Que bom seria se os portuenses (todos) acordassem da letargia em que se deixaram mergulhar e começassem a criar barreiras aos avanços da política de terra queimada gerada pelo centralismo.
Falar de centralismo, ainda é para muita gente uma abstracção. Por isso, e antes de mais, é preciso interiorizar que para haver centralismo tem de haver centralistas, homens e mulheres com cargos destacados na política, na sociedade civil e empresarial, que com ele pactuaram e que decidiram desenvolver as suas actividades da forma mais injusta e desonesta que se pode imaginar, que foi, entre outras cedências, concentrar e transferir para Lisboa as sedes das suas empresas. Falar de centralismo, é uma conversa longa, com muitas aplicações. É por exemplo, permitir que através de manipulações legais, um Governo eleito pelo país e para o país, desvie fundos destinados a regiões já de si empobrecidas, para outras mais ricas (Lisboa) com o consentimento de uma União Europeia caduca e ditatorial.
Durante os anos que se seguiram à revolução dos cravos, permitimos muitas asneiras à classe política, por ainda termos pouca experiência democrática, e talvez por pensarmos que o próprio regime teria capacidade para se auto-regenerar nas situações mais difíceis, e que tudo acabaria por voltar à normalidade com as correcções devidas. Era mentira. A democracia é uma escultura que pede permanentes retoques, ajustamentos, regulamentos, não é, nem nunca será, obra acabada. Não se governam povos em regimes democráticos sem cuidar da democracia. Foi isso que nos aconteceu. Lenta, mas eficientemente os inimigos da democracia fizeram dela a arma quase perfeita das novas ditaduras, transformaram-na no melhor sedativo para controlar o povo, mas nem mesmo assim abdicam de recorrer à política do medo e da coacção.
Numa ditadura "clássica" a liberdade dos cidadãos era condicionada e politicamente perseguida por polícias políticas (PIDE-DGS). Nas ditaduras modernas como a que vivemos, temos a liberdade intelectual mais solta, mas mais condicionada, economicamente. Os sistemas bancários e políticos permitem (até ver) o espirro da revolta, o grito, mas fecham-nos o acesso ao nosso dinheiro se recusarmos as políticas de especulação financeira por si geradas. Outrora, no Estado Novo, havia censura, mas apesar disso, o Porto teve liberdade bastante para implantar as sedes dos seus bancos, rádios e jornais dentro da própria cidade, e a partir daí, abrir filiais por todo o país. Que terão a dizer sobre isto os políticos de hoje?
Hoje, na nova ditadura, os Bancos com sede no Porto já não existem. As rádios de referência morreram e os jornais também. O JN foi ocupado pelos lacaios do centralismo, e os portuenses parecem nem se importar...
Ironia das ironias, a influência das novas ditaduras chegam a todo o lado. Foi a partir do momento que o FCPorto decidiu comprar o Porto Canal que o homem que tão bem liderou o FCPorto durante tantos anos, lhe virou as costas. Se, sem televisão própria, sabia defender o clube, com ela, cala-se e perde campeonatos. O mesmo jornal onde consta o seu nome no grupo do Conselho Editorial não arrepia caminho para colar o seu nome e o de Antero Henrique às ilegalidades do dono da empresa de segurança (SPDE), e já é a segunda vez que publica as fotos dos dois com o referido segurança. E o senhor Pinto da Costa permite, cala-se, não tem qualquer reacção... Isto é surreal, isto é intolerável.
Desportivamente, o balneário do próximo plantel parece não necessitar de limpeza. Quaresma e Helton (escrevam o que vos digo) se ficarem no clube e o treinador decidir dispensá-los como titulares, são meninos para desestabilizar o grupo de trabalho. A vinda anunciada de Casillas pode ser muito mediática, mas não será a mais ajustada à disciplina que atrás falei.
Tenho a sensação de que a confiança que durante muitos anos mantive em Pinto da Costa se está a esmorecer. Espero que isto passe, e que ele me surpreenda. Mas algo me diz que tal já não vai acontecer. Se o Porto já não o que era, talvez o FCPorto, ou Pinto da Costa estejam, sem saber, a seguir pelo mesmo caminho.