10 dezembro, 2011

Lisboa + o Resto = a Portugal. Afinal, quantos países somos?


Descubra as diferenças
Hoje, não tenho bem a certeza se valeu a pena o 25 de Abril. Sendo certo que a Liberdade reprimida só pode ser conquistada lutando por ela, é inconcebível que haja no Mundo quem não a considere um direito inalienável da Humanidade.

Nada está garantido. A imprevisibilidade dos Governos, mesmo dos que foram eleitos pelos povos, obriga-nos a manter-nos vigilantes. Mas, usar a Liberdade como trunfo supremo de uma revolução, já só faz sentido nos regimes ditatoriais.

Num país verdadeiramente evoluído, a Liberdade de expressão e de opinião, seria apenas a meninice da Democracia. Em Portugal, a Liberdade ainda não deu o passo seguinte, que é deixar amadurecer a Democracia, blindá-la dos abusos, das tentações absolutistas, dos oportunistas, e apetrechá-la com ferramentas funcionais que permitam aos eleitores controlar os eleitos, de modo a exonerá-los, em tempo útil,  sempre que se desviem das rotas programadas.  Mas não esperemos que sejam os detentores do poder a ditar essas regras, eles não se levam a sério a esse ponto.

Liberdade, não é compatível com pobreza. Juntá-las, é como lançar para o espaço um pássaro sem asas. Liberdade, em termos políticos, só fará sentido quando caminhar a par com o pleno emprego e a saúde. E disse emprego, não trabalho. Porque, ao contrário do que dizem os políticos, é tempo de saberem que há por aí muita gente que trabalha, sem receber nada por isso. As pessoas precisam é de emprego para ganhar a vida trabalhando, não de trabalho sem emprego.

É pensando nisto, e em todas as discriminações infligidas pelo centralismo ao Porto e ao Norte, que não sei se valeu a pena o 25 de Abril. O que sei, é que nunca me senti tão ofendido enquanto cidadão deste país como agora. Portugal foi dividido, o centralismo conseguiu separá-lo mais do que o antigo regime. Agora, temos, para já dois países: um, chama-se Lisboa, o outro, o Resto. Embora eufemisticamente continuem a chamar-lhe Portugal, eles [os centralistas] sabem que isso não é verdade. E nós também. E no entanto, limitámo-nos a constatá-lo.

Por cá, vão-se ouvindo algumas vozes discretas dizendo e repetindo o que já sabemos, que ninguém abdica do poder pacificamente, que a Regionalização nunca irá avançar, etc. E  no entanto ... nada.  As elites deixam cair as máscaras, os líderes não lideram, e ao povo impingem-lhe o fado.

Como estaríamos hoje, se em 25 de Abril de 1974, os jovens capitães não nos tivessem ajudado a fazer aquilo que devia ter sido feito por todos nós?

Provavelmente, incomodados, mas seguramente submissos. Como agora.

  

08 dezembro, 2011

Soares, o bochechas...


Mário Soares
Descansem aqueles que pesam o valor dos políticos pelas simpatias partidárias, porque não serei eu quem tenciona imitá-los. Por mais infantil que pareça a comparação, sou mais clubista do que partidarista, e posso explicar em poucas palavras a razão desta afirmação. Os partidos políticos, desde Abril de 1974 para cá, só me trouxeram decepções e motivos para desconfiar das suas capacidades, enquanto que o meu clube, o FCPorto, mesmo discriminado por sucessivos governos, em igual  período de tempo, deu-me muitas mais alegrias que desgostos, razões de sobra bastantes para continuar a confiar em quem o dirige.

Talvez ainda não tenham atingido o sentido da primeira frase do anterior parágrafo, mas tentarei explicá-lo. Vou-vos falar de um "bicho sagrado" da política pós revolução chamado Mário Soares. Esse mesmo. Aquele àcerca do qual, decorridos 37 anos, ainda não consegui compreender a razão de ser tão "idolatrado" pela comunicação social. Pensando bem, se calhar, até encontro algumas afinidades que explicam o fenómeno. É que, Mário Soares, em matéria de rigor e de flexibilidade, é tão volátil e oportunista como todos os órgão de informação juntos.

