porto começou a perder um pouco do seu distinto carácter. Hoje, fruto de uma política governativa centralizadora, que faria corar de vergonha o próprio Salazar, os portuenses foram perdendo a capacidade de se indignarem. O que está a acontecer no FCPorto actual, é também a consequência dessa descaracterização, não tem apenas a ver com negociatas, e má gestão...

Fui dos que rejubilou com a aquisição do Porto Canal pelo FCPorto. Por essa altura, ainda acreditava na objectividade da iniciativa, que havia um projecto idóneo, que podia vir a constituir-se no primeiro grande passo para uma autonomia mediática, que Lisboa não permite. Vã esperança a minha! O Porto Canal, hoje, decorridos poucos anos, é o instrumento de comunicação mais atípico e contraditório que se pode imaginar. Mas não é só isso. É a humilhação de uma cidade em forma de televisão, para todos os portuenses e portistas. Não tem fibra, imaginação, nem coragem para funcionar como um pendulo moderador contra a macrocefalia da comunicação terreiro-pacista. 

Júlio Magalhães não quer saber de nós para nada, e como tal, nada tem para nos dar. A política de comunicação e programação do Porto Canal é uma anedota, um hino à mediocridade (tal como a do FCPorto...). Se há ali um projecto, não é para todos os portuenses, é só para alguns amigos de conveniência, e famílias... Bem podem abrir a boca com "a nossa gente", porque estão muito longe de saber o que é o Porto, e principalmente, do que mais precisam os seus habitantes. Trazer betinhos e betinhas, de Lisboa para cá, podem estar certos que não é a nossa primeira, nem última carência! Nós precisamos de nos defender deles, não de os bajular, porque são eles que nos estão a levar tudo! E quando digo "eles", não estou a individualizar, nem a falar só de futebol, estou a dizer que "eles" corporizam o que há de pior no centralismo: a ganância, o egocentrismo e a arrogância. É fácil, ouví-los e vê-los nos media a falar de nós, quando estão juntos. Gozam, como doidos. Só o pessoal do Porto Canal não sabe, nem quer saber... 

Destes "representantes" do Porto, tenho eu vergonha. Estão nas antípodas do que era o tripeiro. É só um clic, e daqui a uns tempos vamos vê-los nos canais de Lisboa, a olhar pela vidinha. Querem uma aposta? Para já, é o FCPorto que os sustenta.  Mas, como censurá-los, se o patrão permite, se o patrão se ausenta e não controla o canal? 

Como ousa Pinto da Costa queixar-se do centralismo, se no canal que devia combatê-lo, os portuenses não têm voz, e os inimigos do Porto são tratados como príncipes? Para quê, tanta hipocrisia?

As minhas afinidades com o clube, não se estendem às de quem o governa. Foi tempo. O FCPorto, esse, não morrerá. Estou certo.