22 março, 2016

O assunto do dia

Ferido no atentado bombista de Bruxelas

Se para os ocidentais custa entender os padrões normativos dos povos orientais, como o desprendimento pela vida, em nome da pátria e da honra individual [como aconteceu com os japoneses kamikazes na segunda guerra mundial, é imperioso reconhecer o nosso maior respeito pelos seus rígidos conceitos do dever, de acordo com o enquadramento histórico em que ocorreram.

Podemos considerá-los algo exagerados, mas a verdade é que, como ocidentais que somos, não temos muitas alternativas para contrapôr como exemplo. O ocidente, está a ruir de pôdre, e não é só pela economia, é essencialmente pela falência progressiva de valores humanos e sociais. Uma prova recente do cinismo da União Europeia, foi o recuo estratégico na blindagem à adesão da Turquia, acrescida de uma oferta de 6.000 milhões de euros, para servir de tampão aos refugiados da guerra Síria e os impedir de chegar à Europa.

Apesar da bandalheira ideológica do ocidente, nada justifica o que hoje mesmo voltou a acontecer. Refiro-me, naturalmente, a mais dois atentados terroristas levados a cabo no aeroporto de Bruxelas e no Metro local. Essa luta, já eu não sou capaz de compreender. Só o fanatismo, explica morrer sem honra nem glória, por pretensas conquistas de fé divina. Matar inocentes, avulsamente, não é luta que enobreça alguém, é genocídío e barbárie. Jihadistas, talibans, são todos puros terroristas. 

Sucede porém, que a civilização ocidental, à qual pertencem a Europa, os Estados Unidos e toda a América Latina, não sai inocente desta nova ameaça mundial. Não pode orgulhar-se, nem de longe, nem de perto, de promover a paz mundial, a qual será impossível, sem uma nova ordem social em que a produção de riqueza  tenha como garantia a sua justa distribuição. A génese destes e muitos problemas pode parecer simplista, mas não é: está na injustiça humana. Numa sociedade livre e democrática, não há nada, nada mesmo, que racionalmente justique pagamentos milionários a um só homem, e permita o desemprego involuntário a muito outros,  mêses, anos a fio. Já nem falo dos mal pagos, teoricamente empregados, que é como se não tivessem emprego. Esta, é a principal fonte de todos os males, ninguém me convence do contrário. A religião é só um pretexto. Aqui, no Burkina Faso, como na China.

Seria dar um passo em frente, se para além de pensarmos travar o terrorismo pela repressão, procurássemos saber em que condições vivem os seus autores. Por cá (quem diria!), já emergiram alguns, para se alistarem em organizações terroristas com as quais, em princípio, nada teriam em comum, não fosse o infortúnio de o país de origem os mandar emigrar (Passos Coelho sugeriu) como solução à falta de trabalho remunerado... Comece-se pelos bairros sociais, que é o principal casulo da marginalidade, começando pelos dos países mais pobres, e a seguir pelos mais ricos. É um problema bicudo, é verdade, porque se os países de origem não lhes dão condições para se inserirem social e economicamente, é um tanto demagógico exigir aos que os acolhem as mesmas responsabilidades. Podia ser a União Europeia, mas essa está como sabemos. Esta, podia ser uma oportunidade de ouro para os nossos políticos e outros de países periféricos baterem o pé à Alemanha e começaram a discutir a Europa com a seriedade que teve na origem, mas não creio que haja ambição e vontade para tanto.

Para terminar, não quero deixar mais uma vez de focar o outro  lado negro da cultura ocidental em prol da paz e do progresso. É uma repetição, mas incontornável: o contributo dos Estados Unidos e da sua absorção cultural da parte da União Europeia. Há muito da América do Norte, que admiro. A criatividade, é, em algumas áreas, a que prefiro. Lamentavelmente, não consigo estender essa virtude à indústria cinematográfica, talvez uma das mais poderosas do país. Já o disse, em post anterior, mas perante o cenário actual, em que todos discutem as consequências e menos as causas, não me coíbo de repetir, com o benefício da dúvida ao rigor percentual: 90% dos filmes americanos, vistos em vários canais de tv,  de vários países europeus que os importam, contêm violência, e belicismo.

Pergunto: será esse o contributo cultural e o valor adequado para a promoção da paz no mundo?  Os bombistas que respondam. Por mim, tenho dúvidas.


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