07 julho, 2015

Uma ditadura vestida de democracia


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Que  bom  seria   se   os  portuenses (todos)  acordassem  da  letargia em que  se   deixaram   mergulhar    e começassem   a  criar  barreiras aos avanços    da      política   de   terra queimada gerada pelo centralismo. 

Falar de centralismo, ainda é para muita gente uma abstracção. Por isso,  e  antes de  mais,  é  preciso interiorizar    que   para   haver centralismo tem de  haver centralistas, homens e mulheres com cargos destacados na política,  na sociedade civil e empresarial, que com ele pactuaram e que decidiram desenvolver as suas actividades da forma mais injusta e desonesta que se pode imaginar, que foi, entre outras cedências,  concentrar e transferir para Lisboa as sedes das suas empresas.  Falar de centralismo, é uma conversa longa, com muitas aplicações. É por exemplo, permitir que através de manipulações legais, um Governo eleito pelo país e para o país, desvie fundos destinados a regiões já de si empobrecidas, para outras mais ricas (Lisboa) com o consentimento de uma União Europeia caduca e ditatorial. 


Durante os anos que se seguiram à revolução dos cravos, permitimos muitas asneiras à classe política, por ainda termos pouca experiência democrática, e talvez por pensarmos que o próprio regime teria capacidade para se auto-regenerar nas situações mais difíceis, e que tudo acabaria por voltar à normalidade com as correcções devidas. Era mentira. A democracia é uma escultura que pede permanentes retoques, ajustamentos, regulamentos, não é, nem nunca será, obra acabada. Não se governam povos em regimes democráticos sem cuidar da democracia. Foi isso que nos aconteceu. Lenta, mas eficientemente os inimigos da democracia fizeram dela a arma quase perfeita das novas ditaduras, transformaram-na no melhor sedativo para controlar o povo, mas nem mesmo assim abdicam de recorrer à política do medo e da coacção.

Numa ditadura "clássica" a liberdade dos cidadãos era condicionada e politicamente perseguida por polícias políticas (PIDE-DGS). Nas ditaduras modernas como a que vivemos, temos a liberdade intelectual mais solta, mas mais condicionada, economicamente. Os sistemas bancários e políticos permitem (até ver) o espirro da revolta, o grito, mas fecham-nos o acesso ao nosso dinheiro se recusarmos as políticas de especulação financeira por si geradas. Outrora, no Estado Novo, havia censura, mas apesar disso, o Porto teve  liberdade bastante para implantar as sedes dos seus bancos, rádios e jornais dentro da própria cidade, e a partir daí, abrir filiais por todo o país. Que terão a dizer sobre isto os políticos de hoje?

Hoje, na nova ditadura, os Bancos com sede no Porto já não existem. As rádios  de referência morreram e os jornais também. O JN foi ocupado pelos lacaios do centralismo, e os portuenses parecem nem se importar... 

Ironia das ironias, a influência das novas ditaduras chegam a todo o lado. Foi a partir do momento que o FCPorto decidiu comprar o Porto Canal que o homem que tão bem liderou o FCPorto durante tantos anos, lhe virou as costas. Se, sem televisão própria, sabia defender o clube, com ela, cala-se e perde campeonatos. O mesmo jornal onde consta o seu nome no grupo do Conselho Editorial não arrepia caminho para colar o seu nome e o de Antero Henrique às ilegalidades do dono da  empresa de segurança (SPDE), e já é a segunda vez que publica as fotos dos dois com o referido segurança. E o senhor Pinto da Costa permite, cala-se,  não tem qualquer reacção... Isto é surreal, isto é intolerável.

Desportivamente, o balneário do próximo plantel parece não necessitar de limpeza. Quaresma e Helton (escrevam o que vos digo) se ficarem no clube e o treinador decidir dispensá-los como titulares, são meninos para desestabilizar o grupo de trabalho. A vinda anunciada de Casillas pode ser muito mediática, mas não será a mais ajustada à disciplina que atrás falei. 

Tenho a sensação de que a confiança que durante muitos anos mantive em Pinto da Costa se está a esmorecer. Espero que isto passe, e que ele me surpreenda. Mas algo me diz que tal já não vai acontecer. Se o Porto já não o que era, talvez  o FCPorto, ou Pinto da Costa estejam, sem saber, a seguir pelo mesmo caminho. 

06 julho, 2015

A Grécia e nós

Panteão Nacional
Enquanto uns (talvez os mesmos que não querem saber da regionalização para nada), rezavam aos santinhos para que o SIM ganhasse o referendo na Grécia, outros, como é o meu caso, torciam para que fosse o NÃO o vencedor. 

O NÃO venceu, e ainda bem. E digo ainda bem, não porque o voto no NÃO vá resolver de per si a situação miserável em que a banca internacional com "ajuda" de vários governos corruptos, deixaram a Grécia, mas sim por obrigarem a União Europeia e o Banco Central Europeu, a travar e repensar a estratégia de chantagem que estavam a seguir, e que ninguém pode imaginar quando e como iria acabar. O povo da Grécia pôs a União Europeia em respeito, ao contrário dos seus anteriores governantes que a conduziram ao estado calamitoso de dependência a que chegou.

Os gregos, ao contrário dos portugueses, submissos com os poderosos e valentões com os frágeis, lutaram e souberam ser suficientemente inteligentes para fazerem a opção correcta que - nunca se sabe -, se ainda não vamos ter de lhes agradecer... Nós, entretemos-nos a fazer do orgulho um adjectivo de banalidades, uma expressão fútil. Levámos o corpo de um jogador de futebol para o Panteão Nacional, só porque foi um bom jogador, e sobretudo porque através dele há quem queira imortalizar um clube. 

Meu avô, que arriscou a vida e lutou pelo país vários anos, que comandou tropas em Timor, Angola e Moçambique, que correu perigos (sim, no plural) sucessivos de vida, que sofreu atentados, que nunca se deixou corromper pelo poder, que teve a coragem de chamar à barra do tribunal alguns senhores poderosos do Estado Novo de honestidade duvidosa, mereceu por isso que o seu nome  fosse gravado numa rua do Porto, e mesmo assim parece não ter feito o bastante para ser sepultado no Panteão Nacional... 

Pela óptica desta canalhada de agora, que gastou horas e dinheiro a promover um clube de futebol com a morte de um simples futebolista, o Cristiano Ronaldo, que comparativamente a Eusébio foi muito mais longe na fama (porque é disso que trata), terá também seguramente reservado para si um lugar no Panteão... Por que não? E por que não Rosa Mota, Carlos Lopes, e Fernanda Ribeiro? Qual é o critério que os separa? A côr da camisola?

A quem se destina o Panteão:
Criado por Decreto de 26 de setembro de 1836, o Panteão Nacional destina-se a homenagear e a perpetuar a memória dos cidadãos portugueses que se distinguiram por serviços prestados ao País, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade.

Nota do RoP:
Eusébio, foi o jogador benfiquista que mais respeitei e admirei até hoje. Não é a sua pessoa, o seu talento de jogador, ou o ser humano que está aqui em causa. É o critério da escolha, da decisão,  e o oportunismo político que o centralismo dele procura obter. 

Viva o povo da Grécia! Viva o Tsipras! Abaixo este Portugal de cobardes! Viva o Coronel Almeida Valente!