Já agora, confidencio-vos que o Partido Socialista foi o primeiro partido político em que votei. Portanto, será simples deduzir que simpatizei com o programa de governo da época, e sobretudo com o reforço de Liberdade que Mário Soares lhe soube aditar, detalhe relevante para a projecção e a credibilidade da sua própria imagem, da qual, aliás, ainda hoje continua a colher frutos. Será importante registar, que vínhamos de 47 anos de uma ditadura cinzentona e repressiva, e de cujos efeitos, ainda hoje, muitos portugueses não se refizeram. O medo, ainda predomina na mente de milhares de anónimos que comentam nos blogues e nas redes sociais. Mas, de Mário Soares, só esse detalhe me infunde ainda algum respeito. E agora, também, a idade. 

Contudo, os 87 anos de Mário Soares não podem servir de atenuante para a inaptidão e demagogia com que desempenhou as funções de 1º. Ministro ainda com a lucidez da juventude,  nem tão pouco podem conferir-lhe autoridade moral e política, para censurar as más opções governativas de agora, que apesar de merecerem crítica, ditas pela sua boca, soam a um enfadonho déjà vu.

A um político, mesmo a um pseudo dinossauro [e com boa imprensa], como ele é, não basta apregoar revoluções em fóruns ou conferências, sem assumir responsabilidades. Durante os seus mandatos, enquanto Ministro e depois Presidente da República, não foram poucas as vezes que incumpriu com o que prometera nas campanhas eleitorais. Nalguns sectores da população mais idosa, ainda há quem não lhe perdoe o facto de ter "metido o socialismo na gaveta", que era à época para muitos a opção política ideal, entre os partidos conservadores [CDS e PPD] com ligações ao regime anterior, e o comunismo [PCP] que definitivamente a maioria do povo rejeitara.

Entre outras incongruências, Mário Soares obcecado com a garantia da Liberdade, esqueceu-se de consolidar a autoridade democrática, levando a que as gerações de políticos que lhe sucederam perdessem progressivamente a noção do dever e do respeito pelos eleitores. Não espanta pois, que sejamos permanentemente confrontados com escândalos, escabrosos onde os políticos são os principais protagonistas influenciando negativamente o resto da sociedade. Nem tão pouco se aceita por que é que Mário Soares nunca se opôs frontal e oportunamente à política suicída de Sócrates que acelerou o caos governativo a que hoje chegamos. Já para não falar das mais recentes declarações de Sócrates, que sintetizam a baixa elevação dos políticos contemporâneos.  Qualquer que tenha sido o contexto dessas declarações - supostamente sustentadas nos seus conhecimentos de economia -, as dívidas, são para se pagar, sob pena de se estar a assassinar o direito ao crédito a quem dele carece. Só um caloteiro pode fazer tais afirmações. Tipicamente político, Mário Soares não se incomoda com as asneiras, desde que tenham origem na bandeira do PS. 

Mas, também não são Paulo Portas, nem Freitas do Amaral , que podem atirar pedras ao telhado de outros. A índole é parecida, mas há uma diferença não dispicienda, que consiste no facto de Mário Soares ter combatido o Estado Novo e ter sido preso por isso, ainda que à posteriori, tão nobre luta esteja hoje reduzida a discursos de ciscunstância e à banalidade de continuarmos a ser um pobre país.

      

A revolução, amanhã


Daniel Deusdado [no JN]
1 Mário Soares, 1983. Uma campanha eleitoral épica. Um mote: salvar o país da bancarrota, através da austeridade. No final, os portugueses escolheram uma minoria de 36%. Nasce o governo do bloco central com o PSD. A história é bem conhecida: Portugal chamou o FMI, Ernâni Lopes cortou 28% do subsídio de Natal de todos os portugueses, desvalorizou a moeda fortemente e a economia afundou. O valor dos salários caiu, e muito.

2. Sem surpresa, Cavaco Silva tirou o tapete a um governo que colocou Portugal na CEE e o fez sair da bancarrota. Apenas dois anos depois. Do ponto vista histórico, o trabalho de Soares não foi coisa pouca, mas revela até que ponto austeridade e lealdade são coisas que não rimam nem dão votos.

