08 janeiro, 2015

Absolutamente de acordo, caro arquitecto



Nota de RoP:
Quando todos se entusiasmavam com a movida do Porto, partilhei desse entusiasmo, mas sem demasiada euforia, pelas mesmas razões aqui evocadas pelo Arq. Gomes Fernandes. Podem confirmá-lo aqui

05 janeiro, 2015

Sócrates ensinou-me que se for preso a TVI vai-me entrevistar à cadeia

Terminado que foi mais um ano de incompetência e de malfeitorias do actual Governo, resta-nos o recurso da fé pela fé, para esperarmos que em 2015 algo mude para melhor. Está provado e comprovado, que [mais uma vez], Portugal não consegue eleger gente com gabarito e capacidade para governar, privilegiando a qualidade de vida e os interesses fundamentais da população, que é para isso que os Governos servem. Fado, é isto mesmo, e não fui eu quem o baptizou de canção nacional...

Ontem, quando me preparava para pagar a gasolina na EN13 num posto perto de Vila do Conde, dei com dois indivíduos a falar alto e bom som, sobre o caso do momento: a prisão de Sócrates. Não posso reproduzir exactamente a curta conversa, mas era mais ou menos isto: "olhe amigo, por acaso, eu até admirava o Sócrates, mas se ele realmente fez aquilo que se diz, então que pague por isso, mas cá para mim isto cheira-me a politiquice. Dizia o outro: pois é, eles são todos iguais, é tudo a mesma coisa. E repare que isto aconteceu depois de uma sondagem dar o PS como vencedor das próximas eleições. Não está certo prenderem um gajo sem antes terem provas. E mais não ouvi, porque paguei e fui à minha vida.

Já no carro, dei comigo a pensar naquela conversa de ocasião e como a comunicação social pode baralhar a cabeça das pessoas e levá-las a ceder à semente das emoções que lhes é injectada como se de cerveja à pressão se tratasse. Poucos pensam no papel e nas dificuldades dos juizes, e menos os que se interessam pelo caminho a seguir para estancar a génese do problema, que como sabemos é a violação do segredo de Justiça. Era isto, que eu gostava de ouvir o povo discutir, visto ser a corrupção o tipo de crime mais difícil de investigar e de provar. Assim, parece que o importante da avaliação destes casos é saber a que partido pertence o suspeito, ou se simpatizamos, ou não, com ele.

Era na tecla da violação do segredo de justiça que eu gostava de ver a oposição no Parlamento carregar com persistência, até obter a decisão de priorizar a discussão para se chegar à solução do problema. Mesmo estando em minoria, é precisamente nestes casos, em que momentaneamente "todos" estão de acordo na necessidade de mudança, que a oposição pode tirar dividendos políticos e marcar pontos de verdadeira utilidade pública. Não me parece é que a perseverança dos partidos da oposição seja bastante para lá chegar... Porque, não tenhamos ilusões, o que aconteceu agora a Sócrates não é novo, no futuro, muitos mais segredos de justiça vão ser transgredidos e o choradinho do dolce fare niente vai-se voltar a ouvir.

Mas, independentemente do desfecho do caso Sócrates, há uma conclusão que se pode daqui retirar, que é a falta de categoria dos políticos contemporâneos. Já falei de Mário Soares e da triste figura que as suas manifestações de solidariedade ao amigo lhe emprestam, por isso não vou repetir-me. Apenas digo que, se Sócrates fosse o homem excepcional que devia ser para merecer o cargo de 1º. Ministro, nunca cederia à soberba de viver acima das suas possibilidades, visto ser esse o argumento que ele próprio supostamente alegou para  recorrer ao financiamento do amigo e viver como um lorde em Paris. Só isso, define a mentalidade dos políticos de agora. Se eles fazem questão de passar a mensagem de que são pessoas como as outras não é por humildade, porque a humildade pressupõe alguma capacidade para lidar com uma vida sóbria, coisa que Sócrates não foi capaz. A humildade dos políticos serve para "normalizar" comportamentos que de outra forma chamariam demais a atenção, como o que se constata agora das supostas relações com o amigo em matéria privada, pelos empréstimos e transferências de dinheiro. Como cidadão, não é este tipo de político que quero a governar-me, quero  gente que porventura já não existe, mas assim mesmo não estou disposto a abdicar desses padrões de exigência. Nem que isso implique nunca mais voltar a exercer o meu direito ao voto.

É nesta mesma onda que navego em relação ao actual Governo. Para mim, Passos Coelho é mais um candidato a qualquer lugar importante para si próprio. O objectivo não é muito diferente do de Sócrates, e de outros que abandonaram o Governo, para se governarem... em Bruxelas.

Lamentavelmente, a ralé política goza de grande amplitude e é transversal às siglas partidárias. Só os partidos da oposição se safam. Resta-nos saber se é por ainda não terem provado do inebriante perfume do poder.