3. O actual presidente governou o país durante quase 10 anos no momento mais extraordinário da história recente: dinheiro da Europa, baixo preço do petróleo, crescimento económico mundial e europeu ímpar (até 1993). A pergunta é sempre esta: que modelo era o de Cavaco Silva? O da mudança das infra-estruturas do país: desde estradas a novas universidades, um novo sistema financeiro e o legado do "mercado". E, em simultâneo, melhores serviços públicos - o chamado Estado Social.

4. Como discutimos o presente, parece que tudo começou hoje. Que foi com Guterres, Durão Barroso e Sócrates que o caos surgiu. O problema da bola de neve no topo da montanha... Mas é difícil esquecer os 100 mil funcionários públicos precários do tempo do cavaquismo admitidos por Guterres - "não existiam" estatisticamente. Ou lembrar também a política do escudo forte iniciada em 1992 que condicionou fortemente a balança comercial. E ainda as baixas taxas de juro resultado desse escudo forte que potenciou o 'boom' do crédito à habitação, consumo, etc..

5. Guterres chegou com um sonho: diminuir as desigualdades do cavaquismo. Criou dependências difíceis de curar. Durão Barroso (através de Ferreira Leite) tentou começar a travar a espiral de endividamento do Estado, mas foi-se embora a meio do processo e deixou uma solução política sem sentido - Santana Lopes. Veio depois Sócrates e insistiu na opção do crescimento pelo investimento público, além do orgulho no aumento da despesa social em 4% do PIB... Naturalmente chegamos aqui, ao dia de amanhã, à cimeira do caos do euro. Não dependemos de nós.

6. E agora? Se Portugal cumprisse o défice de 2012 e crescesse mais que o previsto, talvez aspirasse a alguma independência, a médio prazo. Mas esse caminho não é o da revolução de Mário Soares - a revolução dos que têm dívida e não têm culpa. Tal como em 1983, a melhor revolução é sair da zona de dependência dos mercados financeiros através de uma maior credibilidade económica. Estamos sob uma ameaça de "guerra soberana" que nos empobrecerá caso fiquemos sem financiamento nem moeda (minimamente forte) para comprar coisas essenciais - petróleo, alimentação e tecnologia. A maior revolução é conseguirmos fazer crescer o valor do que produzimos e aumentar a qualificação dos estudantes, trabalhadores e empresários portugueses. Coisas quase impossíveis neste contexto de desânimo.

7. Para já, a revolução poderia começar contra estes mercados: - os do dinheiro, contraindo menos dívida. Contra as multinacionais da alimentação e consumo industrial, pelas consequências tóxicas que têm na saúde das pessoas. Contra as grandes empresas que destroem o território fingindo criar emprego. E contra o mercado da doença, que encharca os portugueses de medicamentos e desânimo. Ou o mercado da conflitualidade, que cria uma espiral monstruosa de advogados e juízes em redor do negócio da justiça. Mas disto pouca gente quer saber, apesar de poder ter efeitos práticos, imediatos. Contra "os mercados".

8. Deveríamos continuar a comemorar o dia 1 de Dezembro de 1640 em vez de um 10 de Junho salazarento. Há coisas que uma geração não tem o direito de apagar. Até porque vamos sobreviver ao euro. Só não sabemos como.

07 dezembro, 2011

Foz Tua, a próxima vítima da ingovernabilidade



APOIEMOS ESTA GENTE, É IRRESPONSABILIDADE CIVIL PERMITIR QUE O PAIS PERMANEÇA NAS MÃOS DE CANALHA!


clique sobre o título do post e veja o vídeo!


06 dezembro, 2011

Se eu fosse...


... um patriota, devia andar babado com a elevação do fado a património da humanidade, apesar de viver numa cidade onde o fado ainda não conseguiu superar em popularidade as tripas à portuguesa e o FCPorto.

Se eu fosse um patriota, fazia da movida portuense o dia-a-dia dos tripeiros no desemprego.

Se eu fosse um patriota, transformava os prémios Pritzker de arquitectura, atribuídos a Ávaro ZizaSouto Moura,  na fase terminal da reabilitação urbana do Porto.

Se eu fosse um patriota, acreditava que a Lonely Planet - a melhor editora em guias de viagem -, que nomeou o Porto como o 4º. melhor destino do mundo, irá beneficiar muito o sector da restauração e da hotelaria, apesar do aumento do iva para 23%.

Se eu fosse patriota, tornava a loja do melhor chocolate do Mundo [como é pequeno o Mundo para nós], na suprema realização dos "poucos" sem-abrigo que vagueiam pelo burgo.

Se eu fosse patriota [dos bons], com tanta coisa positiva, jurava a pés juntos, ser redondamente falso  que Portugal é o país europeu com o maior fosso entre ricos e pobres, "orgulhosamente", à frente de Israel e EUA...

05 dezembro, 2011

Porto, só meio optimismo

A "movida" do Porto chegou às páginas do New York Times, através de uma reportagem do jornalista de viagens Seth Sherwood que elogia a nova oferta cultural, turística e de lazer da cidade.

"Um novo quarteirão 'à pinha' de vida nocturna está a ganhar forma, e uma florescente cena criativa que tem de tudo, desde um emergente centro de design a uma vanguardista Casa da Música desenhada por Rem Koolhaas, um espaço de concertos deslumbrante", descreve Sherwood.

O jornalista, baseado em Paris, afirma que a "segunda maior metrópole de Portugal" já não precisa de se "encostar" à reputação do famoso vinho digestivo com o mesmo nome.

"E há grandes notícias para os enófilos também. Com a emergência da região do Douro como berço de vinhos tintos premiados -- não apenas o Porto --, o Porto (conhecido também como Oporto) pode agora inebriá-lo com uma miríade de 'vintages', novos restaurantes ambiciosos e até hotéis vínicos temáticos", realça o repórter.

No artigo "36 Horas no Porto, Portugal", já disponível online e a ser publicado na edição de domingo do New York Times em papel, são apresentados 11 pontos de passagem/paragem de um percurso pela cidade que começa às 18 horas de uma sexta-feira e termina ao meio-dia de domingo.

Um "passeio barato (2,50 euros)" de eléctrico entre a Praça do Infante e a Foz marca o início da viagem, que é seguida de uma Super Bock saboreada numa explanada à beira rio e de um jantar de Francesinha, "a sanduíche local não aprovada por cardiologistas". 

[Fonte: Porto24]

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Concordo totalmente com Germano Silva quando diz que o Porto perdeu muita da sua identidade. Apesar do fluxo crescente de turistas, devido, principalmente, às óptimas funcionalidades do aeroporto Sá Carneiro, que proporcionou todas as condições para a instalação da base de companhias de vôos low-cost, e do Metro do Porto, que lhe deu complementaridade, a cidade do Porto continua a viver de fogachos de alguma iniciativa privada, e pouco mais. É preciso esclarecer que, nada deste aparente progresso se deve a iniciativas da responsabilidade da actual CMPorto. Pelo contrário. Uma das razões, para o atraso económico e social do Porto, é a falta de um autarca dinâmico e de vistas largas para a cidade. A outra razão, é o centralismo e a sua sofreguidão de eucalipto que tudo seca em redor. 

Tal como o Douro, com os seus cada vez mais prestigiados vinhos, tem cada vez menos gente, o Porto vem perdendo habitantes de ano para ano, e ao contrário do que para aí se diz, não será a movida que irá  fazer regressar habitantes à cidade, assim como não é o excelente vinho do Porto, que vai repovoar o Alto Douro. Todas estas notícias, aparentemente contraditórias, deviam obrigar governantes e empresários a repensar a ideia de progresso. O progresso, ou o bem estar [se preferirem], das populações não está directamente ligado ao sucesso das iniciativas empresariais. É preciso começar a falar claro e não ocultar os factos. E se os factos nos têm ensinado que por cada máquina inventada há dezenas, se não centenas e milhares, de pessoas desempregadas, isto diz-nos que uma empresa que produz muito não é propriamente uma empresa que emprega mais gente. Portanto, acabe-se com a demagogia de relacionar o empreendedorismo com a prosperidade dos povos. Empreender é necessário, mas sustentar a prosperidade de um negócio com benefício para todos não é bem o que tem acontecido. 

Por vezes, dou comigo a pensar se não será uma criancice entusiasmarmo-nos demais com certos sucessos momentâneos,  ou mesmo com algumas distinções que nos chegam de fora e suavizam a chaga que é, continuarmos a ser um dos países mais pobres, e pior governados da Europa. 

Para mim, o problema vai muito para além da má construção da nossa Democracia e da baixíssima qualidade dos nossos políticos. O capitalismo, definitivamente, tal como está, não é regime para levar a sério. A crise global está aí, a berrar, para quem a quiser ouvir.  
 

Tristezas não pagam dívidas


Os meus amigos já o sabem há muito tempo, mas agora tenho de o dizer em voz alta para a mobília ouvir: não vou à bola com o fado e está a fazer-me um nervoso miudinho a histeria, disfarçada de consenso nacional, gerada pela gentileza da UNESCO em incluir a canção de Lisboa na lista de 90 obras-primas consideradas património oral e imaterial da Humanidade, em que figuram as festas funerárias dos indígenas mexicanos, o teatro de marionetas siciliano e os tambores da aflição, uma dança de cura popular entre os tumbuka, uma tribo do Norte do Malawi.

O fado, que bebe a alma e mergulha as raízes na indolência dos cânticos mouros, veste-se de negro para cantar o luto, o sofrimento, a dor, a desgraça, o amor perdido, o ciúme doentio, a miséria e a saudade, ou seja, é uma canção em permanente marcha atrás, uma antologia de valores que detesto e de sentimentos perniciosos que abomino.

Ao apregoar a submissão aos ditames do destino, o fado foi, de braço dado com Fátima e o futebol, uma das fundações do aparelho ideológico do Estado Novo, que reabilitou e integrou um género musical que medrou nas casas de prostituição dos bairros pobres da Mouraria e Alfama.

No tempo em que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses, o fado era a peça fundamental da doutrina da resignação de um povo anestesiado pelo religião e que, na sua doce e alimentada ignorância, rejubilava com as vitórias internacionais da nossa selecção no hóquei em patins, modalidade a que mais ninguém ligava pevas.

Sei que o fado se renovou, com a transfusão de vozes novas como as de Camané, Aldina Duarte, Ana Moura, Mariza ou, mais recentemente, de Carminho. Sei que mesmo nos tempos da Outra Senhora o choro da guitarra acompanhou belíssimos poemas do Ary dos Santos, do David Mourão Ferreira ou do O'Neil. Não me atrevo a beliscar sequer o tremendo talento de Amália. E se me oferecerem o Fado, do Malhoa, vou logo a correr pendurá-lo na parede da sala. Mas isso não chega para me fazer gostar do fado, uma canção triste que não rima comigo.

Não gosto do fado, como também não gosto do Benfica - clube cujo fado, desde a maldição de Bella Gutman, é não ter imagens a cores dos seus êxitos europeus para mostrar aos adeptos que não os puderam viver por terem 50 anos ou menos. Mas isso não me impede de reconhecer o talento de Eusébio, elogiar a liderança de Borges Coutinho ou admirar a resistência dos seus adeptos às adversidades.

Tenho um enorme pó à fatal e indolente resignação face ao destino que é o programa de vida do fado. Em vez de nos agarrarmos ao passado e de fazermos uma festa com a bondade da UNESCO em acolher o fado numa lista étnica (uma distinção de importância equivalente à vitória do Benfica na Taça Latina), devemos olhar para o futuro. O povo está coberto de razão quando diz que tristezas não pagam dívidas. E nós temos uma data delas para pagar.

Nota de RoP:

Outro portuense e português, que [como eu] não vai à missa  do fado. Se a distinção da UNESCO fosse pela negativa, no sentido de considerar o fado como símbolo do centralismo português ainda fazia sentido. Mas tratá-lo com honrarias imateriais da humanidade, só mesmo em Lisboa.